COMPARTILHAR

À frente da recém-criada Secretaria de Estado do Entorno do Distrito Federal desde abril deste ano, o ex-prefeito de Valparaíso, Pábio Mossoró (MDB), fala sobre os desafios de estruturar uma pasta que nasceu em 2023 com a missão de aproximar os municípios goianos da capital federal e articular políticas públicas para a região. Criada por iniciativa do governador Ronaldo Caiado (UB), a secretaria busca atender demandas históricas de mais de 1 milhão de moradores do Entorno, como transporte, mobilidade, saúde, segurança e infraestrutura.

Com experiência política acumulada em dois mandatos como prefeito de Valparaíso e na presidência da Associação dos Municípios Adjacentes a Brasília (Amab), Mossoró avalia o papel da secretaria, o diálogo com prefeitos, parlamentares e governos estadual, distrital e federal, além das perspectivas eleitorais para 2026. Ao longo da entrevista, ele também comenta questões locais, como a situação das contas de sua gestão, o andamento das obras do viaduto da BR-040 e a relação política com aliados e adversários.

Em conversa com o Jornal Opção, o secretário defende o fortalecimento institucional da pasta, destaca a importância da cooperação interfederativa e projeta o futuro político da região, considerada estratégica para a sucessão estadual em Goiás.

Ton Paulo — Quais os principais desafios que o senhor encontrou na Secretaria de Estado do Entorno do Distrito Federal assim que assumiu, em abril?

Primeiro, fiquei feliz por poder contribuir com o governo de Ronaldo Caiado (UB), a convite do vice-governador Daniel Vilela (MDB) e do próprio governador. Estou contente por somar com esse grupo que tem feito a diferença no Entorno. Sabemos que a principal demanda da população da região é a solução do problema do transporte. Encaro esse como o maior desafio.

Fui prefeito de Valparaíso e, hoje, tenho a oportunidade de atuar como secretário. Há tempos venho vivenciando, junto com os demais prefeitos da região, os desafios do transporte. Me considero preparado para essa missão porque, além de ter sido prefeito, também presidi a Associação dos Municípios Adjacentes a Brasília (Amab), que reúne os prefeitos da Região Metropolitana de Brasília — são 29 municípios do estado de Goiás e mais 4 de Minas Gerais.

Assumir a secretaria exigiu, como primeiro desafio, manter o ritmo deixado pela ex-secretária Carol Fleury, que teve a responsabilidade de criar a pasta. A Secretaria do Entorno é recente, criada em 2023, com o propósito de aproximar os municípios do governo de Goiás e intermediar ações com o Distrito Federal (GDF) e o governo federal. É um desafio novo, um aprendizado, mas estou feliz porque a experiência que tive à frente de Valparaíso me credencia para qualquer missão.

Pábio Mossoró: “O maior desafio do Entorno é resolver o problema do transporte” | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

Italo Wolff — De forma concreta, como a Secretaria do Entorno pode realmente impactar a vida das pessoas? Qual é a obra da secretaria?

A secretaria foi criada recentemente e sua estrutura ainda está em consolidação. Até pouco tempo, não havia orçamento próprio. Hoje, já conta com uma estrutura mais robusta, capaz de receber emendas parlamentares e articular ações com os municípios. As demandas envolvem áreas como saúde, educação e infraestrutura.

Historicamente, o Estado esteve um pouco distante do Entorno da capital federal. A criação da secretaria permite direcionar o olhar do governo para essa região. O papel da pasta é justamente esse: intermediar, junto aos municípios, as demandas locais. Deixa de ser uma secretaria apenas representativa e passa a gerar resultados concretos, entregando benefícios. Mas, para isso, é essencial a participação ativa do governo e a vontade política do governador.

A própria criação da secretaria demonstra o compromisso do governador Ronaldo Caiado com a região. Foi uma promessa de campanha, que ele cumpriu. A ex-secretária Carol Fleury teve a missão de estruturar a pasta, e agora o nosso desafio é desenvolver ações em parceria com os municípios, buscar recursos junto ao governo federal, intermediar convênios com o GDF e atuar em conjunto com os demais auxiliares do governo estadual.

Como exemplo concreto, estive recentemente em Planaltina, onde há uma igreja centenária que é um importante ponto turístico. A Secretaria do Entorno tem articulado ações nessa área também. Quando as pessoas visitam Brasília, falam apenas do seu potencial político, administrativo e turístico, mas não conhecem o Entorno. E a região tem muitos atrativos: as lagoas de Formosa e Planaltina, Pirenópolis — que está próxima a Brasília —, a Rota do Vinho, que passa por Cocalzinho e Alexânia. Além da gastronomia, há um enorme potencial turístico. O que estamos fazendo é divulgar esse potencial de Goiás que ainda é pouco conhecido.

