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Rui Martins

O momento para roubar o Museu do Louvre foi bem escolhido: a imprensa francesa estava se preparando para a cobertura da prisão do ex-presidente Nicolas Sarkozy, além disso era um calmo domingo de manhã e centenas de pessoas começavam a entrar no conhecido museu francês, o mais visitado de todo mundo.

Ninguém se preocupou quando uma caminhonete com uma escada tipo Magirus, utilizada para transporte de móveis em apartamentos, estacionou do lado de fora do Museu e dela saíram quatro homens, porque pareciam operários, um deles tinha mesmo um colete amarelo usado no transporte de mudanças.

Com a escada subiram ao andar superior, cortaram o vidro da porta e entraram na ala Apollo do museu, onde estavam as jóias de antigas rainhas francesas, inclusive uma coroa, que os ladrões danificaram ao deixar cair na rua, no momento da fuga.

Quem tinha programado sua viagem com calma para ver a La Gioconda ou Mona Lisa, naquele domingo, no Museu do Louvre em Paris, não teve sorte! O Louvre fechou meia hora depois de ter aberto, logo após ter ocorrido o roubo, destinado a ficar na história por sua audácia!

Só que não vai dar filme como O Roubo do Século, contando o sofisticado roubo do banco de diamantes em Antuérpia, na Bélgica! Por uma razão bem simples: o roubo no Louvre não teve grandes truques, foi tudo muito simples e mesmo muito rápido, durou apenas 7 minutos, sem que os ladrões estivessem armados.

Nesses poucos 7 minutos saíram pela porta-janela por onde entraram, desceram pela escada Magirus e tentaram colocar fogo na caminhonete base da escada móvel, mas desistiram ao ver que chegavam guardas do Museu. E fugiram de moto.

No caminho deixaram cair a coroa da imperatriz Eugénie, esposa de Napoleão. A polícia também encontrou “duas cortadoras elétricas de vidro, um maçarico, gasolina, luvas, um walkie-talkie, um cobertor e uma coroa” no local do assalto.

Um colete amarelo utilizado pelos autores do roubo para se disfarçarem de operários foi encontrado um pouco mais longe, perdido durante a fuga. Tudo indica que faltava policiamento e guardas do museu no local, em consequência de economias que vinham sendo feitas há anos,

Um jornal belga publicou, na primeira página, um caricatura na qual Mona Lisa diz – eu vi tudo!

Para a imprensa internacional foi um prato cheio, pois a França acaba de sair de uma crise política e enfrenta uma crise financeira. Fora a importância do Louvre, um dos maiores museus do mundo. Houve referências ao ladrão elegante Arsène Lupin e comparações com o filme Os Diamantes de Antuérpia, contando um roubo importante, no valor de cem milhões de dólares,na Bélgica, em 2003, por um bando Italiano de Turim.

Esse mesmo roubo inspirou um filme mais conhecido com Demi Moore e Michael Caine, Flawless, cujo título é “O Roubo do Século”.

Numa época de avanço tecnológico, o Museu do Louvre tem atrasos importantes e a sala Apollo, onde estavam as joias roubadas, só dispunha de uma câmera que documentava a presença dos ladrões, mas sem permitir a obtenção de detalhes. A entrada de ladrões na sala Apollo era subestimada por não se imaginar que ladrões pudessem ali subir.

Houve caricaturas na imprensa, inspiradas no roubo do Louvre como a do Jornal Ouest-France, do chargista Chaunu. E diversas interpretações falando num ataque à história francesa e num roubo moderno inspirado no valor de metais preciosos. Especialistas destacaram ter havido a busca do valor material e não histórico das joias e no surgimento de uma nova tendência de ataques aos museus, aproveitando-se de suas falhas em termos de segurança.

Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-“Estadão”. Vive na Suíça, correspondente do “Expresso” de Lisboa, “Correio do Brasil” e RFI.