Roberto Naves: “Vamos executar o maior plano de investimentos da história de Anápolis”

13 novembro 2022 às 00h00

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Aline Bouhid, Elder Dias, Euler de França Belém e Marcos Aurélio Silva
Pode-se dizer que Roberto Naves (pP) é um fenômeno da política goiana. Exercendo seu segundo mandato à frente de Anápolis, ele surpreendeu nas duas eleições – as únicas que disputou: em 2016, venceu o então prefeito, João Gomes (PT), quando ainda era conhecido como Roberto do Órion, nome do colégio que administrava; quatro anos depois, buscando a própria reeleição, bateu um adversário fortíssimo, o deputado estadual e ex-prefeito Antônio Gomide, também do PT, que havia deixado o cargo em 2014 com altíssima popularidade.
A verdade é que Naves passou a se destacar no cenário estadual também por saber jogar o jogo, como gestor e como político: entregou o que as pessoas necessitavam e soube fazer alianças importantes, como a que tem com o governador Ronaldo Caiado (UB).
Para o período que ainda tem no comando de Anápolis, o prefeito tem metas audaciosas: planeja investir aproximadamente R$ 1 bilhão em obras estruturantes. Mais do que isso, vai estabelecer uma “margem de erro” para a entrega dos equipamentos: que estabelecer 18 meses para deixar outros 6 à custa de algum atraso e concluir ainda em seu mandato. Em todo caso, se a demanda virar o ano de 2024, já avisa: “Caso aconteça, o dinheiro vai estar no caixa para que o próximo prefeito”. Nesta entrevista ao Jornal Opção, Roberto Naves fala mais sobre a própria gestão, sobre as mudanças no quadro político local e nacional e afirma: Caiado é melhor gestor que Jair Bolsonaro (PL) e pode ser, com a ajuda do agro, o nome da direita à Presidência da República em 2026.
Euler de França Belém – O sr. é um prefeito de segundo de mandato, lançou e elegeu a primeira-dama, Vivian Naves (pP), como deputada estadual e apoiou firmemente a reeleição do governador Ronaldo Caiado (UB). Ou seja, um projeto muito bem sucedido, vitorioso. Como foi esse trabalho, dirigindo a terceira maior cidade em eleitorado e a segunda mais importante politicamente?
Quando me tornei prefeito de Anápolis foi pelo compromisso de cuidar da cidade. Se a gente quer isso, é preciso cuidar também dos interesses da cidade. Então, apoiei o governador Ronaldo Caiado porque era e é o melhor para Anápolis. Da mesma forma, apoiei a primeira-dama Vivian Naves pelo trabalho social que ela está prestando à cidade, pela pessoa que é e por saber que, além de representar nosso município, ela vai brigar por mais desenvolvimento, por um cuidado maior com a população na Assembleia Legislativa.
Apoiei também Alexandre Baldy, porque tenho certeza de que, como senador, seria o melhor para a cidade de Anápolis. Outro a quem firmamos apoio foi Leandro Ribeiro (pP), que foi um candidato a deputado federal só de Anápolis e fez uma grande campanha. E, para presidente da República, apoiei Jair Messias Bolsonaro (PL), que foi o candidato da direita, que é o lado com o qual me identifico. No segundo turno, Anápolis deu 70% dos votos para ele. Então, não mudo minha forma de pensar nem meu foco, apoio o que é bom para a cidade. Foi para isso que fui eleito, foi me utilizando desses parâmetros que escolhi quem apoiar. Vivian não foi candidata por ser a esposa do prefeito e as urnas mostraram isso. Foi candidata porque cuidou das pessoas na pandemia, porque está “na ponta” 24 horas por dia, por conhecer as pessoas pelo nome que precisam da presença do poder público. Fico muito feliz com a vitória, sim, mas mais feliz ainda quando a população me mostra que eu escolhi os candidatos assim que as urnas são abertas, quando vejo que os anapolinos acompanharam nossa decisão.
