À frente da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa) desde 2023, Pedro Leonardo Rezende representa um perfil técnico alinhado com a área em que atua. Zootecnista de formação, o secretário tem mestrado e doutorado em Ciência Animal, além de ser especialista em produção de ruminantes. É servidor de carreira da Agrodefesa (autarquia vinculada à Seapa) e presidiu a Emater Goiás entre 2019 e 2023.

Nesta entrevista exclusiva, Pedro Leonardo traça um panorama da agropecuária goiana, setor que, segundo ele, é um dos principais responsáveis pelos superávits comerciais do estado. Ao comentar uma das maiores crises atuais do agronegócio – a gripe aviária, que impacta diretamente a avicultura – ele assegura que a cadeia produtiva segue competitiva. “A Agrodefesa segue cumprindo seu papel essencial: garantir a sanidade e a credibilidade dos nossos produtos”, afirma, ao comentar os efeitos da doença e os embargos internacionais.

O secretário também relembra os dias de tensão que viveu em Israel, onde integrava uma comitiva do Governo de Goiás em missão diplomática. Durante a viagem, o país enfrentava um conflito com o Irã. De volta ao Brasil, ele relata ter ouvido estrondos provocados por ataques e as sirenes que soavam como alertas de possíveis investidas, experiências que marcaram a passagem por solo israelense.

Ton Paulo – Secretário, o senhor esteve recentemente em Israel durante o conflito com o Irã e, felizmente, conseguiu retornar em segurança ao Brasil, junto com a vice-prefeita Cláudia Lira. Como foi essa experiência? O conflito começou enquanto estavam lá, e vocês chegaram a se abrigar em um bunker. Como foi toda essa situação?

Israel é atualmente referência mundial, que está na vanguarda em tecnologias de irrigação, especialmente em condições climáticas semelhantes às que experimentamos em Goiás. No projeto de fruticultura do Vão do Paraná, por exemplo, estamos utilizando sistemas de irrigação desenvolvidos por empresas israelenses do setor de agritechs.

O principal objetivo dessa missão foi justamente consolidar parcerias e promover o intercâmbio de tecnologias. Vale destacar que essa missão foi coordenada pelo Consórcio Brasil Central, que reúne os estados da região central do país, além de Roraima e Tocantins. Todo o custeio da viagem foi feito a partir de um convite do governo de Israel, que financiou hospedagem, alimentação e demais despesas da delegação. Isso evidencia o interesse mútuo e reforça que a relação comercial entre Goiás e Israel é uma via de mão dupla.

É importante ressaltar ainda que Israel é um dos principais fornecedores de fertilizantes para a agricultura goiana, setor que vem crescendo de forma expressiva no estado. Assim, um dos focos da missão foi justamente ampliar esse diálogo com um parceiro estratégico para o agronegócio regional.

Infelizmente, nossa visita coincidiu com a intensificação dos conflitos na região, algo completamente fora das expectativas e que jamais imaginamos enfrentar. Quando a situação se agravou, o governo de Israel prontamente garantiu todas as condições de segurança para a delegação do Consórcio Brasil Central.

Participaram também os governadores de Rondônia e Tocantins, e, durante todo o período, recebemos apoio contínuo das autoridades israelenses, o que nos trouxe alguma tranquilidade em meio a um cenário bastante tenso. De fato, vivemos uma experiência surreal, com ataques e bombardeios ocorrendo nas imediações do local onde estávamos hospedados.

Ton Paulo – Vocês chegaram a ouvir os bombardeios, acompanhar em tempo real conforme isso acontecia?

Sim. Na verdade, havia alarmes que eram tocados com uma certa antecedência. Em alguns momentos, sim, presenciamos ruídos e houve ocasiões em que, no próprio hotel em que estávamos instalados, sentimos tremores. Foi uma experiência extremamente complicada, mas o fato de termos contado com esse apoio por parte do governo de Israel, garantindo nossa segurança e o retorno da delegação com segurança, nos deu um pouco mais de tranquilidade.

Quanto ao retorno, em decorrência do fechamento do espaço aéreo de Israel nós fizemos esse deslocamento por terra até a Jordânia. Da Jordânia, pegamos um avião comercial para Doha, no Catar, e de lá para São Paulo. Isso tudo foi coordenado pelo governo de Israel.

