Prefeito diz que anapolinos voltaram a ganhar poder diante do governo estadual e banca a questão da água como ponto prioritário de sua gestão

Fotos: André Costa/Jornal Opção

Depois de surpreender os favoritos na disputa eleitoral, Roberto do Orion (PTB) implanta um ritmo impressionante no começo de sua gestão à frente de Anápolis. Fazendo uma metáfora com a administração, diz que, em menos de três meses como prefeito, conseguiu não deixar “o carro atolar”, embora sua velocidade ainda não seja a desejada por ele. Diferentemente da maioria dos políticos, faz questão de priorizar as obras do antecessor, principalmente as que estão paradas. “É preciso se preocupar com os gastos públicos, sempre”, diz.

Roberto é representante da chamada “nova política”, com relações mais transparentes com a população e máquina pública mais enxuta. Bastante jovem ainda — nascido em 1978 —, ele porém sabe fazer o jogo político: já conseguiu novas receitas para o município em boas rodadas de conversa com o governador e está estabelecendo parcerias com o setor privado, no objetivo irresoluto de criar empregos na cidade. Torcedor da Anapolina, a “Rubra” de Anápolis, ele não esconde sua admiração por Marconi Perillo (PSDB) como político e se declara fiel escudeiro do deputado Jovair Arantes, presidente estadual de seu partido.

Cezar Santos — Antes de tomar posse na Prefeitura de Anápolis o sr. dizia que não tinha conhecimento real da situação financeira. Agora, finalizando o terceiro mês de gestão, já se inteirou totalmente? Como o sr. recebeu a Prefeitura?
Hoje temos uma visão mais global, mais realista da situação financeira da cidade de Anápolis. Não só nos inteiramos dessa situação, como acredito que hoje, se colocarmos despesas e receita numa balança, temos certo equilíbrio. Nos primeiros dias de governo, nós cortamos cerca de 30% dos cargos comissionados, desfizemos muitos contratos de aluguel e de máquinas. Fizemos também uma economia muito grande no contrato de lixo e agora, na medida do possível, podemos retomar o serviço que era prestado. Com um trabalho de gestão que fizemos na Prefeitura, cortando horas extras, cortando adicional noturno e gratificações…

Cezar Santos — Cortando gratificações e adicional noturno, como assim?
Soa estranho, mas é que era comum em Anápolis — não sei se é assim em outras cidades — o funcionário receber uma quantidade de horas extras “fechadas”. Havia funcionário que era parente de um secretário ou de um vereador, não podia receber uma gratificação porque assim todo mundo ficaria sabendo, então lhe davam uma quantidade de horas extras fixas todos os meses.

Augusto Diniz — Esse funcionário recebia essas horas extras independentemente de ter trabalhado por elas?
Recebia, sim. E também se dava adicional noturno a quem não trabalhava à noite, encontramos muito isso. Também gratificações concedidas não de forma técnica, ou seja, o servidor não desempenhava uma função técnica e recebia como tal. Isso parece pouco, mas só para dar uma noção, só com o corte dessas gratificações tivemos economia na ordem de R$ 500 mil. Somando tudo, gratificações, horas extras e outros penduricalhos, isso representava quase R$ 1 milhão por mês.

Cezar Santos — A folha de pessoal era de quanto e ficou em quanto agora?
Pegamos a Prefeitura com a folha em torno de R$ 40 milhões a R$ 42 milhões e hoje está na casa dos R$ 36 milhões. Fizemos uma economia con­siderável. Outra economia — e a imprensa acompanhou — foi que pegamos a Prefeitura com uma dívida de R$ 24 milhões com a empresa de lixo, e já pagamos janeiro e fevereiro.

Euler de França Belém — Qual é a dívida da Prefeitura?
O déficit de curto e médio prazo, o que tenho de pagar nos quatro a­nos de gestão, é em torno de R$ 250 milhões. A receita do município, em média, é de R$ 60 milhões a R$ 65 milhões. Quando assumimos, no primeiro mês, o limite prudencial [porcentual máximo de gastos com pessoal segundo a Lei de Respon­sa­bi­lidade Fiscal] estava em 70%, conseguimos baixar para 60% no segundo mês. Vamos trabalhar para diluir isso e chegar ao final do ano nos 51%.

Cezar Santos — Quais foram as maiores dificuldades neste início de mandato?
A falta de credibilidade e de crédito. Peguei a Prefeitura com o estoque zerado, sem nenhum centavo em caixa e com a gestão anterior tendo feito um adiantamento de ICMS de R$ 5 milhões. Ou seja, peguei a Prefeitura com menos R$ 5 milhões. Nessa condição, quando se vai conversar com fornecedores, eles dizem “não tenho nenhuma condição de fornecer nada, eu não recebo desde outubro, não recebo desde junho”. Essa foi uma das grandes dificuldades, nas primeiras duas semanas: conseguir comprar medicamento, combustível, pôr a máquina para funcionar, o que foi muito difícil por causa da falta de credibilidade. Mas, na medida em que fomos tomando as atitudes e os fornecedores viram que realmente se tratava de uma gestão séria, preocupada com o equilíbrio financeiro, as coisas começaram a funcionar.
E ao chegarmos no dia 31 de janeiro, conseguimos pagar a folha dentro do mês — era grande o risco de isso não ocorrer, como não ocorreu em várias cidades. E já no início de fevereiro, começamos a pagar os fornecedores em dia. Aí começou a votar a credibilidade e as coisas facilitaram. Em fevereiro, pagamos a folha de pessoal no dia 24, antes do carnaval. Também saldamos dívidas com vários fornecedores naquele final de semana. Então, houve um resgate da Prefeitura com os fornecedores. Hoje todo mundo agora quer vender e ter negócios com a Pre­feitura de Anápolis, porque enxerga que poderá contar com o dinheiro. Essa foi a grande dificuldade inicial que conseguimos superar.

Cezar Santos — Mas o que se tinha em tela era que a administração de Anápolis nas gestões anteriores era ajustada, principalmente com Antônio Gomide (PT), o que teria sido continuado com João Gomes, seu correligionário. Pelo que o sr. fala, não era nada disso…
Elder Dias — O sr. conseguiu perceber se houve diferença entre as ad­mi­nistrações de Gomide e de João Gomes?
Observe que o prefeito João Gomes não trocou secretários, que continuaram os mesmos da gestão de Antônio Gomide. A equipe era a mesma. Não tenho como fazer essa a­nálise, mas isso é um dado. O prefeito João Gomes não teve a autonomia para trocar secretários. Mas a avaliação tem de ser feita pela questão do momento. Antônio Gomide foi prefeito no momento alto da nossa economia, de franca expansão, com presidente da República do PT, seu partido. Administrar uma casa com muito dinheiro é fácil, quero ver é administrar na hora que falta dinheiro para tudo, quando se tem de definir prioridades, quando é preciso fazer planejamento para evitar desperdícios.

