Fred Rodrigues: “Somos tratados como extremistas, mas lideramos as pesquisas, representamos boa parte da população”

09 junho 2024 às 09h00

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Frederico Gustavo Rodrigues da Cunha iniciou sua atuação política como assessor na Câmara Municipal de Goiânia. Em 2018, se candidatou a vereador por Goiânia, mas não foi eleito. Em 2022 se candidatou a deputado estadual, obtendo 42.784 votos, sendo o mais votado na Capital e o 8°mais votado no estado. Em 2023, teve o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O político teve a campanha mais barata entre os eleitos e não utilizou recursos públicos em sua eleição. A chave para seu sucesso, ele explica, é a comunicação afinada nas redes sociais. O comentarista político é nacionalmente reconhecido por sua defesa da liberdade de expressão, de imprensa e do questionamento a autoridades públicos. A partir de 2025, ele pretende defender suas pautas no cargo de vice-prefeito de Goiânia.
Nesta entrevista ao Jornal Opção, Fred Rodrigues fala sobre a articulação de sua chapa com Gustavo Gayer, sua relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro e a composição com outros pré-candidatos em Goiânia. Comenta ainda os processos em que esteve envolvido.
Ton Paulo — O senhor é o pré-candidato a vice-prefeito na chapa de Gustavo Gayer (PL). Como foram as articulações para a formação dessa chapa?
Eu era do partido Democracia Cristã (DC), mas já era visto como membro do PL por minha proximidade com as figuras e pautas da direita. Minha filiação ao Partido Liberal foi natural. Já estava estabelecido há seis meses que Gustavo Gayer seria o candidato, mas a definição do vice estava deixando muita gente preocupada, até porque as duas maiores cidades de Goiás — Goiânia e Aparecida — hoje são governadas por vices.
Após a cassação de meu mandato, defini minha pré-candidatura a vereador em Goiânia, cidade onde fui o deputado estadual mais votado. A proposta era ser o “puxador de votos” para que o partido elegesse outros vereadores juntos comigo. Mas, durante as articulações no PL, entendemos que era necessário fazer uma chapa majoritária sólida.
Por minha amizade e alinhamento ideológico com Gustavo Gayer, defendi que seria um bom nome para a vice. Nos sentamos com o presidente do PL em Goiás, senador Wilder Morais, que achou a ideia excelente. Fomos à presidência nacional do partido, que concordou. Se não me engano, Goiânia foi a primeira capital do Brasil onde o PL confirmou uma pré-candidatura de chapa pura.
Obviamente, isso não quer dizer portas fechadas para coligações, conversas e apoio de outros partidos. O que propusemos é que, na hora de apresentar a opção para a população, o vice tem que estar alinhado com o cabeça da chapa, preparado para assumir caso o titular falte.
“Existem mais especulações sobre nossa desistência do que sobre as outras chapas, mas temos a chapa mais consolidada, liderando as pesquisas”
Fred Rodrigues
Nielton Soares — O senhor acompanhou Gustavo Gayer em sua visita à Câmara Municipal de Goiânia. Como foi essa visita? Você discursou mais do que o próprio Gayer.
[Risos] Sinceramente, não percebi. Eu acho que nós fizemos discursos bem alinhados. Acredito que nos complementamos. Gustavo Gayer tratou mais das questões com que trabalha em Brasília, inclusive para tentar encerrar a especulação sobre a desistência de sua candidatura.
Ele explicou que foi eleito deputado federal, recebe salário como deputado federal, e continuará trabalhando como deputado até o momento de se afastar do cargo para encampar a campanha integralmente em Goiânia. De qualquer forma, eu assumo as agendas de compromissos e articulo a pré-candidatura aqui durante a semana. No fim da semana, nos reunimos para debater o que foi feito.
Já eu, em meu discurso, tentei me dirigir aos vereadores, porque eu venho do Legislativo, trabalhei na Câmara Municipal de Goiânia como assessor, então conheço muitos parlamentares da atual legislatura. De certa forma, tenho mais contato pessoal com eles. Deixei muito claro as nossas posições políticas, a defensa de uma gestão técnica e de uma gestão com menos influência política.
Me lembro de que, quando trabalhei como assessor parlamentar, o vereador que eu assessorava às vezes ia para a secretaria e tinha a porta fechada em sua cara, ou tomava um “chá de cadeira”. O que eu disse na Câmara foi que, se formos eleitos, as portas do secretariado estarão abertas. Teremos de trabalhar juntos. O secretariado vai receber a ordem de atender todos os vereadores, porque o vereador pediu voto, o secretário não. O secretário é indicado, o vereador foi atrás do voto, e é um representante legitimamente eleito do povo.
Ton Paulo — Há conversas de que o PL poderia indicar seu nome como vice na chapa de Sandro Mabel (UB) em troca do apoio a Gustavo Gayer para o Senado em 2026. Há alguma verdade nisso?
Parece que as especulações sobre a nossa chapa acontecem maior frequência do que as especulações sobre outras chapas. Temos justamente a chapa que está mais consolidada; já anunciamos Gustavo Gayer como titular, já anunciamos meu nome como vice, já realizamos reuniões com a sociedade civil organizada. Pelas agendas, pode-se perceber que nossa chapa é a que mais trabalha, que mais recebe autoridades, a que mais conversa com a população.
Quem sou eu para falar o que a imprensa deve publicar ou não?, mas me dá a impressão de que não estão percebendo todo o trabalho que estamos fazendo. Posso te garantir, nossa chapa tem 100% de firmeza, está 100% consolidada. É uma chapa que foi muito, muito bem recebida. O PL tem o eleitorado mais fiel, acho sensacional a congruência a solidez das posições, valores e princípios.

