Eleito prefeito de Anápolis por dois mandatos consecutivos, Roberto Naves é natural de Porangatu, mas anapolino de coração – ele mesmo costuma dizer que possui uma dívida eterna de gratidão com a cidade. Farmacêutico de formação e empresário, Naves foi nomeado presidente da Goiás Turismo em maio deste ano, após um período longe da política e de cargos públicos. O ex-prefeito bem que tentou, mas não conseguiu eleger sucessor em Anápolis.

Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção, com quase seis meses na equipe de Ronaldo Caiado, Roberto Naves destaca o crescimento do turismo ecológico, religioso, de negócios no Estado e sugere até mesmo uma nova forma de turismo: o de agronegócio, que seria voltado para polos do agro, como Rio Verde e Jataí, mas podendo ser expandida para outras regiões de Goiás.

O ex-prefeito também rebateu críticas de oposicionistas e negou ter deixado uma “cidade quebrada” ao passar a gestão de Anápolis ao prefeito Márcio Corrêa, do PL. Questionado sobre um suposto envolvimento no polêmico caso Fábio Escobar, em que, inclusive, prestou depoimento, Naves afirmou: zero. 

Na política, Naves, que preside o partido Republicanos, garante que deve se candidatar a deputado federal e diz que a legenda é uma das mais chamativas para pré-candidatos por não ter caciques e “campeões de votos”, o que faz com que todos concorram de maneira linear. Ele também descarta qualquer possibilidade de voltar a concorrer o Executivo municipal. Quanto à política nacional, o ex-prefeito diz esperar que governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, siga à reeleição para que Ronaldo Caiado seja o candidato da direita em 2026 para a Presidência da República.

Ton Paulo – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ainda é sondado dentro do Republicanos para sair como candidato à Presidência da República com o apoio de Jair Bolsonaro?

Este assunto já esteve mais quente dentro do partido. Nos últimos meses, há uma análise sendo feita de que, caso Tarcísio concorra à Presidência da República, há um risco na disputa pelo governo de São Paulo, caso Lula da Silva lance o nome de Geraldo Alckmin para concorrer no Estado paulista. Sigo acreditando que o melhor nome da direita para disputar a eleição com Lula da Silva é o do governador Ronaldo Caiado, do União Brasil.

Vou trabalhar para que Tarcísio continue fazendo um grande trabalho à frente do governo do Estado de São Paulo e, mais para frente, dispute a eleição para presidente da República. Dentro do partido, o foco de Tarcísio é a reeleição.

Euler de França Belém – Tarcísio de Freitas e o governador Ronaldo Caiado têm um relacionamento muito bom. Tanto que, em 2022, ele quase trouxe Tarcísio para ser candidato a senador por Goiás.

Tarcísio tem um carinho muito grande pelo governador Ronaldo Caiado, e a recíproca é verdadeira. Ronaldo Caiado vai se reunir com o ex-presidente Jair Bolsonaro e, neste momento, no meu ponto de vista, Caiado é o mais preparado para enfrentar tudo o que anda acontecendo em Brasília no que diz respeito à questão de emendas, na área tributária, na questão do saneamento financeiro do Brasil, pois estamos passando por uma crise sem precedentes e que tem sido maquiada pelo governo federal.

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Presidente da Goiás Turismo, Roberto Naves | Foto: Fabio/ Jornal Opção

Seria maravilhoso ter um presidente goiano, e vou parafrasear o senador Hamilton Mourão: “Neste momento, Caiado seria a pessoa mais indicada para ser o presidente e superar essa transição complicada de um primeiro mandato e que o Brasil irá enfrentar. Depois, viria o Tarcísio”.

Ton Paulo – Recentemente, tivemos a inclusão de novos municípios goianos no Mapa do Turismo. Como a pasta do senhor avalia a inserção de novas cidades nesse levantamento e como isso pode impactar, em termos de benefícios, no turismo goiano?

É importante deixar claro que o Mapa do Turismo é um programa do governo federal. Não é a Goiás Turismo que organiza. O que fazemos é auxiliar os prefeitos nos trâmites burocráticos – como um serviço de assessoria – para que consigamos colocar o município dentro do Mapa do Turismo. Quando ele está dentro desse mapa, a cidade pode receber recursos federais, emendas parlamentares e todo suporte no que diz respeito à questão do turismo.