Euler de França Belém — Mas há de se fazer justiça, Gomide foi melhor que João independentemente de recursos. Tem prefeito que mesmo com recursos não trabalha.
Gomide foi um bom prefeito, mas ele não foi testado com dificuldades. Ele foi um bom prefeito com dinheiro e nesse meio termo arrumou sua candidatura ao governo estadual [o petista se desincompatibilizou do cargo em abril de 2014, quando o vice João Gomes assumiu a Prefeitura]. João Gomes, sim, foi testado na dificuldade, então não tem como comparar os dois, os momentos eram diferentes, é injustiça fazer isso com ele. Se Gomide foi bom prefeito com dinheiro, não se pode dizer que João seria mau prefeito com dinheiro. O momento, as circunstâncias econômicas que eles viveram foram diferentes.

No processo de industrialização de Anápolis, as empresas que chegaram tiveram um período de carência de ICMS. E quem foi o prefeito que entrou no momento em que essa carência venceu? Antônio Gomide. Pergunto: quantas empresas chegaram ao Distrito Agroindustrial nos últimos anos? Nenhuma — a última chegou em 2010.

Cezar Santos — O que exatamente o sr. quer dizer com isso?
Que não houve uma preocupação, um planejamento de continuar o crescimento de nossa cidade. Isso não houve, pode ser que houve uma boa gestão dos recursos que eram abundantes naquele momento. Mas gestão não é só gastar o que se tem no momento. Gestão é pensar o hoje, o amanhã e daqui a dez anos e isso não foi feito.

Euler de França Belém — Depois da Cecrisa [em abril de 2016, após 38 anos de atuação, a empresa fechou sua unidade industrial em Anápolis], alguma outra empresa saiu do Daia?
Depois da Cecrisa, não. Na verdade, estamos voltando a conquistar isso, atender os empresários, que não eram atendidos. Procuramos viver os problemas de cada um deles, a conversar, mostrar que a Prefeitura está ao lado das empresas do Daia. É a população quem faz o julgamento sobre se o prefeito é bom ou ruim, mas os momentos das administrações eram diferentes e tivemos um prefeito que não foi testado na dificuldade.

Euler de França Belém — O Daia vai ser expandido?
Na parte estadual, temos pronto o centro logístico e o go­vernador está expandindo agora com a chegada da Caracal [empresa do Oriente Médio, umas das maiores fabricantes de ar­ma­mentos do mundo], a Far­mtrac [fábrica de tratores da Po­lônia], que começa a produção a­go­ra. E eu estou trabalhando com planejamento para dentro destes quatro anos termos um dis­trito municipal também, como o ex-prefeito Maguito Vilela fez em Aparecida de Goiânia. Temos área pública para isso e, se for preciso, faremos desapropriações. Eu tenho de pensar Anápolis pa­ra daqui a 10, 15 ou 20 anos. O que não fizeram, por exemplo, com a água de Anápolis, causando-nos hoje problemas sérios. Nunca colocaram a água como prioridade .

Euler de França Belém — Há poucos dias, o novo presidente da Saneago, Jalles Fontoura, disse aqui ao Jornal Opção que o problema da água em Anápolis está equacionado.
Equacionado porque agora eu, na minha relação como o governo estadual, coloquei a água como prioridade, mostrei ao governador Marconi Perillo (PSDB) que existe um problema grave que tem de ser resolvido. De forma respeitosa, mostrei que, se o problema não for resolvido, eu vou resolver por meio da Prefeitura. Coloquei dessa forma: se a Saneago não resolver, eu vou resolver com a Prefeitura. Então, na parceria com o governo estadual, está equacionado, vão ser investidos agora R$ 118 milhões na construção de uma estação de captação e de tratamento. Pergunto: por que, no momento em que havia dinheiro em Anápolis, não foram feitos esses investimentos? Faltou planejamento, faltou visão.

Euler de França Belém — E o Centro de Convenções, que está pronto mas falta o acabamento. O governador se comprometeu a concluir a obra? Há um prazo?
Primeiramente, sou da base do governador Marconi Perillo, sou marconista, meu candidato para o governo do Estado em 2018 é o vice-governador José Eliton (PSDB). Mas isso não me impede de fazer cobranças e estar ao lado de minha cidade. Tem de ficar claro que uma coisa não muda a outra. Na primeira conversa que tive com o governador, ele me perguntou o que eu precisava e eu fui claro: quero que o sr. resolva o problema da água e que termine as obras do governo estadual em Anápolis, só isso. Porque se me entregam o aeroporto de cargas, já temos uma empresa de passageiros querendo transformar o aeroporto em seu ponto de manutenção. Isso já nos alavanca, cria emprego e nos dá arrecadação. Uma empresa norte-americana, a Bravo, já quer operar o aeroporto de cargas, é a mesma empresa que ganhou a concorrência do Sedex.

Várias empresas estão só esperando o primeiro avião decolar para montarem seus centros de distribuição de cargas de alto valor agregado. Imagine qual o custo operacional do aeroporto de Viracopos (em Cam­pi­nas-SP), de Confins (Belo Hori­zon­te-MG), de Congonhas (São Paulo-SP), de Brasília? Anápolis não terá esse alto custo operacional, é um aeroporto novo e a pista, por en­quanto, tem baixa demanda. O atrativo para essas empresas, além da localização geográfica, é muito grande por isso também. Se o governador me entrega o aeroporto, eu já consigo dar um upgrade na instalação de em­presas, em empregos e na arrecadação.
Se o governador entregar o centro de convenções, nós conseguiremos levar grandes feiras para Anápolis, onde temos grandes laboratórios e uma indústria fortíssima. Hoje temos uma rede hoteleira e não temos onde fazer eventos. Três hotéis foram inaugurados recentemente, e há outros mais a inaugurar.

