Marcelo Granja: “A Polícia Militar de Goiás nunca combateu tanto o tráfico de drogas como agora”
15 novembro 2025 às 21h00

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Integrante da Polícia Militar do Estado de Goiás desde 1995, o coronel Marcelo Granja é, desde 2024, o comandante-geral da corporação. Antes disso, pertenceu ao Comando de Policiamento da Capital, foi responsável pelo Comando de Operações do Cerrado e do Comando de Missões Especiais e também esteve à frente da assessoria de comunicação da PMGO.
Nesta entrevista ao Jornal Opção, Granja comemora os avanços da segurança pública no Estado e destaca como a corporação tem atuado para alcançar resultados que podem ser vistos pela população. Para ele, a Polícia Militar passou a combater o crime com início, meio e fim — o que explica as significativas reduções nos índices criminais em solo goiano. Aliado a isso, o coronel Granja pontua que o governador Ronaldo Caiado (UB) fez questão de colocar pessoas técnicas nos lugares certos e de valorizar os policiais militares, além de investir em armamentos de ponta, viaturas completamente equipadas e em um serviço de inteligência mais robusto.
O comandante-geral destaca alguns números, como a apreensão de 245 toneladas de drogas desde 2018 e a ausência de registros de crimes como assaltos a bancos e carros-fortes. Durante a entrevista, ele afirmou que o governador faz questão de acompanhar tudo o que diz respeito à área de segurança pública, inclusive agradecendo pessoalmente aos policiais que estão à frente das operações.
Granja também afirmou que, caso Ronaldo Caiado venha a se tornar presidente do país, quem ganha é a sociedade brasileira, diante dos resultados obtidos em Goiás. Ele ainda pontuou os desafios no combate ao feminicídio, a atenção dada aos policiais militares que precisam ser afastados por motivos de saúde mental e as medidas adotadas para lidar com excessos dentro da corporação — preservando a lisura de uma instituição com 167 anos de história no Estado.
Ton Paulo – Um levantamento recente do Instituto Fogo Cruzado trouxe um mapeamento que Goiás contava com 125 laboratórios de cocaína, o maior número do país. Esse número encontra respaldo na realidade? Qual tem sido o trabalho da Polícia Militar para combater esses laboratórios?
Possuímos algumas tropas especializadas que realizam a apreensão de drogas em todo o Estado. Isso acontece, principalmente, com o apoio do serviço de inteligência, que corresponde a 20% do efetivo da corporação. Contamos com o Batalhão de Divisas, que pertence ao Comando de Operações do Cerrado (COC), que atua nas divisas de Goiás com outros estados. Esse trabalho também é feito em conjunto com o Comando de Policiamento Rodoviário e o TOR (Tático Operacional Rodoviário), que é um novo batalhão que criamos com o aval do governador Ronaldo Caiado (UB).
Outra ferramenta é o Comando de Operações Especiais, do qual fazem parte o Batalhão de Choque, o Grupo de Radiopatrulha Aérea (Graer), o Batalhão de Eventos e o Batalhão de Policiamento com Cães. Este último trabalha em conjunto com o Comando de Policiamento Rodoviário e atua nas regionais do Estado. Os cães são preparados para localizar drogas e até armas de fogo.
Agora, sobre pesquisas, elas devem ser analisadas, avaliadas e verificadas quanto à veracidade dos fatos. A Polícia Militar de Goiás nunca combateu tanto o crime e o tráfico de drogas como agora. Nós temos monitorado vários integrantes de facções criminosas que têm saído de Goiás e ido para outros estados porque sabem que, se permanecerem aqui, vão ser presos e, se confrontarem, vão levar a pior.
Temos o melhor armamento existente no mercado atualmente, temos boas viaturas, ótimos treinamentos e um governo que investe no pessoal e no profissional, com promoções e melhores condições de trabalho. Já foram mais de 245 toneladas de drogas apreendidas desde 2018, uma média de 42 toneladas por ano, e continuamos trabalhando com um policiamento ostensivo, preventivo e até mesmo repressivo.