Euler de França Belém – Vivian Naves foi a mais votada em Anápolis?
Foi a mais votada em Anápolis entre todos os deputados e deputadas eleitos, mesmo contando os candidatos a federal. Somente os votos do município dariam a eleição para ela, mas fora de lá, em outras cidades, ela teve mais de 13 mil votos.

Marcos Aurélio Silva – Muitos prefeitos de cidades grandes em Goiás, como Rio Verde ou municípios do Entorno do DF, trabalham para eleger seus candidatos, mas, como ocorreu em 2022, percebem que não conseguiram transferir seu prestígio e sua aprovação para outros nomes. O sr. percebe que conseguiu levar o eleitorado, com sua popularidade, a votar em seus candidatos, inclusive neste segundo turno, com seu apoio a Bolsonaro?
A população está muito mais politizada do que anos atrás. Então, o poder de transferência de votos de todos os líderes já não ocorre mais como antes. Assim, é preciso que esse líder e esse candidato tenham serviços prestados. Se é assim, fica muito mais fácil transferir votos, declarar apoio, e isso refletir na hora que as urnas forem abertas. Caso a pessoa não mostre serviço, fica muito mais difícil. Ou seja, existe transferência de votos, mas o eleitor está muito mais crítico e exigente. Ele até aceita transferir a confiança que tem no líder para outro, mas esse outro precisa ter mostrado serviço para conseguir o voto desse eleitor.
Em Goiás, nós tivemos um exemplo de transferência maciça de votos: do presidente Jair Bolsonaro para o senador Wilder Morais (PL). Não tivemos a mesma dele para seu candidato ao governo do Estado, Vitor Hugo (PL).
Euler de França Belém – Por qual motivo?
A resposta é muito simples: um tinha serviços prestados e tinha identidade com o Estado e o outro, não. Isto é, a transferência de votos acontece, sim, mas o eleitor está muito mais crítico e muito mais exigente no que diz respeito a isso.
Euler de França Belém – Partindo por esse princípio, por que o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) que, rigorosamente, tinha mais serviços prestados ao Estado do que todos os demais candidatos, perdeu sua eleição ao Senado?
É preciso levar em conta, além dos serviços prestados, mas também como está sua aprovação e reprovação diante da população. O ex-governador Marconi Perillo, apesar de todos os serviços prestados, nesta eleição ainda continuava com um grau de eleição muito alto, por isso não teve êxito.
Aline Bouhid – Por falar em serviços prestados, o sr. vai completar dois anos desde o início de seu segundo mandato. O que está em andamento para entregar à população anapolina?
Nós vamos fechar, provavelmente em novembro, o maior plano de investimentos da história de Anápolis, aproximadamente R$ 1 bilhão em obras estruturantes. Não estou falando aqui em sonho ou algo imaginário: os projetos arquitetônico e estrutural estão feitos, o dinheiro está garantido e estamos em fase de licitação.
Aline Bouhid – Quais são essas obras?
Entre escolas e Cmeis [centros municipais de educação infantil], vamos construir 17 novas unidades. Isso significa que vamos zerar a fila, vamos ter vagas suficientes para atender toda a demanda do município com uma educação de qualidade. Nesse projeto de investimento, temos também o Hospital da Mulher, o que revela que o que fizemos com a pediatria – e Anápolis é a única cidade que tem uma UPA [unidade de pronto atendimento] pediátrica – também servirá às mulheres. Da mesma forma, teremos o mesmo cuidado com nossos idosos, com a obra do Hospital do Idoso. Ou seja, são mais dois hospitais.
Em termos de qualidade de vida, precisamos nos ater ao fato de que, nos grandes centros, passamos grande parte de nosso tempo em veículos, por causa do problema da mobilidade urbana. Nesse sentido, estamos fazendo a ligação da Avenida Brasil até a Avenida Pedro Ludovico – com a ponte estaiada, que será o maior cartão postal da cidade –, fazendo com que as pessoas passem menos tempo no trânsito.
