“Ecologia sem luta de classes é jardinagem” e combate ao desmatamento sem punição é inútil

03 junho 2024 às 17h37

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O número de mortos devido às fortes chuvas, enchentes e enxurradas no Rio Grande do Sul subiu para 171, conforme apontou a Defesa Civil no último sábado, 1º. A Alemanha também enfrenta chuvas intensas, resultando em milhares de desabrigados nas regiões de Baden-Württemberg e Baviera. Eventos climáticos extremos estão se tornando cada vez mais frequentes e severos globalmente, mas tanto os governantes quanto a população parecem ainda não compreender a seriedade do assunto. Enquanto a temática ainda é secundária, a boiada vai passando e quem sofre as consequências são os mais pobres.
No Brasil, o governo federal mapeou 1.942 municípios suscetíveis a desastres associados a deslizamentos de terras, alagamentos, enxurradas e inundações, o que representa quase 35% do total dos municípios brasileiros. Em Goiânia, há 4.260 pessoas em áreas mapeadas ao risco geo-hidrológico, sob perigo de deslizamento, enxurrada e inundação.
Em Goiás, os seguintes municípios estão em risco: Alexânia, Alvorada do Norte, Anápolis, Aparecida de Goiânia, Aporé, Baliza Caldas Novas, Cavalcante, Formosa, Goiânia, Goiás, Goiatuba, Guarani de Goiás, Israelândia, Itumbiara, Lagoa Santa, Luziânia, Novo Gama, Petrolina de Goiás, Planaltina, São Domingos, Senador Canedo, Simolândia e Uruaçu.
O último relatório do IPCC aponta que as atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e padrões insustentáveis de consumo, elevaram a temperatura global em 1,1°C acima dos níveis pré-industriais. Para limitar o aquecimento a 1,5°C, é necessário reduzir as emissões pela metade até 2030. O aquecimento global afeta todos os países de maneiras diversas, com alguns sendo particularmente vulneráveis devido a fatores como localização geográfica e capacidade de adaptação.
Como em toda guerra, os primeiros a morrer são os que estão na linha de frente. O que não quer dizer, porém, que quem estiver mais atrás vai sobreviver. Primeiro sofrem os Países insulares do Pacífico, os da África Subsaariana, da América Central e Caribe, do Oriente Médio, do Norte da África e as Regiões árticas. Posteriormente, o aquecimento global vai engolir a todos e a vida na terra terá fim.
Mas até que chegue o fim, a população vai sofrer, e de várias maneiras distintas. Além das ondas de calor e tempestades, o aumento do nível do mar vai causar inundações e deslocamentos, além de impactos na agricultura que resultam em insegurança alimentar. A saúde pública é ameaçada por doenças transmitidas por vetores e piora da qualidade do ar, enquanto a escassez de água e os danos econômicos aumentam. Além disso, a perda de biodiversidade e habitats naturais, a acidificação dos oceanos e a intensificação de conflitos e desigualdades sociais exacerbam ainda mais a vulnerabilidade das populações mais pobres e marginalizadas.
O Brasil, que não consegue nem resolver suas questões internas, parece distante de conseguir cumprir as metas que fez durante a 28ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU). Apesar do desmatamento na Amazônia ter reduzido, a devastação no Cerrado bate recorde. O Ministério do Meio Ambiente (com razão) culpa os governadores e diz que cerca da metade do desmatamento no bioma é autorizado pelos Estados.
O governo federal, então, propôs um pacto com os governadores para combater o desmatamento no bioma, iniciativa que inclui propostas como criação de força-tarefa para implementação de ações conjuntas, integração de bases de dados e definição de municípios prioritários para ações de controle. Até o momento, no entanto, nada foi feito.
Enquanto o meio ambiente não for tratado como uma pauta cara para o Presidente, nada irá mudar. Após aprovação da Reforma Tributária, quais são as desculpas do Presidente Lula e do Congresso Nacional para continuarem deixando a natureza de escanteio? Não adianta remunerar quem reduz o desmatamento e não punir quem o produz, porque como dizia Chico Mendes, ”ecologia sem luta de classes é jardinagem”.