Elder Dias, Marcos Aurélio Silva e PH Mota

A primeira mulher a comandar o PT em Goiás teve um privilégio dado pelo cargo: na noite do domingo, 30, Kátia Maria assistiu “in loco” ao pronunciamento histórico de Luiz Inácio Lula da Silva após ser confirmado para exercer seu terceiro mandato como presidente da República, um feito inédito na história nacional. Porém, muito mais do que isso, ela ajudou a construir o programa de governo da Federação Brasil da Esperança, que inclui também o PCdoB e o PV.

Formada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e mestra em Geografia pelo Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG), preside o PT desde 2017. Esteve à frente do partido, portanto, na fase mais difícil, após o impeachment de Dilma Rousseff, quando o partido foi dado como destruído por muita gente. “Cansei de visitar cidades no interior goiano e ver companheiro do PT me falar ‘Kátia, não posso assumir a direção do partido aqui, porque vou apanhar do vizinho’”, relembra. Ela se orgulha de ter elevado a presença da sigla de 98 para mais de 220 municípios sob sua direção.

Nesta entrevista ao Jornal Opção, além de obviamente tratar da expectativa sobre o novo governo Lula, Kátia Maria relata também sobre como pretende conduzir seu mandato na Câmara de Goiânia – ela se tornará vereadora na vaga de Mauro Rubem, eleito deputado estadual. Quer debater a função social da cidade e já avisa: “Em tudo que faço, entrego o máximo de mim e nesse novo desafio não será diferente.”

Elder Dias – A vitória de Lula e do PT, desta vez, foi também o triunfo da democracia sobre a ameaça autoritária. Muito provavelmente, qualquer outro candidato não teria conseguido vencer nas urnas a máquina do governo usada da forma que foi neste segundo turno. A sra. esteve em São Paulo para acompanhar com a direção nacional do partido e toda a coligação o resultado destas eleições. Como foi viver o clima naquela noite depois de proclamada a consagração de Lula para seu terceiro mandato como presidente?

Foi um clima de muita emoção. O que nós vivemos nestes últimos seis anos foi algo que mexeu com todos nós, do Partido dos Trabalhadores, mas também mexeu muito com todo o povo brasileiro. Eu estou acompanhando esses bastidores desde 2016, quando houve o golpe na presidenta Dilma [Rousseff (PT), que sofreu impeachment por pedaladas fiscais]. Acompanhei ela descer a rampa do Planalto e, neste domingo, estive em São Paulo junto com ela, com o presidente Lula e com nossa presidenta Gleisi [Hoffmann, do PT nacional], depois destes seis anos, para resgatar o sistema democrático brasileiro. É algo que nos marca, tanto do ponto de vista pessoal como do ponto de vista político. Estou convencida de que é uma virada muito importante para o resgate da democracia brasileira. Quem ganhou não foi nem Lula nem o PT, quem ganhou sobrevida foi a democracia.

Durante estes últimos seis anos, enfrentamos um ataque muito severo ao Estado democrático de Direito, com as prisões ilegais, com todo o lavajatismo, o desmonte das políticas públicas. A reportagem de Caco Barcellos nesta semana [no programa “Profissão Repórter”, da Rede Globo] mostra de forma clara que, como nunca antes na história da redemocratização, houve um uso tão intensivo da máquina pública para a compra de votos. Foi um assédio eleitoral por parte do poder público e também pelo empresariado, também de forma violenta, além da retaguarda do Ministério Público para que o bolsonarismo pudesse crescer no Brasil. Sim, comemoramos muito e estou emocionada até agora, porque só quem viveu os bastidores tem noção do que aconteceu com tudo o que havíamos construído para atender ao povo brasileiro e que foi por água abaixo. Temos de comemorar muito, mas temos de entender que é preciso fazer um movimento de pacificação para que a gente possa dar o passo seguinte.

Jornalistas PH Mota e Elder Dias entrevistam Kátia Maria na sede do Jornal Opção | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção

Bolsonaro conseguiu alimentar em muitas pessoas o lobo do mal

Marcos Aurélio Silva – O PT tem consciência do que é essa responsabilidade que assume com a democracia neste momento chave?

Estamos convencidos disso. Não só o Partido dos Trabalhadores, mas a Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) juntamente com a coligação por inteiro e as pessoas que vieram somar conosco no segundo turno. Tenho certeza de que o presidente Lula fará um governo amplo, trazendo segmentos e lideranças importantes da sociedade para governar junto conosco e dar a amplitude que o Brasil merece neste momento.