João Paulo Alexandre – Mas essas informações não auxiliam a corporação no trabalho de planejamento para coibir o avanço do tráfico dentro do Estado?
Toda informação é bem-vinda. A Polícia Militar trabalha com informações da sociedade e dos meios de comunicação. Qualquer fato que chegue ao nosso conhecimento, tomamos as providências imediatas. Toda pesquisa que seja voltada à Segurança Pública, com fundamentos legais, a Polícia Militar utiliza como meio de análise e, principalmente, para organizar as nossas operações.
Os policiais continuam fazendo o trabalho ostensivo diário, por meio das abordagens sob fundada suspeita. É nesse trabalho que nós retiramos armas de fogo, encontramos foragidos da Justiça e recuperamos veículos. Estamos em uma curva decrescente na criminalidade, e a quantidade de veículos furtados e roubados, por exemplo, está sempre em queda. Antes, chegamos a registrar períodos em que eram roubados até 900 veículos por mês em Goiás. Estamos falando de 30 veículos por dia no Estado. Hoje, temos dias em que não registramos nenhum roubo de veículo no Goiás.
Ton Paulo – O vice-governador Daniel Vilela falou ao Jornal Opção sobre o novo modelo de monitoramento que está sendo implantado no Estado. Esse modelo consiste em busca ativa e é impulsionado por inteligência artificial, que consegue localizar de forma rápida e certeira foragidos e carros roubados, por exemplo. Como está funcionando para a Polícia Militar?
Já está sendo implantado. A Secretaria de Segurança Pública vem tomando conta dessa parte. A nossa parte consiste em solicitar aos comandantes das regiões os pontos específicos em que essas câmeras serão instaladas. Já iniciamos a instalação de câmeras pelo Entorno do Distrito Federal, e esse sistema de videomonitoramento não vai se limitar às cidades, dentro delas, pois também será instalado nas rodovias estaduais, como forma estratégica.
Os comandantes regionais conhecem as suas respectivas áreas, e essas câmeras serão importantíssimas para dar seguimento à redução da criminalidade. É um sistema integrado, que agora também conta com reconhecimento facial para que consigamos identificar e prender foragidos da Justiça. Estamos também com uma solicitação para que câmeras particulares voltadas para a rua possam ser utilizadas pelas forças de segurança pública.
Veja se o bandido não pensará duas vezes antes de cometer um crime em Goiás.
João Paulo Alexandre – Esse sistema de monitoramento também tem sido implantado no transporte coletivo. Quais os resultados trazidos?
Tivemos uma redução drástica nos crimes cometidos, tanto em terminais quanto em ônibus. Estamos falando de uma queda de mais de 70% na quantidade de furtos e roubos a passageiros do transporte coletivo. Sem falar que Goiás possui o Batalhão de Terminal, voltado para a fiscalização, o acompanhamento dos terminais, dos ônibus e de pessoas com atitudes suspeitas, onde são feitas abordagens.
Hoje, há um trabalho de prevenção do Batalhão de Terminal para a retirada dessas pessoas que estavam cometendo crimes nesses locais. Porque quem comete furto dentro de ônibus é, geralmente, o mesmo indivíduo. Mas, como é um crime de menor potencial ofensivo e, muitas vezes, o autor não fica preso, sendo liberado na audiência de custódia, ele volta a cometer os crimes.
Agora, estamos produzindo relatórios das ações desses indivíduos em determinados terminais, com a ajuda da identificação facial, e temos conseguido que eles fiquem mais tempo presos. Pois, com a manutenção dessas prisões, estamos falando, automaticamente, em uma redução de 80% da criminalidade nos terminais da Grande Goiânia.

Ton Paulo – Dados da Segurança Pública e de anuários mostram uma queda generalizada nos índices de criminalidade, como homicídios, latrocínios, roubo de carros, mas há dois que ainda são preocupantes: feminicídios e estupros. O que tem sido feito pela Polícia Militar para reduzir esses índices em Goiás? Qual a atenção dada para a mulher especificamente?
Tínhamos um Batalhão Maria da Penha, que ficava em Goiânia, e, em conversa com o secretário de Segurança Pública, Coronel Renato Brum, e com o governador Ronaldo Caiado, criamos mais três Batalhões Maria da Penha, sendo outro na capital, um no Entorno do Distrito Federal e um em Rio Verde.