Na questão da estrutura, vamos implantar o Politec [Polo Industrial e Tecnológico de Anápolis] na região norte da cidade. Será o primeiro distrito agroindustrial ecologicamente correto, pelo qual vamos atrair novas empresas e gerando novos empregos, mas também “balanceando” a cidade. Nossos dois bairros mais populosos estão na região norte: Recanto do Sol e Vila Jaiara. Só que o maior número de empresas está na região sul, no Daia [Distrito Agroindustrial de Anápolis], na outra ponta. Então, fazemos as pessoas diariamente se deslocarem muito. Precisamos trazer a população para morar perto das empresas e abrir empresas perto de onde as pessoas morem. Por isso, o Politec estará na região norte e, também por isso, vamos interligar o Recanto do Sol à Avenida Brasil, por um viaduto que passará por baixo da BR-153.
Vamos ser a primeira cidade com uma UPA especializada em animais. As pessoas em Anápolis, quando querem marcar exames e consultas, fazem isso via WhatsApp. Não há mais aquela foto de uma senhora às 4 horas da madrugada aguardando para poder marcar uma consulta. É por aí que estamos caminhando e vamos avançar ainda mais no que diz respeito ao formato de uma cidade inteligente. Vocês viram, no horário eleitoral, algo que foi criado em Anápolis sendo proposta do governo federal: o presidente Bolsonaro lançou como proposta de campanha, em sua propaganda na TV, o Zap da Saúde, que foi criado em nossa cidade e sobre o qual já falamos até no exterior – e vamos falar novamente agora, nesta semana, indo para Barcelona, Bruxelas etc.
Marcos Aurélio Silva – O que mais será pauta nessa viagem internacional?
Vamos participar da Smart City [feira mundial Smart City Expo World Congress, que ocorre de 15 a 17 de novembro em Barcelona] e falar do que fizemos em Anápolis, de tecnologia e desenvolvimento, mostrando para o mundo que não adianta pensar em cidade inteligente investindo em tecnologia sem melhorar a vida das pessoas. Uma cidade inteligente é aquela que pensa em servir às pessoas 24 horas, independentemente do nível tecnológico que se aplica. Da mesma forma, vamos estar no Parlamento Europeu, em Bruxelas, na Bélgica, em 17 de novembro, falando sobre um projeto que temos em Anápolis, que ficou conhecido como Aprendiz Anápolis, o qual consiste em o poder público fazer parte também do processo de dar a primeira oportunidade de trabalho. Imagine, por que não termos um garoto de 11 ou 12 anos aprendendo a ser vereador, secretário de Saúde ou mesmo prefeito, vivenciando isso por dentro? A única forma de apagar essa imagem ruim que existe no Brasil a respeito da política é trazendo as pessoas para conhecer a administração por dentro.
Já estivemos em Barcelona, no ano passado, mostrando o que já existia em Anápolis, e agora vamos ter o feedback do que apresentamos. No entanto, já temos a informação de que seis países da União Europeia já adotaram isso que fazemos em nosso município, de dar o primeiro emprego não só na iniciativa privada, mas também pelo poder público. Enfim, temos muita coisa para entregar nos próximos dois anos e que está muito bem encaminhada. Vamos nos debruçar em cima disso.
Não lançamos nem lançaremos nenhuma obra sem que tenhamos em caixa recursos para poder executá-la
Euler de França Belém – Um hábito infelizmente frequente no Brasil é de prefeitos deixarem obras inacabadas, como é o caso de Goiânia. A meu ver, o atual prefeito [Rogério Cruz (Republicanos)] não pode nem ser criticado, porque deixaram toda a cidade com obras inacabadas e ele está tentando “acabar”. Ou seja, seu desgaste deriva do que veio da gestão anterior. Fica uma quantidade enorme de obras inacabadas e sem recursos para terminá-las.