Elder Dias — Provavelmente todos apostando no Centro de Convenções.
Exatamente. Então, na hora de distribuir o dinheiro da venda da Celg, eu disse que eu queria o compromisso, os R$ 118 milhões. O presidente da Saneago esteve aqui no Jornal Opção e disse que está resolvido, que será feito o investimento. Mas está resolvido porque teve um prefeito que colocou isso como prioridade e fez valer a condição de ser gestor de Anápolis, o que é diferente de ser o mesmo em qualquer outra cidade de Goiás. Eu disse que, se não resolvessem, eu iria resolver, que seria minha prioridade nesses quatro anos solucionar o problema da água em nossa cidade. Além disso, o governador, por vontade própria, destinou também R$ 10 milhões dessa receita para os municípios de modo que realizássemos mais obras em Anápolis.

Euler de França Belém — E para que seria esse montante? Para recapeamento?
Hoje há um financiamento da Caixa Econômica Federal que contempla a construção de dois viadutos e o recapeamento onde passam as linhas de ônibus. São R$ 20 milhões só para recapear essas vias. Temos também emendas parlamentares e de bancadas que nos conferem mais cerca de R$ 10 milhões para isso. Então, vamos usar esse dinheiro repassado pelo governador para várias obras — na construção de um centro pediátrico e um centro de internação, em um abrigo para idosos, na construção e recuperação de quatro feirões, para fazer mais restaurantes populares. Enfim, desmembramos esses R$ 10 milhões.
Trabalhando com planejamento e uma visão futurística da cidade, em vez de simplesmente querer projetar meu nome politicamente, montamos uma equipe chamada Proana. Pela primeira vez, Anápolis tem uma equipe qualificada e exclusiva para elaborar projetos e fazer gestão de convênios. Ela não está ligada a nenhuma secretaria, mas diretamente ao gabinete do prefeito, inclusive no mesmo pavimento do mesmo prédio. Essa parceria entre prefeito, equipe e sociedade anapolina é que vai fazer com que consigamos benefícios junto ao governo estadual e ao federal.

Por falar em gestão, o que justifica uma cidade como Anápolis nunca ter feito georreferenciamento [descrição do imóvel em suas características, limites e confrontações, realizando o levantamento das coordenadas dos vértices definidores dos imóveis, via satélite, para efeito de IPTU]? Onde está a gestão? Sabem que o município abre mão de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões anuais por não ter realizado o georreferenciamento? Nos últimos oito anos, isso poderia chegar a quase R$ 300 milhões. Ou seja, se tivessem feito o dever de casa com esse tipo de iniciativa, não teríamos uma dívida de R$ 300 milhões.

Portanto, não estamos preocupados só em cortar, até porque o corte tem limite. É preciso ter uma equipe trabalhando o aumento de receita. Não parei sequer um programa do governo passado. Pelo contrário, estou retomando as que estavam paradas e as que têm problemas, estruturais ou judiciais, uma a uma. Isso é a nova política.

Euler de França Belém — Que obras são essas?
Tem um viaduto construído sobre uma adutora, algo que precisava ser resolvido com a Caixa e com a Saneago. Conseguimos destravar 95%, para, quando acabar o tempo chuvoso — necessário para não rasgar dinheiro público — retomar a obra de ambos os viadutos. A obra da nova Câmara Municipal está judicializada, então a questão não depende da prefeitura. Temos também algumas obras de convênio com o governo federal também estamos retomando.

A reforma do Estádio Jonas Duarte teve emendas dos deputados Jovair Arantes (PTB) e Rubens Otoni, o que somava quase R$ 4 milhões, para fechar o anel da arquibancada e executar a iluminação. Esta estava licitada, mas sem iniciar os trabalhos. O anel estava parado, mas agora já conseguimos colocar em andamento. Graças ao deputado Jovair, também recuperamos convênios que tínhamos perdido. Estamos pensando Anápolis em curto, médio e longo prazos.

Euler de França Belém — Como está a situação da pista de kart, em que houve um acidente na semana passada [uma garota teve o couro cabeludo arrancado quando o cabelo se enroscou no motor]?
Vamos revitalizar a pista. Re­ce­be­mos o presidente da federação goiana, que vai fazer um levantamento para saber o que temos de fazer para voltar a receber o Campeonato Brasileiro. Infeliz­mente tivemos essa ocorrência trágica na pista, que se encontra fechada. Mas, como o portão estava arrombado, as pessoas estavam praticando a modalidade por conta própria. A garota, lamentavelmente, não usava balaclava [equipamento de proteção da cabeça, o que o acarretou o acidente].

Augusto Diniz — Há outras iniciativas para o esporte?
Não cortamos nenhum programa da gestão anterior. O Escola Viva, por exemplo, teve uma edição já em nosso primeiro mês. Anápolis é uma das cidades que ainda tem a promoção Torcida Premiada [subsídio em que incentiva o pagamento do IPTU pela troca por ingressos para os jogos], que mantivemos. São R$ 60 mil por partida. Não é um dinheiro que se “dá”, pois acabamos por incrementar a arrecadação.

Elder Dias — E os programas sociais?
Todos foram mantidos. O que travou um pouco o processo foi a falta de documentação de algumas entidades. Para usar o dinheiro público, antes, é preciso respeitar a lei, que exige, por exemplo, certidões negativas. Estamos moralizando essa parte, para que todos tenham condição de igualdade e não tenhamos depois problemas com o TCM [Tribunal de Contas do Município], como o governo passado.

Euler de França Belém — Como está o déficit da Previdência de Anápolis? O pessoal do PT disse que teria resolvido essa questão.
Esse é hoje o maior problema que temos nas finanças do município. Pago R$ 4,5 milhões por mês apenas em relação ao déficit. Isso dá quase 10% do custo com a folha. Se projetarmos isso para daqui a 70 anos, daria R$ 6 bilhões. Então, se o governo passado disse que resolveu, se esqueceu de pagar a conta.

Cezar Santos — Qual o montante que Anápolis recebeu do dinheiro da repatriação?
Recebemos em torno de pouco mais de R$ 3 milhões, que caiu este ano.

Euler de França Belém — Em qual estágio se encontra a obra do aeroporto de cargas?
A pista está pronta, à espera de homologação. Quando isso ocorrer, de imediato haverá a licitação do aeroporto por parte do governo estadual. O restante das obras ficará a cargo da empresa vencedora do processo. Para ter ideia do tanto que o aeroporto é importante para nossa economia, a Bravo [em­presa de logística] já queria que fosse feita desde já a licitação, aceitaria operar até na pista antiga para não perder oportunidades de negócio.

