Após anos de sucateamento e abandono, o Centro voltou a ser considerado um ponto turístico e de lazer pela população goianiense. Nos últimos anos, a região enfrentou um êxodo de comerciantes que fecharam as portas ou migraram para outros setores devido aos entraves para empreender no local.

Para os empresários Heitor Vilela e Brenda Melo — proprietários de bares na região — o Centro vive um processo de renascimento, impulsionado por conquistas há muito reivindicadas e protagonizadas por empreendedores, especialmente do setor de bares e restaurantes. O consenso entre eles pode ser resumido na frase: “O Centro está melhor, mas ainda pode melhorar.”

Vilela, dono da Casa Liberté, na Rua 8, avalia que a ocupação da região representa um avanço no diálogo e na atenção da Prefeitura com os comerciantes. Ele ressalta, entretanto, que esse diálogo nasceu de iniciativas independentes dos próprios donos de bares, com apoio posterior do município.

“A Prefeitura está com um olhar mais cuidadoso para a nossa região. Foram colocadas caçambas de lixo para facilitar a coleta de resíduos e também tivemos a coleta de lixo em um horário especial por parte da Comurg”, afirma.

Ele destaca ainda o programa “Ocupa Centro” como um exemplo de política pública que contribuiu para a redescoberta da região. “Essa lei deixou o movimento muito mais orgânico e promoveu uma forma mais acessível para as pessoas consumirem os eventos culturais que acontecem aqui.”

Aumento no fluxo de clientes

Segundo Vilela, essas iniciativas levaram ao aumento no fluxo de consumidores, que passou de cerca de 2 mil pessoas em um fim de semana para mais de 6 mil em menos de um ano. O empresário afirma que a intenção é consolidar a Rua 8 — e o Centro — como uma opção permanente de cultura, lazer e turismo, especialmente para quem busca uma cena cultural alternativa ao sertanejo.

Apesar dos avanços, ele afirma que a segurança ainda é a principal preocupação dos empreendedores, que têm dialogado diretamente com o Paço por meio da secretária de Governo e ex-vereadora Sabrina Garcez (Republicanos). Uma das respostas a essas demandas foi a implantação de uma patrulha noturna especial da Guarda Civil Metropolitana (GCM) na região.

Vilela defende também que a Prefeitura priorize a manutenção da infraestrutura pública, como a troca de lâmpadas, poda de árvores e zeladoria urbana. Ele acrescenta que o Centro como um todo ainda precisa de melhorias, incluindo a limpeza e revitalização das fachadas dos prédios históricos. Entre as propostas, sugere que o processo de revitalização comece pelo “triângulo cultural”, formado pela Vila Cultural Cora Coralina, Teatro Goiânia, Cine Ouro e Rua 8.

Iniciativa privada

Por outro lado, para a empresária Brenda Melo, proprietária do Biras Bar e presidente da Associação de Bares da Rua 8, a revitalização do Centro é resultado direto da iniciativa privada. Segundo ela, a transformação da região não começou por ação do poder público, mas pela disposição dos empreendedores em ocupar e requalificar um espaço antes marcado pela insegurança e falta de estrutura.

“A revitalização não aconteceu por iniciativa da prefeitura. Foi a iniciativa privada que fez aquilo se tornar o que é hoje”, afirma. Brenda relembra que, ao abrir o bar, encontrou uma rua marcada pelo tráfico, pela forte presença de pessoas em situação de rua e pela ausência completa de policiamento e zeladoria. “Por muito tempo passamos sem policiamento, sem poda das árvores, sem restituição da iluminação. Os bancos da praça foram revitalizados pelo próprio Biras, não pela prefeitura.”

Ela reconhece que hoje há maior atenção do município e apoio pontual de parlamentares, mas reforça que isso só ocorreu após pressão intensa dos comerciantes. “Os apoios existem, mas vieram depois de muitos ofícios enviados, muita cobrança e a visibilidade que o movimento ganhou. Não foi espontâneo.”

A empresária afirma que, embora o ambiente hoje esteja mais estruturado, quem deseja empreender no Centro ainda enfrenta barreiras como altos custos, burocracia e falta de incentivos. “Muito se fala em revitalização, em isenção de taxas, mas nada acontece de fato. Os aluguéis estão superfaturados e isso afasta quem quer investir. Falta política pública de verdade, não só discurso.”

Propostas

Para garantir que o movimento cultural e gastronômico não se fragilize, Brenda aponta a necessidade de segurança pública permanente, iluminação adequada, poda frequente das árvores e ações sociais voltadas às vulnerabilidades da região. Os bares chegaram a contratar segurança privada para assegurar um ambiente mais confortável aos clientes. “Isso ajudou muito, mas não podemos fazer tudo sozinhos. Sem uma base fixa da polícia ou da GCM e sem manutenção contínua, não tem como.”

Ela avalia positivamente o diálogo com parlamentares como Aava Santiago (PSDB), Kátia Maria (PT) e Fabrício Rosa (PT), mas reforça que o alcance das ações legislativas é limitado. “Eles ajudam com ofícios, licenças e trâmites jurídicos. Mas infraestrutura é com a Prefeitura. E emenda não resolve o tamanho da demanda que o Centro tem hoje.”

Por fim, Brenda reforça que o movimento de retomada cultural é real, mas ainda depende de continuidade. “É possível manter esse público e fazer esse movimento durar. Mas só vai acontecer se for um esforço conjunto. Sozinhos, os bares não conseguem sustentar o Centro. A cidade precisa querer que o Centro exista.”

Leia também: Prefeitura de Goiânia anuncia instalação de cancelas automáticas na Marginal Botafogo e Avenida 87 em até dois meses