Então, o problema não são as obras inacabadas, mas as obras inacabadas sem recursos para que sejam concluídas. A diferença em Anápolis é que não lançamos nem lançaremos nenhuma obra sem que tenhamos em caixa recursos para poder executá-la. Quando eu assumi a Prefeitura, havia obras inacabadas e sem recursos, isso é muito ruim. Agora, eu gostaria muito de assumir uma gestão com obras nesse estado, mas com recursos, para que eu pudesse concluí-las. Digo isso porque, quando se começa uma obra, não há um controle exato sobre quando ela estará pronta, há apenas uma previsão. Mas pode ser que não aconteça da forma ideal. Por isso, dentro de nosso cronograma estamos trabalhando com uma margem de erro de aproximadamente seis meses. Ou seja, não vamos lançar nenhuma obra cuja execução tenha previsão de mais de 18 meses, já que teremos 24 meses de mandato. Algo que tem de ficar claro é que, caso aconteça de ficar uma ou outra obra sem conclusão, o dinheiro vai estar no caixa para que o próximo prefeito possa tocar, trabalhando pela cidade.
Euler de França Belém – Anápolis tem o maior distrito agroindustrial de Goiás. Como está o Daia 2?
Já saiu do papel e tem empresa que já está recebendo escritura e começando a construção. Conseguimos destravar tudo com o governador Ronaldo Caiado quando Renato [de Castro (UB), eleito deputado estadual] estava na Codego [Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás] ainda no ano passado. Era chamado de plataforma logística e era para ser multimodal, mas não adianta ficar aguardando ser dessa forma se há um tanto de empresas já querendo chegar e se instalar. Abrimos mão do multimodal para ficar com as empresas. Nesse sentido, o governador teve sensibilidade para, em cima dessa demanda, pegar parte dessa plataforma multimodal e destinou para a Codego, para que pudéssemos fazer a expansão do Daia. Isso já saiu do papel, já está em execução e estamos agora implantando empresas. O que vamos lançar agora – e concluímos o processo agora – é o distrito municipal.
Marcos Aurélio Silva – Que é o da região norte, de que falávamos há pouco.
Exatamente. É um distrito com características particulares. Por exemplo, é um distrito industrial ecologicamente correto, no conceito que existe muito na Europa, de ser possível ter emprego, empresas, indústrias, moradias etc., agredindo o mínimo possível o meio ambiente. Quem está desenvolvendo esse projeto para nós é Antônio El Zayek [permacultor e produtor rural], que foi o criador da Ecovila Santa Branca, no município de Teresópolis de Goiás [vizinho a Anápolis], e considerado um dos papa da área, reconhecido mundialmente.
Estamos tendo o cuidado, portanto, de não apenas ter o primeiro distrito industrial municipal, mas de fazer o primeiro ecologicamente correto. Por exemplo, não haverá necessidade de rede de esgoto, porque serão fossas biológicas naturais, porque existe o modelo para fazer isso com estrutura biodegradável, de tal forma que todo resíduo gerado seja aproveitado, transformado, reutilizado ou devolvido para a natureza de alguma forma. Da mesma maneira, não vai ser necessário ter galeria pluvial, porque, dentro desse projeto – e ele desenvolveu isso em Anápolis –, teremos os jardins de chuva, que são áreas-bolsões onde a água infiltra no solo, que funciona naquele local como uma esponja. É uma técnica que já foi mostrada na [TV] Globo e nossa cidade foi exemplo nisso. Estamos tendo todo o cuidado com a questão ambiental.
Euler de França Belém – Quando será lançado esse distrito?
A permuta foi feita nesta semana e Marcos Abrão [ex-secretário municipal de Indústria e Comércio] está novamente conosco, como assessor especial da Prefeitura, por ter tido a expertise quando da implantação da Codego e pode nos ajudar bastante em todo o processo. Acredito que até janeiro ou fevereiro estaremos com isso totalmente concluído.

