“Precisamos repensar o MDB em Goiás”
24 janeiro 2021 às 00h00

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O deputado estadual Paulo Cesar avalia que o partido perdeu grandes líderes e precisa se reestruturar antes de entrar na disputa pelo governo e pelo Senado
Emedebistas tem um novo líder na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). Assume a função o deputado Paulo Cesar Martins, que está em seu quarto mandato na Casa. No anúncio, feito na quarta-feira, 20, o parlamentar usou a tribuna para defender que a legenda precisa buscar a renovação. “Nós do MDB precisamos repensar o partido e vamos conversar com toda militância para ver onde erramos”.
Em entrevista ao Jornal Opção, o deputado relembrou que o partido já elegeu a maioria dos deputados federais goianos, além de ter nomes no Senado e em ministérios, mas isso ficou na história da sigla. “ Vamos estabelecer um trabalho para termos principalmente o candidato a governador e a senador”, afirma.
O emedebista demonstra confiança na candidatura do presidente do MDB goiano, Daniel Vilela, ao governo do estado. Segundo o deputado, o fortalecimento do partido passa pela disposição em ter nomes próprios para disputas majoritárias.
Paulo Cesar também avalia os sinais que o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, tem dado em relação a sua gestão. “Não tenho dificuldade de falar que o prefeito vai representar muito bem as ideias do Maguito Vilela’, afirma.
O senhor percebe a necessidade de reorganização do MDB. Que visão o senhor tem sobre isso?
O MDB precisa repensar. Ao longo dos anos, dos 17 deputados federais representando o Estado na Câmara Federal, nós tínhamos 11. Eram três senadores. Nós tínhamos ministro. Nós tínhamos presidente da Caixa Econômica Federal. Nós tínhamos presidente do DNIT. Então nós tínhamos uma representatividade nacional muito importante. Hoje nós não temos deputado federal. Nós tínhamos praticamente 80% dos prefeitos do MDB no Estado de Goiás. Dos 41 deputados estaduais, nós tínhamos 28 deputados do partido.
Precisamos repensar o MDB em Goiás. Nós precisamos ter 26 candidatos para ser deputado estadual. Aí fica: não pode colocar fulano porque vai prejudicar ciclano. Nós temos que parar com isso. No Estado de Goiás, a militância do MDB é muito forte. Então o MDB precisa repensar e estabelecer um trabalho para nós termos principalmente o candidato a governador e senador.
Então o MDB já está trabalhando para ter um candidato a governador e senador na próxima eleição?
Não, isso eu vou trabalhar e buscar esse fortalecimento, esse entendimento para poder restabelecer a oxigenação do MDB ao longo dos anos. Nós não oxigenamos o MDB. Vou te dar um exemplo. Em Itumbiara, nós não temos vereador. Nós não temos vereador do MDB em muitas cidades. Tem cidades que não tiveram nem condições de lançar candidato a vereador.
“Nós não oxigenamos o MDB”.
O partido também perdeu filiados nos últimos anos…
Sim, o MDB vem perdendo filiados ao longo do tempo. Nós perdemos o Nion Albernaz, Barbosa Neto… Nós perdemos agora o prefeito de Catalão, prefeito de Rio Verde, prefeito de Formosa, prefeito de Turvânia, prefeitos de várias cidades. Agora nós precisamos repensar o MDB e fazer com que o partido tenha condição de ter os 26 deputados estaduais, os 17 candidatos a deputados federais, os candidatos a senadores e o candidato a governador.
Já é possível listar alguns nomes que devem ser candidatos a deputados federais em 2022 pelo partido?
Para falar a verdade, nós não temos essa posição. Nós não temos como descrever algumas candidaturas a deputado federal.
O processo vai ter que ser trabalhado do zero?
Do zero. Nós temos que buscar isso. Não sou apenas eu, têm muitos filiados do MDB falando que temos que repensar o partido. E precisamos estar unidos para buscar esse entendimento.
O Íris fala da aposentadoria, mas ele teve encontros no escritório político e tem mantido o escritório aberto. O senhor acha que em 2022 ele pode voltar para disputar o senado ou até para deputado federal?
Em relação ao Íris, eu vou deixar isso para um momento posterior. Eu sempre falava que o Íris não largava o osso, e dessa vez eu errei. Ele largou. Eu escuto um comentário de que ele vai ser candidato a deputado federal e também que ele vai ajudar o próprio Caiado na reeleição. E eu acho que ele tinha que pensar em uma candidatura a governador pelo MDB. E se não tiver o candidato, como nós vamos fazer as alianças? Nós precisamos repensar nesse sentido.
