Glaustin da Fokus: “Quero ser governador de Goiás e estou me preparando e trabalhando isso”
01 novembro 2025 às 21h00

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Deputado federal por Goiás e atual presidente estadual do Podemos, Glaustin da Fokus falou sobre o cenário político para 2026. Em conversa com o Jornal Opção, ele afirmou sobre o “namoro” que o partido está tendo com o atual governador Ronaldo Caiado para que ele possa fazer parte da chapa e dispute o cargo de presidente da República pela sigla. Além disso, reforça que há tratativas para que Luiz do Carmo seja o nome escolhido para ser vice de Daniel Vilela na disputa ao Palácio das Esmeraldas.
Glaustin da Fokus também avaliou sobre a polaridade e extremismos políticos tanto da direita quanto da esquerda, que, na sua visão, têm gerado atrasos em assuntos que impactam diretamente na vida das pessoas. Avaliou o recente encontro do presidente Lula com Donald Trump, algo que ele considerou atrasado, mas que vê com bons olhos para reverter o tarifaço americano sobre os produtos brasileiros. A medida do presidente americano já ocasionou a queda de 20% do faturamento de empresas brasileiras que mandam produtos para os Estados Unidos.
O parlamentar também avaliou a possível aliança de Daniel Vilela com o PL e também revelou que tem trabalhado para ser governador de Goiás. Amigo e sócio do atual prefeito de Goiânia, Sandro Mabel, Glaustin disse acreditar que ele fará um bom trabalho em Goiânia, mas admite que o chefe do Executivo Municipal precisa mudar o tom em alguns assuntos para ser mais assertivo.
Ton Paulo – O cenário para 2026 está se desenhando e vimos que o governador Ronaldo Caiado estaria conversando com outros partidos, como o PRD e o Podemos. Ele negou o interesse de sair do União Brasil, mas a política é muito dinâmica e tudo pode mudar. Quero saber se houve a reunião com a Renata Abreu em Brasília? Como está essa conversa de vocês atualmente?
De fato, a gente previa esse cenário do governador Ronaldo Caiado há algum período, quando surgiu o movimento da federação, que está prestes a acontecer. Eu acredito que há um percentual muito grande disso se concretizar, mas a gente fazia uma leitura sobre se daria ou não a gestão do partido para ele ser candidato. Claro que, como presidente do partido e de forma muito respeitosa, eu fiz o convite a ele. Sempre que o via, já falava: “O Podemos está à sua disposição. Se o senhor entender, em algum momento, que queira falar com o partido, o senhor goza da nossa confiança, da credibilidade e da gestão que o senhor faz aqui no Estado de Goiás. Queríamos muito um nome igual ao do senhor.”
Mas, em contrapartida, eu conversei com a presidente nacional do partido, Renata Abreu, e com o pastor Everaldo, que é o vice-presidente. E, é claro, de acordo com a benção deles, eu fui devolver a informação ao Caiado. Ele gostou da ideia e se prontificou a fazer o encontro. A Renata também falou comigo e disse que teria muita coragem e vontade de lançar um candidato à Presidência da República, afirmando que Caiado se encaixaria no perfil do nosso partido. Eu questionei se poderia evoluir nessas tratativas, e ele me sinalizou positivamente.
Ton Paulo – Então, essa conversa que estava prevista não aconteceu?
Não aconteceu porque houve um furo de agenda. A Renata Abreu viria para cá para realizar uma reunião. Entretanto, o filho dela teve um problema de saúde e ela acabou não conseguindo vir a Goiás. Agora, estou trabalhando para ajustar essa agenda em Brasília, em um momento em que o Caiado esteja lá e ela também, para que possamos realizar esse encontro.
João Paulo Alexandre – E tem uma previsão para o novo encontro?
Eu estou licenciado, mas tenho ido com frequência a Brasília e vou tentar reajustar essa agenda.
Ton Paulo – O Podemos continua de portas abertas para o governador?
Continua de portas abertas. Nós somos parte da base dele, juntamente com o Daniel Vilela.
Ton Paulo – E o projeto de Caiado para 2026?
O projeto dele para 2026 é ser candidato à Presidência da República. Ele está dizendo que não sai do União Brasil. Se houver uma federação, que está caminhando para existir, acredito que ele pode ter um pouco de dificuldade. Acredito, porque ninguém é dono da razão, e política amanhece de um jeito e anoitece de outro.
