Fernando Cupertino

Especial para o Jornal Opção

Há uma carruagem do tempo que percorre a estrada de nossa vida. Ela acaba por aumentar sempre sua capacidade, seu tamanho, de modo a acomodar mais e mais passageiros: filhos e netos — e até mesmo bisnetos, que chegam para nela tomar assento.

Os que partem para uma outra dimensão — nossos pais, avós, tios e outros familiares e demais pessoas queridas —, entretanto, não descem do veículo, mas nele também permanecem como uma espécie de lastro precioso, que garante não só a sua estabilidade, mas o próprio sentido da viagem.

O Natal talvez seja o momento mais propício para que nos indaguemos a respeito das boas condições dessa carruagem e sobre os lugares nela ocupados pelos passageiros.

Os mais jovens, frequentemente, sequer têm tempo ou maturidade para compreender esse fenômeno, ocupados que estão em gozar as delícias da juventude. Um dia, também nós já nos comportamos assim.

Porém, quando a idade toma corpo e as ausências se tornam cada vez mais presentes em nossas recordações, tomamos consciência da finitude da vida e da importância fundamental de se conservarem vivas as pessoas que amamos, mas que já não estão mais no nosso convívio.

É, talvez, a altura da vida em que, sem deter a marcha da carruagem, buscamos uma maior intimidade, ora com os de hoje, ora com os de ontem.

Isso parece se dar pela necessidade de nos sentirmos mais próximos daqueles que o tempo se encarregou de levar para longe de nós.

Talvez seja, também, pela consciência íntima de que, já tendo percorrido a maior parte do caminho, nós também, em tempo não muito longínquo, estaremos sentados junto aos que nos precederam, deixando aos jovens, então já amadurecidos, a tarefa de fazerem a mesma reflexão que ora faço e de manterem em movimento a carruagem do tempo de nossas vidas.

Fernando Cupertino, médico, escritor e compositor, é colaborador do Jornal Opção.