Para o escritor israelense Yossi Klein Halevi, autor de Cartas ao Meu Vizinho Palestino, o atual primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está “morto politicamente”. Apesar do autor acreditar que houve avanços na gestão de “Bibi”, ele vê que o atual chefe de Estado precisa substituído após o conflito contra o grupo terrorista Hamas. Principalmente por conta do planos envolvendo uma “reforma do Judiciário”.

Aprovada em julho pelo Parlamento de Israel, a primeira parte da reforma visa limitar os poderes da Suprema Corte do país, o que foi considerado um desrespeito a democracia. A ideia é que o Legislativo, controlado pelo governo, possa anular as decisões que forem tomadas pelo Judiciário do país. Uma situação que deixa Netanyahu e os seus aliados extremamente poderosos.

Diferente de outros países, como o Brasil, Israel não possui uma constituição escrita, apenas leis básicas que definem como funciona o Estado, as suas instituições e relações. Por isso, a reforma foi apresentada como uma lei básica para definir o papel do Judiciário. Ao mesmo tempo, um comitê é previsto para revisar as nomeações para a Suprema Corte e demais membros do Justiça do país, incluindo juízes.

Historicamente, alterações dentro do Poder Judiciário são consideradas estratégias antidemocráticas. Por exemplo, em 2004, o ditador Hugo Chávez conseguiu realizar um golpe contra o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). Na ocasião, ele aprovou uma lei para acelerar o afastamento de ministros que não seguissem o “chavismo”, além de aumentar o número de membros de 20 para 30 (depois para 32 em 2005).

Já no Brasil, durante a ditadura militar, a Suprema Corte brasileira também sofreu ataques semelhantes, incluindo cassação e pressão para ministros deixarem o cargo. Recentemente, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também deixou no ar possibilidade de uma reforma no Supremo Tribunal Federal (STF). A ideia era aumentar o números membros com o objetivo de reduzir o poder individual de cada.

Ele sabia?

Cerca de 86% dos israelenses consideram que houve uma falha de segurança do premiê no ataque do Hamas no início de outubro, segundo o instituto Dialog Center. 9 em cada 10 entrevistados concordam que o governo deve assumir responsabilidade pela falta de preparo. A maioria dos residentes do país também (56%) também desejam que ele renuncie ao cargo no final da guerra.

Segundo o jornal Times of Israel, autoridades de inteligência do Egito também teriam alertado Israel sobre a possibilidade de um risco de ataque. Inclusive, o general egípcio Abbas Kamel teria telefonado pessoalmente para Netanyahu dez dias antes do atentado. Por outro lado, o governo de Israel negou que recebeu comunicados do país vizinho a respeito da possibilidade dos eventos do dia 7 de outubro.

Inimigo interno

Hoje Israel luta contra o Hamas, mas não pode se esquecer do atual primeiro-ministro. As medidas antidemocráticas de Netanyahu podem levar a principal democracia do Oriente Médio para um ditadura, semelhante ao que ocorre em países como Rússia e Hungria. Por isso, os israelenses não podem esquecer do “inimigo interno”, mesmo atualmente estando sob um governo de coalização.