Ton Paulo — Qual é a sua avaliação sobre o orçamento disponível atualmente? Sabemos que a secretaria é recente e possui um orçamento consideravelmente menor em comparação com outras pastas. Há recursos suficientes para executar o que o senhor planeja?

Hoje, o governo tem dado todo o apoio necessário para manter nossa estrutura e desenvolver nossas ações. É claro que, por ser uma pasta recém-criada, ainda depende de dotações orçamentárias para executar outras iniciativas.

Atualmente, estamos finalizando um plano estratégico de diagnóstico, que vai nos mostrar onde podemos buscar investimentos. Até porque qualquer tipo de investimento ou benefício que a secretaria pretenda realizar depende, necessariamente, da Secretaria da Fazenda.

IMG_1355
Secretário Pábio Mossoró concede entrevista aos jornalistas Italo Wolff e Ton Paulo | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Ton Paulo — Como é o seu diálogo hoje com o Governo do Distrito Federal e com o governador Ibaneis Rocha (MDB)?

O diálogo sempre foi muito bom, até porque sou do MDB e tive o apoio do governador Ibaneis na minha eleição. Tanto na minha eleição quanto agora, na eleição do prefeito Marcus Vinícius — que foi secretário municipal de Infraestrutura na minha gestão —, nossa relação sempre foi positiva.

Criamos um canal de diálogo com os auxiliares do Governo do DF nas áreas da saúde, segurança e educação. Estamos hoje trabalhando e formulando algumas ações com o apoio também do governo do Distrito Federal.

O transporte, por exemplo, é prioridade tanto para Goiás quanto para o DF, porque Brasília recebe diariamente uma grande quantidade de mão de obra vinda do Entorno. São milhares de trabalhadores que moram em cidades goianas e se deslocam diariamente para trabalhar no DF.

Em contrapartida, estamos planejando ações nas áreas da saúde e da segurança pública. O próprio DF está completamente cercado pelo território de Goiás, então precisamos construir estratégias integradas para, por exemplo, combater a criminalidade. Isso só é possível com cooperação e integração entre as inteligências das forças de segurança dos dois lados.

Ítalo Wolff — E quanto à relação com os prefeitos do Entorno? O senhor, além de ser secretário de Estado, é um político da região. Nem todos os prefeitos do Entorno estão na base do governo estadual. Como o senhor equilibra a relação pessoal e política com a obrigação institucional de prestar assistência e estar presente em todas as cidades, independentemente do partido dos prefeitos?

O Entorno será decisivo em 2026. Minha função como secretário é atender às demandas dos prefeitos, fazer com que os serviços cheguem à população. É claro que, se o trabalho for bem feito, nosso grupo colhe um ganho político

Acho que essa avaliação quem deve fazer são os próprios prefeitos. Da minha parte, garanto que busco manter um diálogo republicano e respeitoso com todos. Entendo que cada prefeito tem seus compromissos políticos, e o papel do governo é tratar das questões administrativas.

Meu foco é realizar entregas administrativas para todos os municípios. Tenho trabalhado com respeito institucional, independentemente de alinhamentos partidários. É natural que existam algumas indiferenças — estamos numa região politicamente muito disputada —, mas acredito que o Entorno tem espaço para todos. A soma do Entorno pode ser muito maior do que as disputas individuais.

Minha função à frente da secretaria é manter o Entorno unido e trabalhar para que a região tenha um papel relevante nas eleições de 2026, especialmente no processo de sucessão do governador Ronaldo Caiado. Nosso objetivo é apoiar o nome do nosso candidato, Daniel Vilela.

Ítalo Wolff — A região tem um milhão de habitantes, sendo cerca de 700 mil eleitores. Como o senhor e seu grupo político podem colaborar com o projeto de Daniel Vilela governador em 2026? Como avançar com esse projeto sem deixar de cumprir as obrigações institucionais?

É claro que, se eu conseguir desenvolver ações efetivas e entregar bons resultados à frente da secretaria, vamos colher ganhos políticos. O próprio governador Ronaldo Caiado já demonstrou que o Entorno foi decisivo em suas duas vitórias, em 2018 e 2022.