O que eu sei, e posso responder pelo meu partido, é que o aceitamos de muito bom grado, pela transparência, pela gestão e pela seriedade com que ele atuou em Goiás, e que quer levar para o Brasil.
João Paulo Alexandre – E como o senhor tem avaliado o projeto do Daniel Vilela? Será um aliado dele?
Nós temos falado muito com o Daniel. Acho que vai ser um projeto de sequência. Acredito que ele tem aí uma grande ameaça, pelo meu sentimento, que tem rodado muito o Estado, que é o ex-governador Marconi Perillo.
É claro que ele também fez muita coisa pelo Estado e acaba tendo um espólio que está nessa ânsia de oposição, de voltar ao poder, de voltar ao comando do Estado. Acho que o Daniel está fazendo a coisa correta, dialogando com os partidos e com os parlamentares. O Podemos hoje é um partido de base e está ajustado com o Daniel Vilela para essa eleição vindoura.
Inclusive, estamos em uma luta. Temos bons nomes também para ser vice dele a qualquer momento. São projetos desprovidos de vaidade, de ego, que não representam ameaça alguma a ele. Um desses nomes é o do ex-senador Luiz do Carmo, que é muito formatado no desenho evangélico do Estado de Goiás.
Ton Paulo – Falando agora sobre essa chapa do partido. O Podemos vem com chapa completa? Como está essa costura e quais são as maiores apostas do partido?
Nós temos trabalhado na construção de um projeto para eleger de dois a três deputados estaduais. Essa é uma missão nossa junto à nacional. Na eleição de 2022, tivemos o compromisso de fazer um estadual e um federal, e assim nós fizemos: o Henrique César, que hoje é deputado estadual pelo Podemos, e eu, que estou como deputado federal. Agora, temos um novo desafio, com mais experiência no partido e com mais prefeitos eleitos.
Quando assumi o partido, em um período não muito distante, não havia nenhum prefeito pela sigla. Hoje, já temos 18 prefeitos. Tínhamos dez vereadores, e atualmente são 134. É um partido que cresce a cada dia, mas com muita responsabilidade — levando as coisas com a mesma seriedade com que trato os assuntos da minha empresa. É mais ou menos esse o critério que seguimos.
Temos bons candidatos. Por exemplo, a Elisa da Saúde, que foi candidata a prefeita em Nerópolis, ficou em segundo lugar, teve muitos votos e quer construir um bom trabalho para ser deputada estadual. Na região do Nordeste goiano, temos a Débora Domingues, que foi prefeita de São João D’Aliança. Temos feito o nosso deverzinho de casa.

João Paulo Alexandre – O PL quer dar seguimento ao projeto de lei sobre a anistia na Câmara. Como anda esse cenário e como você avalia isso dentro da Casa? Seu suplente vota a favor dele?
Para mim, tudo que é feito de forma desequilibrada ou exagerada é um erro fatal. E o Brasil, infelizmente, está vivendo nesses dois extremos. Falando de anistia, eu acho que é preciso fazer uma dosagem das coisas. Acredito que o STF avança em algumas frentes, punindo pessoas, mas fechando os olhos e medindo todo mundo com a mesma régua. E eu acredito que deveria haver medidas diferentes.
Deve-se punir, de verdade, quem entrou, depredou, estragou e destruiu o que estava lá dentro. Mas, ao mesmo tempo, eu sei, porque tive informações de pessoas que estavam lá apenas por curiosidade e isso é fato. A minha opinião sobre a anistia é que deve haver uma dosimetria para quem, de fato, não tem culpa ou responsabilidade, porque isso é fácil de provar. E punir, de verdade, severamente, quem foi responsável pelas badernas, pelas bagunças, pelas coisas estragadas, e isso que eu trataria. Eu votaria pela anistia, para que o país pudesse repensar tudo isso.
Agora, o Samuel Santos, que é o cara que me substitui, acredito que pensa como eu, dentro da mesma lógica. Não acho que ele votaria diferente e também trabalharia pela anistia.
Ton Paulo – Na sua primeira eleição, você já se lançou e foi eleito deputado federal. É uma trajetória política um pouco diferente em relação a outros nomes que estão na Câmara… Como foi isso?
