Todos Nós Estaremos Bem, romance de Sérgio Tavares, é a saga de uma família brasileira na ditadura

15 fevereiro 2025 às 21h13

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Mariza Santana
Roberto é um empresário bem-sucedido, pioneiro na área de assessoria de comunicação no Brasil, que fez fortuna representando empresas que financiaram governos da ditadura civil-militar (1964-1985). Ele se casa com Lúcia, uma ex-guerrilheira que foi torturada nos porões do regime discricionário.
A filha de Roberto e Lúcia, ainda pequena, é acometida de uma doença grave e enfrenta momentos difíceis no hospital. Em poucas linhas, é o resumo do romance “Todos Nós Estaremos Bem”, do escritor, crítico e jornalista niteroiense Sérgio Tavares.
Por meio desses três personagens principais, a obra literária traça um panorama detalhado da história recente do Brasil, desde a época da ditadura civil-militar, passando pelo movimento das Diretas Já, a redemocratização do País, o Plano Collor, até a virada de 1999 para 2000. Relatado do ponto de vista der três vozes (Roberto, Lúcia e a filha), inicialmente o livro apresenta a trajetória do empresário, seu casamento com a ex-guerrilheira e a leucemia da filha pequena.
Até o encontro amoroso, em um quarto de hotel, com um jovem e misterioso fotógrafo de uma agência internacional. Esse fato contribui para mudar sua preferência sexual e provoca uma mudança radical na vida do empresário bem-sucedido. Aliás, “Todos Nós Estaremos Bem” tem trechos bem picantes e detalhados das aventuras sexuais do protagonista.
A narrativa evolui até os anos 1980, quando Lúcia incentiva Roberto a participar de encontros reservados de swing de casais, em busca de resgatar o antigo ardor dos primeiros tempos do casamento deles. Mas naquela época rondava uma grave ameaça. O vírus HIV estava se espalhando rapidamente e a Aids é a doença determinante para influenciar o restante da história. A família é destroçada, sobrando Roberto sozinho com seus fantasmas no dia do Réveillon do ano 2000, uma data celebrada pela maioria dos brasileiros.
É melhor não adiantar o desfecho do romance (embora eu já tenha contado demais) para não tirar a surpresa do leitor. Adianto apenas que o título “Todos Nós Estaremos Bem” não é confirmado, muito pelo contrário. Mas pelo menos a ditadura ruim e a democracia pôde ser reinstalada e já está completando 40 anos.
Sérgio Tavares nasceu em 1978 em Niterói (RJ). É autor do livro de contos “Cavala”, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura em 2010, publicado em Portugal com o título “Equação Sobre o Abismo”. Muita bem-escrita e arquitetada, a obra “Todos Nós Estaremos Bem” é seu primeiro romance, editado em 2023. Trata-se de uma radiografia do cotidiano na ditadura pelo viés da literatura, quer dizer, da imaginação. O romance, ao tratar de um tema real, sobrevive como literatura? Sim. É um retrato vívido, sólido.
Mariza Santana é jornalista e crítica literária.