O governo do presidente Donald Trump encerrou um dos principais programas de pesquisa na busca por uma vacina contra o HIV, desferindo um duro golpe em décadas de esforços científicos para controlar a epidemia global. A decisão, comunicada nesta sexta-feira a líderes da Universidade Duke e do Instituto de Pesquisa Scripps, responsáveis pelo projeto, põe fim a um investimento de 258 milhões de dólares promovido pelos Institutos Nacionais de Saúde, o NIH.

O programa cancelado reunia cientistas de diversos centros de excelência e utilizava tecnologias de ponta com aplicações que iam além do HIV, incluindo medicamentos contra a Covid-19, terapias autoimunes e até antídotos contra venenos de cobra. A justificativa, segundo um alto funcionário do NIH, foi a intenção de redirecionar os esforços para métodos já disponíveis de eliminação do HIV e da Aids, como o uso ampliado da PrEP, a profilaxia pré-exposição.

A decisão faz parte de uma série de cortes promovidos pelo segundo mandato de Trump em programas de prevenção e pesquisa sobre o HIV. Recentemente, o governo suspendeu também o financiamento de um ensaio clínico da Moderna para uma vacina contra o vírus. Em paralelo, estados como Texas e Carolina do Norte já enfrentam consequências diretas: cortes de verbas federais obrigaram o cancelamento de iniciativas locais de prevenção e resultaram em demissões de profissionais da saúde pública.

Os consórcios encerrados, com financiamento aprovado em 2019 por um período de sete anos, trabalhavam no desenvolvimento de anticorpos amplamente neutralizantes, capazes de oferecer proteção contra múltiplas variantes do HIV. Esses estudos vinham sendo considerados uma das abordagens mais promissoras após anos de insucessos com vacinas tradicionais.

Apesar de alguns ensaios clínicos ainda poderem seguir com base em financiamento da Rede de Ensaios de Vacinas contra o HIV, especialistas alertam que o corte mina o futuro da área. Praticamente tudo nesse campo depende do trabalho que esses dois programas estavam realizando, explicou Mitchell Warren, diretor executivo da organização AVAC. Segundo ele, o fluxo de novas vacinas acaba de ser obstruído.

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, responsável pelo NIH e pelo CDC, não se pronunciou até o momento. O futuro da divisão de prevenção ao HIV dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças também permanece incerto, já que o setor foi encerrado e parte de suas funções deve ser transferida a um novo órgão ainda não criado, a Administração Federal para uma América Saudável.

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