Por outro lado, é preciso dizer que a rede de fake news continua muito forte e bem estruturada. Esse bolsonarismo, que traz os traços do fascismo de maneira muito forte, vai se manter com poder, não acaba com a eleição do Lula. Perde força por perder a máquina e o poder da caneta, mas continua firme. Bolsonaro conseguiu. Uma metáfora que uso sempre para exemplificar essa situação é de que toda pessoa tem dentro de si o lobo do bem e o lobo do mal. Vai sobressair aquele que ela alimentar mais.

Infelizmente, Bolsonaro conseguiu alimentar em muitas pessoas o lobo do mal, o lobo do ódio, da violência, da intolerância. Basta ver essas manifestações que fecharam rodovias e ver pessoas que votaram nele fazendo vídeos implorando para ser liberadas por alguma emergência, como a mulher com um filho autista em crise, com febre, e o marido eleitor de Bolsonaro, sem ter a empatia dos bolsonaristas. Isso para uma mãe querendo levar seu filho para tratamento. É algo que beira à desumanidade, de uma forma muito acentuada. O lobo do mal foi muito alimentado em várias pessoas e nós teremos, na pessoa de Lula, um líder muito carismático, o papel de tirar o alimento desse lobo do mal para saciar o lobo do bem.

Precisamos resgatar a humanidade das pessoas e voltar a ter empatia. Quem tem emprego precisa se solidarizar com quem não tem; quem tem comida no prato não pode achar normal quem passa fome continuar na fila do osso. Temos de criar condições de distribuir renda e promover justiça social para que todas as pessoas tenham vida digna. Foi isso que Lula fez em seu primeiro governo e tenho certeza de que agora, de forma muito mais ampliada do ponto de vista de parcerias políticas, vamos fazer de novo.

PH Mota – Essa pacificação será possível de ser feita apenas com políticas públicas de modo a alimentar esse “lobo do bem”? Ou será necessário algo a mais para superar a força da resistência do bolsonarismo que ficará, independentemente de Bolsonaro?

Tirar as pessoas do mapa da fome é um critério que não tem de ser debatido nesse caso. É algo urgente, mas não resolve por si só nossos problemas. O que vai resolver o problema de alimentar esse “lobo do bem” será investir em educação, em cultura, em ciência e tecnologia. Investir na qualificação das pessoas, tudo isso para que a pessoa passe a ter uma opinião crítica e uma consciência de classe. A educação tem um papel central nesta nova fase que nós precisamos construir para o Brasil. Porém, não tem jeito de falar nisso tudo se a pessoa estiver com a barriga roncando.

Portanto, primeiro é preciso garantir a sobrevivência da pessoa, para depois lhe dar um emprego, para então avançar para essas pautas que garantam uma visão mais crítica do que está acontecendo. É aí que entra a discussão da consciência de classe. Por que tantos trabalhadores sucumbiram ao assédio eleitoral de seu patrão? É um trabalho que a educação precisa trazer como pauta. Educação e cultura são cruciais para construir uma nova consciência do povo brasileiro.

Houve um uso inadequado da religião para fins políticos

Elder Dias – Uma parcela da população especialmente resistente ao PT são os evangélicos. Existe algum planejamento do partido em relação a lidar de forma específica com esse público?

Primeiramente, é preciso dizer que houve um uso inadequado da religião para fins políticos, não apenas entre os evangélicos, mas também entre católicos, espíritas etc. Quando falo sobre essa consciência de classe, falo disso também, porque a fé não está na disputa política. É algo pessoal, que cada um professa onde se sentir melhor. A fome, o desemprego, as políticas públicas para a cidade, isso sim, são temas para discutir na política. Quando alguém não consegue discutir política, como foi o caso de Bolsonaro, usa a religião para poder garantir as pessoas consigo. Por isso digo que o processo apenas se iniciou com a vitória de Lula. Há um caminho longo que precisamos trilhar, todos os que acreditamos na democracia. Não estamos disputando a fé de ninguém, mas um projeto de sociedade. A fé foi usada para intervir nesse projeto de sociedade, e de forma fraudulenta, porque quando falam que Lula vai fechar igrejas é uma mentira muito grande. Foi ele quem criou a Lei da Liberdade Religiosa, assim como assinou o decreto da Marcha Para Jesus. Foi no governo Lula que os pastores e os líderes religiosos de outras denominações tinham assento no conselho político, para serem escutados. O Estado é laico não para não ter nenhuma religião, mas para poder respeitar todas elas. Lula com certeza terá sabedoria para repactuar tudo isso com as várias religiões.

