O potencial sustentável do bambu na construção civil: pesquisa da UEG ganha destaque na COP30
13 novembro 2025 às 18h37

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A presença da Universidade Estadual de Goiás (UEG) na COP30, em Belém (PA), destacou um dos projetos ambientais mais promissores do país: o uso do bambu como alternativa sustentável para a construção civil e como ferramenta estratégica no combate às mudanças climáticas. A iniciativa é liderada pela profa. Dra. Anelizabete Alves Teixeira, docente do curso de Arquitetura e Urbanismo do Câmpus Anápolis e coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Materiais Sustentáveis e Fibras Naturais (Nupmat/UEG), selecionado pela ONU para integrar a Blue Zone — área destinada às delegações oficiais, chefes de Estado e observadores credenciados.
Durante o evento, a pesquisadora apresentou os avanços do núcleo em estudos que envolvem materiais de baixo impacto ambiental, com foco no bambu como matéria-prima capaz de substituir madeira, aço e concreto em diversas aplicações arquitetônicas. Segundo Anelizabete, o bambu é atualmente a espécie vegetal que mais captura dióxido de carbono da atmosfera, exercendo papel direto na redução dos gases de efeito estufa. Além disso, a planta atua na recuperação de solos degradados, no controle de erosões e na regeneração de áreas comprometidas, atributos que reforçam sua relevância em um momento em que os eventos climáticos extremos se tornam mais frequentes e devastadores. “O bambu é fundamental para descarbonizar a sociedade e reduzir impactos ambientais urgentes. É um material completo, rápido de crescer e totalmente aproveitável, do caule à folha”, explica a professora em entrevista ao Jornal Opção.
Os estudos desenvolvidos pelo Nupmat mostram que o bambu atinge maturidade para uso entre três e seis anos, período muito inferior ao de árvores utilizadas tradicionalmente na construção. Com propriedades físicas e mecânicas já amplamente comprovadas por pesquisadores brasileiros e internacionais, o material apresenta resistência suficiente para ser empregado em estruturas arquitetônicas, mobiliário e sistemas construtivos completos.
Para a professora, o Brasil reúne todas as condições para liderar a industrialização dessa matéria-prima, já adotada em larga escala por países como a China, onde Anelizabete realizou recentemente um curso imersivo sobre tecnologia do bambu. “Na China, o bambu é valorizado como insumo nobre, usado em design, painéis engenheirados e obras de alto padrão. O Brasil tem potencial igual ou maior, porque temos clima, território e abundância da planta. Falta investir em políticas públicas que incentivem o cultivo e a cadeia produtiva”, afirma.

Carta do Bambu
Na COP30, a professora apresentou a “Carta do Bambu”, um manifesto que reúne demandas da comunidade científica brasileira em defesa da regulamentação da Lei Nacional do Bambu, criada em 2011 mas ainda sem aplicação efetiva. O documento pede mais incentivo às pesquisas, ampliação do financiamento climático e fortalecimento das políticas ambientais que permitam transformar o bambu em vetor de desenvolvimento econômico e social. Para Anelizabete, a cadeia produtiva tem capacidade de gerar renda sobretudo para comunidades tradicionais, ribeirinhas e agricultores familiares, ampliando oportunidades econômicas com base em um recurso renovável, inclusivo e de alto valor ambiental.
A participação da UEG na conferência inclui ainda quatro estudantes do Nupmat, que apresentaram pesquisas sobre cidades esponjas, arquitetura efêmera e justiça climática. Para a professora, a experiência transforma não apenas o olhar acadêmico, mas a visão de mundo dos futuros profissionais. “É uma vivência que marca a vida desses jovens. Eles voltam entendendo que suas profissões têm um papel direto na proteção do planeta, na inovação e na construção de sociedades mais sustentáveis”, afirma.
Durante a programação, o grupo também visitou construções em bambu na região amazônica, incluindo projetos executados por pesquisadores da Unesp e de institutos locais, mostrando que a aplicação prática do material já é uma realidade em obras brasileiras. Para Anelizabete, esse movimento ainda deve crescer nos próximos anos, à medida que a sociedade e os governos reconheçam o papel estratégico do bambu na bioeconomia nacional.
A presença do projeto goiano na COP30 fortalece o Brasil no cenário global da pesquisa ambiental e evidencia que soluções eficazes para a crise climática podem surgir de iniciativas acadêmicas comprometidas com inovação e responsabilidade socioambiental. “Estamos mostrando que o bambu é uma solução real — ambiental, econômica e social. É um caminho possível e urgente para a construção de um futuro mais sustentável”, conclui a professora.