Nos bastidores também se fala de uma possibilidade de composição do governador Ronaldo Caiado, do Democratas, com o Daniel Vilela do MDB para 2022. O senhor acha que o governador indo para a reeleição, o Daniel poderia ir para o senado? O senhor acha possível essa composição?
Hoje o Daniel, como presidente do partido, tem uma posição confortável, mas eu acho que precisa pensar isso com todos os componentes do MDB. Eu entendo que o MDB tem uma militância forte em todos municípios de Goiás. O partido precisa pensar em ter um candidato a governador e a senador. O MDB não pode, até o momento, querer discutir uma posição de poder aliar-se com A ou B. Se nós não conseguirmos viabilizar o candidato para governador, aí sim podemos conversar e fazer alianças. Pode ser com o próprio governador Caiado. Não fechamos portas. Mas o partido precisa repensar e ter uma posição ativa em relação a ter um candidato a governador e senador.
“Daniel é o nome que tem uma condição enorme de ser candidato a governador”
Se o MDB lançar algum candidato a governador, os dois mais cotados são o Daniel Vilela e o Gustavo Mendanha. A lógica sugere que deve ser o Daniel porque se o Gustavo disputar, o MDB perde a segunda prefeitura mais importante de Goiás. Como o senhor avalia isso?
Hoje o nosso prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, com toda certeza mostrou um desempenho importante na gestão e na política do MDB. Mas ele tem quatro anos pela frente, ele precisa repensar isso. O povo elegeu ele para quatro anos como prefeito de Aparecida de Goiânia. Ele tem um futuro brilhante, é uma posição confortável também. Mas se o partido entender que tem viabilidade, não sei, a gente precisa exaurir todo esse momento de conversar. É um nome importante, sem sombra de dúvida. É um nome que exerce um papel pelos 95 % da Prefeitura de Aparecida.
Agora o Daniel é outro nome que tem uma condição enorme de ser candidato a governador. Nós temos esses dois nomes. Pode vir outro nome? Sim, quem tiver coragem e estiver numa posição confortável. Porque o povo quer uma mudança. É obrigação do próprio político ser honesto, correto, mas tem que ter atitude verdadeira, e tratar a saúde com importância, sem fazer politicagem. Fazer uma educação de verdade, fazer a pavimentação das rodovias, enfim. O povo está carente disso. Nós precisamos de políticos que não fazem barganha, que não vendem o povo goiano, e que não ficam ricos às custas do povo brasileiro.
É uma discussão que nós precisamos fazer e apresentar um nome, porque o povo quer eleger o candidato que não vai fazer falcatrua, que não superfatura as obras, remédios, material escolar, enfim. O povo está cansado dessa política que a maioria dos nossos políticos está fazendo no Brasil e nos municípios.
“Não tenho dificuldade de falar que o prefeito Rogério Cruz vai representar muito bem as ideias do Maguito Vilela”
O MDB vai continuar com as principais secretarias na Prefeitura de Goiânia ou o Rogério Cruz (Republicanos) tem uma tendência em reacomodar as forças políticas na administração?
Eu não conheço o Rogério. Vi de longe a sua postura como vereador e foi o nosso candidato a vice em uma aliança e em um propósito de fazer uma Goiânia diferente. Ele fez uma visita aqui na Assembleia e mostrou muita vontade em continuar a aliança de Maguito Vilela e de fazer uma gestão importante para os goianienses. Eu estou apostando nisso. Eu acho que o prefeito vai cumprir o seu papel porque ele tem demonstrado isso com muita seriedade, com muito otimismo e com muita responsabilidade. Não tenho dificuldade de falar que o prefeito Rogério Cruz vai representar muito bem as ideias do Maguito Vilela, que com toda certeza está fazendo festa no céu.
Como o senhor avalia o fato do prefeito Rogério Cruz ter se aproximado da administração do Caiado?
O governo municipal precisa ter os convênios com o governo do estado e com o governo federal. Isso precisa ser alinhado. Não pode ficar com picuinha política ou administrativa. Eu concordo que o prefeito tem que conversar com o governador, o governador com o prefeito, o governador com o presidente da república. Porque o povo não tem culpa da ignorância e da política errada que o País toca. O povo não pode ficar refém dessas picuinhas. Ao longo dos anos, aquele que se vende e faz uma pactuação sem combinar com o povo, acaba perdendo a eleição.
Como o senhor avalia montar chapa para deputado estadual e federal sem coligação partidária?
Eu acho que os políticos ao longo do tempo vêm fazendo algumas coisas erradas. E os políticos lá em Brasília acertaram em parar com essa coisa de coligação. Eu acho que pode existir quantos partidos quiserem, mas vai ganhar aquele que tem voto. Sem barganha, sem negociação, sem fazer do Município, do Estado e da União um balcão de negócios. Quem leva prejuízo é o povo. O povo tem que eleger aquele que tem condição de ter o voto.