Acreditamos que, mais uma vez, a região terá papel decisivo no processo eleitoral. Minha função como secretário é atender às demandas dos prefeitos, fazer com que os serviços cheguem aos municípios e buscar cooperação entre as esferas municipal, estadual e federal. O objetivo é que o governo colha um ganho político indireto, fruto das entregas feitas à população, e que essa credibilidade seja transferida à base de apoio do nosso candidato, Daniel Vilela.

Pabio Mossoró foto Guilherme Alves 1
“Meu foco é realizar entregas administrativas para todo o Entorno, independentemente de partido.”, diz Pábio Mossoró | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

Ton Paulo — O prefeito de Valparaíso hoje, Marcus Vinícius, foi seu secretário e foi eleito com seu apoio. O senhor continua acompanhando a gestão? Qual é o seu grau de participação na administração atual?

É uma boa pergunta, até porque gostaria de esclarecer essa questão para a população. Tive a oportunidade de ser prefeito por dois mandatos. Minha vice, Zeli Fritsche (UB), conquistou espaço e hoje é deputada estadual. Meu então secretário de Obras, Marcus Vinícius, tornou-se meu sucessor. Naturalmente, fomos construindo um grupo e conquistando espaço. É claro que compartilhamos um capital político, mas a responsabilidade de cada mandato é individual. Em Valparaíso, a gestão é de responsabilidade do prefeito Marcus Vinícius.

Minha participação acontece quando sou comunicado ou convidado. Nessas ocasiões, com minha experiência política, ofereço orientações. Tivemos algumas conversas informais, mas quem toma as decisões é o prefeito. Ele escolhe sua equipe e tem o desafio de fazer uma gestão de superação, até porque deixamos um governo bem avaliado.

Minha experiência com a ex-aliada Lêda Borges (PSDB) me ensinou muito. Na época, ela me pressionava, queria interferir e dar direcionamentos para a gestão. Isso me fez entender a importância de dar autonomia ao Marcus. Foi uma lição — um exemplo negativo — que me ajudou a enxergar a necessidade de recuar em termos administrativos.

O Marcus é nosso parceiro político, um gestor competente, e acredito no seu potencial. Mas o prefeito é ele. Hoje, as decisões são tomadas por ele. Quando precisa de orientação, pelo fato de eu já ter ocupado o cargo, ofereço meu apoio — mas sempre respeitando sua autonomia.

Ton Paulo — Muitos cargos na Prefeitura foram indicados pelo senhor. Isso já não representa uma presença sua na atual gestão?

Não, até porque o grupo é o mesmo. O Marcus fez alguns remanejamentos, mas foi o nosso grupo em comum que o apoiou, que deu sustentação e acreditou no projeto. Muitos dos auxiliares que continuaram têm perfil técnico e profissional, e tiveram a oportunidade de contribuir também na minha gestão. O importante é ressaltar que, mesmo sendo um governo de continuidade, hoje o prefeito é o Marcus, e a gestão tem as características dele. O direcionamento parte do prefeito.

Ton Paulo — Como está sua relação com a deputada federal Lêda Borges, principalmente depois da eleição do ano passado? Ainda há algum tipo de diálogo com ela?

Desde 2020, ela impôs um rompimento. Para resumir: apoiei a Lêda como candidata a prefeita de Valparaíso em 2004, quando ela perdeu. Apoiei novamente em 2008, quando ela venceu a eleição e eu fui eleito vereador. Em 2012, ela perdeu a reeleição e eu fui reeleito vereador. Em 2014, nosso grupo — então liderado por ela — a ajudou a se eleger deputada estadual. Em 2016, fui candidato a prefeito com apoio dela. Naquele momento, Lêda estava no governo Marconi Perillo (PSDB), como secretária estadual de Desenvolvimento Social.

Em 2018, ela foi reeleita deputada estadual com meu apoio. Mas no final de 2019, ao me preparar para disputar a eleição de 2020, decidi sair do PSDB e me filiar ao MDB. Fui reeleito prefeito com sucesso, e, a partir daí, houve o rompimento por parte dela.

Meu tratamento com a deputada sempre foi republicano e respeitoso. Porém, em contrapartida, durante meu mandato, ela não ajudou a cidade, mesmo tendo oportunidade — agora como deputada federal eleita em 2022. Na campanha ela prometeu destinar R$ 80 milhões para Valparaíso, e até agora só destinou R$ 4 milhões. Então, quem tem dívida com o entorno e com Valparaíso é a deputada.

