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Astier Basílio

Serguei Iessiênin talvez tenha sido o poeta, do panteão da Era de Prata, de que mais demorei a me aproximar.

Lembro de ir a uma conferência do Instituto de Literatura Mundial Maksim Górki (quase homônimo do meu, mas outro) e ao apresentar meu trabalho de tradução, quem eu já havia traduzido, uma professora de lá reclamou que eu havia traduzido autores que eram influenciados por Sierguei Iessiênin (era verdade, ela se referia a Boris Rýji) e não o tinha traduzido.

Não sei explicar. Mas Iessiênin (1895-1925 — viveu 30 anos) é um poeta com quem mais sinto conexão. Talvez pela sua origem rural, pela forma como cantou sua aldeia, ou pelo aproveitamento melódico das canções folclóricas em seus poemas. É o poeta, de longe, que me dá mais prazer no ato de tradução.

Agora (130 anos depois de seu nascimento e quase 100 anos de sua morte), resolvi revistar um poema que traduzi há alguns anos.

É um dos meus preferidos de toda a lírica russa.  Me lembra muito o Federico García Lorca de “Romancero Gitano” — e esse reflexo eu tentei colocar na minha tradução.

Poema de Serguei Iessiênin — De 1911

Mais bela do que Tanyusha no vilarejo não tinha.

Com seu babado vermelho e um sarafan na bainha.

Às ravinas, pelas sebes, Tanyusha de noite ruma.

A lua é quem guia um jogo dentro da nublada bruma.

Veio um rapaz inclinando a cabeça a cachear.

“Perdoa, alegria minha, com outra eu subo ao altar”

Fria tal como geada, branca da cor de um sudário,

Na trança surgiu uma cobra com seu bote sanguinário.

“Oh, tu, rapaz de olho azul, não por ofensa que digo,

Vim aqui pra te falar:  outro é quem casa comigo”.

Tocou pela boda o sino, não pelo sol que raiara,

Em carroças iam as núpcias, cavaleiros viram a cara.

Não se entristeceram cucos, povo de Tânia em lamento.

Por sobre a têmpora de Tânia uma clava fez ferimento. 

Na testa uma rubra grinalda coagulava-se em linha. 

Mais bela do que Tanyusha no vilarejo não tinha.

Astier Basílio é escritor, crítico literário e tradutor. Estuda na Rússia.