Ronaldo Caiado sabe o que Anápolis representa
Marcos Aurélio Silva – Em Anápolis, o setor privado sempre faz uma pressão muito forte no poder público. Uma das demandas é a de sempre ter um anapolino ou representante da cidade em uma das secretarias estratégicas do governo. O sr. tem tratado sobre isso com Caiado?
Euler de França Belém – A respeito disso, comenta-se que Anápolis pode ter a Secretaria de Indústria e Comércio juntamente com a Codego. Isso procede?
Não conversei com o governador a respeito de cargos. Anápolis já tem o governador e, como prefeito, vou sempre brigar por espaços. Só que considero que isso tem de partir primeiramente do gestor. O governador, portanto, precisa desenhar o que pretende para o Estado e dar a configuração. Ronaldo Caiado sabe o que Anápolis representa para ele e para o Estado. Tenho certeza de que, na hora certa, vai chamar não só o prefeito, mas a comunidade anapolina para poder discutir e participar do governo, que já tem um anapolino no comando. Não tenho dificuldade nenhuma em ajudar, mas não gosto da política quando algo é feito por obrigação, no estilo “apoiei, preciso de espaço”. Como prefeito, não concordo com isso, não trabalho dessa forma. Mas o “apoiei, quero ajudar” é sempre muito bem-vindo. Anápolis apoiou bastante o governador – tanto que, se tomar a votação proporcional de Caiado nas três maiores cidades do Estado, vai ver que a maior foi a de Anápolis. Ele tem amor por nossa cidade e tenho certeza de que teremos nosso espaço e será de destaque.
Marcos Aurélio Silva – Anápolis tem bons nomes para compor o governo. O próprio vereador Leandro [Ribeiro, presidente da Câmara] foi secretário de Estado.
Anápolis tem grandes nomes para compor qualquer espaço. Tem Henrique Meirelles [ex-presidente do Banco Central no governo Lula (2003-2010) e ex-ministro da Fazenda no governo Michel Temer (2016-2018), que poderia compor a Secretaria da Fazenda ou o Ministério da Fazenda; tem Ludhmila Hajjar [médica intensivista, cardiologista e professora de Cardiologia no Hospital das Clínicas de São Paulo], que pode ser secretária da Saúde em qualquer lugar do Brasil ou mesmo ministra; tem Alexandre Baldy, que já foi ministro das Cidades [no governo Temer] e secretário de Transportes de São Paulo; tem o próprio Leandro Ribeiro, que já foi secretário; tem Pedro Canedo, ex-deputado federal; enfim, tem várias figuras que podem ocupar qualquer espaço. O que costumo dizer é que, mais importante do que impor nomes, pedir ou cobrar, é ver qual desenho o governador está pensando para o Estado e quais serão os espaços a se abrir. Nesse sentido, a Secretaria de Indústria e Comércio é uma opção, sim, mas Anápolis tem grandes referências em vários outros setores, como a assistência social, a educação, a saúde. O importante é o objetivo, que é sempre ajudar o governador a fazer o melhor. Não faço política no “toma lá, dá cá”, de forma alguma. Foi assim durante todos os quatro anos com Caiado governador e vai continuar sendo assim, da melhor forma possível. Se os problemas de Anápolis forem resolvidos quando chegarem ao governo do Estado, já teremos meio caminho andado.
Euler de França Belém – Sua resposta é ótima, é política, mas é muito ampla. O sr. não acha que a pessoa de Anápolis mais cotada para assumir um cargo no governo não é Alexandre Baldy?
Sim, Alexandre Baldy é a pessoa mais cotada.
Euler de França Belém – Para a Secretaria de Indústria e Comércio?
Não sei para qual secretaria, porque não sei qual vai existir, mas, até pelo quase meio milhão de votos que ele teve [para senador], pela ligação que tem com nossa cidade, por aquilo que representa e pela qualificação técnica, acima de tudo. Claro, dentro de tudo isso tem também a força política nacional do pP e também dentro do próprio Estado, com dois deputados federais e três estaduais.