IMG_1541
“Não adianta indicar apenas um vice técnico; é preciso alguém que tenha votos e capacidade de gestão.”, diz Pábio Mossoró | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Hoje, ela está em tratativas com o prefeito Marcus Vinícius. Inclusive, disse ao próprio prefeito que precisamos pensar na cidade e pensar grande. Se ela quiser ajudar Valparaíso, da minha parte não há nenhum tipo de impedimento. Considero que é uma obrigação dela, como representante legítima da cidade.

Agora surgiu uma nova oportunidade de diálogo entre Lêda e o município, com vistas ao cenário de 2026. Mas vamos agir com naturalidade. O grupo liderado pelo prefeito Marcus Vinícius, por mim e pela deputada Zeli Fritsche continua unido. Vamos trabalhar para caminhar juntos nas eleições de 2026.

Ítalo Wolff — Agora existe a possibilidade de Lêda Borges deixar o PSDB e ir para o União Brasil ou para o Republicanos. Como o senhor vê essa movimentação, considerando a chance de ela integrar partidos da base do governo estadual?

Ela já tem apoiado o governador mesmo estando no PSDB. Minha impressão é de que está vendo uma oportunidade. O governador está muito bem avaliado e com grande chance de viabilizar Daniel Vilela como sucessor. No PSDB, os dois primeiros mandatos de Lêda como deputada estadual foram totalmente contra Ronaldo Caiado. Depois de eleita deputada federal, percebeu que o grupo do ex-governador Marconi Perillo enfraqueceu e começou um distanciamento gradual ao longo do mandato.

Hoje, acredito que a sustentação dela no PSDB é inviável, até porque o Marconi preza pela lealdade, e Lêda deixou de ser leal a ele para apoiar o governo Caiado. Estou muito tranquilo quanto a isso, porque nosso objetivo é maior do que uma candidatura de deputada federal de uma adversária que, futuramente, pode voltar a se alinhar a Marconi.

Sempre tive lado na política. Cresci pela minha lealdade e fidelidade ao grupo, e os resultados estão aí: vencemos três eleições seguidas contra ela. Na última, Marcus Vinícius teve 42 mil votos contra 13 mil do candidato apoiado por Lêda Borges.

Ítalo Wolff — Como foram os diálogos dentro do grupo para definir que o senhor seria candidato a deputado federal e a deputada Zeli Fritsche buscaria a reeleição como estadual?

A Zeli já ocupa o mandato de deputada estadual, então é natural que busque a reeleição, e está trabalhando para isso. O espaço aberto hoje é a candidatura a deputado federal. Esse diálogo foi feito com todo respeito ao deputado Célio Silveira (MDB), que ajudou muito Valparaíso.

Célio tem atuação em diversas prefeituras, não apenas no Entorno, mas em todo Goiás. Como a região pode ter uma representação maior na Câmara Federal, e considerando minha boa avaliação como prefeito, acredito que, com apoio de alguns municípios, podemos viabilizar minha candidatura a deputado federal.

Ton Paulo — Outros nomes estão se movimentando, como Maria Yvelônia, que deve disputar vaga estadual ou federal. Como o senhor avalia o surgimento dessas pré-candidaturas?

A política precisa de renovação constante. A própria Maria Yvelônia já foi candidata a prefeita e teve cerca de 7 mil votos. Agora ela projeta uma candidatura. Sei que a vontade dela é ser prefeita de Valparaíso e, muitas vezes, ficar fora do cenário político afasta esse objetivo. Estou tranquilo em relação a isso, porque minha candidatura a deputado federal não será imposta.

Ela está sendo construída em diálogo, inclusive com Daniel Vilela. Estamos aguardando o momento certo para conversar também com o governador Ronaldo Caiado, nosso líder. Vamos chegar a um denominador que seja importante tanto para Goiás quanto para o Entorno. O fundamental é que defendo a região e acredito que o Entorno precisa de representação forte.

O governador sempre destacou a importância da região, e quem representa o Entorno precisa assumir essa responsabilidade. É nesse contexto que apresento minha pré-candidatura a deputado federal, com o objetivo de fomentar, desenvolver e participar de ações que beneficiem o Entorno e todo o Estado de Goiás.

IMG_1527
Pábio Mossoró: “Se até o fim do mandato conseguirmos assinar o consórcio interfederativo com o DF para o transporte, já será um legado positivo.” | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Ítalo Wolff — Temos também a pré-candidatura de Josceline Martins, esposa do prefeito de Novo Gama, Carlinhos do Mangão (PL), a deputada estadual. Como o senhor enxerga esse movimento?