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Pedro Leonardo, secretário de Agricultura, em entrevista ao Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

“Havia alarmes que eram tocados com uma certa antecedência. Em alguns momentos, sim, presenciamos ruídos e houve ocasiões em que, no próprio hotel em que estávamos instalados, sentimos tremores. Foi uma experiência extremamente complicada”, sobre a passagem por Israel

Tivemos essa segurança a partir do momento em que o próprio governo de Israel nos proporcionou todas as garantias. Isso diminuiu um pouco o sentimento de medo, apesar de ser uma experiência que não imaginávamos passar.

Italo Wolff – Outra crise que o estado enfrentou, ou ainda enfrenta, é a questão da gripe aviária. O que tem sido feito para conter o avanço da doença, e como está a situação, realmente, em Goiás?

É importante destacar que, segundo as últimas informações, 17 países já retiraram os embargos impostos à avicultura de Goiás. Existe, na verdade, todo um procedimento previsto pela Organização Mundial de Saúde Animal, que orienta que, diante da ocorrência de focos de doenças de interesse econômico, as importações sejam suspensas até que o órgão responsável pela sanidade animal, que em Goiás é a Agrodefesa, vinculada à Secretaria da Agricultura, apresente as garantias exigidas pelos protocolos internacionais. Essas garantias devem comprovar que o foco foi devidamente contido e que o status sanitário original foi restabelecido.

Assim que a ocorrência foi identificada, a Agrodefesa adotou imediatamente todas as medidas previstas nesses protocolos. É essencial mencionar que se trata de protocolos internacionais, e que tais ações foram devidamente apresentadas e comprovadas. Como resultado, os embargos vêm sendo retirados. Somente nesta semana, 17 países já suspenderam as restrições.

Outro ponto importante é que, no que diz respeito a essa e a outras doenças de impacto econômico, Goiás é amplamente reconhecido pelos órgãos de controle sanitário como um Estado que oferece as garantias sanitárias exigidas internacionalmente. Prova disso é que 82% das exportações goianas vêm do agronegócio, o que demonstra a força e a confiabilidade do setor.

Vale reforçar que as exportações só são possíveis porque o órgão regulador da sanidade animal é capaz de fornecer essas garantias aos mercados compradores. Isso nos dá a confiança de que a avicultura e toda a cadeia produtiva da pecuária goiana continuarão competitivas, na medida em que a Agrodefesa segue cumprindo seu papel essencial: garantir a sanidade e a credibilidade dos nossos produtos.

Ton Paulo – O senhor não acha que, em Goiás, onde a BRF precisou fazer o abate de mais de 70 mil aves após confirmação de um caso de gripe aviária no estado, as ações tomadas não foram um pouco tardias? Assim que surgiram os primeiros casos fora do estado, alguma coisa já foi feita ou realmente deixou-se para correr atrás só depois do prejuízo?

Com relação ao abate específico realizado pela BRF, trata-se de um abate preventivo. Não havia, naquele momento, nenhuma confirmação que exigisse da empresa a realização de um abate sanitário obrigatório. Foi, portanto, uma medida preventiva. Já no que diz respeito ao foco confirmado em Goiás, a Agrodefesa adotou todas as medidas previstas nos protocolos internacionais de sanidade animal. Os prazos para a implementação dessas ações estão estabelecidos nesses mesmos protocolos.

O fato de que os embargos vêm sendo retirados demonstra claramente que a Agrodefesa agiu dentro do tempo adequado, cumprindo rigorosamente os prazos definidos pelos órgãos internacionais de saúde animal.

Sobre o impacto nas exportações de carne de frango provocado por essa crise, é importante destacar que a avicultura de Goiás tem papel significativo nesse setor. O Estado está entre os seis maiores produtores de aves do Brasil. Naturalmente, os embargos causaram impactos negativos, mas o ponto positivo é que as ações adotadas permitiram mitigar esses efeitos a tempo, evitando prejuízos ainda maiores.

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Jornalistas Italo Wolff e Ton Paulo entrevistam Pedro Leonardo, da Seapa | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Com a retomada das exportações e a retirada dos embargos por parte de diversos países, a expectativa é de que a demanda reprimida, causada pela descontinuidade temporária, seja compensada neste novo momento. Assim, a tendência é que, no médio prazo, os prejuízos observados durante os embargos sejam diluídos, à medida que essa demanda volte a ser atendida.