O vereador, o senador, o deputado federal e estadual que vai para lá, ele vai trabalhar para a cidade. Se ele for bom, ele vai continuar. Se ele não for, o povo não vai votar mais nele. Eu hoje sou o maior defensor de não fazer coligação. Tem que ganhar quem tem os votos. Tem que acabar com isso. Eu estou feliz, eu acho que é um momento importante que o país está vivendo, que é acabar com as coligações. Eu acho que ganha quem fez o seu papel dentro do partido.

Com a possível aposentadoria do Conselheiro Nilo Resende, do TCM, surgirá uma vaga de indicação da Assembleia Legislativa. Procede que há um pacto para indicar Humberto Aidar? Ou seria Ernesto Roller?
Eu vejo rumores. Se você perguntar a cada um dos 41 deputados, todos eles estão querendo ir. Até eu quero, eu não sou bobo.
Fala-se que a Universidade Estadual de Goiás (UEG) está em crise.. A partir de agora a crise tende a diminuir?
A gente tem visto muitas coisas em relação à UEG. Teve muita corrupção, reitores foram investigados, desvio de dinheiro. Então é muito dinheiro que foi jogado no ralo. Agora é muita coisa que precisa ser vista. Hoje eu acredito que o dinheiro está sendo aplicado. Não está sendo suficiente porque infelizmente os gestores da UEG deixaram a desejar. A UEG precisa reestruturar. É uma pauta que nós estamos discutindo e mostrando para o governador. Vamos trabalhar para restabelecer o papel importante que a UEG tem para o Estado de Goiás.
O senhor já é deputado estadual há muitas candidaturas e nunca perdeu uma eleição. O senhor acha que chegou a hora de tentar ser deputado federal?
Eu falo muito em mudança e eleger aquele que tem condição. Eu vejo que a gente precisaria mudar essa forma política em termos de gastos políticos. Tem deputado que gasta R$ 40 milhões para ser deputado federal. Eu não tenho esse dinheiro para gastar. Eu não vou vender a minha alma para poder ser deputado federal. Eu não estou vendo essa possibilidade. Vontade eu tenho. Eu acho que é um momento de repensar o MDB e repensar os companheiros do MDB. Nós precisamos ver onde estamos errando e precisamos mudar para que eu possa ter condição de ser candidato a deputado federal, a senador, a governador. Isso precisa ter a viabilidade passando pelo senso de confiabilidade. A minha política sempre foi arroz com feijão. Eu ando de fusca. Mas estou buscando, como líder do MDB e como primeiro vice-presidente, repensar o partido.

O senhor mantém um bom relacionamento com o governador Caiado. A partir de agora, como líder do MDB, o senhor não vai falar apenas em seu nome, mas em nome do partido. O senhor vai fazer oposição a ele na Assembleia ou não?
Nós estamos fazendo um papel que é importante para o desenvolvimento de Goiás. O governador Caiado tem muitas coisas boas no Estado de Goiás, mas tem muitas coisas que precisa rever. Vamos trabalhar no sentido de ter entendimento de uma educação e uma saúde boa para o nosso povo. É uma gestão que é importante para os goianos.
Eu nunca fiz política voltada para entrar na questão pessoal do indivíduo. Eu vou estabelecer isso. Além de repensar o nosso MDB, nós precisamos repensar o nosso Estado de Goiás. E o povo está cobrando isso de nós. A nossa obrigação de político é ser correto, honesto. Agora nós temos de agir. Eu vou aqui com a minha pouca experiência aprender, ver com os companheiros, e fazer o papel que é importante para mostrar a nossa condição de servir e deixar um legado para o nosso povo goiano.
Se o senhor fosse conselheiro do Ronaldo Caiado, que conselho o senhor daria para o governador de Goiás? Principalmente pensando em resolver os problemas que ele tem nos próximos dois anos.
O governador Ronaldo Caiado tem uma larga experiência. Além dele conhecer o Estado de Goiás, ele andou neste mundo inteiro. É um homem bem estabelecido na posição política. Eu nunca vi nada que desabonasse a conduta moral e ética do Ronaldo Caiado. Eu nunca ouvi que o Ronaldo Caiado participou de uma falcatrua, de uma propina, ou de uma negociata. Eu nunca ouvi falar isso do Caiado.
Como ele tem experiência, está faltando ele ouvir mais. Ouvir a Assembleia Legislativa, ouvir os deputados. Está faltando ele fazer uma política com mão dupla. Na hora que ele sentar para fazer isso, eu acho que ele tem condição para ser o candidato único do Estado de Goiás. Ele tem tudo hoje para estabelecer um papel de ouvir e fazer o melhor para o Estado de Goiás.