Acredito que os políticos devem buscar espaço. O prefeito Carlinhos está justamente fazendo isso, ao apoiar a pré-candidatura da esposa. A avaliação sobre essa possibilidade cabe ao grupo político dele. Sempre fui de grupo. Em Valparaíso, respeitei as decisões coletivas.

É claro que a voz feminina engrandece a discussão no parlamento, mas, nesse caso, a decisão política é do grupo de Novo Gama. No meu caso, mesmo estando bem avaliado, poderia ter lançado meu irmão como candidato a prefeito ou a vereador. Mas o grupo nem cogitou, porque o poder não pode ser perpétuo. O mandato é transitório.

Tive a tranquilidade de pertencer a um grupo com lideranças capazes de dar continuidade. A maior prova disso foi a eleição de Marcus Vinícius como prefeito de Valparaíso.

Ton Paulo — Recentemente, saíram dois pareceres do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM): um recomendando a rejeição das suas contas como prefeito de Valparaíso e outro recomendando a aprovação com ressalvas. O que aconteceu exatamente? Por que houve o primeiro parecer pela rejeição?

Em 2020, recebemos o auxílio financeiro do governo federal. O orçamento, como se sabe, é votado no exercício anterior — em 2019, a Câmara aprovou o orçamento de 2020. Quando chegou o aporte federal, houve necessidade de suplementação.

O que fizemos foi aguardar a confirmação da chegada desse recurso, até porque havia uma prerrogativa, inclusive normativa do próprio Tribunal de Contas, autorizando que, caso os municípios recebessem esse aporte, poderiam solicitar às Câmaras Municipais a suplementação. Assim que houve a sinalização da liberação, solicitamos imediatamente a autorização do Legislativo e fizemos as ações necessárias com os recursos recebidos, além de resolver pendências do balancete relacionadas à dívida ativa.

O município já vinha com um passivo desde gestões anteriores — da Lêda, da Lucimar e também no início do meu governo, que herdou essa dívida. Nossa equipe contábil foi regulamentando esse passivo, e hoje o prefeito Marcus Vinícius terá uma dívida mais controlável justamente pelo trabalho realizado.

Entramos com recurso ordinário, solicitando a revisão e a análise do balancete inicialmente recomendado para rejeição. O próprio tribunal reconheceu que as falhas haviam sido corrigidas e, logo em seguida, emitiu parecer pela aprovação com ressalvas.

Ton Paulo — Só para deixar claro: as contas ainda não foram apreciadas pela Câmara?

Isso mesmo, elas estão em tramitação. Tenho conversado diariamente com os vereadores de forma satisfatória. Estive reunido com eles, e nossa equipe jurídica e contábil se colocou à disposição para sanar todas as dúvidas.

É importante lembrar que a Câmara tem o poder de aprovar ou rejeitar, mas temos trabalhado para que essa tramitação não se torne política. Existe uma rivalidade entre meu grupo e o grupo da Lêda Borges. Ela tem acesso a alguns vereadores e tem tentado convencê-los a votar contra minhas contas justamente para tentar me tirar do páreo.

Não acredito que o risco seja grande. Confio na atuação dos parlamentares, até porque já estive vereador e conheço a seriedade da Câmara de Valparaíso em relação à coisa pública e às obrigações de fiscalização. Como o próprio Tribunal recomendou a aprovação com ressalvas, espero que os vereadores entendam isso e sigam a recomendação. Tenho dialogado diariamente com eles e estou confiante nesse sentido.

Ton Paulo — Faltam poucos meses para 2026, ano eleitoral. As chapas já estão se formando, e há comentários de que o vice de Daniel Vilela na disputa pelo Palácio das Esmeraldas pode sair do Entorno. O senhor vislumbra nomes que poderiam ocupar esse posto ao lado do atual vice-governador?

Acredito que o Entorno tem um potencial gigantesco. Não desmerecendo outras regiões, mas ficou demonstrado nas duas últimas eleições que o Entorno foi decisivo. Vejo que temos um quadro de prefeitos com quantidade e qualidade para assumir a função de vice-governador. Além deles, há também lideranças como o deputado Célio Silveira, a deputada Zeli Fritsche e o deputado estadual Wilde Cambão (PSD).

