O inovador e bilionário furacão Elon Musk (4ª parte)

22 janeiro 2023 às 00h00

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Do purgatório ao paraíso: a vida turbulenta do empreendedor
Salatiel Soares Correia
Especial para o Jornal Opção

O purgatório na vida do empreendedor sul-africano Elon Musck abrange, inclusive, sua vida privada, apimentada pela imprensa, além dos insucessos que teve de amargar nos primeiros tempos quando tanto os projetos da Tesla quanto os da Espaço X começaram a corroer um patrimônio que, naquela época, girava em torno de 200 milhões de dólares.
Posto isso, vejamos, brevemente, a turbulenta vida privada de Elon Musk.

Da movimentada vida privada do dono da Tesla podemos dizer que o inimigo mora ao lado. Ou melhor, dormia ao lado dele. Sobre esse assunto é sempre bom lembrar o perigo que representa uma mulher rejeitada (sejamos verdadeiros: um homem rejeitado também é perigo. Acrescente-se que é preciso ter cuidado ao se examinar a vida alheia). Ele é Justine Musk (neé Justine J. Wilson), a então mulher do dono da Tesla. Vamos, pois, aos fatos.
Justine conheceu Elon nos tempos que ele estudava no Canadá. Não demorou muito para que os dois se casassem. Tiveram seis filhos, todos do sexo masculino, gêmeos (Griffin e Xavier) e trigêmeos (Damian, Saxon e Kai). O primeiro, Nevada Alexander Musk, morreu pouco depois de nascer.
Escritora, Justine mantinha um blog, que, de certa forma, incomodava Elon pelo fato de que, em algumas ocasiões, ela postava notícias sobre a vida íntima do casal. Com o casamento em crise, questão essa aliada aos problemas que Elon enfrentava na Tesla e na Espaço X, o presidente da Tesla entrou com o pedido de divórcio, coisa que irritou terrivelmente Justine, que ainda tentava salvar o casamento.

A tensão entre o casal aumentou mais ainda quando Musk conheceu uma jovem atriz em ascensão, que era 14 anos mais nova que o empresário, chamada Taluhah Riley, hoje com 37 anos.
A partir desse momento, o blog da ex-mulher do dono da Tesla passou a ser seu pesadelo. Na vida doméstica, somos o que realmente somos, sem a máscara que colocamos para viver em sociedade. E o blog de Justine passou a fazer a alegria do mais famoso blog do Vale do Silício — o Valleywag. O principal jornalista desse blog Owen Thomas, após extrair inúmeras informações da vida do dono da Espaço X, foi logo atirando coisas da seguinte ordem: “Musk é um mestre da manipulação, que jogava rápido e perdia com o dinheiro dos outros”.
Existem inúmeros episódios que revelam as tantas turbulências pelas quais passou Elon Musk, citar todas é algo que escapa dos objetivos desta resenha. O aqui exposto possibilita a você, leitor, tirar suas próprias conclusões. Posto isso, volto-me a outros dois fatos perturbadores na vida desse extraordinário empreendedor sul-africano: a crise da empresa mais valiosa do planeta — a Tesla —, e o purgatório dantesco vivido pelo hoje homem mais rico do mundo.
Por que Elon nunca desistia? Por que razão, a cada crise em suas empresas, como a de 2007, Musk adquiria energia para recomeçar? A esse respeito aponta o livro “Elon Musk — Como o CEO Bilionário da Spacex e da Tesla Está Moldando Nosso Futuro” (Intrínseca, 400 páginas, tradução de Bruno Casotti), de Ashlee Vance, sobre o recomeçar de um projeto de grande importância para a Tesla: o carro Roadster.

