Deputados tocantinenses destinaram R$ 10,4 milhões ao Idesp, alvo de investigação policial em Goiás e no Tocantins
18 novembro 2025 às 17h36

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- Por Samir Leão
O Instituto Idesp, de Palmas, alvo da Operação Pagamento Imediato deflagrada nesta terça-feira, 18, pelas polícias civis de Goiás e do Tocantins, recebeu R$ 10.487.475,00 via 20 emendas parlamentares estaduais entre 2024 e 2025. Os repasses constam na Secretaria de Planejamento e Orçamento e estão vinculados exclusivamente a ações de consultas, exames e cirurgias oftalmológicas, todas categorizadas como execução de custeio, modalidade destinada a despesas operacionais e serviços contratados.
A operação teve origem em um contrato firmado em 2024 pela Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, durante a gestão do então prefeito Rogério Cruz e sob comando do secretário Wilson Pollara. O acordo previa serviços de modernização administrativa a serem executados em 24 meses, com pagamentos distribuídos em 12 parcelas.
Segundo a Polícia Civil de Goiás, o que ocorreu foi o oposto: R$ 11,68 milhões foram liberados em pouco mais de 35 dias, sem comprovação de serviços. O delegado Cleybio Januário classificou a diferença entre o contrato e a execução como “muito grande” e destacou outro ponto sensível: o instituto contratado não tinha especialização na área prevista, atuando na prática como entidade voltada ao atendimento médico em Palmas. Investigações apontam ainda que o Idesp teria sido “encontrado na internet” antes da contratação direta, sem licitação.
A operação apura indícios de fraude contratual, contratação direta ilegal, associação criminosa, corrupção ativa e passiva. O ex-prefeito Rogério Cruz não é alvo da investigação, segundo a corporação. Sobre Pollara, o delegado afirmou que não poderia confirmar nem negar sua condição no procedimento.
Durante os mandados, equipes apreenderam veículos de alto valor, computadores e documentos. A Justiça determinou bloqueio de bens e valores para assegurar eventual ressarcimento aos cofres municipais.
Emendas parlamentares no Tocantins
No Tocantins, nos nove primeiros meses de 2025, o instituto recebeu R$ 6.337.475,00 por meio de emenas parlamentares via Secretaria de Saúde do Tocantins (SES/TO) destinados para consultas, exames e cirurgias oftalmológicas. Entre janeiro e maio, os repasses partiram de Valdemar Júnior (Republicanos), Janad Valcari (PL), Luciano Oliveira (PSD), Eduardo do Dertins (Cidadania) e Nilton Franco (Republicanos), e somam R$ 4.516.475,00.
Entre junho e setembro, novas indicações feitas por Eduardo Fortes (PSD), Gutierres Torquato (PDT) e novamente por Janad Valcari e Valdemar Júnior acrescentaram R$ 1.821.000,00. Ao todo foram destinadas 10 emendas parlamentes neste ano.
Em 2024, as emendas totalizam R$ 4.150.000,00, assinadas por Luciano Oliveira, Nilton Franco, Valdemar Júnior, Gutierres Torquato, Vanda Monteiro (UB), Eduardo do Dertins e Eduardo Fortes. Todos os valores foram destinados a ações oftalmológicas custeadas pela Secretaria da Saúde, igualmente enquadradas como execução de custeio.
Convênios
Ao consultar o Transfere.TO, plataforma do Governo do Tocantins para gestão de convênios, parcerias e emendas parlamentares, a reportagem do Jornal Opção Tocanitns verificou apenas três convênios da Secretaria da Saúde com o Idesp formalizados entre 2023 e 2025. Eles somam pouco mais de R$ 5 milhões, incluindo o Termo de Convênio de R$ 4.150.790,00, cuja prestação de contas aparece como “devolvida”.
Fundado em 2001, o IDESP tinha sede original em Conceição do Araguaia (PA) e transferiu suas operações para Palmas em 2022. O presidente é Eliezer Pereira de Queiroz Junior (Júnior Queiroz).
Pente-fino
Com relação a Operação Pagamento Imediato no Tocantins, a Decor-PCTO cumpriu três mandados de busca ligados ao caso. Os delegados responsáveis apontaram a existência de elevados repasses tocantinenses, muitos oriundos justamente das emendas parlamentares listadas nos sistemas públicos. O delegado Guilherme Rocha, da PCTO, coordenou a atuação conjunta com as autoridades goianas.
“Nas buscas, encontramos evidências de elevados repasses de recursos públicos tocantinenses ao instituto investigado, muitos oriundos de emendas parlamentares. Com o mapeamento do modus operandi e os indícios já levantados, a Decor fará um pente fino nos contratos junto às entidades públicas tocantinenses”, afirmou o delegado.
Posicionamentos
Com relação a operação desta terça-feria, o Instituto Idesp afirmou, por meio de nota, que a situação relacionada à operação já passa por análise das instâncias competentes. A entidade declarou que o episódio não afeta o funcionamento nem a qualidade dos serviços ofertados à população e afirmou manter “compromisso absoluto com transparência, ética e cuidado integral”. O instituto disse ainda que segue colaborando com as autoridades para o esclarecimento dos fatos.
Por outro lado, o Jornal Opção Tocantins também pediu posição sobre reúne pontos que a Polícia Civil do estado levantou durante o cumprimento de mandados em Palmas, quando a corporação identificou repasses expressivos de recursos estaduais ao instituto, boa parte oriunda de emendas parlamentares, e anunciou um pente-fino nos contratos ligados a entidades públicas.
O jornal questiona como o Idesp tomou conhecimento dessa checagem mais ampla e se houve comunicação oficial; se o instituto mantém contratos, convênios ou processos no Tocantins que possam entrar na análise; como funciona o fluxo de prestação de contas de recursos de emendas, etapas, documentos e acompanhamento; por que uma das prestações de contas aparece como devolvida no Transfere.TO e qual a situação atual. O pedido foi encaminhado com solicitação de resposta ainda nesta terça-feira.
A reportagem também procurou a Secretaria de Saúde do Tocantins para saber como fiscaliza a prestação de contas dos repasses aos institutos feitos via emendas parlamentares. A matéria será atualizada assim que a resposta for disponibilizada.
Sobre os repasses, até o momento, apenas o deputado Marcus Marcelo retornou o contato. Segundo o parlamentar, a emenda de R$ 1.200.000,00 de sua indicação foi cancelada e ele destinou a verba para outras finalidades. O deputado enviou a reportagem o documento protocolado na Secretaria de Saúde em em 16 de setembro. Os demais deputados estaduais ainda não retornaram.

Documento enviado pelo deputado Marcus Macelo sobre seu pedido de cancelamento da emenda no valor de R$ 1.200.000,00
