Desmatamento no Cerrado cai 11%, mas bioma segue como o mais ameaçado do Brasil
 Giovanna Campos
                    Giovanna Campos
                
                30 outubro 2025 às 15h59

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Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados nesta sexta-feira, 30, mostram que o desmatamento no Cerrado atingiu 7.235 km² entre agosto de 2024 e julho de 2025 — uma redução de 11% em relação ao período anterior. Apesar da queda, o bioma continua sendo o mais pressionado pela expansão agropecuária e abertura de novas áreas de cultivo no país.
Segundo o Inpe, 77,9% da supressão de vegetação no Cerrado ocorreu na região do MATOPIBA — que reúne partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Os estados com maior participação nas áreas devastadas foram o Maranhão (28%, ou 2.006 km²), Tocantins (21%, ou 1.489 km²) e Piauí (19%, ou 1.350 km²). Entre eles, o Piauí registrou o aumento mais expressivo nas taxas estaduais, com crescimento de 33,1%, seguido pela Bahia, com alta de 9,3%.
O governo federal atribui a redução geral do desmatamento a ações de fiscalização mais intensas e ao avanço dos planos de prevenção e controle nos diferentes biomas brasileiros. O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado) faz parte de uma estratégia mais ampla que inclui iniciativas específicas também para o Pantanal, Pampa, Mata Atlântica e Caatinga — inspiradas no modelo do PPCDAm, criado originalmente para a Amazônia Legal.
Cerrado: o bioma mais ameaçado
Embora celebre a queda nas taxas, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) reconhece que o Cerrado ainda concentra a maior pressão por conversão de vegetação nativa. A região abriga nascentes de oito das 12 principais bacias hidrográficas brasileiras e cumpre papel estratégico no equilíbrio climático do país.
A ministra Marina Silva classificou o bioma como “o coração hídrico do Brasil” e destacou que o desmatamento no Cerrado tem impacto direto sobre o abastecimento de água e o regime de chuvas. “Preservar o Cerrado é uma questão de segurança hídrica e alimentar”, afirmou.
O governo anunciou a destinação de R$ 150 milhões, via Fundo Amazônia, para ações de combate a incêndios e desmatamento nos estados do Cerrado e do Pantanal — medida que amplia o escopo do fundo originalmente voltado à Amazônia Legal.
Avanços na fiscalização e no combate ao desmatamento
Entre 2024 e 2025, o Ibama realizou 9.540 ações fiscalizatórias, com 4.007 autos de infração e aplicação de R$ 2,85 bilhões em multas. Mais de 3 mil áreas foram embargadas, totalizando 5.194 km² bloqueados por irregularidades ambientais. O órgão também apreendeu R$ 752 milhões em produtos florestais e deflagrou operações de destaque como Controle Remoto, Carne Fria e Caixa-Forte, que miram o desmatamento ilegal e o financiamento da atividade.
Paralelamente, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) realizou 687 operações em unidades de conservação, com multas que somam quase R$ 400 milhões e a incorporação de 130 novos agentes de fiscalização. O órgão também iniciou, em 2025, a implementação da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (PNMIF), que contribuiu para uma redução expressiva das áreas afetadas por incêndios — de 20 mil km² em 2024 para 4.136 km² neste ano.
Amazônia tem menor taxa em 11 anos, mas sofre com degradação
Os dados do Prodes também apontam que o desmatamento na Amazônia Legal foi de 5.796 km² entre agosto de 2024 e julho de 2025 — o menor índice em 11 anos e 11% abaixo do registrado no período anterior. No entanto, pesquisadores alertam para um aumento expressivo da degradação florestal, que atingiu 38% das áreas monitoradas neste ano, reflexo de queimadas, secas extremas e cortes seletivos.
O secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobianco, observou que, se não fosse o impacto do fogo, o país teria registrado “o menor índice de corte raso da história”. Para o governo, a queda nas taxas de desmatamento é resultado direto da ampliação das operações de campo, do bloqueio de créditos rurais a produtores com passivos ambientais e da integração entre Ibama, Polícia Federal e Incra.
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