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O coronel do Exército de Madagascar, Michael Randrianirina, foi empossado nesta sexta-feira, 17, como novo presidente do país, em cerimônia realizada na Alta Corte Constitucional, na capital Antananarivo. A posse marca a consolidação da tomada de poder pelos militares, que depuseram o ex-presidente Andry Rajoelina após semanas de protestos em massa liderados por jovens da chamada Geração Z.

A cerimônia, acompanhada por autoridades militares e representantes do novo governo, foi transmitida pela imprensa local e confirmada pela Agence France-Presse (AFP). Durante o juramento, Randrianirina prometeu “cumprir plena, completa e justamente as altas responsabilidades do cargo como Presidente da República de Madagascar” e “dedicar toda a força para defender e fortalecer a unidade nacional e os direitos humanos”, segundo a agência Reuters.

Contexto da crise política

A posse de Randrianirina ocorre quatro dias após os militares anunciarem a tomada do poder, em um golpe que encerrou o governo de Rajoelina. O ex-presidente deixou o país no início da semana, após unidades das Forças Armadas se juntarem aos manifestantes que exigiam sua renúncia.

O Parlamento malgaxe chegou a aprovar o impeachment de Rajoelina, ignorando um decreto presidencial que tentava dissolver a Casa. Mesmo após a destituição, o ex-chefe de Estado afirmou em pronunciamento, feito de local desconhecido no exterior, que não renunciaria ao cargo.

De acordo com fontes citadas pela Reuters, Rajoelina fugiu de Madagascar em um avião militar francês após um acordo mediado pelo presidente da França, Emmanuel Macron. Seu paradeiro atual não foi oficialmente confirmado.

Papel dos militares e da Geração Z

Randrianirina, até então chefe do CAPSAT (Corpo de Pessoal e Serviços Administrativos e Técnicos do Exército), liderou o movimento militar que se recusou a reprimir os protestos e acabou se unindo aos manifestantes. O mesmo CAPSAT teve papel decisivo no golpe de 2009, que levou o próprio Rajoelina ao poder pela primeira vez.

Os protestos, iniciados em setembro, começaram por causa de cortes de energia e escassez de água, mas se ampliaram para denúncias de corrupção, desemprego e autoritarismo. O movimento ganhou força com a adesão de jovens da Geração Z, nativos digitais que vêm organizando atos simultâneos em diversos países africanos e asiáticos.

A ONU estima que ao menos 22 pessoas morreram em confrontos entre manifestantes e forças de segurança desde o início da crise.

Reações internacionais

A União Africana e o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, condenaram o golpe e pediram o “restabelecimento da ordem constitucional” em Madagascar. Guterres também exigiu “contenção e respeito aos direitos humanos” por parte das forças militares.

Madagascar, um dos países mais pobres do mundo, enfrenta ciclos recorrentes de instabilidade política desde a independência da França, em 1960. O país já vivenciou vários golpes e mudanças abruptas de governo, sendo o episódio atual mais um capítulo desse histórico.

Próximos passos

Ainda não há confirmação sobre o calendário de novas eleições. Segundo comunicado do alto comando militar, o Parlamento será mantido em funcionamento, mas todas as demais instituições foram dissolvidas. O novo governo interino, sob liderança de Randrianirina, deverá organizar a transição “até o restabelecimento da ordem democrática”.

Enquanto isso, milhares de pessoas permanecem nas ruas de Antananarivo comemorando a queda de Rajoelina e exigindo mudanças profundas no sistema político.

“O presidente deve renunciar agora”, gritavam os manifestantes reunidos na principal praça da capital, em cenas que marcaram a virada política no país africano.

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