Outro fator importante é que, antigamente, o Mapa do Turismo era revisado apenas uma vez por ano. Esse prazo caiu para seis meses e, agora, é semanalmente. Então, a qualquer momento, pode-se incluir novos municípios no mapa.

Ton Paulo – Mas há algo semelhante feito em âmbito estadual?

A Goiás Turismo vem trabalhando para desenvolver rotas para potencializar as questões turísticas no estado. Goiás é uma das unidades federativas que mais cresceu no que diz respeito ao ramo do turismo no país. E isso vem em função de ser um estado rico: temos as águas quentes de Caldas Novas, cachoeiras em Corumbá, tem Pirenópolis, tem Cavalhadas, tem a Cidade de Goiás, tem o Vale do Araguaia, tem a Rota dos Vinhos, tem a Chapada dos Veadeiros, tem as cavernas de Terra Ronca, tem as Chaminés de Fada, o turismo de negócios em Goiânia, conjuntamente com o turismo gastronômico. Ainda tem o turismo religioso em Trindade. Tudo isso, somado ao ser o estado mais seguro do país, tem sido o casamento perfeito. Nós estamos crescendo em todas as áreas quando a gente pensa em turismo.

O Aeroporto de Goiânia teve um salto gigantesco no número de passageiros que nós começamos a receber nos últimos seis meses. Isso é tão importante porque serviu de alerta para o aeroporto de Brasília. Nós fomos procurados por eles há cerca de 60 dias, justamente para poder ver o que pode ser feito para que Brasília não perca os voos para Goiânia.

E nesses seis meses que estou à frente da Goiás Turismo, nós já fizemos uma excursão no Rio Araguaia, que durou dez dias. Saímos de Aruanã e fomos até Luiz Alves em um trajeto totalmente aquático e cada dia dormindo em uma praia. A ideia era trabalhar a conscientização ambiental, captar imagens para vender a temporada do Araguaia para todo o Brasil e fazer uma pesquisa detalhada para saber quantas pessoas ficam em acampamentos e quantas ficam nas cidades.

Euler de França Belém – E qual foi o resultado dessa pesquisa?

Nós tivemos cerca de 1 milhão de pessoas que passaram por essa região. Cerca de 93% ficam em acampamentos e se dizem extremamente satisfeitos e que irão voltar no ano que vem. E o que mais nos chamou atenção foi que tinha uma pergunta que dizia: “Por que você acampa?” E o principal motivo foi a tradição familiar. De cada 100 turistas do Araguaia, entre 94% a 95% são goianos. Ou seja, nós temos um potencial gigantesco para poder explorar isso fora de Goiás. E estamos preparando materiais para que possamos vender isso para todos os brasileiros.

Goiás é uma das unidades federativas que mais cresceu no que diz respeito ao ramo do turismo no país. E isso vem em função de ser um estado rico

Outro ponto que buscamos saber foi quantas lanchas têm por acampamento e qual a motorização usada por elas. Esses dados foram repassados à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, a Semad, porque, quando se utiliza motor de baixa potência, a quantidade de energia dissipada na água é baixa, formando ondas pequenas. Quando é utilizada uma embarcação com um motor de alta potência, a velocidade é maior, mais quantidade de energia é dissipada e ondas maiores são formadas.

Com isso, temos o questionamento: será que a potência dos motores tem aumentado ou não o assoreamento do rio? Porque as ondas maiores batem com mais força nos barrancos e tente a cada vez mais desbarrancar. Quem vai analisar isso é a Semad, mas nós analisamos todos os detalhes cientificamente e tecnicamente junto com a equipe do Observatório, que é a equipe de pesquisa dentro da Goiás Turismo.

Euler de França Belém – E quais são os principais pontos de atração turística do Araguaia?

Está começando a crescer de forma significativa Britânia, que fica um pouco mais ao sul do Araguaia, e temos as regiões já consolidadas, como Aruanã, São José dos Bandeirantes, a Viúva, que fica entre essas duas cidades e é um condomínio consolidado, e Luiz Alves. Esses são os locais mais procurados quando a gente pensa em Araguaia em termos de acampamento.

A quantidade de praias é relativa ano a ano, mas, nesse trajeto, devemos ter cerca de 100 praias. E notamos um turismo luxuoso nesses lugares, pois tem acampamentos em que a pessoa gasta de R$ 15 mil até R$ 500 mil. Tem acampamentos com sete, oito helicópteros pousados, quartos com ar-condicionado, banheiro e tudo mais que você possa imaginar. Tem para todos os gostos, e a região está consolidada como um grande produto turístico.