É preciso entender também que há uma má-fé por trás disso. Conversei com muitos evangélicos e muita gente entre eles me dizia que nunca havia visto esse tipo de comportamento, de pastor mandar no voto dos fiéis. Se de um lado houve quem seguiu cegamente a orientação dada em grupos, há também outro lado com consciência de que sua fé é particular, que Jesus já morreu na cruz para salvar todo mundo. O evangélico também chega ao supermercado e tem dificuldade para encher o carrinho, ao contrário da época dos governos Lula. Quem reflete sobre isso tem outro nível de consciência.

Elder Dias – Como o governo Lula vai lidar com as promessas de campanha que precisam de ação imediata, como a manutenção do auxílio de 600 reais?

A equipe de transição está trabalhando, com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) como coordenador, tendo também [Aloizio] Mercadante [ex-ministro dos governos de Dilma Rousseff] e a presidenta Gleisi Hoffmann. Como podemos lidar com essas ações imediatas? Foi pregado pelo atual presidente da República não era com prazo determinado, mas é – o próprio relator do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI), disse que não tem recurso previsto o Auxílio Brasil já para janeiro. Para tanto, o presidente eleito vai ter de dizer de onde vai tirar para remanejar. Precisamos votar isso ainda este ano e nós vamos fazer isso no Congresso.

Elder Dias – Outro ponto a que o bolsonarismo se apegou foi o fato de Lula ter tido seus julgamentos anulados e, assim, ter tido de volta seus direitos políticos. Os mais radicais recusam-se a aceitar a eleição de alguém que consideram um “ladrão” e muita gente está tomada por um sentimento de revolta que não parece que vai ceder. Como será lidar com esse fantasma criado antes da eleição de Bolsonaro, alimentado pela mídia e pelo lavajatismo, e que persiste como uma chaga na trajetória de Lula, apesar de ele não dever mais nada à Justiça?

Quando falamos que Lula é inocente, isso não é algo que vem de nossa própria boca, mas é algo que está garantido pela Constituição brasileira. Lula teve seus direitos restabelecidos pelo STF [Supremo Tribunal Federal], mas também ganhou na Corte Internacional. Foi vencedor em 26 processos. A Constituição brasileira resguarda a presunção da inocência, até que se prove o contrário. Se esse pessoal está realmente preocupado com a corrupção, vamos ver como ficará quando forem abertos os sigilos de cem anos. Teremos parâmetros para mensurar, porque quem faz a coisa certa não precisa guardar sigilo, joga no Portal da Transparência e deixa a população acompanhar.

Claro, é uma pauta que vamos ter de analisar para esse reposicionamento de imagem de Lula, porque, pela política, volta com contundência num processo eleitoral. Mas o que temos de fato é que todos os mecanismos jurídicos dizem o contrário.

A vitória de Lula sinaliza para uma repactuação dos tratados internacionais

Elder Dias – Logo após o resultado das eleições ser confirmado pelo TSE [Tribunal Superior Eleitoral], os líderes mais importantes do mundo cumprimentaram Lula. Ele foi convidado para as cúpulas do G-20 e da COP-27 [Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022] ainda este ano. A Noruega já se comprometeu a retomar o fundo de ajuda à Amazônia. Até que ponto a repercussão mundial positiva da vitória de Lula foi importante para impulsionar esse início de transição? Foi uma luz no fim do túnel, em meio a toda a tensão da última semana?

Já tínhamos a previsão de que isso ocorreria. O presidente Lula é muito respeitado internacionalmente. Estou convencida de que o papel dos países e das lideranças do mundo inteira teve um peso crucial para que o processo democrático no Brasil ocorresse com sucesso. Isso influenciou inclusive para que Bolsonaro, mesmo que com dois dias de atraso, aceitar o resultado das eleições, após ver que ficou isolado – até mesmo dentro do próprio governo. Ele não tinha nada a fazer a não ser aceitar o resultado eleitoral. Para nós, é muito importante ver que, em menos de uma semana, um presidente já fazer, do ponto de vista das articulações internacionais, mais do que Bolsonaro e Michel Temer fizeram juntos em seis anos. Lula já abriu várias conversas para fazer o Brasil participar novamente do jogo internacional. A Noruega fez um gesto muito claro. O presidente eleito vai com uma comitiva para a COP-27, no Egito. As lideranças internacionais estavam muito atentas, o Brasil já estava em processo de retaliação pelo desmatamento descontrolado, pelas queimadas, enfim, pela escalada da devastação ambiental. Cerca de 75% da produção de nosso agronegócio já estava em xeque pela União Europeia. A vitória de Lula sinaliza para uma repactuação dos tratados internacionais na questão ambiental, que é grave e urgente, não uma coisa menor, como o atual governo tratou. Pelo contrário, é uma coisa grande, que atrapalha todas as outras áreas comerciais do Brasil, porque há um pacto mínimo que precisa ser cumprido. Caso contrário, o País será penalizado. Em dois dias, Lula restabeleceu esse intercâmbio que vai ajudar a economia global e do Brasil, porque vai refazer muitas ações que se perderam no radicalismo e na falta de competência do atual governo.

