Por Fred Le Blue Assis (doutor em Planejamento Urbano, mestre em Memória Social e idealizador do GYN 100 por Centro)

O Grupo de Trabalho Goiânia 2030 e o Observatório Goiânia 100 por Centro estão propondo para o debate público patrimonial de Goiás a criação do “Museu-Casa de Bariani Ortêncio: Centro Cultural de Convivência pela Longevidade” na histórica residência do artista Waldomiro Bariani Ortêncio, que está sendo adquirida pela Alego.

A ideia é manter o legado literário, acervo folclorista e memória pessoal do Bariani Ortêncio, que morreu aos 100 anos de idade, a partir da salvaguarda do patrimônio material, sua Casa e seu Instituto Cultural (mantido por seus familiares), com o seu acervo de livros, móveis, plantas, artefatos e obras de arte, com implantação de um Centro Cultural de Convivência pela Longevidade, voltado para oferecimento de eventos e práticas sociais, culturais, artísticos, recreativos, holísticos, agrícolas (horta urbana) e desportivos em prol de incentivar práticas que favoreçam o aumento da longevidade da população.

A conservação do patrimônio cultural imaterial depende da preservação de lugares de memória que permitam manter de forma inerte a memória coletiva. Bariani Ortêncio foi um dos maiores fomentadores da cultura goiana urbana e, sobretudo, rural, é representante de uma geração que fez da literatura, do folclore, da música, da filologia e da contação de estória, o seu sentido de vida, tendo produzido extensa obra até o seu falecimento em 15 de dezembro de 2023. Como ele foi um centenário, é exemplo também de saúde e longevidade, mostrando a força da cultura e sociabilidade para uma velhice saudável e produtiva, o que torna a sua história um patrimônio cultural ainda mais complexo e relevante.

A proposta tem os seguintes objetos: a) Preservar a habitação, habitat, hábitos e habitus social de Bariani com todos os objetos, de forma intacta, no que aponta para uma perspectiva da história social das coisas, como forma de salvaguardar e perpetuar a sua memória e sabedoria para as próximas gerações, que em meio ao contexto info-técnico-científico globalizado, tem perdido o elo com valores morais e éticas que ele defendia, e b) Criar um espaço de convivência para pessoas de todas as idades, mormente, da melhor idade, possam ter experiências diárias de contato com o corpo, com o outro, com a ciência, com a arte e com a natureza, visando fazer Goiânia se tornar uma “Zona Azul” (localidades da terra com alta incidência de pessoas centenárias, como Okinawa no Japão, a região da Ogliastra, na ilha Sardenha na Itália, a península de Nicoya na Costa Rica, a ilha de Ikaria na Grécia, comunidade adventista de Loma Linda nos Estados Unidos e cidade-nação Singapura), Power 9” (“9 Poderosos”) de Dan Buettner, a partir da disseminação e aplicação dos mapa dos caminhos: 1) Movimento Natural; 2) Propósito (Ikigai/Sentido de Vida); 3) Desacelerar; 4) Regra dos 80% (Hara Hachi Bu); 5) Foco em Vegetais; 6) Vinho com Moderação; 7) Círculo Social Saudável (Sardegna/Moai); 8) Família em Primeiro Lugar, e 9) Fé ou Pertencimento.

A casa de Bariani ressoa não dois, mas 2 milhões de dedos de prosa em todas as suas paredes e objetos, devendo a nós reconhecer que há ali uma poética espacial e história afetiva da nossa cultura como gente, que nos permite respirar aliviado naquele lugar, que, apesar de ser na Praça Cívica, resplandece um silêncio de um lugarejo longínquo, que poderia ser uma residência perfeita para residências artísticas, capaz de floresce novos poetas regionais universais goianos.

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