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À medida que 2024 se aproxima, me vejo diante de um horizonte literário ainda indefinido. O meu programa de leituras para este ano reflete essa incerteza, reconhecendo que as escolhas são frequentemente moldadas por fatores inesperados e mudanças nas tendências culturais. Ao longo do ano, espero encontrar livros que me surpreendam e desafiem minhas expectativas, acompanhando o ritmo dinâmico da literatura contemporânea.

Minha estratégia, por enquanto, está focada em explorar mais obras que já foram traduzidas. Estou curioso para ver o que as editoras trarão em seus catálogos de traduções, previstos para serem anunciados no final de janeiro.

Enquanto espero por esses novos lançamentos, selecionei alguns livros de autores que li em 2023 e que me deixaram curioso para explorar mais de suas obras. Com isso em mente, inicio 2024 com uma mistura de expectativa e abertura para novas experiências literárias, ansioso para descobrir quais histórias capturarão minha imaginação neste ano.

1 — Dostoiévski-trip, de Vladímir Sorókin

Iniciarei minha jornada literária de 2024 com “Dostoiévski-trip”, de Vladímir Sorókin, um autor radical e significativo na literatura russa contemporânea. Este livro, focado em dependentes químicos que aguardam um traficante, usa as drogas como metáforas para autores literários, proporcionando aos personagens vivências intensas nas obras de Dostoiévski. No ano passado, li “O Dia de um Oprítchnik”, outra obra de Sorókin, situada em uma Moscou futurista de 2027, que mistura autoritarismo histórico e contemporâneo, refletindo sobre a continuidade de regimes autocráticos na Rússia.

2 — Jakob von Gunten, de Robert Walser.

Estou particularmente entusiasmado com “Jakob von Gunten”, de Robert Walser, um dos autores suíços (escrevia em alemão) mais intrigantes do século 20, admirado por nomes como Kafka e Walter Benjamin. Já li “Os Irmãos Tanner”, de Walser, uma narrativa autobiográfica que descreve a vida de quatro irmãos distintos. O romance aprofunda-se nas complexidades das relações humanas e escolhas pessoais, combinando reflexões filosóficas com observações críticas sobre arte e cotidiano.

3 — Limonov, de Emmanuel Carrère

Planejo ler “Limonov”, de Emmanuel Carrère, um best-seller francês que relata a extraordinária vida de Eduard Limonov, abrangendo suas várias facetas, de poeta russo a revolucionário, celebridade e presidiário. Em 2023, li “Ioga”, de Carrère, uma mistura de romance e autobiografia no qual o autor descreve sua luta contra a depressão, e “Outras Vidas que Não a Minha”, que entrelaça histórias reais do tsunami de 2004 no Sri Lanka, refletindo sobre a complexidade da condição humana.

4 — O Último Homem Branco, de Mohsin Hamid

“O Último Homem Branco”, de Mohsin Hamid, reconhecido como um dos melhores livros de 2022 pela revista “New Yorker”, também está na minha lista. O romance questiona as concepções tradicionais de racismo e branquitude. De Hamid, li “Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente”, uma sátira aos manuais de autoajuda, narrando a ascensão de um jovem rural à riqueza na Ásia, criticando as dinâmicas das sociedades emergentes e explorando temas de ascensão social.

5 — Alvo Noturno, de Ricardo Piglia

“Alvo Noturno”, de Ricardo Piglia, um romance noir de 2010 ambientado no pampa argentino, está nos meus planos. A história segue o jornalista Emilio Renzi na investigação do assassinato de Tony Durán, desvendando as contradições da vida rural argentina nos anos 1970. Em 2023, li “Dinheiro Queimado”, de Piglia, uma narrativa baseada em fatos sobre um violento assalto em Buenos Aires e Montevidéu, marcada por uma profunda análise psicológica e exploração dos aspectos sombrios da natureza humana.

6 — Mestres Antigos e Extinção, de Thomas Bernhard

Estou igualmente ansioso para ler “Mestres Antigos” de Thomas Bernhard, uma obra crítica e humorística sobre o meio artístico e a cultura austríaca, assim como “Extinção”, em que Bernhard trata de temas de autodestruição. No ano passado, li “Derrubar Árvores”, um livro que se destaca por sua crítica cínica e misantrópica à sociedade e à classe intelectual austríacas.

7 — Segunda Casa, de Rachel Cusk

Outra leitura planejada é “Segunda Casa”, de Rachel Cusk. A história foca em M, uma mulher de meia-idade cuja vida pacata é transformada pela chegada do artista plástico L e sua parceira Brett em uma residência artística. M, tomada por uma obsessão por L, narra os eventos, entrelaçando o período da estadia com reflexões e memórias pessoais. De Cusk, li a aclamada trilogia “Esboço” (2014), “Trânsito” (2016) e “Mérito” (2018), focada em Faye, uma escritora e mãe recém-divorciada.

8 — O Quebra-Nozes, de E.T.A. Hoffmann

Com muitos anos de atraso, estou ansioso para ler “O Quebra-Nozes”, de E.T.A. Hoffmann, um pioneiro da literatura fantástica. A habilidade de Hoffmann em entrelaçar histórias dentro de histórias influenciou centenas de obras, de “Pinocchio” a “Toy Story”, e inspirou o famoso balé de Tchaikovski. Ano passado, li “O Homem da Areia”, uma obra seminal de Hoffmann, que explora a psicologia humana por meio de um personagem atormentado por medos infantis.

9 — As Pontes de Königsberg, de David Toscana

Promete ser uma leitura cativante “As Pontes de Königsberg”, de David Toscana, que combina história, imaginação e mistério, abordando eventos da Segunda Guerra Mundial e o enigmático desaparecimento de seis meninas. Em 2023, li “Santa Maria do Circo” de Toscana, uma sátira social em que personagens marginais estabelecem uma nova sociedade em um vilarejo mexicano abandonado, revelando o absurdo do comportamento humano.

Carlos Willian Leite é presidente do Conselho Estadual de Cultura de Goiás.