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Helder D’Araújo

Especial para o Jornal Opção

Nós, artistas, escritores, poetas e intelectuais às vezes não nos damos bem com a invisibilidade. Queremos ver nossos textos, poemas e pensamentos materializados no objeto livro.

Vemos notícias de pessoas desconhecidas sendo premiadas, publicadas e vendendo muito. Somos tomados por uma inveja e ressentimento. Até aí, ok. Se passamos por isso é porque somos humanos.

Não poucos artistas, escritores, filósofos e intelectuais passaram por essas coisas. Não poucas vezes ficamos cientes de que o reconhecimento veio para certo escritor só após sua morte. Alguns conseguem sair em uma revista ou jornal ainda em vida. Mas acham-se velhos para isso. Não sentem tanta alegria. A espera minou sua gratidão.

Quanto à questão da visibilidade, isto é extremamente contraditório. Num mundo em que a visibilidade de tudo é a ordem do dia, como não se aborrecer se não tivermos nada para mostrar?

Ora, nem uma menção honrosa teve no último certame literário, como assim? — pergunta-se o escritor frustrado. Às vezes, uns até ousam desabafo na internet. A visibilidade é algo incontornável. Existir já é estar visível, aparecer. Mas e nossos escritos? Quando aparecerão? Não tenho essa resposta.

Sem cinismos, é óbvio que aparecer não só é o objetivo de muitos que se dedicam à arte, as letras, como é salutar! Abaixo falsas modéstias!

Em todo caso há sim a realidade da invisibilidade. Isto é bom ou mal? Bem, depende. É bom porque nenhuma árvore frutífera nasceu dando frutos. Mais ainda. Ela o faz por épocas. É mal? Talvez para aqueles que por diversos motivos não têm a alegria de ver sua obra na lista dos mais procurados da Amazon, digamos.

Uma consciência madura sabe que nem tudo que reluz é ouro. E muita coisa que está visível não possui aquela qualidade esperada. Goethe diz algo curioso: “A porcaria brilha… se houver sol”. Para algo vir a aparecer em algum momento da existência, esse algo, antes, necessita passar pelo seu processo de invisibilidade. Saber, ou seja, ter ciência de que o Nilo, enfim, um dia despejará no mar é percorrer todos os estágios de sua trajetória sem amargura.

Helder D’Araújo é livreiro e escritor. É colaborador do Jornal Opção.