Facções no Equador têm vínculos com PCC e CV

13 janeiro 2024 às 13h25

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A maioria das 22 facções criminosas existentes no Equador, apontadas como organizações terroristas pelo presidente Noboa em seu decreto de “estado de conflito armado interno” atua de forma coordenada, agindo como uma federação devido à sua influência limitada. As facções tem vínculos com o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
O Equador tem enfrentado desafios significativos relacionados ao tráfico de drogas, especialmente de cocaína, que é produzida em grande escala no Peru e na Colômbia, dois dos principais produtores do mundo. O tráfico de drogas muitas vezes envolve rotas complexas e estratégias para escapar da fiscalização, e a geografia do Equador, incluindo a Floresta Amazônica, pode ser utilizada para facilitar essas operações ilícitas.
A Floresta Amazônica, por sua vastidão e densidade, pode oferecer cobertura adequada para atividades ilegais, incluindo o transporte de drogas. As rotas de tráfico muitas vezes atravessam fronteiras e zonas remotas, dificultando o controle e a prevenção por parte das autoridades. “Esses grupos equatorianos transportam drogas através do país, às vezes armazenando-as dentro do Equador, e depois repassam para o CV e PCC no Brasil”, explicou o pesquisador John Henry Murdy ao Metrópoles.
O vínculo logístico entre os grupos, segundo o especialista, não tem relação direta com a onda de violência que atinge o Equador atualmente. Os ataques promovidos por facções tiveram início após o presidente do Equador, Daniel Noboa, decretar estado de exceção no país, quando o líder da gangue Los Choneros, José Adolfo Macías Villamar, conhecido como Fito, fugiu da prisão.
“Desde meados de 2017, com a cassação dos direitos políticos de Rafael Correa, o susto de impeachment de Guillermo Lasso, a dissolução do Congresso, o assassinato do candidato à presidência, Fernando Villavicencio, conjuntamente com a pobreza da população, agravada com a pandemia, e com um sistema de justiça facilmente corruptível, os índices de criminalidade saltaram no país, com uma taxa de homicídio indo de 5,8 para 36 para 100 mil habitantes”, explicou Marcelo Valio, especialista em Direito Constitucional, com pós-doutorado em Direitos Humanos pela Universidade de Salamanca (Espanha).
Segundo o Insight Crime, entidade que monitora e investiga de forma acadêmico-jornalística o crime organizado e a segurança dos cidadãos nas Américas, os grupos criminosos nacionais do Equador têm sido tradicionalmente fragmentados, operando como subcontratantes de organizações criminosas estrangeiras, especialmente grupos colombianos e mexicanos.
Facções possuem mesmo modus operandi
Benjamin Lessing, professor associado de ciência política na Universidade de Chicago, explica que as semelhanças entre as ações das facções equatorianas e brasileiras podem ser observadas, por exemplo, na realização de motins em diversas unidades prisionais, coordenados com violência nas ruas para provocar distúrbios.
Outra situação análoga é o uso de emissoras de comunicação para “enviar mensagens”. Criminosos armados invadiram uma emissora de TV no Equador na terça-feira, 9, assim como o Primeiro Comando da Capital (PCC) fez em 2006 ao sequestrar um jornalista da TV Globo, liberando-o apenas após divulgar um vídeo pedindo melhores condições nos presídios.
“Esses grupos utilizam a violência como uma forma de barganha e exercem pressão por meio dela, tornando-a espetacular. É terror. Eles empregam o terror como forma de pressionar os líderes a realizar alguma mudança na política do estado”, detalha o professor.
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