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A demanda de cerca de 80 países pelo fim dos combustíveis fósseis — principal causa das mudanças climáticas — ficou fora do texto final da 30ª Conferência do Clima da ONU até a tarde deste sábado, 22, após duas semanas de negociações intensas. Ainda assim, uma iniciativa voluntária da presidência brasileira aproxima o debate global do encerramento da era fóssil.

Mesmo após discussões que avançaram pela madrugada, prevaleceu a oposição liderada pela Arábia Saudita, aliada a outros produtores de petróleo e à Rússia, que barraram qualquer menção ao fim dos fósseis no documento oficial.

Diante do impasse, o embaixador André Corrêa do Lago anunciou, na plenária final, a criação de dois “roteiros” paralelos: um para deter e reverter o desmatamento e outro para orientar uma transição justa, ordenada e equitativa para longe dos combustíveis fósseis. Segundo ele, os planos serão construídos com participação de países produtores e consumidores, indústria, trabalhadores, academia e sociedade civil.

O embaixador afirmou que a iniciativa dialogará com a primeira Conferência Internacional para a Eliminação dos Combustíveis Fósseis, prevista para abril, na Colômbia. Organizações da sociedade civil comparam a proposta aos desdobramentos da COP29, quando, após o fracasso das negociações sobre financiamento climático, foi elaborado o “Roteiro Baku–Belém”, também sem caráter vinculante.

A tentativa de incluir um compromisso formal sobre o “Mapa do Caminho” para o fim dos fósseis foi defendida por Lula e por representantes do governo brasileiro até os últimos momentos da COP30. O tema chegou a constar em rascunhos, mas foi retirado na versão final. Como alternativa, os roteiros voluntários foram anunciados e celebrados por entidades como o IPAM, que destacou a abertura de um debate global sobre desmatamento zero e eliminação dos fósseis.

Paralelamente, circulou durante a COP30 a “Declaração de Belém para o Fim dos Fósseis”, liderada pela Colômbia e assinada por 24 países. O documento reafirma o compromisso com uma transição justa e alinhada ao limite de 1,5°C. O Brasil não aderiu, pois tentava inserir o tema nos textos oficiais. O grupo também anunciou a realização da primeira Conferência para o Fim dos Fósseis, marcada para 28 e 29 de abril de 2026, em Santa Marta, na Colômbia.

Cientistas, que pela primeira vez tiveram um pavilhão próprio na COP, lamentaram a ausência de compromissos firmes e reforçaram que o abandono dos combustíveis fósseis até 2040 — ou, no máximo, 2045 — é essencial para evitar aquecimento perigoso nas próximas décadas. Eles alertam que o atraso empurrará o planeta para eventos extremos cada vez mais severos.

Apesar do bloqueio nas negociações, os pesquisadores afirmaram que muitos países estão prontos para avançar e anunciaram, em parceria com a presidência brasileira, a intenção de criar um Painel Científico sobre Transição Energética Justa e Fim dos Combustíveis Fósseis, destinado a subsidiar o Acelerador Global de Implementação.

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