Durante décadas, os vaga-lumes foram símbolo das noites do Cerrado, transformando o escuro em espetáculo. Hoje, porém, seu desaparecimento intriga moradores e pesquisadores. Reportagem do Correio Braziliense confirma que o declínio desses insetos é real — e crescente — especialmente no bioma mais pressionado do país.

Levantamentos conduzidos pela bióloga Stephanie Vaz, coordenadora regional para a América do Sul na União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), apontam a perda de habitat como principal ameaça. No Cerrado, o avanço do desmatamento, a expansão urbana e o uso de pesticidas têm reduzido drasticamente as áreas onde os pirilampos conseguem sobreviver.

A poluição luminosa também se tornou um fator decisivo. Em regiões urbanizadas do Distrito Federal, estudos mostram populações menores de vaga-lumes. O excesso de luz artificial prejudica a bioluminescência, fundamental para afastar predadores na fase larval e, na vida adulta, para atrair parceiros e presas.

Moradores do DF relataram ao Correio que o brilho dos pirilampos, comum na infância, se tornou raro com a verticalização e luminárias mais potentes. Para muitos, o fenômeno representa não só uma perda ambiental, mas o desaparecimento de uma memória afetiva ligada às paisagens do Cerrado.

O jornal destacou também iniciativas que buscam reverter esse cenário. Em Matureia (PB), primeira cidade brasileira com lei específica contra poluição luminosa, luminárias comuns foram substituídas por LEDs mais fracos, medida que protege a fauna noturna e estimula o turismo astronômico. Especialistas avaliam que a política pode ser replicada em outras cidades.

A advogada Steffania Cardoso, especialista em direito urbanístico, defende que projetos de iluminação pública incorporem a preservação da biodiversidade, com lâmpadas mais quentes, menor intensidade luminosa e parques urbanos que garantam áreas de escuridão — especialmente importantes em regiões metropolitanas do Cerrado.

O declínio dos vaga-lumes ocorre em meio a uma redução global da população de insetos. Um estudo publicado na revista Biological Conservation aponta queda anual de 2,5%, causada principalmente pela perda de habitat e pela poluição. Segundo cientistas, essa diminuição ameaça cadeias alimentares e compromete o equilíbrio ambiental.

Para Stephanie Vaz, os vaga-lumes são bioindicadores sensíveis, capazes de refletir rapidamente mudanças no ecossistema. A pesquisadora ressalta que manter essas espécies exige enfrentar a raiz do problema: “É preciso, acima de tudo, parar o desmatamento”, afirmou ao Correio.