Estamos trabalhando junto ao Tribunal de Justiça de Goiás para que possamos fazer as devidas alterações cadastrais necessárias no sistema das mulheres que têm medidas protetivas e que são acompanhadas por nós, a fim de evitar a burocracia de ela informar primeiro ao Tribunal e depois o caso ser repassado para a equipe policial.
Vale ressaltar que o número de mulheres assistidas pelos Batalhões Maria da Penha que foram a óbito é praticamente mínimo. Quase 100% das mulheres vítimas de feminicídio não foram acompanhadas pelo batalhão. É um crime difícil de se evitar, não somente em Goiás, mas em todo o país e no mundo, porque ocorre no meio doméstico, dentro da residência. Às vezes, a mulher já está separada do marido ou do namorado, ele marca um encontro, sai da casa dela, vai a esse encontro e ele a mata.
É problemático evitar um feminicídio dentro de um apartamento ou dentro de uma casa. O que podemos fazer é garantir que essa mulher, a partir do momento em que consegue identificar qualquer agressão, seja ela verbal ou física, possa tomar as medidas necessárias. O que acontece é que essa mulher, às vezes, sofre agressões verbais, psicológicas ou físicas e vai deixando. Há situações em que, quando a vítima decide chamar a Polícia Militar e a equipe vai até o local para conduzi-la à Polícia Civil, ela volta atrás na decisão de formalizar a denúncia.
Nesse momento, colocamos em prática os cursos específicos que são realizados para os militares do Batalhão Maria da Penha. Esses cursos têm o objetivo de evitar que os policiais façam julgamento da vítima — que já foi agredida de todas as formas — no momento da ocorrência. Eles têm que ser uma mão amiga. É esse amparo que a mulher vítima de violência quer receber na hora; ela necessita de apoio. Não pode ser uma abordagem condenatória.
João Paulo Alexandre – E essa especialização é contínua?
Sim. Os alunos que se formaram no último concurso da Polícia Militar tiveram o curso da Maria da Penha incluso na grade de estudos. Hoje, há sempre uma policial na patrulha que também passou por esse curso, até para saber como se vai tratar essa mulher e como identificar essa violência. Porque, muitas vezes, essa vítima quer, através de um gesto, passar uma informação para os policiais militares. Treinamento constante, aprimoramento e os cursos são o que têm feito a diferença para o sucesso que nós temos em Goiás.
Ton Paulo – Falando ainda da presença feminina na corporação, qual é a porcentagem de mulheres na corporação, principalmente em cargos de comando?
Na Polícia Militar, 10% das vagas dos concursos são para as mulheres. É importante deixar registrado que o policiamento feito em Goiás é ostensivo e preventivo, e exige muito da força física, imobilização e outras atividades. Nós temos várias coronéis em cargos de chefia, como na odontologia, por exemplo. Tivemos algumas que foram para a reserva também, mas a porcentagem de chegada aos postos de comando é bem relativa, mesmo com 90% dos que adentram na Polícia Militar sendo homens. E todo o prazo é o mesmo. Depois que se adentra na corporação, os prazos de interstício para as promoções são os mesmos.
Ton Paulo – Recentemente, houve um episódio em que um coronel da Polícia Militar e um delegado da Polícia Civil se desentenderam nas redes sociais. Eles foram transferidos de suas funções. Porém, como a corporação vê esse tipo de situação? A imagem da corporação não fica ruim perante à sociedade? E por que não houve o afastamento e só uma transferência nesse caso?
Não podemos deixar que opiniões individuais afetem a instituição. A Polícia Militar do Estado de Goiás tem a 5ª Seção do Estado-Maior, que é específica para tratar com toda a imprensa. Nós não colocamos barreiras para falar com a imprensa, mas somos uma instituição militar, então é necessário ter autorização para se manifestar. Porque opiniões pessoais, quando o policial militar as expõe devidamente fardado, automaticamente, representam uma fala em nome da instituição e do Estado. Temos que tomar cuidado com isso.