“Com ferrovia e aeroporto, seremos únicos no País”

Augusto Diniz — A proposta de tornar o Porto Seco uma plataforma multimodal inclui a Ferrovia Norte-Sul. Como está a negociação com o governo federal em relação a essa obra, que parece nunca terminar?
A ferrovia apresenta alguns problemas no que diz respeito ao governo federal. O porto seco está preparado. Os trilhos já foram concluídos, tanto é que já houve uma viagem teste com carga de minério até o norte do Tocantins, onde falta um pedaço. A informação é de, para que se complete a rota até o porto de Itaqui (MA), o trajeto está preso fora de Goiás, se não me engano para refazer um trecho que foi executado com lingotes de baixa qualidade.

Quando tivermos a conclusão da Norte-Sul e do aeroporto de cargas, Anápolis se tornará uma cidade única no País. Geograficamente, não há posição mais bem localizada: perto da capital federal e com modais rodoviário, aéreo e ferroviário. Faltará apenas o transporte hidroviário, o que quase ninguém tem no País. Com a Ferrovia Norte-Sul, boa parte da safra vai deixar de partir por Santos (SP), que tem um custo elevado, e passar a embarcar por Itaqui. Se tomarmos os estudos técnicos do governo, feitos pela Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], eles indicam que a tendência natural de crescimento de produção — tanto de grãos, como de agropecuária e de indústria — vai ser concentrado no chamado Ma­topiba [região cujo nome é formado pelas siglas de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, por abranger parcelas desses quatro Estados]. Será a grande febre em termos de investimento quando for realmente concluída a Norte-Sul, porque as áreas são baratas, um solo adequado e uma produção que ficará com um escoamento barato e muito próximo, por causa da linha férrea. Anápolis, nesse sentido, vai ser uma cidade ímpar.

Por isso estamos tentando acelerar o processo. Nossa cidade depende do emprego e, à medida que se fecham empresas como a Cecrisa e ainda deixamos de atrair outras, a situação fica complicada. Anápolis é uma cidade empresarial, que gira em torno do empresário, mas tem uma Secretaria Municipal de Desenvol­vimento Econômico situada no meio de um feirão. Os empresários eram atendidos numa sala em meio a um feirão. Isso não pode ser sério, não se pode falar em gestão assim.

Euler de França Belém — E por que era em um feirão?
Isso você tem de perguntar para quem estava na prefeitura. Como a secretaria ainda tem de funcionar lá, estou disponibilizando a sala de reunião do prefeito para que o secretário receba os empresários sempre em um espaço condigno. É o mínimo que podemos fazer.

Euler de França Belém — A montadora Hyundai tinha um projeto de am­pliação de sua base em Anápolis. Is­so se mantém assim ou ela desistiu?
Esse projeto continua. Eu tive uma reunião com a cúpula da Hyun­dai e ouvi que a tendência natural é de haver uma ampliação e que a em­presa consiga trazer alguns serviços paralelos de fornecedores, como a de produção de bancos automotivos.

Euler de França Belém — O dono da Caoa [empresa representante da Hyundai no Brasil], Carlos Alberto de Oliveira Andrade, revelou ter a intenção de produzir um automóvel nacional na montadora. Em que pé está essa proposta?
Isso está em estudos dentro da Caoa, existe a possibilidade, mas depende da autorização da Hyundai. É interesse do empresário Carlos Alberto ampliar a montadora brasileira. Uma montadora que também quer se instalar na nossa cidade é, se eu não me engano, a Honda. Tanto é que estiveram na prefeitura e retiraram o uso do solo e licença ambiental para um projeto que ainda não me foi apresentado.

Elder Dias — Seria uma montadora Honda de automóvel ou de motos?
Não tenho detalhes ainda. Luiz Ma­ronezi [superintendente executivo da Secretaria de Desenvolvimento E­co­nômico do Estado] me ligou, pe­diu para agilizar o processo. Isso foi na terça-feira [dia 21/3]. Pedi para mar­car e poder atender o quanto antes.

Euler de França Belém — A Hyper­mar­cas tem um projeto de ampliação?
Eu tenho uma reunião marcada com a diretoria da Hypermarcas, que vem de São Paulo, justamente para tratar de que forma a Prefeitura pode ajudar. Esse trabalho eu tenho feito incessantemente. Tenho mesclado gestão, política e a parte empresarial dentro da minha agenda 24 horas por dia para que a gente possa fazer com que a Prefeitura seja ativa e exerça o seu papel. Não só da gestão com o dinheiro público, mas de usar essa influência em prol da cidade.

Euler de França Belém — A Pfizer comprou a parte restante da Teuto?
Até onde eu sei, só uma parte.

Euler de França Belém — Eles são majoritários?
Não sei como funciona a sociedade.

Euler de França Belém — Mas a Pfizer tinham um projeto de comprar tudo…
Tinham, sim. Mas, se eu não me engano, não adquiriram tudo. Para falar de gestão novamente, com esse assunto, o que justifica uma cidade co­mo Anápolis, com a quantidade de laboratórios que tem, comprar medicamento de distribuidora? E compra até hoje. Anápolis não compra um comprimido diretamente de seus laboratórios. Os laboratórios de A­nápolis vendem para a Prefeitura de São Paulo, mas não para a Prefeitura de Anápolis, que nunca comprou.

Elder Dias — Por quê?
Essa é uma pergunta que eu fiz. Por quê?

Euler de França Belém — Há a intenção de passar a comprar?
Agora nós vamos passar a comprar. Estamos em contato para estabelecer esse vínculo. O custo de tudo vai diminuir 50%. E é uma coisa que eu levei também para o prefeito Iris Rezende (PMDB), em Goiânia, e para Gustavo Mendanha (PMDB), em Aparecida.

Elder Dias — A falta de buscar uma economia com a compra direta é uma questão de falta de gestão ou de má fé mesmo?
Eu fui eleito só prefeito para fa­zer gestão. O resto é caso de investigação, não tem como eu fazer essa análise.

Euler de França Belém — O calcanhar de Aquiles da gestão Gomide e João Gomes era a saúde. Algumas áreas estavam bem, mas a saúde sempre foi reclamação geral. O sr. está resolvendo esse problema em Anápolis? Como?
A primeira coisa que tem de se fazer é estudar para saber qual o problema. O que nós fizemos foi reunir com os médicos, visitar in loco o Hospital Municipal, a UPA [unidade de pronto atendimento], conversar com todos os donos de hospitais particulares. A Secretária de Saúde tem feito esse trabalho. Primeira­mente, é preciso entender como funciona esse sistema.

