“A Região Submersa”, de Tabajara Ruas, conta as peripécias do detetive Cid Espigão
20 dezembro 2025 às 21h00

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Mariza Santana
Um detetive simples e atrapalhado, por vezes ingênuo, que se vê metido em uma rede de encrencas após ser contratado por uma senhora rica de luvas brancas para localizar o seu filho, Sérgio, estudante de Medicina, que ela julgava desaparecido, mas que na verdade era um militante político. Esse é um breve resumo do livro “A Região Submersa”, do escritor gaúcho Tabajara Ruas.
O romance noir (ficção policial sombria) é destaque por sua narrativa ágil e repleta de reviravoltas, em alguns momentos escrito em uma linguagem próxima das histórias em quadrinhos (HQ), com seu anti-herói em ação, se atrapalhando pelas ruas de Porto Alegre na busca do filho desaparecido.
Nas peripécias em que se vê metido para cumprir sua tarefa, Cid Espigão se envolve com personagens macabros, em festas nababescas, chegando a viajar para Brasília, no centro do poder militar, onde se vê metido com generais no comando e outros homens de patentes inferiores conspirando para eliminá-lo. O herói brasileiro retorna ileso a sua cidade natal, onde segue procurando as pistas de Sérgio, mas só encontra o pior da ditadura militar: os porões da tortura e o anonimato das prisões.
Por um grande milagre, ele consegue a liberdade. Mas, após alguns anos vividos na masmorra, surge um novo Cid Espigão, agora despido de ingenuidade e com muita gana de vingança contra seus opressores e detratores.

“A Região Submersa” é daquelas produções literárias que você tem gana de ler de um só fôlego. Então as noites se tornam curtas para que o desenrolar das ações desse detetive intrépido sejam concluídas. O leitor vai ser envolver com esse protagonista, ao mesmo tempo forte e frágil, valente mas sujeito às dificuldades da pobreza e da falta de perspectiva.
E ainda com os personagens que o rodeiam: Olga, sua namorada, que é uma simples garçonete; o amigo cabeleireiro que lhe cede o telefone do salão vizinho ao seu escritório para que recebe os telefonemas dos clientes; a distinta senhora mãe de Sérgio que contrata seus serviços de detetive, e muitos outros que contribuem para que o roteiro seja repleto de ação e emoção, mas com uma mensagem subliminar contra o regime autoritário que tomou conta do Brasil de 1964 até os idos da redemocratização, na década de 1980.
O livro “A Região Submersa” foi lançado inicialmente na Europa, na Dinamarca e em Portugal, em 1978, um dos anos de chumbo da ditadura no Brasil. O romance noir marcou a estreia do escritor gaúcho Tabajara Ruas na literatura brasileira com uma obra de grande qualidade.
Nascido em Uruguaiana (RS), no ano de 1942, o escritor é também tradutor e roteirista de histórias em quadrinhos, televisão e cinema. No período entre 1971 e 1981 viveu exilado no Uruguai, Chile, Argentina, Dinamarca, São Tomé e Príncipe e Portugal. Além de “A Região Submersa”, é autor de “O amor de Pedro por João”, “Os Varões Assinalados”, “Perseguições e Cerco a Juvêncio Gutierrez”, “Neto Perde sua Alma”, “O Fascínio”, “O Detetive Sentimental”, “Minuano” e “Gumercindo”.
Mariza Santana, jornalista e crítica literária, é colaboradora do Jornal Opção [Email: [email protected]]