“A Tesla basicamente teve de refazer grande parte do seu carro mais moderno”, afirma Ashlee Vance. Além disso, a Espaço X tinha dezenas de funcionários morando na base de Kwajalein, à espera do próximo lançamento do Falcon 1. O fracasso dos dois lançamentos anteriores estava engolindo recursos. Tanto isso é verdade que o milionário Elon começou a vender bens, como o seu xodó mais precioso: uma luxuosíssima McLaren. Dispor do patrimônio e empobrecer por acreditar no sucesso mundial de um produto como a Tesla faziam Elon trabalhar à exaustão. As milionárias necessidades de aportes de capital derretiam ante a necessidade de recursos para continuar financiando esse projeto que o então presidente da Tesla acreditava. Era preciso ter coragem e crença. Elon tinha ambas. Além disso, ele, na condição de líder, sabia cobrar resultados.
Sem um líder desse jaez, a Tesla e a Espaço X teriam ido literalmente à falência. Esse cenário mudou radicalmente no momento que a Tesla se tornou um sucesso mundial e a Espaço X conseguiu finalmente enviar ao espaço seus foguetes. A partir daí, os lucros extraordinários enriqueceram o patrimônio do filho do engenheiro Errol, que chegou a cerca de, atualmente, 200 bilhões de dólares. Elon, enfim, entrava no paraíso. Creio, conforme dois momentos da sua vida, seja possível explicar o fenômeno Elon Musk. O primeiro na vida aventureira dos avós, que passaram para os filhos o valor de nunca retroceder. O segundo momento é quando ele ergue com as próprias mãos os 50 quilos do culto à modernidade que se transformou no objeto de desejo dos endinheirados nos quatro cantos do planeta: o automóvel elétrico Tesla, especialmente o mais moderno dos Teslas, o Roadster. Enfim, gostem ou não dele, uma verdade inconteste sobre o homem mais rico do planeta é sua visão de futuro aliada à sua obsessão no tocante ao cumprimento de objetivos.

Empresário conquista o paraíso
Elon Musk conquistou enfim o paraíso no momento que o foguete da Espaço X foi lançado com sucesso ao espaço sideral, a custos bem menos significativos que as gigantes Boeing e Lockheed.
A partir desse episódio, o governo dos Estados Unidos percebeu que a empresa presidida pelo empreendedor sul-africano tornar-se-ia um importante player no mercado internacional, a ponto de resgatar a terra do presidente Abraham Lincoln da incômoda relação de dependência com a Rússia de Vladimir Putin, dependência essa ocorrida desde os tempos da aposentadoria dos ônibus espaciais norte-americanos.
A dependência em questão se devia ao fato de o governo daquele país necessitar manter astronautas nas viagens espaciais ao preço imposto pelos russos: de 70 milhões de dólares por pessoa, pagos ao governo russo pelo uso de seus satélites.
A esse respeito, o autor relata que “nos próximos anos, a empresa espera reduzir seu preço a menos de um décimo do cobrado por seus rivais”. Além disso, a Espaço X incorporará a inovadora tecnologia dos propulsores reversos, que evitará a destruição dos foguetes no momento da decida em que estes se chocam com o mar.
Um outro fator que materializará enormes receitas para a Espaço X se atrela ao fato da empresa presidida por Elon ter a expertise técnica para atender ao contexto do mercado espacial e tudo que ele representa: fabricação de satélites, mercado de TV, internet, rádio, clima, navegação e serviços de imagem.

Por fim, creio ser oportuno relatarmos a ampla vantagem comparativa da Tesla sobre seus concorrentes no tocante a dependência de fornecedores. Para isso, conta-nos o autor que “a Companhia faz, ela mesma, de 80% a 90% de seus foguetes, motores, equipamentos eletrônicos e outros componentes. É uma estratégia que deixa absolutamente perplexos concorrentes como a United Launch Alliance (ULA), que se gaba abertamente de depender de 1200 fornecedores para produzir seus produtos finais”. Creio que não restem dúvidas do quanto a Espaço X está quilômetros à frente da maioria de seus concorrentes, bem como de que o general Elon Musk soube recrutar e liderar os milhares de funcionários que suas empresas têm pelo mundo afora.
Salatiel Soares Correia é engenheiro, administrador de empresas, mestre em Energia pela Unicamp, é autor de sete livros, como “A Energia na Região do Agronegócio”. É colaborador do Jornal Opção.