De como bichos e crianças fazem bem pra alma e mostram que crescer é doído, mas as dores passam

14 julho 2024 às 00h00

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Soninha Santos
Especial para o Jornal Opção
Baudelaire diz em seu poema “O gato” (2019, página 169, Penguin Classics, Cia das Letras):
“Se pelo gato meu olhar
Como por um ímã atraído,
Volta-se a seguir, comedido,
E em mim mesmo venho a olhar”[…].
Ao ler o poema, cujo trecho destacamos acima, pensamos logo que o bardo francês gostava de gatos, razão por que aos bichanos dedicou um belo poema. Poema que nos encanta por suas sinuosas metáforas, que transitam entre o nosso mundo e o mundo dos gatos.

Os gatos são ladinos e silenciosos, costumam se apropriar clandestinamente dos locais menos prováveis da casa que habitam. As histórias e crenças acerca da sua índole são envoltas em várias superstições e folclores. Baudelaire, no mesmo poema, justifica essa ideia ao afirmar que ele, o gato, “Faz os males cruéis dormir/ E os êxtases todos condensa;/ Até na frase mais extensa,/ Pode as palavras preterir.”
Dessa maneira, de modo a engrandecer a beleza da presença desses felinos no nosso cotidiano, temos visto, no terreno da literatura infantil e juvenil, o surgimento de muitas publicações em que os gatos são protagonistas. Tanto em obras de poesia quanto de prosa.

Eis que me chegou às mãos o livro “Catita, uma Gatinha Incrível”, de Fabíola Evangelista, publicado em São Paulo pela Giostri, em 2021.
O livro explora o universo de uma gatinha perdida na mata, encontrada por um menino tímido, Augusto, seu amigo Bernardo e seu cãozinho Godô, diminutivo de Godofredo. A gatinha está ferida, Guto cuida dela, dando início a uma grande amizade, sentimento que cresce em meio a inúmeras descobertas. Guto descobre que consegue se comunicar com os animais, comprovando com esse fato a ideia de que a infância, muitas vezes, nos permite criar um universo paralelo no qual podemos crescer de acordo com nossa vontade.
Crescer dói, mas essa dor passa e, na trajetória humana, outras dores acontecerão, mas todas elas fazem parte do crescer. Coragem, maturidade e esperança crescem com a gente.

A história de Fabíola nos presenteia com esse anseio bom de crescer, sem deixar de lado a criança que fomos um dia. E quando um gato, ou outro animal de estimação qualquer, faz parte da nossa vida, ficamos sem sombra de dúvida, mais fortalecidos, mais cheios de vida, de humanidade.
Vale a pena conferir a história, vivenciar com ela a rica experiência de crescer. Com gatos por perto, crescer fica bem melhor.
Soninha Santos é crítica literária e professora. É colaborador do Jornal Opção.