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Menos de cinco meses após o colapso que despejou 42 mil toneladas de lixo sobre o Córrego Santa Bárbara, um novo deslizamento de resíduos foi registrado no Aterro Ouro Verde, em Padre Bernardo, na noite de quarta-feira, 12. O episódio ocorreu no mesmo maciço que desabou em 18 de junho de 2025, confirmando a instabilidade estrutural já apontada por órgãos ambientais e pela Justiça.

Segundo nota divulgada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o deslizamento envolveu cerca de 3 mil toneladas de resíduos da pilha antiga, que tem um volume total estimado em 250 mil toneladas. Diferente do episódio anterior, não houve contaminação do Córrego Santa Bárbara, cujo leito atravessa a área do empreendimento.

A Semad informou que uma equipe de fiscalização está no local desde as primeiras horas da manhã desta quinta-feira, 13. De acordo com o comunicado, o novo desabamento pode ter sido causado pelas chuvas recentes, que provocaram instabilidade na estrutura da montanha de resíduos.

“Dessa vez, o deslizamento ocorreu na pilha antiga, e não na nova, formada pelos resíduos que foram removidos do córrego nos últimos meses”, informou a secretaria.

O órgão estadual também ressaltou que, no primeiro acidente, todo o lixo que atingiu o curso d’água já foi retirado pela empresa responsável, a Ouro Verde, e que novas imagens e levantamentos técnicos serão divulgados assim que houver informações consolidadas.

Histórico de irregularidades e disputas judiciais

O Aterro Ouro Verde é alvo de uma longa sequência de autuações, embargos e disputas judiciais. Mesmo após sucessivas determinações da Semad para interromper as atividades, o empreendimento continuou operando por força de liminares, até ser formalmente embargado em junho, um dia após o primeiro desabamento.

O lixão, inaugurado em 2016, ocupa uma área de 760 mil metros quadrados e tem capacidade para armazenar até 8,13 milhões de toneladas de resíduos. Desde o início da operação, o local acumulou multas e infrações ambientais, incluindo descarte irregular de lixo e ausência de licença válida.

Na época do primeiro acidente, a secretária de Meio Ambiente, Andréa Vulcanis, declarou que a tragédia “era anunciada” e responsabilizou a liberação judicial que manteve o aterro ativo. Ela determinou que a empresa apresentasse um plano de contingência e estabilização da pilha — processo que ainda estava em andamento quando o novo desabamento ocorreu.

“É uma situação complexa. A pilha continua instável, e a empresa precisa apresentar medidas técnicas para garantir segurança ambiental e estrutural”, afirmou Vulcanis em junho.

Ações emergenciais e acompanhamento local

A Prefeitura de Padre Bernardo informou que acompanha o caso desde a notificação do novo deslizamento. Em nota, o prefeito Joseleide Lázaro (UB) reforçou que o município não tem competência para fiscalizar empreendimentos de grande impacto ambiental, função que cabe à Semad.

“Estamos no local acompanhando e cobrando providências, mas a autorização e a fiscalização são de responsabilidade do Estado”, afirmou o gestor.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente também comunicou que notificou os órgãos estaduais e federais e solicitou providências imediatas para evitar novos danos ambientais e sociais.

Com o novo deslizamento, o caso do Aterro Ouro Verde volta a expor os riscos de manutenção de estruturas irregulares e reforça a necessidade de medidas urgentes de contenção e recuperação ambiental na região.

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