Marcos Aurélio Silva – O sr. não considera que, dentro de uma amarração, Baldy não poderia compor até um ministério com o presidente eleito Lula?
Se ele for a um ministério de Lula, aí ele vai sozinho, estou fora. Continuo sendo da direita.
Elder Dias – E, como prefeito, qual relação o sr. quer ter com o governo Lula?
Que seja cumprido tudo aquilo que está estabelecido na Constituição. O que for de Anápolis, manda-se para Anápolis; o que for da área de gestão, pensando nas pessoas e em parcerias para fazer obras e trazer programas para a cidade, essa é minha função. Com certeza, vou buscar cuidar da cidade como sempre fiz. Na transição de Marconi Perillo para Ronaldo Caiado, fiz da mesma forma. O que não vou jamais é mudar meus princípios. E meus princípios são de direita.

As urnas nos mostraram que não adianta ser raivoso
Euler de França Belém – O sr. é cotado para se filiar ao União Brasil, partido do governador e uma sigla que abriu conversações com Lula. Já está sendo cogitado fazer uma base envolvendo União Brasil, MDB, PSD, pP – que é seu partido – e até mesmo o PL, partido de Bolsonaro. Pelo menos, os três primeiros, a conversação para compor está forte. Como fica o sr., como antipetista e de direita e o governador, cujo partido pode entrar nessa composição?
Com certeza o governador também não vai mudar sua posição. Ele vai continuar sendo de direita, do agro, a favor da família, contrário à ideologia de gênero e ao aborto. O que precisamos entender é o seguinte: nem o PT vai implantar o comunismo no Brasil nem Bolsonaro iria acabar com a democracia. Tudo isso foram palavras fortes utilizadas de um lado e de outro e para que possa haver um tensionamento e para que se possa alimentar a militância. Mas nenhuma dessas duas coisas vai acontecer. O que existe é uma esquerda que, quanto mais moderada e mais aberta ao diálogo for, melhor para o Brasil; da mesma forma, existe uma direita que precisa buscar esse equilíbrio, também. As urnas nos mostraram isso, não adianta ser raivoso nem se achar dono da verdade. Precisamos buscar o diálogo e a sabedoria e usar o bom senso.
Quando digo que não vou compor o governo Lula, não estou dizendo que vou fazer oposição raivosa, falando mal e xingando todo mundo. Isso não é política, isso é radicalismo. Apenas estou ressaltando que aceitaremos o que for em termos de gestão; o que vier em termos de alinhamento político, sem chance.
O tempo vai nos dizer o tamanho do presidente Bolsonaro
Euler de França Belém – O sr. já fez uma análise interessante, de que o Brasil agora, sim, vai caminhar para o centro. O sr. também não acha que deveria caminhar para o centro?
Eu posso caminhar para a centro-direita, ou seja, uma direita moderada, defendendo os princípios em que acredito, mas sem fechar os olhos para a realidade de outras pessoas, até por uma questão de respeito. Da mesma forma deve acontecer com a esquerda. Se Lula optar por um governo raivoso ou pegar a via da extrema-esquerda, não termina o mandato. Agora, se resolver fazer um governo cuidando de quem se identifica com seu modelo de gestão e, ao mesmo tempo, sem abandonar os que realmente, mesmo sendo politicamente de oposição, precisam de um presidente da República, pode ser que dê certo. Foi o que eu fiz em Anápolis. Apesar de eu ter princípios de direita, não deixei a população passar fome, não deixei de conversar ou cuidar das pessoas.
O que estamos tendo no Brasil hoje é uma confusão muito grande, de extremo radicalismo. O governador Ronaldo Caiado, por exemplo, é um grande nome da direita e, hoje, da centro-direita.
Euler de França Belém – Para Caiado ascender, Bolsonaro tem de entrar no ocaso. O que o sr. pensa?
O tempo vai nos dizer o tamanho do presidente Bolsonaro. A mensagem está correta: a direita é muito forte. A pergunta que vai ficar é só esta: quem vai ser o nome da direita daqui a quatro anos?
