COMPARTILHAR

O Jornal Opção está publicando uma série de depoimentos de personalidades da cultura de Goiás sobre a Casa de Bariani Ortencio. Qual a importância da Casa de Bariani Ortencio e do escritor para a cultura goiana? O poder público deveria adquirir o imóvel para transformá-lo num espaço cultural de todos os goianos?

Elizabeth Abreu Caldeira Brito

Escritora

Elizabeth Abreu Caldeira Brito Foto Divulgação 300
Elizabeth Abreu Caldeira Brito | Foto: Divulgação

A residência de um renomado escritor não é somente um imóvel a ser preservado. Trata-se, sobretudo, de território simbólico onde habita a vida, a obra e o imaginário do criador e de sua criatura, ou seja, do autor e sua obra.

A casa do escritor, compositor e folclorista Bariani Ortencio é um espaço identitário. Um lugar de criação, de pensamento, de memória, de identidade coletiva e de inclusão do gesto criador. Gaston Bachelar em “A poética do espaço” conceitua a casa como sendo o “ninho do devaneio”, o primeiro universo do ser humano.

Nesse sentido, a casa de Bariani Ortencio – ícone cultural de Goiás falecido em 2024 — necessita de aquisição pelo poder público, para uma nobre destinação: lugar de memória, de encontros e de pertencimento.

Uma casa-museu, cujo espaço cumpra sua função educativa e cultural de sempre e viabilize encontros entre a memória viva e a literatura. Que aproxime gerações e possibilite acesso ao patrimônio intelectual, material e imaterial de Bariani Ortencio. Seja lugar de formação estética e identitária onde a trajetória pessoal do escritor seja entendida como história coletiva da literatura e da cultura de Goiás.

A casa-museu deve evidenciar a criação, a arte, a história, a tradição, a cultura e a memória de Bariani Ortencio por meio de seus livros autorais e seu acervo bibliográfico, fonográfico e imagético.

Cada cômodo, cada detalhe, cada coluna da casa, guarda a dimensão poética de sua arquitetura, do imaginário dos que ali conviveram por quase seis décadas e de seu espaço criativo de preservação da memória, como assevera Jan Assmann ao desenvolver o conceito de memória cultural.  Apreciação que nos auxilia na compreensão de casas como “instituições de recordação”, que ao se institucionalizarem, extrapolam a ideia de pertencimento individual, para se tornar um lugar coletivo. Viva a memória, a história e o legado de Bariani Ortencio.

Elizabeth Abreu Caldeira Brito, escritora, mestra em Letras, é sócia titular do Icebe, Aflag, IHGG e Academia Goianiense de Letras.