Eu não fui vereador, não fui deputado estadual, não fui prefeito, não fui nem síndico do meu prédio e já me arremeti a um projeto de deputado federal. Isso graças a um convite lá atrás do Ronaldo Caiado, que, na época, se projetava para ser governador. Ele foi às minhas empresas pedir votos para ele, e assim começou uma história política. Fui eleito como o sexto deputado federal mais bem votado, sem nenhum vereador, sem nenhum prefeito, sem nenhum político ajudando.
Eu fiz um bom planejamento — que é o que eu gosto e sou apaixonado —, chamei as pessoas para acreditarem naquele sonho, naquela vontade, com o propósito de entender onde eu poderia contribuir para o nosso país, para os municípios, para as pessoas. Era esse o propósito. Minha carteira de trabalho não foi assinada como político.
Outro dia, me deram bronca porque eu votei a favor de o imposto de renda ser isento até R$ 5 mil, e eu sou a favor mesmo, porque a conta fica muito cara para os contribuintes das classes C, D e E. Também não sou favorável a pegar os mais ricos e cobrar deles toda essa conta. Acho que a nossa estrutura governamental, a estrutura do Brasil, é um elefante branco, com projetos muito caros. Deveria se fazer uma conta de cima para baixo, para saber onde poderíamos reduzir e, assim, atender melhor às necessidades.
Ton Paulo – O parlamento brasileiro tem enfrentado uma crise de popularidade diante de vários projetos que repercutiram mal. Inclusive, uma pesquisa da Atlas/Intel mostra que o presidente da Câmara, Hugo Motta, tem imagem positiva para 3% dos brasileiros. Como membro do parlamento, como você enxerga essa crise dos nossos representantes?
Infelizmente, para muitas pessoas, não somente no Congresso, mas na maioria da população, inclusive nas nossas famílias, parece que quanto pior, melhor.
O que eu vejo hoje é que o Brasil vive um momento de muita mentira, de muita fake news, de muita asneira, vinda dos extremos, tanto da direita quanto da esquerda, e até mesmo de alguns parlamentares que têm voz, que têm muitos seguidores e que acabam amedrontando as pessoas.
Veja o que aconteceu nesse assunto dos Estados Unidos, sobre a taxação. Tinha gente torcendo para a empresa quebrar, dizendo que tinha que taxar, que tinha que punir. Eu sou totalmente contra isso. O assunto acabou virando uma corrente, uma reação em cadeia. Imagine chegar ao ponto de dizer para uma agência de marketing que ela será contratada para melhorar o nosso visual perante à população… São os extremismos que fazem isso. Eu acho que o nosso Brasil precisa de equilíbrio, de voltar a ter paz, de voltar a ter serenidade.
João Paulo Alexandre – E como fazer isso?
Esse é o grande desafio. Eu acho que esse é um trabalho de formiguinha. Não dá para sair gritando pelos quatro cantos que o Brasil precisa de equilíbrio, porque vão chamar a gente de psicopata. Acho que é um trabalho de semear.
Por exemplo, eu vou a um município e prego isso; venho aqui falar com vocês, e estou pregando isso. Quando encontro um parlamentar que age de forma exagerada, eu peço calma e explico que o Brasil não vai andar assim. Eu sou gerador de emprego, tenho três mil pessoas que trabalham comigo. Se a gente não começar a desenvolver a economia do país, daqui a pouco o Brasil está todo lascado e quebrado. É isso que você quer? Torcer para alguém quebrar só para provar que você, ou que alguém ideologicamente, está correto? Aí o camarada começa a cair a ficha.
Mas é um processo árduo, não dá para mudar de um dia para o outro. Para mim, o que rege essa atmosfera chamada Brasil é voltar a ter equilíbrio novamente. E, infelizmente, o nosso país hoje não está conseguindo fazer isso.
Ton Paulo – Seu projeto para 2026 é a reeleição para a Câmara, mas houve rumores que o senhor poderia se lançar como candidato ao Senado. Isso realmente aconteceu?
Não, nunca. Da minha boca, eu nunca falei isso. Alguns que se julgam bem mais inteligentes querem tirar a gente de onde está para sobrar uma vaguinha. Mas, em nenhum momento, passou pela minha cabeça, nem pela cabeça do nosso grupo, arremeter um projeto para o Senado.
