Elizabeth Finch, de Julian Barnes, é um convite à reflexão filosófica sobre a vida

01 março 2025 às 21h00

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Mariza Santana
Há livros que você percorre as páginas de forma prazerosa, quase como um entretenimento literário. Outros, porém, exigem por parte do leitor maior reflexão a respeito de sua mensagem e podem. Inclusive, influenciar sua forma de pensar o mundo. “Elizabeth Finch” (Rocco, 199 páginas, tradução de Léa Viveiros de Castro), do escritor britânico Julian Barnes, se encaixa nesse segundo caso. Embora à primeira vista o enredo do romance seja simples, a forma de conduzi-lo é de uma sofisticação impressionante e um convite para praticar o pensamento livre.
O protagonista da obra é Neil, um homem que já passou por dois casamentos. Ele frequenta o curso de Cultura e Civilização para adultos ministrado pela professora Elizabeth Finch, uma mulher peculiar. A mestra não se casou, se veste de uma forma atemporal, é enigmática e possui teorias próprias sobre os efeitos do monoteísmo cristão sobre a civilização europeia. Em suas aulas, ela cita o personagem histórico Juliano, o Apóstata, último imperador pagão do Império Romano, que morreu em batalha, e cuja derrota, na sua avaliação, teria influenciado diretamente o futuro da humanidade ocidental pelos séculos seguintes.

Fascinado pelas ideias de Finch, Neil costumava se reunir com ela durante almoços esporádicos e desenvolveu um amor platônico pela professora. Quando a mestra falece, é nomeado em testamento como o herdeiro de sua biblioteca e escritos. Com o auxílio do irmão dela e de outros alunos, tenta elaborar uma biografia de Elizabeth Finch, com base ainda em apontamentos deixados em alguns manuscritos. Mas como levantar o perfil de uma pessoa com base apenas em algumas pistas esparsas? Assim, quem era considerado uma pessoa incapaz de concluir um projeto, passa a ter um desafio monumental.
A obra “Elizabeth Finch” mistura questionamentos filosóficos com história, de uma forma inteligente, que leva o protagonista Neil a analisar sua própria trajetória de uma maneira diferente. Ao mesmo tempo, convida o leitor a refletir sobre o sentido da vida e como suas escolhas podem influenciar o futuro que está por vir, reforçando a importância das ações do presente. Parece algo simples, mas apresenta acentuada complexidade.
Julian Barnes é natural de Leicester, Inglaterra, e tem 79 anos. O escritor inglês é autor de mais de 20 livros traduzidos para cerca de 30 idiomas. Foi o vencedor do Prêmio Man Booker de 2011 pelo livro “O Sentido de um Fim”.
Mariza Santana é crítica literária e jornalista. Email: [email protected]