Empresas brasileiras driblam tarifaço de Trump e redirecionam exportações: impacto é menor que o previsto

06 outubro 2025 às 08h13

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Dois meses após o início do tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o impacto sobre a economia brasileira é bem mais brando do que o estimado. Levantamento da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil) mostra que menos da metade das exportações nacionais para os EUA foi atingida pela alíquota máxima de 50%. E muitos setores conseguiram reagir rapidamente, redirecionando produtos a outros mercados.
Segundo o estudo, 44,6% dos itens exportados foram taxados no limite mais alto, 29,5% sofreram sobretaxas menores e 25,9% ficaram isentos. O resultado surpreendeu especialistas: o Brasil evitou um colapso nas vendas ao exterior, graças à diversificação de destinos e à agilidade do setor produtivo.
As commodities — como café, carne e açúcar — têm mais facilidade de encontrar novos compradores, o que reduziu bastante o efeito das tarifas — explica Fabrizio Panzini, diretor de Políticas Públicas da Amcham Brasil.
Café muda de rota e vai para a Europa
Um dos símbolos da reação brasileira vem do setor cafeeiro. As exportações para os EUA — maior mercado mundial da bebida — despencaram 56% em setembro e devem zerar neste mês. Mas a produção não ficou parada: Alemanha e outros países europeus se consolidaram como os novos destinos do café brasileiro.
— O mercado se reorganizou — diz Marcos Matos, diretor do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). — O Brasil deve reduzir quase a zero suas vendas aos EUA e concentrar mais na Europa.
Indústria busca fôlego, mas sente o peso
Nem todos os setores tiveram a mesma sorte. Empresas de madeira, móveis e maquinário, fortemente dependentes dos EUA, acumulam estoques e enfrentam demissões. No Paraná, a fabricante Randa viu o faturamento cair 30% e cortou 200 funcionários.
— Os estoques estão lotados e o empréstimo via BNDES não sai. Estamos sangrando o caixa — afirma o CEO, Guilherme Ranssolin.
A Engemasa, do setor de fundição, teve de interromper projetos e armazenar mercadorias em um campo de futebol por falta de espaço. Já a paulista Fider Pescados conseguiu driblar parte das perdas ampliando as vendas no Brasil e no Canadá.
Giro global e efeito reverso nos EUA
Na avaliação do tributarista Leonardo Briganti, o tarifaço acabou “mais danoso para os EUA” do que para o Brasil.
— A tentativa de reindustrialização não deu certo. Os custos subiram e pequenas empresas americanas estão sofrendo — afirma.
Enquanto a Casa Branca discute um pacote de US$ 10 bilhões para socorrer o agronegócio, exportadores brasileiros seguem em busca de novos mercados e estratégias — inclusive transferindo parte da produção para países vizinhos para escapar das tarifas.
A guerra comercial, que prometia asfixiar exportadores brasileiros, acabou revelando outro cenário: o de uma economia mais resiliente e capaz de se adaptar.
Leia também: Os aliados do Brasil contra o tarifaço no governo dos EUA