“Sex Education” trata descobertas adolescentes sem tabus
16 fevereiro 2020 às 00h00

COMPARTILHAR
Série que aborda de forma madura a iniciação sexual dos jovens, “Sex Education acaba de ter a terceira temporada confirmada pela Netflix

A primeira cena mostra a sala de uma casa, a mãe (Samantha Spiro) sentada no sofá e a luminária que treme. A trilha sonora é conhecida: “Mannish Boy”, de Muddy Waters. A cena mostra que era noite e, no quarto que fica em cima daquela sala, na qual a esposa com olhar perdido se levanta para ir atrás do cachorro da família enquanto o marido (Alistair Petrie) senta de costas para ela no ambiente ao lado, dois adolescentes transam.
Enquanto a música, que pode ser traduzida como “Garoto Másculo” ou “Garoto Masculinizado, começa com os versos “Ooooooh, yeah/Ooh, yeah/Everything’s gonna be alright this morning/Ooh yeah/Whoo!“, Adam Groff (Connor Swindells), filho do casal na parte de baixo da casa, transa com a namorada Aimee Gibbs (Aime Lou Wood).
Abordagem franca
Ela parece bem interessada no ato. Já o adolescente se mostra um pouco desligado. A cena inicial do primeiro episódio da série inglesa “Sex Education” evidencia que não tratará a iniciação sexual dos jovens com preconceito ou com certo tabu ao abordar o tema.
E isso fica evidente no primeiro diálogo:
“– Gosta dos meus peitos? Alô? Meus peitos!
– Sim. Eu amos seus peitos.
– Quer gozar neles?
– Claro. Deixa só eu tirar isso [camisinha].
– Não. É melhor não. Ficou coçando da última vez. Vem por trás.
– OK.
– Eu vou gozar. Você não vai gozar?
– Você só fingiu?
– Não seja idiota.
– Por que você está me encarando?
– Me mostra a camisinha.
– De jeito nenhum.
– Onde está a porra, Adam?“.

Descoberta sexual
Sim. A abordagem da descoberta sexual dos jovens não é uma novidade nas produções audiovisuais. Mas o grande acerto de “Sex Education“, produção da Netflix que acabou de ter a terceira temporada confirmada para 2021, é fugir dos estereótipos de comédia pastelão ou focar apenas nas questões sexuais das personagens.
A série consegue ir muito além nos 16 episódios disponíveis até aqui. São oito na primeira temporada e a mesma quantidade na segunda, que foi ao ar na plataforma de streaming no mês de janeiro. As dificuldades, dúvidas, inseguranças e medos dos adolescentes de uma escola britânica de ensino médio se mistura ao drama das vidas dos jovens.
Não é apenas a descoberta sexual o mote de “Sex Education”. Tanto que muitos adultos que tiveram contato com o conteúdo da série lamentam não ter disponível quando eram adolescentes algo parecido. Ao mesmo tempo que é interessante, a narrativa constrói uma teia informativa e reveladora sobre desejo, métodos contraceptivos, vontade, interesse, fetiche, identidade, sexualidade. Tudo feito de uma forma aberta e inclusiva.
NOSSA NETFLIX QUE FINAL FOI ESSE? Spoiler: não foi o final. Vai ter terceira temporada de #SexEducation, sim. pic.twitter.com/nibtZzOwic
— netflixbrasil (@NetflixBrasil) February 10, 2020
Abstinência?
O discurso passa longe da forçada ideia da alternativa, equivocadamente viável na cabeça da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, de abstinência sexual. O jovem tem desejos, começa se descobrir, assim como seu corpo e suas mudanças, durante a puberdade.
Tão franca e aberta é a série, que o primeiro dilema surge no minuto inicial, como ficou claro com o diálogo escolhido para abrir o texto: a ejaculação durante a prática sexual. É natural que os jovens iniciem a vida ativa na cama – ou em qualquer outro lugar – com um acúmulo de pressão social, seja dos amigos na escola ou do medo de não saber o que fazer na hora.
Encarar o sexo na adolescência como um tabu e estigmatizar faria de “Sex Education” mais um produto audiovisual em uma indústria de produções para o cinema, TV e streaming que pouco soube lidar tão bem quanto a série britânica ao abordar a descoberta do desejo de cada um.
Orientação sexual
A homossexualidade, que em muitos casos é uma barreira – com censura a beijos em capítulos de telenovelas ou inclusão da cena do beijo ou do sexo em um filme -, aqui se torna mais uma das várias faces do ser humano. Um dos personagens mais interessantes da série é Eric Effoing (Ncuti Gatwa).
Amigo de Otis Milburn (Asa Butterfield), filho da terapeuta sexual Gillian Anderson (Jean Milburn), Eric não se destaca por sua homossexualidade. Mas sua orientação sexual é parte de uma identidade cheia de detalhes, como o fato de na mesma figura caber o gosto por roupas bastante chamativas, tomar muito mal tromba, ser alvo de bullying do filho do diretor da escola. Entre vários detalhes surge a naturalidade que a série trata o fato de um adolescente ser gay.
Muito além
Não. “Sex Education” não foge da discussão de quão difícil é se aceitar, ainda mais na adolescência, e não ter medo da exposição em casa, a dificuldade do diálogo sem tabus com pais e mães. Mesmo quando o responsável legal é uma terapeuta sexual. As complicações corporais e psicológicas de se descobrir sem muita informação ou conviver com ser quem se é e expor isso em um mundo machista e agressivo com o diferente.
Série: “Sex Education”
Plataforma: Netflix
Classificação etária: 16 anos
Temporadas: 2
Episódios: 16
Gênero: comédia/drama adolescente britânica