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Antes das eleições legislativas na província de Buenos Aires, realizadas neste domingo, 7, o presidente argentino Javier Milei prometia “enterrar o peronismo”. O resultado, porém, foi o oposto: com mais de 95% das urnas apuradas, a coalizão peronista Força Pátria, liderada pelo governador Axel Kicillof, obteve 47,2% dos votos, contra 33,8% da sigla governista A Liberdade Avança.

A província concentra 40% do eleitorado argentino e era tratada pelo governo como decisiva. Milei esperava ao menos um empate técnico, mas o peronismo venceu em seis dos oito distritos. Mais de 60% dos eleitores foram às urnas.

O revés ocorre em meio a forte desgaste do presidente. Nas últimas semanas, veio à tona o “karinagate” — escândalo envolvendo áudios atribuídos ao ex-funcionário Diego Spagnuolo, que apontam esquema de corrupção na compra de medicamentos, supostamente beneficiando Karina Milei, irmã e principal assessora do presidente. O caso derrubou a popularidade de Milei para 39%, segundo pesquisa da Trespuntocero.

A crise política se soma à estagnação econômica, alta de juros e intervenção cambial. O mercado já reagiu: o índice Merval caiu mais de 14% em agosto.

Após o resultado, Milei reconheceu a derrota: “Hoje tivemos uma derrota clara. Mas o rumo para o qual fomos eleitos não vai mudar, será reforçado”. Kicillof, por sua vez, disse que as urnas mostraram rejeição ao corte de obras públicas e verbas de saúde, educação, ciência e cultura.

Cristina Kirchner, em prisão domiciliar, também reagiu: acusou Milei de “banalizar o Nunca Mais” e criticou o suposto esquema de propinas nos medicamentos.

A eleição, realizada separadamente das nacionais por decisão de Kicillof, é vista como um termômetro para o pleito de 26 de outubro, quando o governo tentará ampliar sua base no Congresso. No Senado, a oposição já impôs derrotas a Milei, revertendo vetos presidenciais e aumentando gastos sociais, em choque direto com a agenda de austeridade do governo.

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