Houve esse caso em que eles estavam em suas redes sociais particulares, e nós tomamos as medidas necessárias. Fizemos a transferência do coronel do Comando de Policiamento Rodoviário para outra seção do Estado-Maior. Sobre a transferência, ele estava em sua rede social particular, o que é diferente se estivesse fardado ou em uma emissora, representando a instituição. Temos uma preocupação muito grande com essas redes sociais pessoais. Mesmo estando em trajes civis, o cidadão pode identificá-lo como policial militar, e ele precisa saber que a fala dele tem força diante da sociedade.
Ton Paulo – Não há uma orientação sobre o uso das redes sociais, quanto a posicionamentos pessoais, aos policiais militares?
Nós temos um manual da Assessoria de Comunicação da Polícia Militar, que foi recentemente publicado. Ele orienta que, quando se for participar de uma entrevista ou solenidade, não se deve tecer comentários pessoais, e sim falar em nome da instituição. Tínhamos algumas diretrizes e, agora, consolidamos tudo nesse manual. As medidas foram tomadas não só pela Polícia Militar, mas também pela Polícia Civil.
O secretário de Segurança Pública entendeu que tínhamos que tomar algumas medidas necessárias até para evitar isso. Porque pode aparentar que as instituições estão brigando por causa dessas desavenças pessoais, e não é a realidade. Temos que deixar isso bem claro.
Foi emitida uma nota conjunta assinada pelo secretário Renato Brum, por mim e pelo delegado-geral André Ganga que mostra que não se trata de uma briga institucional, e sim de uma questão pessoal, e que nós iríamos tomar as providências cabíveis. Isso serviu para mostrar, principalmente, o fortalecimento da Secretaria de Segurança Pública, do Governo do Estado de Goiás, e que nós estamos trabalhando juntos, de forma integrada, visando o bem maior que é a segurança da nossa comunidade.
João Paulo Alexandre – Como a corporação lida com a questão da saúde mental dos policiais militares, uma vez que o exercício da profissão pode acarretar grande estresse emocional?
Temos, hoje, um Comando de Saúde voltado para a questão do cuidado com o policial militar. Tivemos, neste último concurso, mais de 50 profissionais aprovados na área da saúde, sejam eles odontólogos, médicos ou psicólogos.
Editamos recentemente uma portaria que determina que, em todo confronto que envolve policiais militares, o comandante da unidade regional deve apresentar esse policial ao Comando de Saúde em até 72 horas. Isso é obrigatório. Fizemos isso porque nos preocupamos com esse profissional e temos trabalhado com esse policial que, a partir do momento em que ele é encaminhado para a psicologia da Polícia Militar, não se trata de uma questão de afastamento, mas de verificação de seu bem-estar, inclusive para analisar se ele tem sido envolvido em vários confrontos. Essa é uma preocupação constante do comando da instituição.
Hoje, temos um Hospital da Polícia Militar voltado para o profissional, para que ele tenha esse diagnóstico imediato. Estamos equipando esse hospital com os melhores recursos possíveis, e a Polícia Militar do Estado de Goiás é uma das poucas forças de segurança pública que possui um hospital próprio voltado ao cuidado dos policiais militares e de seus familiares.
João Paulo Alexandre – Mas qual o índice de policiais afastados em relação à saúde mental? Esse monitoramento é realizado?
Monitoramos da seguinte forma: a partir do momento em que identificamos que um policial militar começa a apresentar alterações durante o seu horário de folga, com a arma de fogo da instituição, nós o encaminhamos imediatamente para o Comando de Saúde, para passar por avaliações psicológicas. Identificando que ele necessita de tratamento, já editamos a portaria retirando a arma de fogo desse policial, visando, principalmente, o bem dele, de quem o cerca e o retorno ao tratamento específico.
Temos vários afastamentos na Polícia Militar por vários motivos, e nos preocupamos com todos, mas o que recebe mais atenção é aquele em que o profissional necessita de apoio psicológico, pois ele está com uma arma de fogo, representando o Estado e a Polícia Militar. Estando sob posse de uma arma e com um problema psicológico, ele pode causar uma tragédia.