Marcos Aurélio Silva – Como o PT está encarando o desafio de fazer uma transição com um governo que, até o momento, não reconheceu claramente a derrota?

Essa transição vai dizer muito sobre como vamos fazer os primeiros cem dias de gestão. Vamos encaminhá-la no formato que nos for permitido. A posição de Ciro Nogueira [ministro da Casa Civil] em se colocar à disposição já é um avanço e temos de aproveitar isso. Não sabemos como está a questão orçamentária, mas vamos atuar também com o Congresso para poder buscar elementos. Precisamos nos debruçar diretamente sobre o orçamento que está em análise para que ele já possa garantir minimamente o que devemos implementar logo de imediato, como a continuidade dos 600 reais de Auxílio Brasil [que deve voltar a se chamar Bolsa Família]. Certamente não será uma transição nos moldes em que gostaríamos, porque um governo que age como este agiu não tem como fazer algo de forma transparente, plenamente democrática. Mas vamos tentar avançar o máximo que conseguirmos.

Marcos Aurélio Silva – As manifestações golpistas desta semana, que pedem “intervenção federal” dos militares – ou seja, um golpe – para descartar o resultado das eleições e evitar a posse de Lula tem sido ignoradas pelo PT. É uma estratégia adotada pelo partido?

Quem ganhou a eleição tem de buscar pacificar o cenário e acomodar as forças políticas, baixando a temperatura do momento. Não nos interessa discutir esse tema agora, até porque isso iria piorar ainda mais a situação do atual presidente, porque têm provas aos montes de compra de votos, assédio eleitoral do poder público e do empresariado. Isto é, há elementos robustos para até mesmo impugnar a chapa [de Bolsonaro]. Mas não nos interessa fazer esse debate, mas pensar o Brasil. Queremos ao nosso lado todas as pessoas em Goiás que quiserem somar esforços para pensarmos como podemos ajudar o Estado a se desenvolver com este novo governo federal. É assim que queremos dialogar. O processo democrático foi cumprido. A eleição traz o poder soberano do voto e, mesmo com todo um arsenal contrário – uma indústria de fake news, compra institucionalizada de votos e assédio eleitoral de todos os tipos –, nós vencemos. Mais de 60 milhões de eleitores escolheram Lula para presidente do Brasil. Não há mais discussão, a democracia venceu e nós vamos governar, não apenas para esses 60 milhões, mas para os 215 milhões de brasileiros.

Não dá para olhar para trás e não ter o sentimento de dever cumprido

PH Mota – O PT depende de um bom governo Lula para se fortalecer para as eleições municipais de 2024. Como trabalhar localmente para se aproveitar dos resultados de uma boa gestão federal?

É uma análise que tenho feito bastante e fico até emocionada, porque assumi a presidência do PT em 2017, em meio a um golpe que afetou não só a presidenta Dilma, mas todas nós, mulheres, e a sociedade brasileira em geral. Depois dele, todas as políticas públicas foram sendo destruídas e a vida do povo piorou demais. Era um momento em que a esquerda falar de política em qualquer lugar era um desafio muito grande. Cansei de visitar cidades no interior goiano e ver companheiro do PT me falar “Kátia, não posso assumir a direção do partido aqui, porque vou apanhar do vizinho, a cidade é pequena, a pressão é grande demais”. Essas pessoas me diziam que continuavam petistas, mas não podiam dirigir o partido no município. Foi um período muito duro, aquele. Olhar para trás e ver que, naquele momento, tínhamos 98 diretórios e hoje o PT está presente em quase 220 municípios é algo gratificante. Conseguimos atravessar esse deserto de muitos ataques e agora dobramos nossa bancada federal – reelegendo Rubens Otoni e tendo Adriana Accorsi como a mais votada do partido – e ampliamos nosso número na Assembleia, com três parlamentares [Antônio Gomide, Rubens Otoni e Bia de Lima], batendo na trave para ficar com a quarta vaga [que seria de Fabrício Rosa, primeiro suplente].

