“A COP da Verdade”: Lula tenta transformar Belém no divisor de águas do multilateralismo climático
10 novembro 2025 às 16h23

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Diante de delegações de 194 países reunidas no coração da Amazônia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu, nesta segunda-feira, 10, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) com um discurso que buscou combinar tom político, simbólico e diplomático. Ao declarar que esta será “a COP da Verdade”, Lula transformou a conferência em Belém em um marco de ambição e cobrança: um momento em que o mundo precisa provar que o multilateralismo ainda é capaz de produzir resultados concretos.
“Na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo. Atacam as instituições, a ciência e as universidades. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”, afirmou Lula, em uma das passagens mais aplaudidas do discurso.
A fala foi interpretada como uma resposta indireta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que criticou publicamente a realização da conferência e se ausentou do evento. O gesto reforça a tentativa do governo brasileiro de ocupar um vácuo de liderança global no tema climático, num momento em que a agenda ambiental é atravessada por disputas ideológicas, econômicas e de informação.
Para o Palácio do Planalto, a COP30 é o maior investimento diplomático do terceiro mandato de Lula — e a oportunidade de reposicionar o Brasil como referência na governança ambiental global, após anos de isolamento. Ao sediar a conferência em Belém, o governo tenta unir imagem simbólica e propósito político: mostrar que o combate à crise climática passa necessariamente pela valorização da Amazônia e pela cooperação internacional.
Fazer a COP aqui é um desafio tão grande quanto acabar com a poluição no planeta. Quando se tem disposição política e compromisso com a verdade, o homem prova que nada é impossível
A aposta de Lula é dupla. No campo simbólico, a “COP da Verdade” seria o reencontro da comunidade internacional com os princípios da Rio-92 — desenvolvimento sustentável e responsabilidades comuns, porém diferenciadas — agora revisitados em um contexto de desinformação e crise de confiança entre os países. No campo prático, o desafio é evitar que o discurso se perca em declarações de intenção e termine sem compromissos concretos.
O presidente insistiu que a emergência climática “já não é uma ameaça do futuro, mas uma tragédia do presente”, e defendeu que o mundo precisa acelerar a transição energética e ampliar o financiamento para países em desenvolvimento. Também anunciou o lançamento do Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que arrecadou US$ 5,5 bilhões em compromissos de investimento de países como Noruega, Indonésia, França e Portugal.
Nos bastidores, a conferência também foi vista como uma vitrine interna: Lula buscou transformar as críticas à infraestrutura de Belém em demonstração de coragem política, descrevendo o evento na Amazônia como “um desafio logístico e civilizatório” — uma aposta no poder simbólico da floresta como centro do debate global.
Diplomatas brasileiros avaliam que o discurso inaugura uma nova fase do protagonismo ambiental do país: de defensor da Amazônia para articulador de consensos climáticos. Mas o sucesso dessa “COP da Verdade” dependerá menos da retórica e mais da capacidade de o Brasil e seus parceiros transformarem as promessas em resultados tangíveis.
“O impossível é não ter coragem de enfrentar desafios”, concluiu Lula, sob aplausos da plateia.
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