Crise do diesel e tensão com indígenas criam cenário para atentado contra presidente do Equador

08 outubro 2025 às 07h49

COMPARTILHAR
O atentado contra o presidente do Equador, Daniel Noboa, na terça-feira, 7, é o ponto mais tenso da crise política que se arrasta há semanas no país. A tentativa de ataque ao carro presidencial, registrada na província de Cañar, ocorre em meio à forte reação popular contra o fim dos subsídios ao diesel, medida que vem paralisando estradas e acirrando o confronto entre o governo e movimentos indígenas.
Desde que Noboa assinou o decreto, em setembro, o preço do combustível saltou de US$ 1,80 para US$ 2,80 por galão (de cerca de R$ 9,60 para R$ 15). A decisão, defendida pelo governo como necessária para economizar US$ 1,1 bilhão por ano, atingiu diretamente produtores rurais e caminhoneiros, principais consumidores do diesel subsidiado.
O aumento afetou especialmente comunidades indígenas que vivem da agricultura e do transporte em regiões afastadas. A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), maior organização do setor, passou a liderar protestos em várias províncias, com bloqueios de rodovias e enfrentamentos com as forças de segurança.
Segundo dados oficiais e de ONGs, as manifestações já deixaram um morto, mais de 150 feridos e cerca de 100 detidos. A Conaie acusa Noboa de “militarizar” os territórios indígenas e reprimir manifestações pacíficas, enquanto o presidente afirma que “os que agirem como delinquentes serão tratados como delinquentes”.
Noboa também tem usado um discurso mais duro, classificando parte dos protestos como “atos terroristas” e alegando, sem apresentar provas, que grupos criminosos como o Tren de Aragua estariam infiltrados nas manifestações.
A escalada de tensão levou o governo a decretar, no sábado, 5, estado de exceção por 60 dias em 10 províncias, sob justificativa de “grave comoção interna”.
O atentado
Dois dias após o decreto, o carro presidencial foi atacado quando Noboa chegava a um evento público. Segundo a ministra de Energia, Inés María Manzano, cerca de 500 pessoas cercaram o comboio e atiraram pedras e objetos, deixando marcas de tiros no veículo.
Imagens divulgadas pela Presidência mostram janelas quebradas e o para-brisa trincado. Cinco pessoas foram presas, e o governo informou que elas responderão por terrorismo e tentativa de homicídio.
Em discurso posterior, Noboa disse que “ataques como esse não serão tolerados” e reafirmou que o país não cederá à pressão das ruas.
A Conaie, por outro lado, acusa a polícia e o Exército de uso desproporcional da força contra manifestantes, incluindo mulheres e idosos que participavam do ato.
Leia também: Em meio à onda de violência, população do Equador vai às urnas para escolher presidente e parlamentares