Ton Paulo – E a Seapa está em diálogo com esses produtores de frango? A pasta tem se encontrado com as entidades?

Exatamente. É importante destacar que, dentro da Secretaria da Agricultura, existem câmaras setoriais voltadas para as principais cadeias produtivas, que são responsáveis por grande parte das exportações do Estado. Assim como há câmaras dedicadas à pecuária de leite, à pecuária de corte e à suinocultura, também existem câmaras técnicas que mantêm um diálogo permanente com as entidades representativas de classe. Em Goiás, por exemplo, contamos com a participação da Associação Goiana de Agricultura nesses grupos de trabalho.

Esse diálogo é fundamental para que o poder público compreenda de que forma deve atuar, dentro de suas competências, para garantir que essas cadeias produtivas continuem competitivas e gerando empregos. Esse é, inclusive, um dos grandes diferenciais da agricultura: sua capacidade de geração de vagas. Trata-se de uma cadeia produtiva que emprega significativamente no Estado e que apresenta, inclusive, uma forte demanda por mão de obra.

Por isso, é nosso dever manter uma interlocução constante com essas entidades e com todos os representantes do setor, para que possamos atuar de forma alinhada aos anseios e necessidades daqueles que integram e representam essa importante cadeia produtiva.

Ton Paulo – No ano passado, e, também em 2023, os produtores de soja e outros grãos de Goiás relataram grandes prejuízos devido à seca intensa. Esse problema já havia ocorrido em anos anteriores também. Agora, mesmo com a previsão de uma seca um pouco menos severa este ano, a Seapa já está se planejando ou dialogando com o setor para evitar que sejamos pegos de surpresa novamente?

A agricultura, assim como outras atividades do setor, tem como característica principal ser uma atividade cíclica. Dentro dessa dinâmica econômica, há anos extremamente favoráveis, mas também períodos em que fatores como o clima ou outras variáveis impactam negativamente a produção.

É importante destacar que, no ano agrícola de 2023, 2024, Goiás se consolidou entre os três maiores produtores de grãos do Brasil. Um dos grandes diferenciais do Estado é justamente sua capacidade de expandir áreas agrícolas. Atualmente, estima-se que cerca de 7,4 milhões de hectares estão ocupados com agricultura. No entanto, Goiás possui potencial para dobrar essa área cultivada, considerando apenas as pastagens degradadas, que somam aproximadamente 7 milhões de hectares e podem ser convertidas em áreas produtivas.

No que diz respeito à gripe aviária e a outras doenças de impacto econômico, Goiás é amplamente reconhecido pelos órgãos de controle sanitário como um Estado que oferece as garantias sanitárias exigidas internacionalmente

Além disso, Goiás apresenta outras vantagens competitivas importantes, como a possibilidade de realizar até três safras em um único ano agrícola, especialmente com o uso de tecnologias como a irrigação. Essa capacidade é favorecida pela localização estratégica do Estado, que é banhado pelas cinco principais bacias hidrográficas do Brasil, garantindo disponibilidade hídrica para sustentar essa produção intensiva.

Nosso foco tem sido oferecer ferramentas que auxiliem o produtor rural na tomada de decisões preventivas. Há diversas soluções que mensuram os riscos climáticos para os próximos anos agrícolas. Goiás conta com inúmeras estações meteorológicas que fornecem dados para a construção de modelos matemáticos, capazes de prever a magnitude dos riscos climáticos. Com base nessas informações, o produtor pode planejar melhor seus investimentos e desenvolver estratégias mais seguras para o próximo ciclo agrícola.

Italo Wolff – O senhor mencionou 7 milhões de hectares de área degradada. Existem programas para incentivar a recuperação desse solo?

São 7 milhões de hectares atualmente ocupados com pastagens degradadas ou em algum estágio de degradação. Existem diversos incentivos para que o produtor possa, por meio de práticas de sustentabilidade, recuperar essas áreas, não só com a agricultura, mas também com outros cultivos ou mantendo a exploração pecuária através das pastagens.