Euler de França Belém – Qual é o principal atrativo econômico do Araguaia?

O principal atrativo é a pesca da piraíba. Há muitos peixes no rio e, com a implantação do Cota Zero, isso melhorou bastante. Isso movimenta milhões de reais. Todos os hotéis fora da temporada ficam lotados por pessoas que buscam o maior peixe de água doce que nós temos. Ainda não temos esses valores fechados porque dependo de um ciclo completo de um ano, mas posso adiantar que a viagem de um piloteiro é R$ 400, isso fora a sua comida, bebida e gasolina. Uma pescaria normal hoje no Araguaia, para buscar os grandes peixes, você gasta mil reais por cabeça.

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Presidente da Goiás Turismo, Roberto Naves | Foto: Fabio/ Jornal Opção

E o que mais chama atenção é que a piraíba, há 18 anos, estava praticamente extinta. Com a Cota Zero, ela voltou a repovoar o rio depois da conscientização por parte dos guias. Antes, eles matavam o peixe para vender a carne. Hoje, eles preservam a piraíba porque sabem que, vivendo do turismo, eles ganham muito mais. A pesca da piraíba é válida para todo o período que não seja a piracema. Ou seja, não há um conflito entre a alta temporada do Araguaia e o período de pesca.

Ton Paulo – Como a Goiás Turismo tem feito a divulgação de novos pontos turísticos, pouco conhecidos mas com bom potencial, que estão surgindo no Estado, sem esquecer daqueles já consolidados?

Recentemente, nós fizemos o Festival do Bem em Caldas Novas exatamente para proporcionar uma atração diferenciada para a cidade. Porque é um município que recebe mais famílias, mais pessoas idosas que querem ir às pousadas, buscam por essa água termal que o local proporciona. Quando falamos em um turismo mais ecológico, temos Pirenópolis e, no Nordeste goiano, onde as pessoas ficam em volta da Chapada dos Veadeiros, ou exploram as cavernas no Parque Estadual de Terra Ronca. Agora, estamos desenhando os moldes de visitação das Chaminés de Fada. Ele ainda está em elaboração porque é um empreendimento privado. A Goiás Turismo e a Semad têm dado toda a assistência técnica.

Temos divulgado também o turismo religioso no Santuário da Basílica em Trindade e o de negócios em Goiânia, que reflete na nossa gastronomia. Antes, um restaurante abria na nossa capital e, um ano depois, fechava. Hoje, estão se mantendo porque Goiânia está crescendo violentamente. E a vida noturna da cidade fomenta isso.

Temos as pescas esportivas no Araguaia, nos lagos e, agora, lançamos o que acontece com os pesqueiros. No período de piracema, você não pode pescar nem em rios nem nos lagos, mas a pessoa pode pescar no clube de pesca. Também vamos fazer o Réveillon em Rio Quente para aquecer ainda mais aquela região, e estamos fazendo isso por todo o estado de Goiás. Essa é a função da Goiás Turismo: fomentar o mercado, atrair o turista e preparar os produtos para colocar na prateleira nacional e internacional.

João Paulo Alexandre – Há outras áreas no Estado que podem ser exploradas e que já estão no radar da Goiás Turismo?

Caiapônia é um bom exemplo, pois é a cidade que mais tem cachoeiras em Goiás. E estamos focando também no turismo de agronegócio, em Rio Verde e Jataí. Vou dar um exemplo de como funcionaria: hoje temos um dos maiores confinamentos do Brasil, que fica na região de Mozarlândia. Eles fizeram um evento e tinha mais de 40 aviões na pista. Então, é um tipo de turismo que movimenta milhões de reais e que Goiás é exemplo. Tem local para se fazer estudos, palestras e divulgar o agro no que diz respeito à soja em Jataí e Rio Verde, mas temos cidades no norte goiano que também podem entrar nessa rota, como São Miguel do Araguaia, Mozarlândia, Mundo Novo e Porangatu.

O turismo de agronegócio pode promover uma experiência aos visitantes, como mostrar o processo de retirar o leite da vaca, da fabricação do queijo, como se abate um porco e é feita a carne de lata. A grande parte da população está na cidade e não sabe o que é isso. E tem pais que demonstram interesse em levar os filhos para conhecer, vivenciar, porque turismo é isso: promover experiência e criar novos nichos.