Depois de tudo isso, poder estar em São Paulo com o presidente Lula, com a presidenta Dilma e também com a presidenta Gleisi – que foi uma heroína por dirigir um partido como o PT no meio de uma crise tamanha por causa desses ataques… As pessoas não apenas achavam, elas falavam: “o PT acabou”, “nós destruímos o PT”, coisas assim. Não dá para olhar para trás e não ter o sentimento de dever cumprido. Foi muita insistência de minha parte ao não desistir e organizar o partido em Goiás.

Eu me sinto extremamente realizada à frente do partido e vejo que continuamos com desafios à frente. Precisamos fortalecer essas instâncias partidárias no interior, preparando chapas competitivas para concorrer às câmaras municipais, ressaltando que não é mais um desafio do PT, mas da Federação Brasil da Esperança. É ainda mais desafiador fazer essa articulação com três partidos nos municípios. Como presidenta da federação, preciso ter o cuidado de fortalecer também os partidos que estão conosco, o PCdoB e o PV. No segundo turno, também avançamos num diálogo muito consistente com outros partidos. Temos o PSB, que nos apresentou o nome de Alckmin como nosso vice-presidente e com o qual queremos manter uma relação para 2024. Da mesma forma, desejamos isso com outros partidos em Goiás, também para 2026. No restante de meu mandato, quero dar solidez à nossa organização, preparando para recuperarmos espaços importantes que perdemos por conta do golpe contra Dilma.

Elder Dias – A deputada federal eleita Adriana Accorsi é o nome natural para a sucessão municipal de 2024?

Não começamos essa discussão ainda. Vamos abrir a discussão sobre os palanques municipais e Goiânia terá um lugar muito especial, porque é nossa cidade e irradia luz para os demais municipais. Mas por agora, não existe condicionante nem dentro o PT, nem na federação nem com os partidos aliados. Vamos começar a avaliação do processo eleitoral em Goiás e ajudar o presidente Lula com dados relevantes para a implantação de políticas públicas que queremos para nosso Estado, ainda em um primeiro momento do governo.

Elder Dias – E qual será a prioridade, nesse sentido?

É bom lembrar que temos 1,7 milhão de goianos na linha da pobreza. Lula sempre falou comigo, em nossas conversas de sua preocupação com essas pessoas. Queremos neste momento de transição, além de discutir o combate à fome, também colocar o Cerrado em pauta. Lula vai para a COP, no Egito, e temos aqui um bioma que é a “caixa d’água” do Brasil. Fala-se muito na Amazônia como o pulmão do mundo, mas é do Cerrado que sai a água para quase todo o Brasil. Sem água a gente não produz, não colhe, não vive. Vamos contribuir para o presidente Lula inserir Goiás nessas discussões sobre o meio ambiente, que já se iniciaram. Já fizemos isso, inclusive, no programa de governo da federação, de que participei. Parte da proposta de transição ecológica, porque é minha área, ajudei a redigir e agora queremos avançar nisso.

PH Mota – A sra. vai assumir a cadeira do PT na Câmara de Goiânia, na vaga do agora deputado eleito Mauro Rubem. O que a cidade pode esperar da nova vereadora?

Primeiramente, será uma honra exercer um mandato por Goiânia. Ser vereadora é um cargo muito nobre. Sempre joguei de forma coletiva. Para mim, ter tido 19.940 votos para deputada estadual também é muito honroso, como também será estar representando o Partido dos Trabalhadores. Além disso, é uma posição muito estratégica, tanto para 2024 como para 2026, não tenho dúvida. Sei onde coloco o pé e sei o que quero em cada lugar que chego. Será um mandato de portas abertas, democrático e popular, para fazer a diferença em Goiânia. Temos um déficit de um debate mais qualificado da função social da cidade, o qual vamos precisar fazer. Queremos a cidade para quem? As leis aprovadas beneficiam quem? Quero fazer essa discussão na Câmara e tenho muita determinação para isso, representando não só o PT, mas a Federação Brasil da Esperança e principalmente o povo, em especial, as mulheres. Em tudo que faço, entrego o máximo de mim e nesse novo desafio não será diferente.