Por exemplo, em relação ao FCO, que é o Fundo Constitucional do Centro-Oeste, no qual a Secretaria da Agricultura faz a análise dessas consultas, existem linhas de crédito específicas para produtores que adotarem práticas sustentáveis em seus sistemas de produção. O produtor que deseja recuperar essa área degradada tem acesso a taxas de juros reduzidas, períodos de carência diferenciados e diversos outros estímulos para realmente adotar essas práticas.

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Pedro Leonardo, secretário de Agricultura, em entrevista ao Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Outro exemplo claro é o fato de que Goiás, entre todas as unidades federativas, foi o primeiro estado a adotar uma política de pagamentos por serviços ambientais, em que o produtor que poderia fazer a supressão de vegetação, mas opta por não fazê-la, é remunerado pelo Estado pela preservação dessa área.

É importante lembrar que essa é uma legislação antiga, prevista na legislação federal, mas Goiás é o primeiro estado a implementar de fato uma política de pagamento por serviços ambientais. Isso demonstra o protagonismo de Goiás em relação às práticas de sustentabilidade. Outro exemplo claro, relacionado ao fortalecimento e estímulo ao produtor para práticas sustentáveis, é que Goiás foi reconhecido pelo governo federal como polo de bioinsumos, que são insumos de base biológica.

Italo Wolff – Noticiamos recentemente que a Faeg considerou que o plano Safra não atende plenamente as necessidades do setor produtivo. E neste ano ele é 10% maior em relação ao ano passado. Mas parece haver uma questão de juros elevados que tem corroído a capacidade de produção, correto?

Sim. O grande problema, e que é o principal objeto de críticas por parte do setor produtivo, são as taxas de juros que vêm sendo praticadas. Sabemos que o governo federal adota uma política reguladora em relação a essas taxas. Observamos aumentos sucessivos na taxa Selic, e as linhas de crédito geralmente acompanham essa elevação. Mas o fato é que o governo federal precisa estabelecer uma política concreta de apoio a esse segmento, que tem sido fundamental para sustentar a economia do país.

O Brasil tem apresentado crescimentos, ainda que modestos, impulsionados principalmente pelo agronegócio. Por isso, o anseio do setor produtivo é que haja reconhecimento e estímulo por parte do governo federal, com a adoção de juros equalizados e políticas de financiamento que permitam ao produtor realizar seus investimentos e impulsionar sua atividade. Isso é essencial para que o setor continue contribuindo não apenas com a balança comercial, mas também com a geração de empregos, divisas e com a segurança alimentar da população, que está diretamente ligada à capacidade produtiva do país.

No que diz respeito à gripe aviária e a outras doenças de impacto econômico, Goiás é amplamente reconhecido pelos órgãos de controle sanitário como um Estado que oferece as garantias sanitárias exigidas internacionalmente

Esse é, portanto, o principal pleito do setor produtivo: que o governo federal adote, de fato, uma política concreta de apoio, como já ocorre em Goiás. É importante lembrar que, aqui no Estado, existe a Goiás Fomento, que oferece linhas de crédito específicas para os produtores rurais, especialmente da agricultura familiar, com taxas de juros reduzidas, mesmo diante da elevação da Selic. Essas linhas de crédito, vinculadas ao programa do governo estadual, se mantêm justamente com o objetivo de atender à principal competência do Estado: criar condições para que o setor produtivo continue contribuindo com os resultados econômicos de Goiás.

Ton Paulo – Em Goiás, temos safras expressivas, assim como os números das exportações. Além da carne de frango, a carne bovina também tem um peso importante no mercado e é bastante exportada. Qual é a expectativa de exportação da carne bovina neste ano, em comparação com o ano passado? A previsão é de um desempenho positivo também?

Sem dúvida. É importante também lembrar que, pela primeira vez em um trimestre, Goiás abateu mais de um milhão de animais, mais de um milhão de bovinos. Atualmente, o Estado exporta aproximadamente 20% de tudo o que produz.

Nossa expectativa é que a pecuária contribua cada vez mais para os superávits que a balança comercial de Goiás vem apresentando. Um dos fatores que reforçam essa projeção é justamente o fato de que Goiás conseguiu, recentemente, o reconhecimento da elevação do seu status sanitário em relação à febre aftosa. Inclusive, tivemos a oportunidade de integrar a delegação que recebeu, da Organização Mundial de Saúde Animal, o reconhecimento de Goiás como zona livre de febre aftosa sem vacinação.