Eu quero, um dia, se Deus abençoar e eu entender que tenho a graça divina e do Estado de Goiás, ser governador do Estado. Eu estou me preparando e trabalhando para isso. A minha grande vontade é essa.

Ton Paulo – O senhor é muito ligado ao setor empresarial aqui do Estado. Pelo o que o senhor conversou com eles, de que forma o tarifaço do Donald Trump afetou os empresários em Goiás?
Nós tivemos uma redução de 20% no faturamento com produtos de exportação para os Estados Unidos, em nível de Brasil. Tivemos empresas no Sul que fecharam, deram férias coletivas, porque não tinham mais o que comercializar, pois 70% a 80% das vendas de pedra e granito eram destinadas aos Estados Unidos.
Eu vejo que o governo federal, de forma desenfreada, não teve equilíbrio lá no início dessa crise, que foi provocada por Eduardo Bolsonaro, infelizmente. E, como forma de pirraça, de briga, o governo federal atual entrou nessa pilha de confusão, mesmo sabendo que são milhões de empregos e milhões em riquezas que poderiam ser geradas — e aí eu falo de PIS, COFINS, ICMS, enfim.
O que o governo Lula está fazendo agora deveria ter sido feito lá no início. Demorou e acabou entrando na pilha ideológica, que eu considero extremamente tóxica e prejudicial para o nosso país.
João Paulo Alexandre – Apesar do atraso, como o senhor citou, como avalia o recente encontro de Lula e Donald Trump? Foi positivo?
Acho que o encontro agora foi espetacular. Atrasou, não aconteceu no início, mas pelo menos aconteceu agora. Acredito que o Lula vai apresentar o Brasil para ele. Eu não quero julgar se o Bolsonaro está certo ou errado, não me atento a isso. O que me atento são os empregos que podem ser perdidos, os faturamentos que podem ser zerados, as empresas que podem ser fechadas se isso continuar.
Acho que o presidente tem um grande desafio, junto com a equipe econômica: mostrar esse Brasil para o governo Trump e destacar a importância do nosso país nas relações de importação e exportação entre os dois países. Esse é o grande desafio. A percepção que a gente tem, pelas notícias e também por amigos de dentro do Congresso, é de que a coisa caminhou bem. Quando há boa intenção, tudo se resolve no diálogo, na conversa.
João Paulo Alexandre – E no meio do empresariado, como isso reverberou? E esses 20% de prejuízo que o senhor citou, há uma projeção de tempo para que consigamos reverter esse cenário?
Haverá outras reuniões para definir isso e tentar reverter esse cenário. Eu imagino que o Lula deve ter apresentado o papel e dito: ‘Isso aqui é o que você prejudicou. Volte atrás desses assuntos aqui, vamos rever.’ Acho que o Trump vai pegar, olhar e mostrar o que ele concorda e o que discorda do que for apresentado. Será a partir disso que vamos ver se teremos respostas sobre essa recuperação.
O brasileiro é muito rápido e veloz em tudo aquilo que faz, porque somos um povo de muito trabalho, um povo que não tem preguiça. O brasileiro está acostumado com toda dificuldade. Abrir uma empresa no Brasil é muito diferente de abrir nos Estados Unidos ou na Europa. Aqui, você se depara com concorrência desleal, com sonegação, com tudo de ruim, e ainda assim alguns sobrevivem.
Então, eu entendo que, na hora em que houver uma gestão concreta, vindo de lá para cá e vice-versa, a gente se reorganiza muito rápido, pode ter certeza disso. Porque o brasileiro, quando enxerga um horizonte lá na frente, ele vai. Ele tem coragem.
Ton Paulo – Voltando para a política regional. O senhor mencionou a questão de Luiz do Carmo como cotado para ser vice do Daniel. De que forma o nome de Luiz na chapa agregaria na candidatura de Vilela? A ala evangélica seria um ponto a favor?
O nosso grupo é composto por esse grupo evangélico, mas o Podemos tem 20 prefeitos, um deputado estadual, um deputado federal e uma vereadora dentro do município. Então, o grupo evangélico tem todo esse desenho para oferecer ao Daniel Vilela. Claro que a decisão é dele e do governador Ronaldo Caiado, mas nós estamos nos colocando à disposição com um segmento que julgamos muito importante para ele nessa decisão.
