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Salatiel Soares Correia

Especial para o Jornal Opção

A Academia Goiana de Letras recebe, na quinta-feira, 21, um novo integrante — cujo nome dispensa apresentações: o engenheiro, escritor e ex-governador de Goiás Irapuan Costa Júnior.

Mais do que saudar sua posse, é momento de reconhecer um homem que, ao longo da vida, soube unir a precisão técnica do engenheiro à sensibilidade do artista da palavra. Do estilista da Língua Portuguesa.

Autor de obras que li com grande prazer — e cuja leitura recomendo — Irapuan Costa Junior revela-se, nas letras, um mestre do português impecável. Cada palavra ocupa seu devido lugar, como se fosse parte de uma engenharia textual perfeita.

Livro do filósofo inglês Herbert Spencer traduzido por Irapuan Costa Junior | Foto: Jornal Opção

Em “Jogo da Memória”, por exemplo, ele nos conduz aos tempos em que era estudante de Engenharia no Rio de Janeiro, costurando lembranças pessoais com o tecido vivo da história. Como tradutor, enfrentou com êxito a complexa obra de Herbert Spencer, demonstrando erudição e rigor intelectual. “Princípios de Filosofia” é um livro complexo. Para traduzi-lo não basta saber bem as línguas ponto de chegada e de partida. É preciso entender a filosofia do britânico. Traduziu também um opúsculo de Spencer.

Mas há dois (ou mais: é múltiplo como Mário de Andrade) Irapuans dentro de um só.

O técnico, de raciocínio preciso e metódico, que se transforma no político de visão estratégica. Na vida pública, seu olhar de artista se fez presente na construção de instituições fundamentais para o desenvolvimento de Goiás: a criação e institucionalização da Secretaria de Minas e Energia, a Secretaria de Transportes, a consolidação do Departamento de Águas e Esgotos (DAE) e a implantação do único distrito industrial que resistiu incólume à ação do tempo. O Daia é o maior distrito industrial de Goiás e um dos maiores do país — a rigor, é uma cidade. Fica em Anápolis e é um modelo para outros distritos industriais. Sua indústria farmoquímica é uma das maiores, senão a maior, da América Latina.

Irapuan Costa Junior e Salatiel Correia | Foto: Euler de França Belém/Jornal Opção

No setor elétrico, à frente da antiga Celg, Irapuan Costa Júnior construiu a tecnoestrutura da empresa e a transformou em referência nacional. Sob sua liderança, a companhia alcançou o posto de sexta melhor entre mais de quarenta existentes no país na época — feito que marcou o auge da estatal goiana.

Não à toa, foi considerado pelo corpo técnico como o melhor presidente da história da Celg.

A alma de artista aplicada à política fez de Irapuan Costa Junior um governante modernizador, voltado ao bem comum e não a interesses pessoais. Sua trajetória pública é marcada pela integridade e pela generosidade — atributos que, em tempos de tantas desilusões, tornam-se ainda mais valiosos.

Sabe quem recuperou o Teatro Goiânia, dando-lhe nova dinâmica? Irapuan Costa Júnior, que trouxe a notável bailarina Margot Fonteyn para dançar no seu palco.

Sabe quem publicou, em formato de livro, toda a coleção da revista “Informação Goyana”, editada nos primórdios do século 20? Pois sim: Irapuan Costa Junior.

Escrevendo há quase 30 anos no Jornal Opção, sem falhar uma semana, Irapuan Costa Junior é um dos mais lidos e respeitados. É polêmico, de firmeza rara. Posicionado, nunca fica em cima do muro. É um crítico contundente dos malfeitos dos governantes.

Irapuan Costa Junior é um ensaísta brilhante, um observador arguto da cena brasileira e global. E há também o prosador. Ele escreve contos e já participou de concurso literário em Portugal, onde mora por alguns meses do ano, em Aveiro.

Irapuan Costa Junior merece parabéns dos goianos. Sua história é, também, parte do melhor da história de Goiás.

Sua lucidez, que lhe permite entender a realidade com olhos aguçados, é uma dádiva para os leitores do país. Sim, do país: levantamento do Jornal Opção mostra que seus ensaios críticos são lidos na maioria das capitais brasileiras, notadamente em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Salatiel Soares Correia, engenheiro, mestre em Energia pela Unicamp, membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. É colaborador do Jornal Opção.