O principal resultado esperado com a elevação desse status sanitário é justamente a abertura de novos mercados. Um exemplo é o mercado japonês, que não importa carne bovina de regiões onde ainda é realizada a vacinação contra a febre aftosa. Com a retirada da obrigatoriedade dessa vacinação, a expectativa é de que a pecuária goiana continue contribuindo com os superávits comerciais, à medida que conquistamos novos mercados.

É importante destacar também que, entre todas as unidades federativas, Goiás foi, no último ano, o estado que obteve o maior número de novas habilitações de plantas frigoríficas para exportação.

Ton Paulo – A China é ainda o maior comprador de carne de Goiás? Como estão as conversas com o Japão?

A China é o maior destino de todas as exportações do agronegócio de Goiás. E agora, está prevista uma nova missão para o Japão que tem justamente como um dos objetivos buscar uma aproximação comercial com os japoneses.

A gente sabe que o mercado japonês, além das exigências sanitárias, impõe uma série de outras exigências qualitativas, como o teor e a cobertura de gordura. É um país extremamente rigoroso, não apenas em relação à sanidade, mas também quanto às características qualitativas do produto.

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Pedro Leonardo, secretário de Agricultura, em entrevista ao Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

O nosso objetivo é justamente mostrar ao mercado japonês que a carne produzida em Goiás atende a todas essas exigências, tanto sanitárias quanto qualitativas. É importante lembrar também que o mercado japonês é um dos que melhor remunera: paga à vista e oferece valor agregado. Por isso, é de total interesse da pecuária goiana acessar esse mercado, que é extremamente estratégico para o Estado.

Essa missão que vai ocorrer é multissetorial. Diversos temas estão sendo tratados, e a agricultura está incluída em todas essas pautas que estão sendo programadas com parceiros estratégicos no Japão, o que certamente trará resultados importantes para a agricultura e a pecuária de Goiás.

Italo Wolff – O senhor mencionou as exportações para a China, especialmente de soja. Historicamente, há aquela crítica de que exportamos o produto bruto, in natura. Mas, nos últimos anos, temos visto a instalação de agroindústrias que processam a soja aqui mesmo. Como está esse cenário atualmente?

O que temos buscado é exatamente essa agregação de valor. A China, assim como o mercado asiático, é o principal destino. Nosso objetivo é que cada vez mais possamos exportar produtos com valor agregado, e não apenas soja in natura.

Queremos exportar o farelo, o óleo e outros produtos processados. Gradativamente, temos conseguido isso, especialmente devido ao aumento da demanda do mercado chinês por produtos processados. E não é só a China; a demanda mundial por alimentos processados está em crescimento. Goiás está atento à necessidade de investir cada vez mais na estruturação dessas agroindústrias para garantir competitividade diante desse cenário de elevação significativa da demanda por alimentos processados.

Assim, o Estado está totalmente conectado e competitivo com as oportunidades que vêm surgindo no mercado internacional das agroindústrias.

Ton Paulo – O mercado, especialmente o europeu, tem se tornado cada vez mais exigente em relação à sustentabilidade. Alguns países até deixam de comprar de lugares que não oferecem garantias claras de preocupação com o meio ambiente. A Seapa acompanha como os produtores de Goiás estão lidando com essa demanda? Qual o nível de atenção e preocupação que vocês têm aqui no Estado em relação a essa questão?

Essas exigências estão cada vez mais presentes e, inclusive, existem projetos no Parlamento Europeu que preveem essa obrigatoriedade em lei, determinando que só serão adquiridos produtos de países que comprovem essa procedência, não apenas sanitária, mas também ambiental e trabalhista.

Por isso, o governo do Estado de Goiás instituiu um grupo de trabalho multissetorial, que inclui toda a área da agricultura e sanidade animal, junto com a Secretaria do Meio Ambiente e o Ministério do Trabalho, para reunir todas as informações que comprovem que Goiás cumpre todas as legislações. Vale lembrar que a legislação ambiental brasileira é uma das mais exigentes do mundo. Também é importante destacar que o produtor rural em Goiás mantém preservada cerca de 20% da área total do seu imóvel por força dessas leis, e precisamos ser capazes de comprovar ao mercado europeu que Goiás atende a todas essas exigências.