Ton Paulo – O bispo Oídes está intermediando essas conversas?
Intermediando, não. Mas tudo aquilo que eu estou verbalizando aqui, ele sabe de todo o detalhe. Sabe tudo. Ele está participando dessas conversas. O intermédio direto com o Daniel não existe, porque não dá para você impor uma vice. Dá para fazer gestos e dizer: “Temos aqui um bom produto.”
O Luiz do Carmo não é uma ameaça para ele amanhã. É um cara que vai honrar, que vai valorizar o Estado. É um homem de uma família muito honrada, um camarada que traz um deputado estadual, um deputado federal, uma vereadora do município e prefeitos do Podemos. Isso tudo faz uma somatória nesse assunto.
Ton Paulo – Acredita-se ainda em uma possível aliança entre o Daniel e o PL aqui em Goiás. Não sabemos como Wilder Morais vai se posicionar quanto a isso, mas como o senhor avalia essa possibilidade?
Eu imagino que o grande desafio do Wilder de se colocar à disposição para um projeto de governador do Estado vem do fato de que, se você for observar, a suplente do Wilder Morais é a esposa do Vanderlan Cardoso. E o Vanderlan e o Wilder têm uma desconexão partidária. Então, esse é o grande problema e desafio. Agora, claro que a vontade do Caiado e do Daniel é trazer o PL com todos os componentes.
Nós sabemos que o Marconi fez muito pelo Estado de Goiás, e fez mesmo, mas ele tem um teto, um limite de crescimento. Você pega o Daniel, pouco conhecido ainda, e vê que a chance dele crescer é infinitamente maior do que a do Marconi.

Ton Paulo – No cenário nacional, como está o Podemos? Como está a relação entre a Renata Abreu e o governo Lula? De que forma o partido deve caminhar em 2026?
O Podemos não anda com o Lula. Em hipótese alguma o Podemos anda com o presidente atual.
Ton Paulo – O Podemos poderia apoiar, por exemplo, a candidatura do Ronaldo Caiado?
Pode. Nós estamos nesse namoro, nessa conversa. O Podemos é um partido de direita, centro-direita. Votamos em projetos do governo atual? Claro, mas projetos que não sejam ideológicos, projetos que são bons para o Brasil, para as pessoas, para as famílias.
João Paulo Alexandre – Como a possível aliança entre Daniel e Wilder pode ser benéfica, sendo que já tivemos muitos embates recentes entre o União Brasil e o PL?
Eu acho que, quando acaba a eleição, passa aquele período acalorado e desmancha o palanque, é o momento da gente ver o que é melhor para o país, o que é melhor para o Estado. Essa é a reflexão que nós temos que fazer. Não focar e concentrar nas emoções individuais que um dia teve.
O Caiado está certo em fazer esses gestos, porque ele sabe que também é de direita, e um dos antigos de direita, assim como o Tarcísio é um bom projeto, espetacular também, assim como o Ratinho Júnior.
Eu vejo que o Caiado tenta se aproximar do Wilder Morais, que é um camarada sensato, um cara de equilíbrio, que não fica com conversa fiada em rede, com mentira. É um camarada, sim, que pode construir um bom projeto para o Estado de Goiás. Eu faria isso também.
Ton Paulo – Você acha que o Gustavo Gayer pode ser empecilho para essa aliança?
Não sei. Eu gosto de falar do Wilder Morais, que é o presidente do partido, que conduz aqui o Estado. Eu não vou te falar desse deputado aí, porque eu tenho pouco conhecimento dele.
Ton Paulo – Quais foram os maiores avanços do mandato do senhor para Goiás?
Eu sou um deputado muito municipalista, eu ajudei muitos municípios. Eu estou entre os cinco deputados federais que mais trouxeram dinheiro para cá. Eu me recordo que fui relator de uma Medida Provisória e trabalhei diuturnamente para pegar assinaturas e fazer com que empresas, como a CAOA e a Mitsubishi, não fossem embora de Goiás por causa dos incentivos fiscais. E assim foi feito. Senão, essas empresas teriam ido embora do Estado porque tinham vencido os incentivos fiscais delas.