Há pessoas que saem daqui para fazer safári na África. Por que não fazer em uma fazenda? Ou fotografar aves, que é um mercado que vem crescendo muito na região do Rio Araguaia?

João Paulo Alexandre – No caso de Caiapônia, vocês estão fazendo a catalogação dessas cachoeiras para atrair os turistas?

Nós levamos o Festival do Bem para a cidade, que teve shows de Fred e Fabrício, Zé Felipe e Cleber e Cauan. Quando as pessoas vão para aproveitar o evento, estamos com as imagens prontas das cachoeiras e consigo vender a cidade para elas. Se eu não levar o turista para ter a primeira experiência na cidade, ele não vai ficar. E, se você não fidelizar ele, não é ponto turístico. Por isso, o evento tem três dias, para que o visitante consiga explorar o que tem na cidade.

Ton Paulo – Há algum projeto em vista ou já em andamento em parceria com a Nárcia Kelly, presidente da Agência Municipal de Turismo e Evento (GoiâniaTur)?

Goiânia é a capital gastronômica. Estamos com a Rota Gastronômica em parceria com o Sebrae e com a Nárcia para desenvolver, e estamos preparando a cidade para receber o MotoGP ano que vem.

Ton Paulo – O Jornal Opção noticiou recentemente o aumento de preços das hospedagens por causa do MotoGP. A situação encontrada foi similar à da COP30, em Belém, que registrou preços antes nunca praticados. O empresariado recebe algum treinamento ou orientação para esses grandes eventos?

Estamos nos preparando para fazer o treinamento de mão de obra para qualificar cada vez mais. A Secretaria da Retomada tem esses cursos profissionalizantes e vamos oferecê-los também por meio da Goiás Turismo. Mas é preciso entender que vivemos em um mundo capitalista de economia aberta, e tudo vai ser regulado pela oferta e demanda. Não tem jeito. Será o momento em que os hotéis vão cobrar mais caro e os eventos não vão deixar de acontecer.

João Paulo Alexandre – A falta de mão de obra é uma reclamação unânime entre empresários. Isso, de certa forma, também impacta no turismo?

Temos que separar a falta de mão de obra de cursos de qualificação. Hoje, temos um problema que é a falta de mão de obra bruta. Às vezes, você tem o curso de qualificação, mas não aparece aluno. Eu vejo isso pelo fato de o estado de Goiás crescer muito na geração de emprego. Em Anápolis, a pessoa só fica desempregada se ela não quiser trabalhar. E o estado como um todo é dessa forma. Tem pessoas que não estão com carteira assinada, mas estão trabalhando na informalidade ou têm um comércio.

Quando fui prefeito em Anápolis durante oito anos, recebemos 80 mil pessoas em Anápolis, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Isso porque a cidade gerou uma quantidade gigantesca de empregos. Quando recebemos novos moradores, conseguimos trabalhar os cursos de qualificação e melhorar esse cenário de escassez de mão de obra, mas não acredito que o grande problema sejam os cursos de qualificação, mas a falta de mão de obra bruta para ser treinada. Esse é um limitador geral e não só da área turística.

E ainda bem que existe, porque significa que a vida das pessoas melhorou. Que as pessoas estão empregadas, mais felizes, com mais dinheiro e que podem escolher mais. Mostra que as coisas melhoraram depois do governo do presidente Jair Bolsonaro.

Ton Paulo – Voltando a falar de política: o prefeito Márcio Corrêa (PL) alega que herdou uma cidade “quebrada”, com dívidas de mais de R$ 700 milhões, inclusive, de empréstimos que teriam sido feitos na sua gestão. Qual a sua versão? Houve realmente a entrega de uma cidade com dificuldades financeiras?

Banco empresta dinheiro para quem está quebrado? Fica essa pergunta. Porque, se o banco emprestou, é porque a cidade tinha capacidade de pagamento, era bem gerida e é um município rico. Isso é uma narrativa, no caso de Anápolis, de que a cidade está quebrada. Ela não está quebrada. Foi feito o financiamento e os recursos foram distribuídos em várias áreas.