No que diz respeito à gripe aviária e a outras doenças de impacto econômico, Goiás é amplamente reconhecido pelos órgãos de controle sanitário como um Estado que oferece as garantias sanitárias exigidas internacionalmente

Tenho convicção de que, entre todos os estados, Goiás está mais preparado para demonstrar ao Bloco Europeu que cumpre todas essas exigências. Um exemplo que reforça essa confiança é o fato de que o Sistema de Defesa Agropecuária de Goiás (Sidago) está sendo compartilhado com 17 estados brasileiros. Essa é uma tecnologia genuinamente goiana, desenvolvida pela Agrodefesa, e que servirá de base para comprovar ao mercado europeu o cumprimento das exigências pelo Estado de Goiás.

A efetividade do sistema fica comprovada pelo fato de que esses 17 estados utilizam o sistema cedido por Goiás e desenvolvido pela Agrodefesa.

Ton Paulo – Antes do conflito estourar, durante sua recente missão a Israel, foi possível fechar um novo acordo ou estabelecer uma nova parceria? O que o senhor conseguiu concretizar nessa viagem?

Com certeza, o principal resultado que conseguimos trazer foi o compromisso da Embaixada de Israel, dentro do Projeto de Fruticultura do Vão do Paraná, localizado em Flores de Goiás, de instalar uma vitrine tecnológica no projeto. Assim, os produtores envolvidos poderão ter acesso a todas as tecnologias de irrigação, agricultura de precisão e fruticultura que serão disponibilizadas ali no município.

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Pedro Leonardo, secretário de Agricultura, em entrevista ao Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Inclusive, a Prefeitura já se comprometeu a ceder a área para que o governo de Israel, por meio da Embaixada, possa instalar essa vitrine tecnológica, que será de grande utilidade para o projeto de fruticultura e contribuirá para consolidar a região Nordeste de Goiás como um dos principais polos produtivos de frutas do Brasil. Esse talvez seja o principal resultado dessa visita. Essa instalação acontecerá imediatamente. Inclusive, a Embaixada já nos acionou solicitando uma visita a Flores de Goiás para dimensionar a área que será cedida pela Prefeitura.

Ton Paulo – Ano que vem teremos eleições. O governador Ronaldo Caiado deve se lançar candidato a presidente da República, e o vice-governador Daniel Vilela deve ser candidato ao governo de Goiás. Qual a avaliação que o senhor faz desses projetos?

Com relação ao projeto do nosso governador, estou convicto de que ele possui todas as credenciais para fazer com que o Brasil aproveite todo esse cenário de oportunidades que temos observado. O governador Ronaldo Caiado tem um histórico de bons serviços prestados em favor da política nacional e do segmento do agronegócio. Tenho ficado cada vez mais impressionado ao acompanhar o governador, inclusive em outros estados, e perceber o quanto ele tem sido bem recebido, bem como o quanto seu projeto tem ganhado musculatura e reconhecimento em âmbito nacional.

O governador também possui um histórico ligado ao movimento ruralista, tendo sido responsável por materializar na nossa Constituição Federal as diretrizes relacionadas ao direito de propriedade, a partir desse movimento. Portanto, todos esses fatores credenciam o governador como um nome capaz de posicionar o Brasil no cenário internacional e de enfrentar os desafios atuais relacionados à segurança pública, por exemplo.

E o vice-governador Daniel Vilela é, sem dúvida, o nome que dará continuidade a todo o progresso que Goiás vem experimentando. Daniel Vilela possui todas as credenciais necessárias e é um nome que continuará fazendo a diferença nas áreas social e de segurança pública.

Temos observado uma significativa elevação e melhoria nos indicadores sociais do Estado de Goiás, e essa é uma bandeira que Daniel Vilela mantém, dando continuidade a todas as ações inclusivas e à rede de proteção social estabelecida no estado. Nosso vice-governador é o nome que realmente conseguirá dar continuidade e impulsionar ainda mais essas políticas públicas, que têm gerado os resultados positivos que Goiás tem alcançado.