O comissário da Organização dos Estados Americanos (OEA) para o Monitoramento e Combate ao Antissemitismo, Fernando Lottenberg, classificou como “um equívoco” a decisão do governo brasileiro de deixar a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA). O Brasil atuava como membro observador da entidade desde 2021.

“A definição de antissemitismo da IHRA representa um importante instrumento que, apesar de não ter valor jurídico vinculante, é adotado por mais de 45 países e 2 mil instituições em todo o mundo para informar, identificar e combater o antissemitismo”, afirmou Lottenberg nesta sexta-feira, 25.

A saída do Brasil da aliança ocorre em meio à deterioração das relações diplomáticas entre Brasília e Tel Aviv, intensificada após o início da guerra entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza. Desde então, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem criticado publicamente a atuação israelense no conflito, enquanto autoridades de Israel acusam o Brasil de adotar posturas pró-Hamas.

O ponto mais tenso da crise bilateral ocorreu em fevereiro de 2024, quando Lula comparou a ofensiva israelense em Gaza ao Holocausto judeu durante a Segunda Guerra Mundial. A declaração foi duramente rechaçada por Israel, que declarou o presidente brasileiro como persona non grata. Em resposta, o Palácio do Planalto retirou o embaixador do Brasil em Tel Aviv, o que esvaziou ainda mais o canal diplomático entre os dois países.

Do lado israelense, há também o temor de ficar sem representação diplomática no Brasil. Isso porque o governo brasileiro ainda não aprovou o nome do embaixador indicado por Israel para chefiar a missão diplomática em Brasília, Gali Dagan.

A saída da IHRA também foi mencionada pela chancelaria israelense ao criticar o apoio do Brasil à ação judicial movida pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça, que acusa Israel de genocídio na Faixa de Gaza. Embora o Itamaraty ainda não tenha anunciado formalmente apoio à ação, a embaixada israelense afirma já ter sido comunicada sobre a posição brasileira.

Lottenberg ressaltou que é legítimo ao Brasil criticar ações do governo israelense e manter discordâncias diplomáticas, mas que isso não deveria afetar a participação em um organismo internacional voltado à memória do Holocausto. “Esses fatos nada têm a ver com o trabalho de extrema relevância da IHRA”, disse.

Segundo o comissário da OEA, a permanência do Brasil na aliança reforçaria o compromisso do país com a cultura de paz, a educação e a preservação da memória histórica. “O Brasil tem a segunda maior comunidade judaica da América Latina, e estar integrado à IHRA é uma forma de mostrar comprometimento com a promoção da educação, por meio da pesquisa e lembrança do Holocausto em todo o mundo — motivos que fundamentam a criação da organização intergovernamental desde 1998”, concluiu.

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