Quando eu assumi, a cidade não tinha nenhum hospital e construí dois. Tínhamos apenas uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e entreguei a cidade com quatro UPAs. Nós construímos mais de dez unidades básicas de saúde. Asfaltamos todos os bairros da cidade. Tivemos três pontes que foram embora com as chuvas e tivemos que refazê-las, de forma rápida, para melhorar o trânsito.

Eu quero que investiguem. Não tem nada errado. Passei pela pandemia, foram oito anos com as mãos limpas. Denúncia, na política, é a coisa mais natural do mundo

Precisava ser feito o viaduto do Recanto do Sol, que deputados, ministros e senadores prometeram, mas ninguém teve coragem. Eu fiz. Construímos mais de dez escolas e creches pela cidade para diminuir o déficit de vagas. Tem os anéis viários e o Distrito Industrial da região norte. Então, esse dinheiro foi utilizado na infraestrutura e na melhoria da cidade e, por isso, ela vem dando esse salto de crescimento.

João Paulo Alexandre – O senhor vai concorrer ao pleito de 2026 como deputado federal? O que motivou a decisão?

Sou pré-candidato a deputado federal porque, no meu entendimento, tenho muito a contribuir com Anápolis e com o Estado de Goiás como um todo. Sabemos que Anápolis é uma cidade de direita, mas o único deputado federal que a representa na Câmara dos Deputados é de esquerda. Está na hora de termos um deputado anapolino, com história na cidade, que seja de direita.

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Presidente da Goiás Turismo, Roberto Naves, conversa com os jornalistas João Paulo Alexandre, Ton Paulo e Euler França | Foto: Fabio/ Jornal Opção

Se Anápolis é uma cidade de direita, não adianta votar em um candidato de fora. Vamos continuar tendo como representante da nossa cidade o Rubens Otoni, que é de esquerda? Após registrar a minha candidatura, vou pedir a oportunidade de representar a direita anapolina e trabalhar em prol do nosso estado.

Ton Paulo – E o seu projeto será dentro do Republicanos?

Será 100% dentro do Republicanos. Quando fui assumir o partido em Goiás, a primeira coisa que falei com o presidente Marcos Pereira foi que eu estava como prefeito de Anápolis, mas que, quando chegasse em 2025, eu estaria como presidente do partido, porém sem mandato. Isso faria com que muitas pessoas fossem atrás dele para tentar tomar o partido. Ele disse que tinha consciência disso e me orientou sobre como proceder. Toda semana tem gente indo a Brasília tentar tomar a presidência do Republicanos aqui em Goiás, e não consegue.

Eu sigo acreditando que o melhor nome da direita para disputar a eleição com Lula é o do governador Ronaldo Caiado (UB). E eu vou trabalhar para que Tarcísio continue fazendo um grande trabalho à frente do governo do Estado de São Paulo e, mais para frente, dispute a eleição para presidente da República

Hoje, o Republicanos é o quinto maior partido do Brasil, sendo também o quinto com maior tempo de televisão e de fundo partidário. É um partido gigante. E eu fiz o dever de casa. Só existem duas chapas para deputado federal que estão mais adiantadas – para não dizer montadas: a minha e a do Bruno Peixoto [será no PRD]. Eu cito nomes: Ricardo Quirino, Hildo do Candango, Roberto Naves, Lêda Borges, Rodrigão Carvelo, de Catalão, Zé Antônio, de Itumbiara, Geverson Abel, em Goiânia, entre tantos outros.

Ton Paulo – Então, Lêda Borges (PSDB) está realmente fechada com o Republicanos?

Ela não pode mudar de partido agora, mas é de casa e está com a gente no Republicanos. Esse foi o compromisso que ela assumiu comigo e com o presidente Marcos Pereira.

Ton Paulo – E a Vivian Naves (PP)? Qual é o projeto dela? Seguirá dentro do PP?

A Vivian Naves é pré-candidata à reeleição como deputada estadual. Em Anápolis, hoje, temos quatro deputados: Amilton Filho (MDB), Coronel Adailton (Solidariedade), Antônio Gomide (PT) e ela. A Vivian foi a parlamentar que mais enviou recursos para Anápolis. Ela foi a única deputada que destinou 100% das suas emendas para a cidade, viabilizando a primeira UPA da Mulher do Brasil, que funcionou por 30 dias, pois o prefeito a fechou. Foram R$ 11 milhões destinados à construção, recursos enviados por ela. Portanto, ela é candidata à reeleição.

