Marina Colasanti: a vida pode surgir do nada e fazer brilhar o jeito humano de existir bem com a natureza

27 setembro 2025 às 21h00

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Soninha Santos
Especial para o Jornal Opção
As cidades grandes, com seus arranha-céus e pessoas e barulhos e caos são muitas vezes palco de absurdas, surpreendentes e também fascinantes surpresas. É nas cidades que comumente se busca o futuro, o (re)conhecimento e o sustento de muita gente. Sabe-se que a vida nas metrópoles é apressada, corre contra o relógio, não restando muito tempo para vislumbres e arrebatamentos em frente à natureza. Esse encontro, quando acontece, geralmente é em parques, bosques, quintais, praças ou canteiros centrais planejados para servir a propósitos de arborização.
Mas o que fazer quando, em um profundo poço de arejamento de um edifício, sem água, sem terra, apenas cimento e concreto, aparece, como que do nada, uma semente que brota, originando aí um ser vivo pulsante? Levada para lá sabe Deus por quem, como, desautorizada, sem conhecimento de causa ou efeito, sem que um “dedo verde” a pudesse encontrar e zelar por ela? O que fazer, se nem os moradores do edifício sabem da sua existência? Se apenas um raio de sol, fraca luminosidade do verão, a possa abraçar com uma frágil e inocente brisa? Nada.

Mas a natureza encontra seus meios de (co)existir. Então, do nada, sem preparo algum, sem aviso ou alarde, uma pequena, quase inexistente rachadura, a faz vibrar e, como é natural com a vida, ela busca meios de sobreviver. Busca luz. Busca amplidão e céu.
“O Verde Brilha no Poço” (Global Editora, 16 páginas), escrito e ilustrado por Marina Colasanti, responde a essas perguntas e, mais, aponta um caminho certeiro para as emoções humanas, tão rarefeitas em tempos turbulentos onde o que menos se tem, é tempo. Ar. Verde. Esperança.
O livro pode despertar em nós o que temos de mais precioso, no caso, a nossa própria humanidade, assim como a nossa capacidade, às vezes adormecida, de agir, realmente, como seres vivos e humanos.

Um poço desprezado e esquecido de repente transborda vida e procura sol, não só no astro reluzente de grandeza magnífica, mas também no coração de seus habitantes. Parar e ver, parar e observar, parar e aquietar a mente ruidosa e apressada traz benefícios que só quem vive humanamente, de fato, reconhece
Marina Colasanti nos brinda com essa obra tão bem traçada, dedilhada como música em prosa poética. Assim como a prosa, merece destaque a ilustração que ela mesma faz. São ilustrações acalentadoras e transmitem ao leitor/ leitora sensações e certezas, principalmente uma certeza que é universal: não somos só corpo e mente, somos parte comum física e mental da natureza, essa mesma, exuberante e viva que nos rodeia diariamente e mal prestamos atenção a ela.
Livro maravilhoso, como é de se esperar da obra de Marina Colasanti. O texto flui como um poema gritante capaz de nos levar a essa tal verdade já mencionada: a vida existe e deve ser festejada e respeitada sempre. Qualquer forma de vida. Há esperança. Até mesmo onde só o escuro a alcança, o verde brilho e pede socorro.
Soninha Santos, crítica literária e professora de literatura, é colaboradora do Jornal Opção.