Guam: a linha de frente estratégica dos EUA frente à ascensão militar da China

15 janeiro 2024 às 15h57

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Guam tem sido um ponto de apoio para as forças armadas americanas, hospedando importantes instalações como a Andersen Air Force Base e a Apra Harbor, que abriga submarinos nucleares. Esta presença militar não só fortalece a capacidade de resposta dos EUA em cenários de conflito na região, mas também serve como um ponto de apoio crucial para aliados importantes, como Taiwan, que enfrenta ameaças crescentes da China.
Nos últimos anos, a China desenvolveu e testou mísseis balísticos capazes de atingir Guam, conhecidos como “Guam killers”. O DF-26, com alcance de 4.000 quilômetros e capacidade de transportar ogivas nucleares ou convencionais, é uma peça central nessa estratégia. Além disso, a Coreia do Norte testou o míssil Hwasong-12, que também pode alcançar Guam.
Consciente dessas ameaças, os Estados Unidos têm fortalecido suas defesas em Guam. Estão sendo realizados esforços significativos para atualizar as capacidades de defesa antimísseis, incluindo a implementação de sistemas avançados como o THAAD e o Aegis. Estas medidas visam não apenas proteger Guam, mas também garantir a integridade das operações militares americanas na região.
A segurança de Guam tem implicações diretas para Taiwan, que se encontra numa posição vulnerável frente à China. Uma Guam fortificada e segura permite que os Estados Unidos ofereçam um suporte mais efetivo a Taiwan, tanto em termos de dissuasão militar quanto de resposta rápida a qualquer agressão chinesa.
Taiwan tem sido um aliado estratégico crucial para os Estados Unidos na Ásia-Pacífico. A ilha, que enfrenta uma crescente pressão militar da China, é vista como um ponto crucial na cadeia de defesa dos EUA na região. Washington tem apoiado Taiwan através de vendas de armas e um compromisso implícito de defesa, embora mantenha uma política de “Uma China” oficial. A relação EUA-Taiwan é vital não apenas para a segurança de Taiwan, mas também como um meio de conter a influência chinesa na região e garantir a segurança de áreas estratégicas como Guam.
Recentemente, os Estados Unidos assinaram um pacto de defesa com Papua Nova Guiné, um movimento estratégico para expandir sua influência na região do Pacífico e contrabalançar a crescente presença da China. Este acordo permite o acesso das forças americanas a portos e aeroportos em Papua Nova Guiné, oferecendo uma base adicional para as operações militares dos EUA no Pacífico e uma proteção adicional para Guam. A assinatura deste pacto é um indicativo da intenção dos EUA de fortalecer as alianças regionais e garantir a preservação de seus interesses estratégicos.
As alianças dos EUA com Taiwan e Papua Nova Guiné influenciam significativamente suas relações com o Japão. O Japão, sendo um aliado chave dos Estados Unidos na região, tem interesses compartilhados em manter a estabilidade e conter a influência chinesa. A presença militar americana em Guam, complementada pelas alianças com Taiwan e Papua Nova Guiné, reforça a segurança coletiva e a capacidade de resposta rápida na região, elementos essenciais na política externa e de defesa do Japão.
A ilha de Guam, emergindo como um símbolo vital da dinâmica de poder no Pacífico, reflete claramente as crescentes tensões entre os EUA e a China, ilustrando a complexidade das relações internacionais na região Indo-Pacífico. Enquanto os Estados Unidos buscam fortalecer suas defesas e preservar sua influência estratégica através de alianças com Taiwan e Papua Nova Guiné, e uma parceria robusta com o Japão, a China continua a desafiar essa presença com o desenvolvimento de capacidades militares avançadas, incluindo mísseis que ameaçam Guam. Este cenário torna as alianças dos EUA na região, especialmente com Taiwan e Papua Nova Guiné, ainda mais cruciais para garantir a segurança e manter o equilíbrio de poder, com o futuro da segurança em Guam e, consequentemente, em Taiwan dependendo significativamente da capacidade dos EUA de adaptar-se e responder eficazmente às mudanças no cenário de segurança do Indo-Pacífico.

*Antônio Caiado é brasileiro e atua nas forças armadas dos Estados Unidos desde 2009. Atualmente serve no 136º Maneuver Enhancement Brigade (MEB) senior advisor, analisando informações para proteger tropas americanas em solo estrangeiro.