Em relação ao partido pelo qual disputará, ela tomará essa decisão no momento certo, pois é uma escolha que cabe exclusivamente a ela. O presidente Marcos Pereira fez o convite, e acredito que ela venha para o Republicanos. Ela gosta muito do Alexandre Baldy (PP) e também do Progressistas. Baldy e eu temos uma ótima relação. Mas é uma possibilidade real, e eu acredito que ela deva ser candidata pelo Republicanos. É claro que, pela lei, ela precisa esperar o período da janela partidária para poder mudar de partido.

Ton Paulo – Ao que o senhor atribui a derrota de Eerizânia Freitas – que foi apoiada pelo senhor – na corrida pela Prefeitura de Anápolis?

Eu era desconhecido em 2016, mas a cidade interpretou que eu era o único que podia bater o PT no segundo turno. Em 2024 aconteceu a mesma coisa. Anápolis tem pavor do PT, essa é a grande verdade. O atual candidato foi para o PL, um movimento natural, e quem teria a maior possibilidade de bater o Antônio Gomide no segundo turno era o Marcos Corrêa. Tanto que ele ganhou a eleição.

Ton Paulo – Mas, por muito tempo, Antônio Gomide (PT) liderou as pesquisas em Anápolis. O que aconteceu?

A pesquisa não capta bolsonarista. Se você analisar tecnicamente, as pesquisas que foram realizadas em Goiânia no ano passado não captaram o Fred Rodrigues (PL) à frente. Os levantamentos realizados em Anápolis não pegaram o Márcio com quase 50% porque os bolsonaristas têm aversão a responder pesquisa e têm aversão à imprensa. O senador Wilder Morais também não figurava na frente, mas ele foi eleito. Esse é o movimento que aconteceu em Anápolis.

Esse movimento aconteceu comigo em 2016 e em 2020. Eu tenho humildade para reconhecer isso. Minha diferença para não vencer os demais candidatos no primeiro turno, em 2020, foi de 2 mil votos. A cidade entendeu que eu era o candidato mais forte para bater o PT.

Agora, a oposição faz um trabalho interessante para tentar desgastar a minha imagem. Olha o escândalo do Anápolis na Roda. No documento policial consta que era um “blog de fofoca que foi montado para difamar, caluniar e perseguir o grupo político do ex-prefeito Roberto Naves.” Isso culminou, inclusive, com um secretário do município preso. Mas a eleição passou e o Márcio tem que fazer o trabalho dele. E eu vou fazer o meu. Nós temos que pensar na cidade.

Euler de França Belém – O TCM determinou uma Tomada de Contas Especial para investigar possíveis irregularidades no contrato firmado na sua gestão, que transferiu a gestão do Hospital Municipal Alfredo Abrahão para a Associação Beneficente João Paulo II. O prejuízo seria de quase R$ 43 milhões. Como o senhor responde a esse processo?

Durante a pandemia, nós colocamos o Hospital Alfredo Abrahão para funcionar. Nós fizemos um contrato com a Organização Social. Esse contrato foi fruto de denúncia por parte da oposição, e foi feita a investigação. Eu mesmo determinei a Tomada de Contas Especial. Isso está dentro do processo. Eu quero que investiguem. Não tem nada errado. Passei pela pandemia, foram oito anos com as mãos limpas. Denúncia, na política, é a coisa mais natural do mundo.

Euler de França Belém – E quantas denúncias há contra o senhor no Ministério Público? Alguma virou inquérito?

Não tem como saber. Você pode fazer mil denúncias de hoje para amanhã. A pergunta é: quantas viram inquéritos? O que virar, você responde. Porque, na maior parte delas, o MP avalia, vê que não tem nada e ele mesmo arquiva. Não há inquérito que esteja respondendo, seja por improbidade ou qualquer outra questão. A oposição é que tenta desenhar isso.

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Presidente da Goiás Turismo, Roberto Naves | Foto: Fabio/ Jornal Opção

Euler de França Belém — O empresário Fábio Escobar, que supostamente tinha negócios com a Prefeitura de Anápolis, foi assassinado. Qual era a realmente a relação dele com sua gestão?

Escobar não tinha nada com a prefeitura na minha gestão. A empresa [uma lavanderia] não era dele. Uma empresa participou de um processo licitatório e foi vencedora. Ela prestou serviço para a cidade, sendo homologada pelo TCM e Fábio Escobar era funcionário da empresa. O que o criminoso quer? Criar várias cortinas de fumaça para não ser encontrado e criar essas falácias.

