Acordo entre Israel e Hamas abre brecha rara para a paz após dois anos de devastação em Gaza
09 outubro 2025 às 08h17

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Depois de quase dois anos de bombardeios, bloqueios e sucessivas tentativas fracassadas de cessar-fogo, Israel e o Hamas anunciaram nesta quarta-feira, 8, um acordo que pode representar o primeiro passo concreto para o fim da guerra na Faixa de Gaza. O tratado prevê a libertação de reféns, recuo parcial das tropas israelenses e ampliação da ajuda humanitária ao território, onde a crise humanitária já é considerada uma das piores do século.
A proposta, mediada com apoio de Egito, Catar e Turquia, foi descrita como uma “fase inicial” de um plano mais amplo de pacificação. Embora os detalhes completos ainda não tenham sido divulgados, o texto indica que os combates devem cessar gradualmente e que Gaza poderá receber caminhões com comida, água e medicamentos já nos próximos dias.
Trocas e concessões
Nesta etapa inicial, o Hamas deverá libertar todos os 48 reféns ainda mantidos em cativeiro desde o ataque de 7 de outubro de 2023, que marcou o início da guerra. Em contrapartida, Israel libertará cerca de 2 mil prisioneiros palestinos, incluindo condenados à prisão perpétua.
As Forças de Defesa de Israel também irão recuar parte das tropas posicionadas em Gaza, reduzindo a área de ocupação de 75% para 57% do território — um gesto que, segundo analistas, simboliza mais do que uma manobra militar: é um teste de confiança entre os dois lados.
Gaza em reconstrução
O plano prevê ainda a criação de uma administração temporária no enclave palestino, formada por técnicos e especialistas locais com apoio internacional. Esse grupo será responsável por coordenar os serviços públicos e o processo de reconstrução, em um território destruído por bombardeios e com infraestrutura em colapso.
Desde o início da guerra, mais de 60 mil palestinos morreram e milhares de famílias vivem em abrigos improvisados. Organizações humanitárias alertam que o acordo precisará se traduzir rapidamente em ações concretas — especialmente na entrada de mantimentos e medicamentos — para evitar uma nova catástrofe sanitária.
Resistência e ceticismo
Apesar do anúncio, há cautela em torno do cumprimento do tratado. Israel ainda não confirmou se aceitará integralmente todos os termos, e o Hamas afirmou que precisa de mais tempo para localizar os corpos de reféns mortos. Além disso, ainda não há consenso sobre a entrega de armas por parte do grupo, um ponto considerado essencial para a estabilidade do cessar-fogo.
Mesmo assim, o acordo foi celebrado em Tel Aviv como uma “vitória moral” e, em Gaza, como um reconhecimento de que a guerra se tornou insustentável. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que o país vive “um grande dia”, enquanto o Hamas agradeceu o apoio de países mediadores e prometeu “permanecer fiel à causa palestina”.
Um respiro incerto, mas necessário
O acordo não encerra a guerra — apenas abre uma rara brecha para que ela comece a terminar. Entre o ceticismo político e o desespero humanitário, a Faixa de Gaza vive agora um momento de pausa frágil, em que cada gesto pode decidir se o território caminha para a reconstrução ou para mais um ciclo de destruição.
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