A saúde é dividida em três áreas: alta complexidade, baixa complexidade e média complexidade. Toda a rede periférica de uma cidade, os postos de saúde e os Cais, foi criada para tratar o paciente de baixa complexidade — fazer uma consulta e, se precisar, aviar receita e entregar medicamento. Já o Hospital Mu­ni­cipal juntamente com o Hospital Evangélico e com a Santa Casa são instituições na rede de saúde para alta complexidade.

O grande problema é que os gestores não pensam nos pacientes de média complexidade. Por exemplo, uma cólica de rim aguda. Sabe-se que possivelmente o paciente com esse problema não vai evoluir para uma UTI, mas também não pode mandar a pessoa para casa, tem de ficar deitada em uma maca tomando soro e Buscopan. Isso é média complexidade. Como ninguém nunca se preocupou em enxergar a saúde como os órgãos federais pedem que seja, dividindo essas três áreas, o Cais, que era para cuidar de baixa complexidade, começou a cuidar de baixa e média. O hospital, que era para cuidar de alta complexidade, passou a cuidar de alta e média.

Quando há uma crise, como ocorre nesta conjuntura, o Cais está cuidando de alta e média complexidade e não tem mais espaço para poder cuidar da baixa.

Elder Dias — E as UPAs?
As UPAs são o pronto atendimento. Elas fazem o primeiro atendimento e regulam.

Elder Dias — Mas a UPA não serviria para dar um atendimento?
Aí ela deixa de ser UPA, passa a ser hospital. É isso que a gente está dis­cutindo. O que Anápolis precisa hoje — e foi algo que eu coloquei nos R$ 10 milhões que recebi do go­vernador — não é de um hospital, por­que o custo seria muito alto para fazer um centro cirúrgico e todo o resto. O que nós precisamos na cidade de Anápolis hoje é de regulação. E, para regular, precisa de um número maior de leitos. Então, o que nós vamos construir é um centro de internação. Não vamos precisar cons­truir um centro cirúrgico, com consultórios etc. É possível fazer uma obra com baixo custo equipando esse centro de internação. O que vai acontecer é que no Cais, quando a pessoa chegar com um problema de que seja necessária a internação, ele não vai ser ficar no Cais ocupando espaço. Ele será encaminhado pa­ra a internação e o paciente vai para o centro de internação, porque ele é média complexidade. Com isso, é possível deixar os Cais e os postos de saúde trabalhando a saúde familiar.

O hospital municipal vai poder abrir uma maior quantidade de leitos para tratar a alta complexidade porque a média nós vamos centralizar. Se acontecer, por exemplo, um caso de problema de coração que precisa ser operado, a Prefeitura não consegue regular essa pessoa para o Hos­pital Evangélico porque lá está acontecendo a mesma coisa. Tem paciente lá com uma cólica renal e que está ocupando a vaga de uma pessoa que está morrendo do coração.

O centro cirúrgico está disponível para fazer a cirurgia da pessoa, mas não há o leito, que está ocupado com um caso de média complexidade. Se criarmos só um centro de internação para conseguir regular Hospital Municipal, Hospital Evangélico, Santa Casa e toda a estrutura periférica da saúde, vamos desafogar a saúde. E com isso certamente os médicos vão trabalhar com estresse menor, vão conseguir desempenhar melhor ainda o papel que eles já desempenham e é possível melhorar a questão da saúde.

Elder Dias — É, na verdade, uma questão de logística.
Sim, é uma questão de logística.

Cezar Santos — E em que etapa está esse rearranjo na saúde?
Está na fase de projeto. Nós temos o dinheiro que o governador nos repassou, temos o estudo que foi feito junto aos médicos e toda a classe da área de saúde e já estamos definindo o projeto de engenharia. Nós temos uma equipe especializada para isso, queremos licitar já neste semestre e ter, a partir do final do ano, outra realidade para a saúde do município.

Elder Dias — A obra do centro de internação será custeada pelos R$ 10 milhões repassados pelo Estado?
Sim. Desses R$ 10 milhões, separamos R$ 2,5 milhões para isso a construção do centro de internação.

Elder Dias — É a maior obra prevista com esse recurso?
É. O que nós estamos fazendo é avaliar. Outro problema grave que nós temos é a falta da regulação e da repactuação no que diz respeito às ci­da­des vizinhas, da região dos Pi­ri­neus. Várias cidades não têm hospital. Temos de prestar o serviço de saú­de para toda a Grande Anápolis. Ho­je nós temos cerca de 350 mil ha­bi­tantes e o último dado que nos che­gou é de mais de 500 mil cartões SUS do município. Como a cidade tem 350 mil habitantes e 500 mil cartões SUS?

É porque isso inclui todos os municípios vizinhos que buscam tratamento de saúde em nossa cidade. Sem problema se a pessoa fosse para a saúde de Anápolis e falasse que não é de Anápolis, mas de determinado município, porque faríamos o tratamento dela e depois mandaríamos a conta para o prefeito de sua cidade. O problema é que o paciente vai com um endereço de Anápolis e é tratado como paciente de Anápolis. Por isso a saúde é cara.
A prefeitura de Goiânia, com mais de 1,4 milhões de habitantes, tem mais de 4 milhões de cartões SUS. Têm pessoas que moram no Pará com cartão aqui cadastrado em Anápolis, outras moram no Tocantins e no Maranhão.

Euler de França Belém — O Huana [Hospital de Urgências de Anápolis] virou referência mesmo?
O Huana é um hospital de referência, mas acaba também que o Huana sofre com a falta de leitos. A pessoa faz uma cirurgia — e o Huana é para esse atendimento de alta complexidade —, já está estabilizada, mas fica no quarto ocupando a vaga do próximo paciente. Poderiam levar essa pessoa que está se recuperando para um centro de internação e abrir a vaga para uma nova cirurgia. A coisa é travada não por falta de centro cirúrgico, mas por falta de leitos.