Euler de França Belém — O que tem a dizer sobre a morte do fazendeiro Luiz Carlos Ribeiro da Silva, que teria sido seu motorista particular? O senhor era sócio dele em uma fazenda na região Norte de Goiás?

Luiz Carlos não era meu motorista. Eu tinha emprestado um dinheiro para ele, que ofereceu parte da fazenda como garantia. Eu não era sócio dele em nada. A Polícia Civil segue investigando. Não tenho participação nenhuma no crime. Tanto que fiz questão de depor. Porque nada tenho a esconder.

Euler de França Belém — O senhor diz que criaram um blog em Anápolis para difamá-lo. Quem o criou?

O inquérito policial, que não registra o nome de quem criou o blog Anápolis na Roda, relata que era operado por dois jornalistas. Não estou acusando ninguém, e sim dizendo o que aconteceu. Fui difamado durante dois anos.

Euler de França Belém — Há comentários de que o senhor e Rodrigo Tizziani, que foi seu secretário de Comunicação, montaram o “DM Anápolis” para atacar o empresário e hoje prefeito Márcio Corrêa.

Nunca montei jornal, muito menos para atacar Márcio Corrêa. Rodrigo Tizziani foi meu secretário e nunca pedi para veículos que recebiam verbas de comunicação atacar ninguém. A imprensa é independente e livre.

Ton Paulo – Há uma preocupação crescente dentro dos partidos, para 2026, quanto aos riscos de um “canibalismo eleitoral”, quando candidatos do mesmo espectro político disputam votos entre si e enfraquecem as chances coletivas. O Republicanos enfrenta esse problema?

O Republicanos não passa por isso devido a um fator muito simples: é um partido grande, mas que não tem nenhum campeão de voto. A chapa é linear, onde todo mundo consegue competir. É o único partido grande que não tem cacique. Das grandes siglas, eu te dou os nomes que serão os campeões de voto: PT, Adriana Accorsi; PL, Fred Rodrigues; PP, Adriano Avelar; União Brasil, José Nelto; MDB, Célio Silveira; PRD, o Bruno Peixoto.

Nunca montei jornal, muito menos para atacar Márcio Corrêa. Rodrigo Tizziani foi meu secretário e nunca pedi para veículos que recebiam verbas de comunicação atacar ninguém. A imprensa é independente e livre

Então, isso é um atrativo para os candidatos. Você tem um partido grande, que tem tempo de televisão, que tem fundo partidário, que é extremamente interessante para qualquer candidato a governo e tem uma chapa competitiva.

Ton Paulo – Caso o governador Ronaldo Caiado deixe o União Brasil, ele terá portas abertas no Republicanos? Houve uma conversa neste sentido? Porque o Republicanos já tem Tarcísio.

Houve uma conversa. Ronaldo Caiado é uma pessoa por quem o presidente Marcos Pereira tem um carinho muito grande. Claro que ele vai respeitar primeiro o posicionamento do Tarcísio de Freitas. Mas, caso o Tarcísio não seja candidato, não há dificuldade nenhuma em dar seguimento a essa conversa.

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Presidente da Goiás Turismo, Roberto Naves, em entrevista ao Jornal Opção | Foto: Fabio/ Jornal Opção

Ton Paulo – Tem participado de reuniões a nível nacional do Republicanos? Como ele deve caminhar no ano que vem, no que se refere à corrida presidencial?

Sempre há reuniões dos presidentes estaduais do partido. Agora, o Republicanos é um partido de centro-direita. Nós temos a Damares Alves, o Hamilton Mourão, o próprio Tarcísio, tenho eu, e nós não vamos caminhar com o PT.

João Paulo Alexandre – O Republicanos teve interesse ou chegou a discutir algum nome para possivelmente ser vice na chapa do Daniel Vilela?

Essa discussão a gente faz de forma interna e direta com o governador Ronaldo Caiado. Não posso falar mais porque, senão, já foge do combinado e dos segredos políticos. Mas qualquer nome que o Caiado escolher será o ideal. 

Euler de França Belém – Silvye Alves (UB) vai se filiar ao Republicanos em março do ano que vem? Ela interessa?