Buscamos nos antecipar sempre. A partir do momento em que o comandante da unidade ou o comandante regional identifica esse profissional com algumas alterações, ele já começa a analisar e faz o acompanhamento com a família do policial, que nos ajuda bastante. A família é muito importante, inclusive, na identificação dentro de casa, porque, se ele não apresentar alterações de comportamento no serviço ou fora dele, a única forma de identificarmos é com a ajuda dos familiares, dos amigos e dos policiais militares que trabalham com ele.
Todas essas são medidas necessárias para garantir o bem-estar psicológico desse policial militar, com o intuito de que ele possa retornar às suas atividades, após aprovação do Comando de Saúde, sem colocar em risco a vida da sociedade.
Ton Paulo – O governador Ronaldo Caiado é categórico quando se fala em uso de câmeras nas fardas policiais. Ele é contra a medida. Mas qual é a visão do senhor sobre isso?
Eu sigo a mesma linha de pensamento do governador no que diz respeito a esse assunto. Primeiramente, precisamos colocar câmeras em quem está cometendo crimes. Em segundo lugar, todas as nossas viaturas são monitoradas por georreferenciamento. Não temos nada a esconder de ninguém, mas é preciso deixar a polícia trabalhar.
Não podemos pegar um caso isolado e equivocado e generalizar toda a corporação. Trabalhamos duro, de forma séria, combatendo o crime. O ponto de vista do comandante-geral da Polícia Militar do Estado de Goiás é contrário à instalação de câmeras corporais, porque já acompanhamos essa experiência em outros estados e não está surtindo o efeito que muitos especialistas em segurança pública afirmam. Entendemos que essa não é a melhor solução.

Ton Paulo – Qual é o atual efetivo de policiais militares nas ruas? Ele atende a necessidade? Há concursos no horizonte?
Realizamos recentemente um concurso com mais de 1,5 mil vagas. Não informamos a quantidade específica do efetivo nas ruas, por questões estratégicas, mas a nossa preocupação deve ser com a qualidade do serviço prestado. É claro que um novo concurso é sempre bem-vindo, e estamos em tratativas com a Secretaria de Segurança Pública e o Governo de Goiás para a realização de um novo certame.
Mas nunca houve, em um comando-geral, tantos cursos especializados como agora. Abrimos todos os cursos especializados da Polícia Militar do Estado de Goiás: o curso de Operações do Choque, de Rondas Táticas Ostensivas Metropolitanas (Rotam), de Comando de Operações de Divisas (COD) e de patrulhamento tático em todas as regionais, visando à qualificação do nosso profissional.
Com o efetivo que temos hoje, estamos batendo recordes na redução dos índices de criminalidade. É claro que estamos em tratativas para aumentar o efetivo, até mesmo porque, todos os anos, policiais vão para a reserva, e precisamos de sangue novo no combate à criminalidade.
Ton Paulo – Se levarmos em consideração o número de policiais que entra na reserva, que é afastado e o número que ingressa na corporação, a conta fecha?
O tempo para ir para a reserva passou de 30 para 35 anos, mas os policiais que estão completando o seu tempo não são obrigados a se aposentar. Então, muitos deles, mesmo completando o tempo, continuam na Polícia Militar, trabalhando, porque eles ainda têm a hora extra, por exemplo. Se trabalham na escala X, têm os dias de folga para poder fazer hora extra, complementando o seu salário. Assim, o policial militar está permanecendo mais tempo na ativa, trabalhando em prol da sociedade.
A segurança está tão efetiva no Estado de Goiás que esse policial militar deixou de fazer bicos como segurança em comércios para complementar a renda e correndo risco. Ele tem absoluta certeza de que estará mais seguro trabalhando na instituição do que estando aposentado, exercendo outra função em algum local e se expondo individualmente ao perigo.
João Paulo Alexandre – Como são tratados, dentro da corporação, os casos que envolvem apontados excessos de policiais militares?