Nós escrevemos projetos sobre aposentadoria de mães atípicas, porque a grande preocupação da mãe é, se ela morrer, com quem o filho fica, e, para mim, isso é um grande avanço. Temos avançado cada dia mais com bons projetos voltados para os autistas: carteira de motorista, aposentadoria de mães atípicas, casa beneficente. O que eu tenho feito é isso: um grande papel de ser servo. Enquanto eu entender que estou sendo útil, pode contar comigo.
Ton Paulo – Tem algumas pautas que podem ser emplacadas e que são de interesse tanto do Governo Federal quanto do Governo Estadual, como a PEC da Segurança Pública. O senhor tem acompanhado a situação? Tem dialogado com o governo sobre?
Não acompanhei. Eu estou olhando o IOF, que eles estão querendo fazer uma tratativa. A PEC da Blindagem, eu trabalhei muito para que, de fato, isso não evoluísse, porque eu não compartilho com tudo isso. Mas essa PEC da Segurança, eu não acompanhei. Não tem nem agenda dela, não tem nem pauta agora.
Ton Paulo – Mas qual é o seu posicionamento sobre isso? Acredita que vai tirar a autonomia dos governos estaduais?
É muito pessoal. Eu acho que tem que ter a legitimidade de um governo de Estado para conduzir essa área, e acho que o Caiado está correto quando traz para si essa legitimidade e responsabilidade. O Brasil não está dando conta de resolver o dele.
Você olha nacionalmente: o tráfico de drogas, o PCC, o Comando Vermelho estão em todo lugar, e isso é uma responsabilidade principalmente do Governo Federal. Acho que cada um tem que cuidar do seu quadrado. Se me perguntassem isso lá no Congresso, meu voto seria para isso.
João Paulo Alexandre – Qual foi a maior dificuldade que o senhor teve durante esse período de estar como deputado federal?
A maior dificuldade são os compromissos que você chancela. Para muitos políticos, infelizmente, mudar de palavra é como mudar de roupa. E eu estou acostumado a ter uma fala, a ter um alinhamento e não voltar atrás daquilo que disse. Por exemplo, eu fiz parte da Reforma Tributária. Selecionaram dez deputados federais no Brasil e nós rodamos o mundo inteiro: fomos para a França, Canadá, Estados Unidos, ver como era esse formato em outros países.
Eu me recordo que o Governo Federal batia pesado. O Bolsonaro tentou por quatro anos fazer a Reforma Tributária e não teve competência, porque o Paulo Guedes não conversava, não dialogava. Aí chegou o governo Lula, chamou os dez deputados e negociou a votação da Reforma. Eu me posicionei contra, porque ela prejudica muito a nossa região, o Centro-Oeste. Prejudica mesmo. Eu sou fruto de uma empresa incentivada, fomentada, que é a Mabel. Eu tinha 13 anos quando fui office boy lá. E por que a Mabel abriu aqui naquela época? Porque o governo tratava o ICMS de forma diferenciada. Com a Reforma Tributária, você padroniza tudo logisticamente. Tanto faz uma empresa aqui ou em São Paulo.
Isso acaba com as guerras fiscais e eu sou contra isso. Lembro que eram seis pensando como eu, e quatro eram a favor, porque vinham do Sul e Sudeste, onde a lógica é diferente. O Caiado pediu para a gente lutar para que essa Reforma não passasse, e eu dei a minha palavra de que não deixaria passar. Resumindo: de dez, ficou um. E com promessas gigantescas do Governo Federal. O que mais me deixa desconfortável é isso: ver que é normal mudar de palavra.
Ton Paulo – Você citou a empresa Mabel, mas e a pessoa Mabel? Como você avalia a gestão aqui em Goiânia?
A pessoa é espetacular. Deixa eu falar um pouco do Sandro. Eu entrei na empresa dele com 13 anos de idade. A minha família tem uma gratidão enorme por ele, porque, não sei se vocês conhecem a história, eu sou filho de um simples caminhoneiro e de uma senhorinha que lavava roupa na beira de um córrego, lá na região do Rio Formoso, Vila Boa. E foi Deus que usou o Sandro para dar uma oportunidade para a nossa família. A gratidão é muito grande.
