Confira a lista de leituras do escritor, crítico e professor da UEG Ademir Luiz para 2024

16 janeiro 2024 às 17h45

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Da mesma forma que 1968, 2023 foi um ano que não terminou. A despeito disso, inevitavelmente 2024 vai começar e é preciso planejar as intenções de leituras para o ano. Neste caso, creio que “A arte de driblar destinos”, de Celso Costa, é uma ótima pedida para iniciar as leituras de janeiro. A obra ganhou o Prêmio Leya de 2022 e é um “romance-mosaico que toma a educação como motor”.

Fevereiro, mês curtinho, ficará bem representado com o igualmente curto “O círculo dos Mahé”, do belga Georges Simenon, autor mais conhecido pela atuação no gênero policial, mas que escreveu aqui um retrato “sombrio e cruel de um homem comum, preso em sua mundanidade e consumido pela obsessão”. Quem nunca?
Possivelmente, devo tomar posse na Cadeira 31 da Academia Goiana de Letras entre o final de fevereiro ou ao longo de março. Não sem alguma necessária autoironia, uma boa pedida será “O imortal”, de Mauricio Lyrio, romance que “põe em evidência os encontros e desencontros entre a política e a literatura, ao mesmo tempo que expõe o drama do homem que confronta seus limites por meio do amor e da arte”. Justiça poética.

Por falar em poesia, “A cidade esquecida e outros poemas”, do americano William Carlos Williams, vai trazer lirismo para abril com versos marcados por “descrições que podem ser lidos a um só tempo como instantâneos da realidade e como retratos expressionistas eu se abrem para experiências metafísicas”. Revelar o transcendente nas dobras do cotidiano é arte para poucos.

Em maio, mês de meu aniversário, lerei o volume de contos “Fica comigo está noite”, de Inês Pedrosa. Depois do clássico “Fazes-me falta”, lerei tudo que puder da escritora portuguesa. Neste livro, “as personagens estão quase sempre em perda, ou em desencontro, ou na expectativa do reencontro. Mas raramente estão conformadas com a sorte que lhes coube”.
Aprecio o fogo que sempre acompanha junho. Talvez esse fogo possa esquentar a leitura do clássico “E os hipopótamos foram cozidos em seus tanques”, escrito a quatro mãos pelos beats Willian S. Burroughs e Jack Kerouac. “A divertida trama juvenil do romance, que gira em torno de amizade, poesia e experiências com sexo e drogas, acaba se revelando a anatomia de uma tragédia passional”.
Para julho, mês de férias, boa pedida é a Cidade Luz retratada no romance levinho “A livreira de Paris”, da americana Kerri Maher. “Quando a jovem estadunidense Silvia Beach abre a Shakespeare and Company em uma rua tranquila de Paris em 1919, não tem ideia de que ela e sua nova livraria transformarão o panorama literário mundial”. Paris é mesmo uma festa.
Dizem que agosto é o mês do cachorro louco. Pelo sim, pelo não, lerei “A Cachorra”, da colombiana Pilar Quintana. Segundo o jornal Le Monde, “um texto poderoso sobre uma mulher revoltada que não se rende completamente ao sofrimento”. Le Monde disse, le monde para.
Setembro, mês da Independência, lerei a novela “O Amante detalhista”, do argentino Alberto Manguel, só porque gostei do título e gosto de autor, que foi discípulo de Jorge Luis Borges. Neste livro, Manguel cria um personagem “sequioso de livrar o desejo da frustração e da melancolia que assediam o ato amoroso – até que uma criatura singular, fragmentária e indivisível, venha frustrar seu empenho e devolvê-lo ao tormento erótico”.
Outubro, como não poderia ser diferente, pede “Outra novelinha russa”, do chileno Gonzalo Maier, “uma jornada onírica, com toques de melancólica ironia, pela minguada paisagem do pós-Guerra Fria Soviética”. Que seja uma revolução literária.
Em novembro vamos refletir sobre a vida, o universo e tudo mais com o romance “A violoncelista”, do alemão Michael Krüger, que se vale de um “imbróglio amoroso para passar em revista os destinos da arte e das teorias estéticas do passado e da atualidade”.
Em dezembro lerei o livro que ganhei no amigo secreto de minha confraria esse ano, “A leste dos sonhos”, da antropóloga francesa Nastassja Martin. Sequência de “Escute as feras” onde “por meio de seu exercício singular de etnografia; gesto intelectual e discursivo, ela se torna aqui também um gesto político”. De dezembro a dezembro, o ciclo se fecha, pronto para recomeçar em 2025, como acontece nos sonhos.