História dos anos 1980 mostra os problemas da fé cega e a busca constante por um salvador

As histórias de super-heróis, basicamente, se repetem ao longo dos anos – haja repetição, já que muitos desses personagens chegaram ao mercado editorial na década de 1930. Entre esses infinitos seres, um que nunca me chamou a atenção foi o Surfista Prateado. Pelo menos até o Jean Giraud, mais conhecido como Moebius, ilustrar uma minissérie do alienígena.

Surfista Prateado: Parábola tem arte do francês e o roteiro de um de seus criadores, Stan Lee. O ícone da Marvel escreveu o personagem pela primeira vez em março de 1966, para a edição 48 de Quarteto Fantástico que trazia, também, seu outro criador, o desenhista Jack Kirby.

Mas em Parábola, temos uma história de adoração religiosa. Galactus, o devorador de mundos chega a Terra e cobra a fé humana – nele próprio – em troca de uma nova era. Essa, na verdade, é a destruição, mas quem questionaria um “deus”, ainda mais quando sua religião se espalha pelo globo?

Sinopse

“Galactus converteu a humanidade em seus seguidores e a está conduzindo para a destruição. E o único oponente do Devorador de Mundos é o herói que ele mesmo aprisionou na Terra: o Surfista Prateado. Galactus jurou não consumir o planeta, mas e se, em vez disso, ele transformar a civilização lá existente em seus adoradores?”, diz parte da sinopse.

E como nem tudo é o que parece (e já parecia ruim)… “Aos terráqueos o semideus promete um futuro melhor, mas nenhuma outra pessoa conhece tão bem os verdadeiros propósitos dele do que o Surfista Prateado, seu antigo arauto [nas antigas histórias, o Surfista viajava de mundo em mundo avisando da ida de Galactus, o que significava o fim de um planeta]”.

Entre as críticas interessantes presentes na história, está a fé cega, que, comumente, vem carregada de intolerância ao pensamento oposto. Em certa cena, o Surfista tenta alertar sobre o os intuitos de Galactus, mas é tratado como herege e atacado.

Porém, aos poucos, os homens percebem que a entidade não é um deus. A derrota vem pelo rompimento da fé e não por combate direto – Galactus não é um deus, mas em poder quase o é.

“Galactus não precisa de ninguém para lembrá-lo de um juramento firmado”, diz o semideus ao Surfista, que pedia para não haver represálias. “Eu parto… Pois a fome ainda me consome. Mas o tempo não tem fim, e o futuro é meu. Ainda voltarei… E saborearei meu triunfo. Pois a memória coletiva do homem é terrivelmente curta”.

Mas o homem vive de erros. Ao admitir ter endeusado Galactus e vilipendiado o Surfista, eles querem aclamar o herói como “verdadeiro salvador vindo das estrelas”, mas são repreendidos rapidamente.

“A centelha da divindade ou está em todos… Ou em ninguém! Não podem posicionar um homem acima de outros”. O gesto, claro, é visto com a humildade de um santo e mais uma vez os homens querem adorar a alguém, O que o faz tomar uma atitude inusitada (leia para saber).

Moebius, criador do Surfista Prateado

Adoração

A necessidade de adorar e acreditar em algo maior, um salvador parece algo presente em todos os povos. “A religião é o ópio do povo”, disse Karl Marx ao sintetizar uma ideia já existente entre pensadores do século XVIII, como Immanuel Kant.

Mas se a obra traz uma boa crítica e permanece atual, sobretudo em nossa realidade de buscas por messias, ela traz, também, uma arte incrível, como era de se esperar se Moebius. São 92 páginas inspiraras do belo traço do francês.

Jean Giraud, que começou a publicar suas primeiras tiras aos 18 anos, faleceu aos 73 em março de 2012. Entre seus inúmeros trabalhos estão Incal e Arzach.

Surfista Prateado: Parábola foi lançado pela Marvel, originalmente, em 1988. Por aqui, a versão mais recente saiu pela Panini em 2013