Euler de França Belém – O governador Ronaldo Caiado já declarou, em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, que quer ser candidato a presidente. Como o sr. vê esse projeto dele?
É um espaço que hoje está em aberto, porque o presidente Jair Bolsonaro perdeu a eleição com a caneta na mão e com a direita a seu lado. Quando falo da direita, não falo apenas da direita raivosa, mas também da centro-direita, que é maior do que a direita raivosa. Pergunto então: será que a direita vai chegar, em quatro anos, com o mesmo nome? Se for o mesmo nome e esse nome chegar lá de forma competitiva, acho que o governador vai ter de procurar uma terceira via. Mas corre-se o risco de a própria direita estar procurando um novo nome, por vários motivos. Aí teríamos Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais; Tarcísio [de Freitas (Republicanos)] governador de São Paulo, e Ronaldo Caiado em Goiás, este com a experiência de já ter disputado uma eleição [o governador foi candidato a presidente em 1989, sua primeira disputa eleitoral]. Tudo está muito em aberto ainda, até porque uma pessoa, para permanecer viva politicamente – não estou falando da direita, mas de uma pessoa – precisa ter espaço para falar e ser ouvida. E a imprensa não vai dar espaço para o presidente Jair Bolsonaro. Tanto é assim que, da eleição para cá, não se trazem nem boas nem más notícias do governo, ou seja, um processo de desligamento total.
Elder Dias – Mas o presidente sumiu.
De forma inteligente. Só que o governo, não. Por que não noticiam o governo?
Elder Dias – Mas o que teve no governo para ser noticiado?
Vou citar rapidamente: o índice de pobreza caiu, mas isso não saiu nas grandes redes [foi divulgado que, em 2020, o Brasil teve a menor taxa de extrema pobreza em 40 anos, por causa do pagamento do auxílio emergencial na pandemia, caindo de 11,4 milhões para 4 milhões o número de pessoas, em relação ao ano anterior].
Elder Dias – É um índice entre vários outros índices semelhantes que saíram ultimamente, nem todos tão positivos…
O que quero dizer, em suma, é que não podemos ter como base para análise o capital eleitoral de hoje. É preciso saber qual será o capital da “pessoa” Jair Bolsonaro daqui a quatro anos?
Elder Dias – Respondendo objetivamente, quem é melhor gestor, Caiado ou Bolsonaro?
Caiado é melhor gestor. Ele provou isso na pandemia.
Elder Dias – Para gerir o País hoje, então seria melhor ter Caiado do que Bolsonaro?
Na minha opinião, sim.
Marcos Aurélio Silva – O sr. acha que Caiado conseguiria equalizar o discurso para ser o novo líder dessa direita?
Vou responder com uma pergunta: qual é a base dessa direita, hoje?

Por que nós, goianos, não podemos ter um presidente da República?
Marcos Aurélio Silva – Para mim, é o conservadorismo.
É uma direita que está sendo bancada e alimentada pelo agro. E, dos nomes que estamos falando aqui, qual é o mais ligado ao agro? Veja que há muitas nuances sobre o que pode acontecer. Daqui a quatro anos, essa direita vai estar baseada em quê? No fundamentalismo, na economia do agro – a mola propulsora de nosso País – ou o que mais? Ronaldo Caiado é um grande player, se o agro continuar pulsante como está, o que eu acredito que vá, porque o mundo não vai parar de comer. Se esse sentimento de direita continuar pulsando como está hoje e o agro também, quem entre Ronaldo, Zema e Tarcísio, quem pode fazer o papel de líder, da melhor forma?
Outra coisa: temos de deixar de achar que porque somos goianos não temos como eleger um presidente da República. Isso atrapalha muito e essa discriminação ocorre mais de nós contra nós mesmos. Por que não podemos ter um presidente? Outros Estados, com menos importância do que Goiás no cenário econômico, já tiveram presidentes da República, da Câmara, do Senado.