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O papa Leão XIV lançou, nesta semana, uma das declarações mais contundentes de seu pontificado ao criticar as políticas migratórias do governo de Donald Trump e alertar para os riscos da escalada militar dos Estados Unidos na América Latina.

Em um pronunciamento fora de sua residência em Castel Gandolfo, o pontífice — o primeiro papa americano da história — pediu uma “reflexão profunda” sobre o tratamento dado aos migrantes e afirmou que “muitos vivem há anos nos Estados Unidos, sem causar qualquer problema, e foram profundamente afetados” pelas deportações em massa.

Falando em inglês, e dirigindo-se diretamente à população de seu país natal, Leão XIV reafirmou a doutrina católica de acolhimento ao estrangeiro:

“Todo cristão será julgado por como acolheu o estrangeiro”, declarou o papa, em tom firme.

A fala foi interpretada como uma resposta direta às operações conduzidas pela agência migratória ICE, que endureceu as ações contra imigrantes durante o governo Trump. Segundo o historiador católico Austen Ivereigh, a mensagem “coloca o papa em confronto moral com o poder político mais influente do mundo”.

Pontífice rompe com a expectativa dos conservadores

Eleito em maio, Leão XIV vinha sendo visto como uma figura mais moderada — especialmente entre católicos conservadores americanos, que esperavam uma guinada em relação ao pontificado de Francisco. No entanto, a recente crítica pública frustrou essa expectativa.

“Agora eles estão percebendo que Leão não vai mudar o ensinamento da Igreja por conveniência política”, avalia Ivereigh. “O estilo pode ser diferente de Francisco, mas as prioridades permanecem as mesmas.”

Vivência pessoal molda visão sobre migração

Nascido em Chicago como Robert Prevost, o papa viveu por décadas como missionário no Peru. A experiência, segundo analistas, o fez compreender a realidade de quem deixa seu país em busca de dignidade. “Ele próprio foi um ‘bispo migrante’”, lembra a professora Anna Rowlands, da Universidade de Durham. “Essa vivência explica por que o tema o toca tão profundamente.”

Em seu primeiro grande documento papal, publicado no mês passado, Leão XIV reafirmou que pobreza e migração permanecerão no centro de seu pontificado — pilares de uma tradição católica centenária que defende a unidade familiar e o cuidado espiritual dos mais vulneráveis.

Crítica também à escalada militar na Venezuela

O papa também criticou os bombardeios norte-americanos a navios venezuelanos suspeitos de tráfico de drogas, afirmando que “a violência não é o caminho para a paz”. Segundo ele, o envio de embarcações da Marinha dos EUA para a região “aumenta tensões em vez de proteger vidas”.