Escritora irlandesa falecida recentemente deixou, contudo, partes não solucionadas que poderiam levar a um novo romance que leitoras não sabem se terão para ler

Mariza Santana

Na mitologia grega, as Plêiades ou Atlântidas eram as encantadoras filhas de Atlas e Pleione, filha do Oceano. Eram sete irmãs: Maia, Electra, Taígete, Steropo, Mérope, Celeno e Alcíone. Quando Pleione estava passeando pela Beócia com as sete filhas, foi perseguida pelo caçador Órion, que estava fascinado com a beleza das moças. Zeus, então, teve piedade delas e apontou um caminho até as estrelas, e elas formaram a constelação de Touro.

A escritora irlandesa Lucinda Riley se propôs a escrever uma saga literária inspirada no mito grego das Plêiades. Dessa forma, surgiu a história das irmãs adotadas por um senhor rico, chamado por elas de Pa Salt, proprietário de uma luxuosa mansão à beira do lago Genebra, na Suíça. Ao morrer, ele deixa uma indicação para cada uma das seis filhas (a sétima era considerada perdida) contendo as coordenadas da localização no globo terrestre onde elas teriam nascido, para que pudessem resgatar suas origens e reconstituir suas histórias familiares.

As personagens são mulheres fortes, cada uma com sua característica, que seguem em busca do passado e de possíveis parentes. Dessa forma, cada uma delas vai para lugares diferentes no mundo, seja Brasil, Noruega, Inglaterra, Austrália, Escócia e Estados Unidos. Os seis livros a respeito das irmãs adotadas têm como ponto comum a criatividade da escritora e protagonistas do sexo feminino fortes, com lindas histórias a respeito de seus antepassados.

Mas minha proposta aqui não é comentar a respeito dos seis livros, e sim do último, aquele que encerraria a saga: “A Irmã Desaparecida”, lançado recentemente no Brasil pela Editora Arqueiro. Neste romance, Lucinda Riley tem como cenários a Nova Zelândia e a Irlanda, sua terra natal, e também a mansão de Pa Salt à beira do Lago Genebra, onde as irmãs pretendem se reunir para seguir até a Grécia, onde em alto mar vão celebrar a memória do pai adotivo, morto há um ano.

Nesse meio tempo, porém, o advogado da família apresenta pistas para que elas encontrem a sétima irmã, a chamada irmã desaparecida. E elas vão se mobilizar em diversas partes do mundo para encontrar essa mulher, que embora irlandesa de nascimento, migrou para a Nova Zelândia há 37 anos, onde constituiu família e um vinhedo, e tinha acabado de enviuvar. Seu passado a leva de volta à Irlanda. O leitor vai embarcar em uma nova saga, agora de uma antepassada envolvida com o movimento irlandês de independência do país em relação à Inglaterra.

Lucinda Riley: escritora irlandesa | Foto: Divulgação

Como os demais romances de Lucinda Riley, no início parece difícil a personagem principal ter alguma conexão com as demais irmãs Pléiades, mas com uma narrativa forte e coerente, ela vai apontando caminhos e criando essa possibilidade por meio dos dramas familiares e com base em acontecimentos históricos. Dessa forma, o sétimo livro das irmãs, como a série é carinhosamente chamada pelas leitoras, não perde o vigor dos anteriores.

Entretanto, ao terminar de ler a última página do livro, é impossível não fazer uma pergunta: E agora, como vai ser? Isso porque, se a história de todas as sete irmãs é totalmente revelada, a escritora promete um próximo livro para narrar a saga de Pa Salt, e o que o motivou a adotar meninas de diferentes partes do planeta, além de esclarecer sua morte, ainda envolta em mistério.

Mas tem um pequeno detalhe: Lucinda Riley faleceu recentemente, em junho último, aos 55 anos, vítima de câncer. Na carta da autora, publicada no fim do livro “A Irmã Desaparecida”, e datada de março de 2021, ela prometeu começar a escrever um oitavo livro. “Ele está na minha cabeça há oito anos, e mal posso esperar para finalmente colocá-lo no papel”, escreveu. Será que ela relatou suas ideias para alguém, também escritor, que poderia concluir esse projeto? É um questionamento em aberto.

Mariza Santana é crítica literária. Email: [email protected]