Prefeito de Anápolis, Roberto Naves: “A Prefeitura, apesar de não estar na velocidade que eu quero, já está saindo do atoleiro”

Augusto Diniz — No início da entrevista o sr. citou o deputado Jovair A­rantes como autor de repasse de re­cursos, por meio de emendas parlamentares e de bancada do Con­gres­so. Mas Anápolis tem dois deputados federais, Rubens Otoni (PT) e Alexandre Baldy (PTN). Qual é a relação do sr. com os dois parlamentares da cidade e como está a negociação de repasse de emendas para Anápolis?
É uma relação muito boa. Eu não cobro de deputado nenhuma emenda. É consciência de cada um e eu não tenho de dizer qual a importância política que a cidade representa para eles. O deputado Rubens Otoni e eu temos uma ótima relação. Ele já teve duas agendas comigo em meu gabinete nesse período, a gente sempre vai atender independentemente de partido político. E Otoni mostrou muita grandeza ao manter todas as emendas que ele havia colocado, mesmo depois de perder as eleições municipais em Anápolis. Hoje ele é o deputado que mais colocou emendas para a nossa cidade. Com o deputado Baldy também há uma boa relação.

Euler de França Belém — E o segundo deputado a levar mais emendas?
O segundo que mais colocou emendas para Anápolis foi o deputado Jovair Arantes.

Cezar Santos — E o senador Ronaldo Caiado (DEM), que é de Anápolis?
Se alguém do Senado se lembrou de Anápolis provavelmente foi o senador Caiado.

Euler de França Belém — Anápolis é uma cidade universitária. Mas parece que os prefeitos não perceberam que eles têm lá essa cidade universitária. Nunca trabalharam essa imagem, como São Carlos, no interior de São Paulo, faz muito bem. O sr. pensa em valorizar essa ideia de Anápolis ser uma cidade universitária?
Nós trabalhamos essa ideia, tanto é que eu já entrei em contato com os donos das universidades e faculdades, me pus à disposição como agente político, coloquei o deputado Jovair Arantes à disposição em Brasília para ajudar no que for preciso ou em algum apoio político junto ao MEC, como a regularização e abertura de cursos. Nós temos feito esse trabalho em um tempo curto de menos de 90 dias.

Euler de França Belém — São quantas as faculdades hoje em Anápolis?
De seis a sete universidades e faculdades hoje instaladas na cidade. É uma cidade universitária com um curso de Medicina da UniEvangélica. Com a UniEvangélica nós temos ótimas parcerias, tanto na área de saúde como na área cultural. Tanto é que um dos projetos que nós temos, que é o Criar e Tocar, é um projeto antigo e que nós mantivemos, desenvolvido pela UniEvangélica com apoio municipal. A gente pega jovens com baixo poder aquisitivo e oferece a eles reforço escolar e um instrumento para ele poder aprender.

Fizemos uma parceria já no mês passado e realizamos um dos maiores eventos sociais e de atendimento ao público que Anápolis já viu, organizado pela primeira-dama Vivian Albernaz, o Dia das Rosas. Foram feitos mais de mil atendimentos nesse evento, que contou com a parceria da Universidade Fama. Foram oferecidos: consultas e tratamentos odontológicos e médicos, cadastros em programas sociais como Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família, Peti [Programa de Erradicação do Trabalho Infantil]. Fizemos também uma parceria com a Cruzada pela Dignidade, que é um movimento de Anápolis cujo lema é “O bem gera o bem”, capitaneado pelo dr. Carlos Limongi [titular do Juizado da Infância e Juventude de Anápolis].

Fizemos ainda parceria com o Sesc e com várias empresas para distribuição de brindes, cursos, tratamento de beleza para as mulheres, corte de cabelo, brinquedos para as crianças etc. Nestes 90 dias nós conseguimos fazer esse grande evento, além de eventos na Escola Viva. E vamos realizar agora a Corrida de Rua, que já é uma tradição em Anápolis, mas com mudanças. Antes a inscrição era inteiramente gratuita, agora custará um quilo de alimento não perecível, para que, além de fazermos toda a essa festa, possamos também ter algo para fazer um trabalho social. Nós estamos buscando uma integração entre as áreas social, de esporte e lazer e cultura. Procuramos pôr em funcionamento as escolas de música e de teatro; vamos continuar tendo todos os espetáculos, o cinema etc., de modo que não temos nenhum problema em nenhuma área mais aguda. Essa foi a minha preocupação desde o começo. Desde quando eu assumi a Prefeitura de Anápolis tive a preocupação de não deixar “o carro atolar”. Este carro não chegou a parar e, apesar de não estar na velocidade que eu quero, já está saindo do atoleiro. Nada na Prefeitura de Anápolis parou.

Elder Dias — Não há como dissociar a questão da água do meio ambiente. Da parte da prefeitura, o que po­de ser feito pela água é um planejamento urbano adequado da cidade pa­ra, primeiramente, não afetar mais áreas de cursos d’água e fundos de vale. Só que o município fez uma expansão urbana muito criticada, inclusive por entidades como o Conselho de Arquitetura e Urba­nis­mo (CAU-GO). Como o sr. vê essa po­lêmica em torno da expansão urbana?
Quando eu assumi a Prefeitura, a expansão já havia sido votada. Não tive participação nenhuma no que diz respeito a isso, porque se deu na administração passada. Mas a expansão urbana tem sempre de ser discutida com muita responsabilidade, porque nós temos de buscar agregar as questões sociais, econômicas e ambientais. Sou um ambientalista nato, em dada medida. Viajei o mundo praticando pesca esportiva e fui um dos primeiros a implantar es­sa modalidade em Goiás, defendendo a ideia de que peixe é para se co­mer à beira do rio e não para transportar. Defendo diuturnamente a questão ambiental. Mas é preciso pensar também nas pessoas que não têm casa. Temos de buscar essa integração. A votação foi feita na gestão passada, mas sempre estaremos avaliando as questões ambientais no que diz respeito à expansão urbana. O que precisamos fazer é recuperar os mananciais e trabalhar a educação, no que diz respeito à utilização da água e da destruição das matas ciliares.

Elder Dias — Isso impacta diretamente no abastecimento.
Anápolis é uma cidade em que falta água não por ausência de mananciais e rios. É por ausência e investimento e infraestrutura. O que não falta em Anápolis é água. E isso foi apresentado ao secretário de Educação, pois queremos que seja uma questão trabalhada com as crianças. Há dez anos a lei de uso obrigatório do cinto de segurança foi implementada. Mas o que a tornou efetiva foi a cobranças de nossos filhos, que hoje dizem “pai, você está sem cinto”. Por isso, a educação tem um papel importante. O mesmo pode ocorrer com a questão da água. Outro exemplo: em três meses de governo, nós conseguimos reduzir os casos de dengue em Anápolis em mais de 80%. De que forma? Primeiramente, contando com o trabalho dos agentes de saúde, em segundo lugar, conseguimos sensibilizar a sociedade organizada e reunir, em uma só mesa e com um único objetivo, os católicos e os evangélicos. Padres e pastores passaram a dispor de um tempo das suas pregações para cobrar da população os cuidados com o combate aos focos da dengue em suas casas. Conseguimos com isso mostrar que, mesmo sem verba para investir em publicidade, podemos sensibilizar a sociedade.

