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Mariza Santana

Falar de romances que se tornaram clássicos da literatura por defenderem valores universais ou denunciarem a injustiça social não é uma tarefa fácil. Assim acontece com “A Cor Púrpura”, da escritora, poeta e ativista feminista norte-americana Alice Walker, de 81 anos.

A obra de Alice Walker é um grito de protesto contra o racismo e a violência de gênero. Embora o livro seja ambientado no Sul dos Estados Unidos, no período de 1900 a 1940, a mensagem permanece atual devido às questões abordadas, como a violência contra a mulher e o preconceito racial.

“A Cor Púrpura” conta a história de Celie, por meio de cartas escritas pela protagonista, e por sua irmã Nellie. A primeira foi estuprada pelo padrasto (que pensava ser seu pai) quando era menina, teve dois filhos entregues para a adoção e foi forçada a se sujeitar a um casamento sem amor e marcado pelos maus tratos e indiferença do cônjuge.

Nas epístolas de Celie, que endereça suas mensagens a Deus, o texto é de uma pessoa iletrada, que não teve acesso à educação formal, e contém uma certa ingenuidade e aceitação, ao narrar os abusos que sofreu ao longo dos anos.

Alice Walker capa de A Cor Púrpura ok333420

Impedida pelo marido de receber as cartas da irmã Nellie, que migra para a África com um casal de missionários religiosos e seus dois filhos, Celie vive uma rotina de tristeza e aceitação. Até que aparece em sua casa a ex-amante do marido, a princípio doente, mas que se torna a responsável pela grande transformação da protagonista.

Em meio às reviravoltas que a vida impõe a Celie estão o surgimento de uma consciência do sofrimento que suporta e de sua importância como mulher e negra.

Confesso que, à princípio, senti um certo estranhamento ao ler as cartas de Nelie, escritas repletas de erros de português, condição que os tradutores fizeram questão de manter do original justamente para reforçar a condição de semianalfabeta de Celie.

Mas à medida que o romance avança, isso é superado pela força da narrativa e pelos acontecimentos que vão se desenrolando, seja nos Estados Unidos ou na África, com seus episódios de intolerância racial, diferenças culturais e colonialismo.

“A Cor Púrpura” é mais do que um romance, é um libelo que denuncia a violência contra os pobres e oprimidos, seja na América ou no continente africano, com suas raízes históricas e desigualdades difíceis de serem superadas.

A obra nos leva a refletir como é importante valorizarmos a diversidade, por ser justamente o que torna a humanidade mais rica e completa, a despeito do crescimento da xenofobia, do racismo, da misoginia e outros extremos que temos testemunhados em várias partes do mundo.

O livro “A Cor Púrpura” foi o vencedor do Nacional Book Award-Ficção e do Prêmio Pulitzer de Ficção, ambos em 1983. O romance inspirou o filme do mesmo nome dirigido por Steven Spielberg em 1985. Alice Walker nasceu em 1944 em Eatonton, na Geórgia, nos Estados Unidos. Vive atualmente no Norte da Califórnia, para onde se mudou em 1977.

Betúlia Machado, uma das tradutoras, morou em Goiânia por algum tempo. Maria José Silveira é a outra tradutora, nascida em Goiás e prosadora de primeira linha. O livro foi levado ao cinema, com imenso sucesso, por Steven Spielberg.

Mariza Santana é jornalista e crítica literária.