Todas as mortes por intervenção de policial militar, no dia do fato, geram um inquérito policial instaurado pela nossa corporação e pela Polícia Civil, que investigam simultaneamente o caso. As armas, no momento do confronto, já são retiradas dos policiais e encaminhadas ao Instituto de Criminalística para verificar a autoria e a materialidade, qual foi o projétil na troca de tiros. Também fazemos uma reprodução simulada, em que os policiais descrevem como foi aquela ocorrência, a posição de cada um dentro da viatura, de onde saiu o disparo e todas as informações complementares. Tudo para demonstrar lisura por parte da Polícia Militar de Goiás.
Nós também excluímos as prerrogativas dos policiais na instauração dos inquéritos, e isso acontece, inclusive, com militares que cometem crimes estando na reserva ou em horário de folga. É feita a retirada da arma de fogo que tiverem e é recolhida a carteira funcional. E enquanto há uma demora de anos no julgamento pela Justiça comum, na Polícia Militar temos uma auditoria militar em que esse policial é julgado em tempo recorde. Somos fiscalizados tanto pela Justiça Comum quanto pela Justiça Militar.
João Paulo Alexandre – O que mudou na Polícia Militar, levando-se em conta a mudança de gestão do Estado? Quais as dificuldades que a corporação tinha anteriormente no combate à criminalidade?
O governador Ronaldo Caiado, quando assumiu o governo, teve a força de falar o que ecoa hoje:
Ou o bandido muda de profissão, ou ele muda de Goiás.
Ele também colocou pessoas técnicas em segurança pública nos cargos certos, fez investimentos maciços não apenas no pessoal, com promoções e salários justos, mas também em armamentos, que hoje estão entre os melhores do mundo. As novas viaturas são equipadas para a nossa necessidade. O governador faz questão de entrar em contato com o policial que está na linha de frente da operação para saber como ele está, desde o primeiro mandato. Ele tem acesso a todas as ocorrências e exige que seja repassado o contato com esse policial da linha de frente para agradecer pelo serviço prestado.
O secretário de Segurança Pública soube trabalhar de forma integrada as forças de segurança, seja ela a Polícia Militar, a Polícia Civil ou a Polícia Penal, que controlou os presídios goianos. Antigamente, as ordens de roubos de carros, homicídios e outros crimes partiam de dentro das celas. Hoje, isso não existe mais. Também temos integração com a Polícia Rodoviária Federal, com a Polícia Federal, com o Ministério Público e com o Tribunal de Justiça.
E atacamos o crime no início, no meio e no fim. Atuamos no combate do crime desde o furto de veículo até chegar ao receptador daquelas peças, por exemplo. Também houve investimento em inteligência. Atualmente, 20% do nosso efetivo é formado em inteligência, com equipamentos de última geração, para que possamos antecipar o crime. E o ponto principal: o respaldo oferecido pelo comando da instituição. Se o policial sabe que tem um comando que se preocupa com ele, esse militar vai trabalhar vocacionado, com mais determinação, com mais vocação e mais afinco. Isso faz a diferença.
João Paulo Alexandre – A Polícia Militar de Goiás já foi desvalorizada em algum momento da sua história?
Podemos falar que a Polícia Militar vem em constante aprimoramento por parte do governo. Um exemplo: tínhamos viaturas que eram frota própria. Quando se tinha um período de manutenção ou o veículo apresentava qualquer problema, ele era retirado das ruas e não havia reposição. Ou seja, ficávamos sem aquela viatura no policiamento. Hoje, temos viaturas locadas. Qualquer problema que corre, esse veículo é substituído imediatamente.
Nós tínhamos um helicóptero, de 1981, no Graer da Polícia Militar de Goiás. Hoje, estamos operando com esse helicóptero, com um outro helicóptero locado do Estado, e o governador adquiriu para a Polícia Militar mais dois helicópteros novos — um será entregue em dezembro e o outro no ano que vem. Ainda temos o Koala, que está em manutenção e voltará em breve. Assim, estaremos com cinco helicópteros.
Com isso, automaticamente, o governador deve anunciar, em breve, junto com a Secretaria de Segurança Pública, a descentralização do Graer, para que possamos colocar esses helicópteros em pontos estratégicos do Estado de Goiás e aumentar ainda mais o nosso poder de fiscalização, patrulhamento e, principalmente, de ação repressiva, para apoiar o policial militar que está em solo.