Euler de França Belém — Todas as crianças de Anápolis estão na escola?
Nós temos um déficit maior nas creches, de 3,5 mil vagas. Temos buscado algumas soluções para resolver isso, junto ao Ministério Público, ao dr. Carlos Limongi e à secretaria. Uma das possibilidades seria criar o Bolsa Mamãe, que já foi implementado em outras cidades. Muitas mães querem a vaga na creche para poder trabalhar. Essa vaga tem um custo para a Prefeitura e o que essas mães vão ganhar por vezes é o mesmo valor que será gasto com a criança da creche. A proposta é pegar esse valor, passá-lo para mãe, que então deixará de trabalhar naquele período para ter um contato maior com seu filho. Estamos fazendo um estudo ainda para ver se é viável.

Euler de França Belém — O sr. disse que apoia José Eliton para governador. Qual seria o diferencial positivo do vice-governador em relação aos pré-candidatos Ronaldo Caiado (DEM) e Daniel Vilela (PMDB)?
Bom, eu não faço uma análise pessoal, faço uma análise conjuntural. Qual foi o governador do nosso país que teve coragem de enfrentar a crise de frente, de pensar e fazer gestão, independentemente da opinião pública? Que, em meio às dificuldades, está tendo dinheiro para ajudar os prefeitos? Isso é gestão. Eu penso a política como gestor. Eu penso política com responsabilidade. Dentro dessa perspectiva, nós somos obrigados a reconhecer que o governo de Marconi Perillo e de José Eliton teve essa responsabilidade com o Estado e fez os ajustes necessários. Estamos vendo a dificuldade que o governo federal está enfrentando para aprovar a reforma da Previdência. Em Goiás, cortou-se o que precisava ser cortado. Precisamos reconhecer isso. Costumo dizer o seguinte: administrar com dinheiro é fácil, o difícil é se reinventar sem dinheiro. E esse governo, que tem problemas como todos, soube administrar bem com dinheiro e soube se reinventar sem dinheiro. Por isso acredito que o caminhos está certo. O projeto da atual gestão, do ponto de vista empresarial e política — e pessoalmente falando — tem início, meio e fim. Ou seja, tem rumo.

Euler de França Belém — Então o PTB está fechado com José Eliton?
Não. Quem fala pelo PTB é o deputado Jovair Arantes [presidente do partido em Goiás]. O prefeito de Anápolis diz que tem como pré-candidato o vice-governador José Eliton.

Elder Dias — José Eliton tem a mesma capacidade do governador Marconi, para dar continuidade a esse processo?
Bom, quem conviveu com esse processo e presenciou essas mudanças foi ele. José Eliton é quem mais conhece o processo. Se Goiás estivesse na mesma situação em que se encontram Estados como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, eu seria o primeiro a falar: estamos no caminho errado e é preciso mudar de rumo. Falaria isso sem dificuldades, porque eu ganhei uma eleição com apoio do deputado Jovair Arantes disputando contra candidato do governo e contra a Prefeitura de Anápolis. Eu não preciso falar nada para agradar A, B ou C. Mas tem um detalhe: penso a política, mas penso também, sempre em primeiro lugar, a questão da população. Por isso, posso falar com toda a certeza, que, se Goiás estivesse na mesma situação que o Rio de Janeiro ou o Rio Grande de Sul, sugeriria que se mudasse de rumo. Mas não está. Há algum Estado no país que está seguindo um rumo melhor que Goiás? Esta é uma pergunta que deve ser feita. Nós temos de pensar essa questão política, de gestão centrada. Nenhum governo é perfeito e nem vai conseguir agradar a todos, mas há de se ter um norte. Toda ação tem prós e contras, mas o que deve ser levado em conta não são propriamente esses prós e esses contras mas, sim, o motivo pelo qual a ação foi tomada. A partir disso, se define se ela foi boa ou má.

Cezar Santos — Como o sr. vê essa fricção do PSD e do PSB em relação a esse projeto dentro da base aliada?
Tenho uma forma diferente de ver a política: vejo essa disputa, então, com muita felicidade. Já viu duas pessoas brigarem por algo que não presta? Se a base briga por espaço, isso comprova, mais uma vez, que é o melhor projeto. Se não prestasse, ninguém quereria ser senador ou vice na chapa. Agora, o que se pode questionar é o modus operandi dessa briga, pois ela pode acontecer numa sala e mantendo o respeito mútuo fora dela, ou a briga pode transpor as janelas e muros e ganhar más conotações. Critico quem não tem habilidade para fazer o jogo político. A forma de se fazer é que é complicada.

Acho que o deputado Jovair Arantes deu, mais uma vez, uma aula de política. Enquanto todos pregavam o caos, ele se sentou e conversou com quem precisava e passou a contribuir com o governo. Por isso o admiro e por isso costumo dizer que os dois maiores articuladores políticos do Estado são o governador Marconi e o deputado Jovair. Eles têm, além de muita sabedoria, equilíbrio; e isso é muito importante. Como alguém quer espaço agredindo? Isso não é antagônico? Ou presta ou não presta, pronto. Espaço não se conquista na truculência, mas trabalhando. Basta mostrar serviço que o espaço vai aparecer.

Augusto Diniz — Quem são essas pessoas que não têm habilidade política para negociar?
Não cito ninguém. Só usei isso para elogiar meu líder Jovair, porque ele tem.

Euler de França Belém — Jovair Arantes vai à disputa do Senado?
Seja qual decisão o deputado Jovair Arantes tomar sou seu companheiro. Ele é meu líder. Defendo nosso grupo, que tem as prefeituras de Itumbiara, Anápolis, Águas Lindas, Luziânia, Porangatu e muitas outras. Para nós, prefeitos, seria uma perda muito grande que Jovair deixasse de ser deputado. Só quem frequenta Brasília sabe o peso que Jovair tem na Câmara brigando pelos prefeitos de nosso Estado. Como prefeito, gostaria de ver a reeleição de Jovair como deputado. Contudo, no projeto que ele embarcar eu estarei junto.