Nunca tive uma conversa com a Silvye e nenhum outro candidato com mandato. Conto para vocês com quem já conversei: Ismael Alexandrino (PSD), Marussa Boldrin (MDB) e Lêda Borges, que são nomes que a chapa aceita.

Não temos interesse em candidato com mandato [referência a Silvye Alves], que seja medalhão, que tenha mais de 100 mil votos e que já chegue tomando uma vaga. Nós temos interesse em eleger dois ou até mesmo três deputados federais, mas de tal forma que seja uma chapa onde todos tenham possibilidade de eleição.

Euler de França Belém – E desses três que você citou, qual está com a conversa mais avançada?

A Lêda Borges já está fechada, teoricamente, e os outros dois a gente fez convites, mas as conversas não avançaram.

João Paulo Alexandre – Vocês vão insistir nas conversas com Ismael e com Marussa?

Vamos, sim. São duas pessoas que têm condições de participar e disputar para postular a terceira vaga de deputado federal.

O que fazem com o Bolsonaro é uma sacanagem. Isso é perseguição política. […] Eu temo muito pela saúde dele

Ton Paulo – Ronaldo Caiado deve se encontrar com Bolsonaro no próximo dia 9 de dezembro. Acredita que pode haver mudanças no cenário político a partir do que eles conversarem? Qual a sua avaliação, pode haver costura de aliança?

Ali tudo pode mudar. É uma conversa entre dois líderes da direita, duas pessoas maduras e experientes. O governador Ronaldo Caiado é um craque da política, e o Bolsonaro é um líder populista no que diz respeito à direita. Se os dois se unirem, ficam imbatíveis e teremos um goiano como presidente da República.

Para mim, essa eleição passa muito na mão do nosso governador Daniel Vilela, que vai estar com a caneta na mão, tem um histórico familiar e sabe o que tem que fazer para ganhar a eleição. E os dois cabos eleitorais do estado de Goiás são Ronaldo Caiado e Gracinha Caiado.

Ton Paulo – Wilder Morais confirmou que é pré-candidato ao governo e vai trabalhar, inclusive, com uma série de encontros. Ainda pode se consolidar uma aliança?

A oposição só vai ter chance se nós errarmos, e eu não acredito que o Daniel vai errar. Eu acho que ele vai acertar em tudo. Não tem o que discutir sobre quem será o candidato. Ele vai estar com a caneta na mão e vai ser governador. Se ele, estando com a caneta na mão, não for governador, depende das atitudes dele. Como eu confio que as atitudes dele são assertivas, não vamos correr risco com Adriana, Wilder, Marconi ou com qualquer outra candidatura.

João Paulo Alexandre – Caso Bolsonaro formalize o apoio a Tarcísio de Freitas, como vai se posicionar nesta situação?

O Tarcísio será candidato e o Caiado também. E eu vou votar no Caiado. Se o Tarcísio for o candidato do Bolsonaro, será pelo PL e não pelo Republicanos.

Ton Paulo – Falando em projeto a longo prazo, tem interesse em voltar à Prefeitura de Anápolis?

Isso não passa pelo meu planejamento. Eu fiz um compromisso de ser prefeito de Anápolis e ficar oito anos. E eu sabia que ficar durante esse tempo seria um desgaste, porque é natural em qualquer área. Eu passei uma pandemia cuidando daquele povo e fiquei até o último dia do meu mandato. Eu sou pré-candidato a deputado federal e, estando como parlamentar em Brasília, eu não disputaria a Prefeitura de Anápolis em hipótese nenhuma. Isso está definido para mim.

Eu tinha uma contribuição para dar para a cidade de Anápolis, contribuí para a transformação do município e melhoria de vida do cidadão anapolino e quero continuar melhorando, só que, agora, buscando recursos e defendendo os interesses da nossa cidade em Brasília.

Ton Paulo – Estamos prestes a presenciar, mais uma vez, um ex-presidente preso. Como o senhor avalia essa situação se repetindo aqui no Brasil? Acha que ele pode reverter isso como Lula fez? 

O que fazem com o Bolsonaro é uma sacanagem. É perseguição política. O presidente Bolsonaro foi condenado por um crime que não aconteceu. Que golpe foi esse que não aconteceu? Isso não é certo. Eu temo muito pela saúde dele. Não sei se ele tem tempo para voltar [para tentar reeleição] com toda a maldade e sacanagem que tem sido feita com ele.