Convivo com o Sandro desde os 13 anos e hoje tenho 51. Ele sempre foi um homem de gestão, de pulso firme. Quando trabalhávamos juntos, e depois eu acabei me tornando sócio dele, ele marcava reuniões às cinco da manhã.
Agora, com relação à gestão em Goiânia, eu acho que ele enfrenta algumas dificuldades. Mas, no meu sentimento, ele só precisa ter um pouco mais de habilidade para conduzir certos assuntos. E ele vai pegar o jeito.
O Sandro é um gestor nato, é uma pessoa amável, é fácil de ler o Sandro Mabel. Essas dificuldades que ele está tendo agora com alguns vereadores ou segmentos, ele vai se ajustar, e precisa se ajustar. Eu acredito muito nisso: Goiânia ainda será uma das melhores capitais para se viver, porque eu acredito no Sandro.
João Paulo Alexandre – Alguns opositores dizem que o prefeito “gere a cidade como se tivesse em uma empresa privada.” Qual conselho você daria para ele em relação a isso? Você entende que há essa diferença?
Tem diferença. Primeiro que são poderes diferentes. A Câmara de Vereadores é independente, o Sandro não manda nela. Assim como existe o Senado, junto com o Legislativo composto pelos deputados federais, tem o Executivo, que é o Governo, e o Judiciário. Ninguém manda em ninguém. Na minha percepção, o que está faltando é esse ajuste do tom do Sandro com a turma de vereadores. Eu acho que os dois querem as mesmas coisas, só que, às vezes, a ânsia, a pressa para andar rápido ou a demora faz com que não se conectem.
Já falei para eles e repito: é meu amigo, uma pessoa que tenho carinho e gratidão. Eu diria que as frentes que ele deveria atacar requerem que ele seja mais plausível nas suas decisões. Faça, mas dando tempo ao tempo. Existe um período de adaptação, e é preciso entender esse prazo. Para mim, é isso que o Sandro precisa: ser comedido nisso. Vai fazer as mudanças? Vai. Mas faça com o tempo.
Ton Paulo – Mas você acredita que isso pode ser alguma resistência que ele enfrenta no Legislativo por uma “herança” de uma alegada mordomia da gestão Rogério Cruz?
Não sei. Eu não vivi a gestão do Rogério Cruz. O saudoso Maguito morre, ele assume com experiência muito curta de gestão. E para tocar uma “nave” dessa, que é Goiânia, um xodó de capital, tem que ter experiência, tem que ter comandado, tem que saber dizer não. Educadamente, mas tem que saber dizer não. Tem que saber avançar no momento certo.
Eu não sei exatamente o que aconteceu com o Rogério Cruz, mas eu falo para você: se derem o voto de confiança ao Sandro, ele vai tocar Goiânia muito bem. Pode ter certeza disso. Meus filhos vão viver isso, e vocês também, acredite!
João Paulo Alexandre – Diante do seu anseio de se tornar governador, em que você se inspiraria e daria sequência no governo Caiado e o que você faria de diferente?
O Caiado conduz muito bem. Ele entrou com uma experiência muito curta no Executivo. Me recordo disso em 2018, quando ele assumiu depois de uma vida inteira fazendo muito bem o papel de deputado federal e de senador da República. Tudo que o Caiado se propôs a fazer, de verdade, ele fez bem feito. Muitos imaginavam que ele não daria conta desse desenho de governo, e ele fez isso perfeitamente.
Se eu pudesse imaginar ele como meu coach, eu imaginaria qual seria a decisão do ex-governador Ronaldo Caiado. Ele ataca muito bem a Educação, e eu digo isso pensando em um futuro melhor para a nação. Eu enfiaria a cara nesse assunto de Educação, e, ao mesmo tempo, na Segurança Pública. Porque, se você não é seguro onde está, você não tem paz de espírito para fazer nada: nem para passear, nem para ter lazer, nem para trabalhar. Acho que ele atua em duas frentes muito robustas, que dão voz ao Estado como um todo. Era por aí que eu atacaria também.
De diferente, eu chamaria mais gente para participar comigo na gestão, no sentido de opinião, de compartilhar decisões. A vida inteira eu fiz isso na Fokus, mesmo sabendo o que eu queria. E mexer com gente é uma arte. Eu compartilharia mais com as pessoas que pensam de forma igual e têm o mesmo propósito de ajudar o Estado. Era o que eu faria.