Cezar Santos — E a possibilidade de ele assumir um ministério no governo de Michel Temer (PMDB)?
Tivemos uma reunião e o convite para que ele fosse ministro foi feito. Jovair escuta muito sua base, principalmente os prefeitos. O que somaria para nós Jovair em um ministério que não seja de grande expressão? De autoridade no Congresso e formador de opinião, ele iria virar empregado do governo? Para ser ministro, ele precisa de um ministério no qual possa fazer algo por nosso País, mas esses ministérios já estão ocupados. Se aparecer a oportunidade de um grande ministério, nós prefeitos defendemos que ele assuma, mas assumir qualquer ministério apenas para ser ministro não é necessário.

Cezar Santos — Na Operação Carne Fraca, o nome de Jovair Arantes foi citado e uma indicação do PTB, retirada do governo. Como o sr. vê isso?
Vivemos atualmente a criminalização dos políticos. Quando alguém do setor privado indica um profissional para trabalhar em algum lugar, o faz com a melhor das intenções e não pode ser responsável por tudo o que a pessoa diz. Políticos grandes como Jovair Arantes têm espaço em todas as esferas e procura contemplar seus parceiros e aquelas pessoas que entende ter competência para aquilo. Agora, se a pessoa que recebeu a oportunidade errou — e não estou dizendo que essa pessoa fez —, ela tem de pagar por isso. O que é preciso perguntar é: fez? Ele sabia? Ele mandou? Se sim, ele também precisa ser criminalizado. Agora, só porque indicou, não. Mais: o nome foi citado por uma pessoa ligada a ele numa escuta telefônica. Ora, os nomes de governadores, senadores e deputados são usados 24 horas por dia.

Cezar Santos — Nesse contexto, o sr. acha que a exoneração foi precipitada por parte do governo?
Não, porque é preciso dar respostas rápidas para o mercado internacional, independente de quem seja; foi uma decisão política do presidente Temer, que optou por mostrar que o Brasil tem agilidade para resolver seus problemas. A sociedade brasileira ainda não entendeu que os reflexos disso não serão para as mesas, mas para os bolsos. O presidente agiu preventivamente. Se a pessoa tem culpa, a Justiça vai penalizá-la e ela terá de pagar pelo crime que cometeu. É assim que eu defendo.

Euler de França Belém — Já existe um candidato ao governo, José Eliton, e um provável candidato ao Senado, Marconi Perillo. Quem serão os outros dois da chapa majoritária, para vice-governador e a outra vaga de senador?
O ano de 2018 poderá dizer. Quem tiver mais habilidade estará na chapa majoritária do governador.

Euler de França Belém — E o PTB pleiteia estar nessa chapa?
Vocês conhecem algum partido que tenha prefeituras com densidade eleitoral como são as da base do deputado Jovair Arantes? Goiás, eu não. Vamos somar os eleitores de Anápolis, Itumbiara, Águas Lindas, Luziânia, Porangatu e várias outras cidades? O PTB irá trabalhar para apresentar nomes qualificados e nós temos.

Euler de França Belém — Henrique Arantes sairá para deputado estadual?
Não sei, mas é um ótimo nome para qualquer cadeira. Não se monta uma chapa, hoje, sem o PTB, que não precisa gritar. O governador Marconi sabe disso e o candidato a governo, que deverá ser nosso querido José Eliton, também sabe. Então, na hora certa, nós nos sentaremos para discutir.

Euler de França Belém — Anápolis pleiteava a Secretaria de Indústria já há algum tempo e vinha ficando de fora. Agora, conseguiu emplacar um nome por sua força política e econômica. Francisco Pontes, novo secretário de Desenvolvimento, é indicação do PTB? O que aconteceu?
Francisco Pontes é indicação do PTB, mas quero dividir a resposta em duas partes: a política e a econômica. Acabei de dizer que os dois maiores articuladores políticos são o governador Marconi e o deputado Jovair Arantes. Pois se conseguiu, com uma pessoa só: mostrar gratidão a Francisco, por tudo o que já fez pelo governo estadual e também ao deputado Jovair; incluir o PTB e prestigiar Jovair com a maior secretaria do governo; presentear e fazer justiça com a segunda cidade mais importante do Estado; agradar a todos os empresários e associações. Tudo isso com um único nome, o que mostra eficiência de articulação política.

Nessa negociação, o deputado me consultou e em uma das reuniões eu pontuei que precisávamos de alguém que aglutinasse a classe empresarial, que fosse da base do governador, que fosse da nossa confiança e que fosse de Anápolis. Por quê? No primeiro dia como prefeito, eu disse que precisávamos resgatar Anápolis e isso faz parte desse resgate para dar confiança à população anapolina. E tive a grata felicidade de conseguir fazer essa articulação e emplacar Francisco Pontes com o aval de toda a sociedade anapolina, de tal forma o governo ganhou muito com essa indicação.

Cezar Santos — Aparecida de Goiânia não gostou muito…
Gustavo Mendanha é um grande amigo meu, mas, como prefeito de Anápolis, é minha função colocar as peças nos seus devidos lugares. Anápolis nunca foi e nunca será a terceira no Estado. Somos a segunda cidade mais importante e só não somos a primeira pelo total de habitantes, porque se tivéssemos uma população semelhante à de Goiânia em número, poderíamos até levar a capital para Anápolis.

Euler de França Belém — E quem é Francisco Pontes?
Ele é um empresário, fundador da A Estrutural, que sempre mexeu com estruturas de supermercados e indústrias, e da empresa Pontes. Sempre foi uma pessoa que trabalhou nessa área. Sempre pertenceu aos quadros da Acia [Associação Comercial e Industrial de Anápolis], é um rotariano antigo e é uma pessoa centrada e com um passado muito limpo. Agora, a importância é que, durante minha campanha, uma das principais bandeiras era o emprego. E só se consegue empregos com empresas. A indicação de Francisco Pontes fará Anápolis ficar em igualdade com Aparecida de Goiânia na briga pela captação de novas empresas. Isso é o que importa. Imagine o que isso representará daqui a quatro anos. Hoje, Anápolis tem a caneta abaixo do governador. Tive várias alegrias nesses primeiros 90 dias como prefeito, mas essa é a maior, pois já consigo enxergar o trabalhador chegando a um Daia com cada vez mais indústrias e uma cidade que cresce cada vez mais. É isso o que me dá emoção.