Ton Paulo – Os investimentos do atual governo citados pelo senhor foram importantes para a queda dos índices de criminalidade?
Sim, além de todo o investimento, quando nós temos governantes que defendem as instituições e a segurança pública, o policial militar trabalha com mais dedicação. Como o próprio governador costuma dizer, a segurança pública é um trabalho artesanal, um trabalho diário. Eu converso com o governador todos os dias, e já vai fazer dois anos que estou no comando. Não podemos deixar, em hipótese alguma, o trabalho acumular, e a nossa preocupação diária é com o combate à criminalidade.

Ton Paulo – O secretário Renato Brum confirmou ao Jornal Opção que as tropas do Estado, do Bope, especificamente, chegaram a ficar de prontidão para irem ao Rio de Janeiro por causa da Operação Contenção. Esse deslocamento foi feito?
Não houve deslocamento. Assim que aconteceu o fato no Rio, o governador se colocou à disposição, assim como as tropas da Polícia Militar e as demais forças de segurança. Não houve necessidade de deslocamento, mas é bom ressaltar que o nosso Batalhão de Operações Especiais realiza treinamentos em vários cenários, e um deles é o adentramento em favelas. Hoje, a Polícia Militar do Estado de Goiás tem condições de prestar apoio, caso fosse necessário esse deslocamento.
A operação no Rio de Janeiro foi, por sinal, muito bem planejada, porque as pessoas que foram a óbito não estavam dentro da favela — elas estavam se deslocando de uma mata para outra. Assim, o cidadão de bem daquela comunidade, automaticamente, não estava armado nem presente naquela área de mata.
João Paulo Alexandre – A Polícia Militar é procurada por outros Estados para falar sobre a forma de trabalho da corporação em Goiás?
Realizamos recentemente o primeiro Fórum Militar Nacional de Policiamento Especializado, que foi sediado no Tribunal de Contas do Estado (TCE). Mais de 20 estados enviaram representantes para o evento, e mais de 56 unidades de policiamento especializado do Brasil estiveram presentes. Isso aconteceu em razão do prestígio que Goiás possui nas questões relacionadas à segurança pública.
Fui declarado, sem ter colocado meu nome em votação, presidente do Conselho Nacional dos Comandantes-Gerais (CNCG) da Região Centro-Oeste. Foram os próprios comandantes-gerais que votaram em meu nome, sem que eu o colocasse no pleito. Fui convidado por deputados federais e, com autorização do governador, viajei a Recife (PE) para ministrar uma palestra sobre segurança pública. Somos constantemente convidados a ir a outros estados para falar sobre esse tema, e quem ganha com isso é a sociedade.
Ton Paulo – Como avalia a pré-candidatura do governador Ronaldo Caiado à Presidência da República, e do vice-governador Daniel Vilela ao Palácio das Esmeraldas? Sendo eleito, o senhor acredita que Vilela dará continuidade a esse projeto de Caiado de fortalecimento da segurança pública?
Não resta dúvida. O vice-governador Daniel Vilela (MDB) tem mantido constante diálogo com o secretário de Segurança Pública, porque ele pretende, já a partir do ano que vem, implementar várias ações no que tange à segurança pública, principalmente na questão das câmeras de monitoramento. O vice-governador sabe que, com o complemento desses equipamentos, nós conseguimos fortalecer ainda mais o nosso poder de persuasão sobre o indivíduo que pensa em cometer um crime.
Já o governador Ronaldo Caiado, se for eleito presidente do Brasil, quem ganha é a nação, quem ganha é a segurança pública em todo o país. Porque sabemos que a segurança pública nunca foi tratada da forma que deveria, com os investimentos necessários.
Precisamos de governantes que olhem para essa área – e para o Brasil como um todo – de uma forma mais respeitosa. É preciso respeitar as forças de segurança pública, dar o apoio necessário e investir no social, na educação. Porque, quando você tem crianças na escola, automaticamente, elas não estão cometendo crimes nas ruas.