Hoje, contamos com cinco deputados estaduais da região: Cristóvão Tormin (PRD), Anderson Teodoro (Avante), André do Premium (Avante), Ricardo Quirino (Republicanos), Zeli Fritsche (UB) e Wilde Cambão. Na esfera federal, temos a deputada Lêda Borges e o deputado Célio Silveira. Ou seja, o Entorno conquistou uma representatividade significativa tanto na Alego quanto na Câmara dos Deputados.

Como sou do Entorno, naturalmente defendo que o vice seja escolhido daqui. Nosso papel é manter o grupo unido para que tenha força de participar das discussões e da composição da chapa que será formada no próximo ano para a eleição de 2026. Acredito que estamos no páreo nessa disputa.

A última pesquisa mostra Daniel Vilela em primeiro lugar, mas com o ex-governador Marconi Perillo próximo. Isso será decisivo na escolha do vice. Não adianta indicar apenas um nome técnico que não tenha voto. É preciso alguém responsável, que consiga atrair votos e, ao mesmo tempo, tenha capacidade de gestão. O vice precisa ter experiência, como o próprio Daniel Vilela demonstrou: antes de assumir a vice-governadoria, foi deputado estadual, deputado federal e construiu uma bagagem política.

Pábio Mossoró e Marcus Vinicius e Zeli Fritsche e Waguinho Paixão Foto Divulgação
Pábio Mossoró, Marcus Vinicius, Zeli Fritsche e Waguinho Paixão: | Foto: Divulgação

Ton Paulo — Quando o senhor se licenciar para concorrer às eleições em 2026, qual legado pretende deixar à frente da Secretaria?

Estarei menos de um ano à frente da pasta. Acredito que o principal legado é consolidar o respeito que a secretaria já vem conquistando. Entre as prioridades, destaco a busca por resolver a questão do consórcio interfederativo com o Distrito Federal para solucionar definitivamente o problema do transporte.

A secretaria tem uma função estratégica de articular a mobilidade entre as cidades do Entorno e o Distrito Federal. Por ser uma pasta recente, considero que, se até o final do nosso mandato conseguirmos assinar esse convênio e colocá-lo em funcionamento, já será um legado positivo.

O mais importante é garantir que a secretaria se torne uma estrutura robusta no futuro, capaz de firmar convênios com o DF, parcerias com o governo federal e levar ações concretas para toda a região. Moro no Entorno há mais de 40 anos e sempre ouvi falar da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride), mas, na prática, ela ficou apenas no papel. Agora, com a criação da Secretaria do Entorno em Goiás, em paralelo à pasta criada pelo Distrito Federal, é possível firmar convênios, buscar dotações orçamentárias, desenvolver projetos e captar recursos federais para execução.

Existem instituições como a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), com as quais a secretaria pode articular parcerias. Esse movimento fortalece a interlocução com parlamentares em prol da região. Como prefeitos já têm seus compromissos políticos locais, muitas vezes essa integração fica dificultada. Daí a importância de uma secretaria estadual voltada especificamente para o Entorno, capaz de trazer resultados efetivos para a população.

Ítalo Wolff — O Jornal Opção do Entorno noticiou recentemente que as obras do viaduto da BR-040, iniciadas na sua gestão como prefeito, estão paradas. Qual foi a dificuldade? Houve algum imprevisto na execução? Agora, na Secretaria, o que pode ser feito? O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) pode assumir a obra?

Na verdade, a obra não está parada, mas em ritmo lento. O atual prefeito de Valparaíso identificou a possibilidade de buscar uma parceria com o governo federal. Na minha gestão, a rodovia ainda estava sob concessão; depois, ela foi devolvida e voltou a ser administrada pelo governo federal. Com isso, surgiram anúncios de novos investimentos, e o prefeito Marcus Vinícius enxergou a oportunidade de concluir o viaduto com apoio do governo federal.

Falta algo em torno de R$ 15 a 18 milhões para a finalização. Se a parceria for consolidada, os recursos municipais que já estavam destinados à obra poderão ser utilizados em outras demandas da cidade. O município tem orçamento previsto para o viaduto, mas o prefeito entendeu que pode captar o recurso federal.

O deputado Célio Silveira e o prefeito já estiveram em reunião com o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB). Eu também participei de uma das audiências, em que o ministro deixou claro que o governo federal vai assumir a obra, pois ela sempre foi prioridade.

É importante destacar que tive a ousadia de iniciar esse viaduto, porque a população não suportava mais a situação. A BR-040 corta a cidade, e os moradores enfrentam grandes dificuldades para atravessar de um lado para o outro em praticamente qualquer horário do dia.