A própria hipótese de Gustavo Gayer se lançar ao Senado em 2026 — que nunca foi debatida — não dependeria de fecharmos um acordo agora. O PL já poderia lançar essa candidatura, caso quisesse. Essa ideia não faz sentido.
Nós somos tratados como candidatura de nicho. Alguns setores da esquerda se referem a Gustavo Gayer como um extremista. Mas a realidade é que estamos liderando as pesquisas, então não somos “de nicho”, somos bem aceitos por 20% a 26% da população, a depender da pesquisa. O povo não enxerga nossa chapa como extremista, mas a vê como uma alternativa séria.
Ton Paulo — Mas vocês foram procurados por interlocutores de Sandro Mabel?
Sim.
Ton Paulo — Então houve uma tentativa de composição?
Sim. Mas acreditamos que Sandro Mabel tem o direito de trabalhar por sua candidatura; ele é o representante da máquina estatal, afinal. A nossa candidatura é uma das poucas que não apresenta máquina alguma. Em Goiânia teremos a candidatura de Adriana Accorsi (PT) que representa a máquina federal, a de Sandro Mabel com a máquina estadual, e teremos a de Rogério Cruz (SD) com a máquina municipal. É natural que todos estes tenham os seus próprios projetos.
Nós tivemos essa conversa porque não queremos fechar as portas para os candidatos (que não sejam de extrema-esquerda). Queremos conversar, porque todos vão ter sua representatividade aqui na Capital e nós temos de trabalhar com todo mundo. Mas já fomos bem claros: o PL hoje lidera. Temos o apoio da maior figura pública e política do Brasil, que é o presidente Bolsonaro. Goste-se ou não, é inegável que ele arrasta multidões por onde passa. Temos o partido com a maior bancada do Brasil. O diretório de Goiânia tem independência, e contamos com a aprovação da comitiva nacional. Estamos liderando as pesquisas. Então, não faz sentido abrir mão de uma candidatura competitiva, que claramente está em sintonia com boa parte da população.
Ton Paulo — Já contrataram um marqueteiro para a campanha?
Não. Nossa campanha é coordenada pelo senador Wilder Morais. Nós (eu e Gustavo Gayer) viemos das redes sociais. Em nossas últimas campanhas, gastamos muito pouco. Gastamos menos de R$ 1 por voto, enquanto outras candidaturas chegaram a gastar até R$ 80 reais por voto. Nas redes, sabemos levar a nossa mensagem de forma muito eficaz ao povo, e não há motivo para mudar isso agora. Continuaremos fazendo o que sabemos fazer, nos comunicando da forma que tem funcionado até agora.
Obviamente, para a elaboração do plano de governo, para conhecer os problemas da cidade e as demandas de cada setor — para tudo isso traremos os melhores profissionais de cada área. Mas para o marketing, eu acho que essa parte nós já conseguimos fazer sem a necessidade de um marqueteiro.
Ton Paulo — Acredita que a postura contundente de Gustavo Gayer vai dificultar seu diálogo com a Câmara caso seja eleito?
Eu diria que ele é firme em seus posicionamentos. É uma pessoa aguerrida e defensora dos princípios e valores. Alguns veem isso como um sinal de polêmica, mas vejo como um sinal de integridade. Obviamente, deve haver uma renovação na relação entre Paço e Câmara Municipal. Em nossa visita à Câmara, conversamos muito tranquilamente com os vereadores, fomos muito bem recebidos pelo presidente Romário Policarpo (PRD), pelo vice-presidente Anselmo Pereira (MDB), e por todos de forma geral.
Em meu discurso, busquei passar a mensagem de que o diálogo sempre vai existir. Nós queremos o diálogo, pois nós entendemos a importância da representatividade dos vereadores eleitos. Nós dois viemos do Legislativo e sabemos o que é ir atrás do Executivo para comunicar nossas demandas. Ninguém quer tirar a autoridade constitucional do vereador. Mas precisamos pôr um freio nas indicações políticas da Câmara e passar a fazer indicações técnicas pelo Executivo.

Ton Paulo — Qual será o papel do ex-presidente Bolsonaro em sua campanha?
Ele com certeza virá à Goiânia. É uma das cidades onde já confirmou presença. Ainda não há data definida, é uma questão de adequação da agenda dele, mas a presença de Bolsonaro já é um compromisso. O nosso compromisso é trabalhar, estudar a Goiânia, chamar pessoas técnicas e competentes para apresentar um bom plano de governo. Já saímos na frente apresentando a chapa completa e nossa intenção também é sair na frente no plano de governo.
Nielton Soares — O PL está mesmo unido em sua pré-candidatura? O deputado estadual Delegado Eduardo Prado (PL) lançou o nome dele como pré-candidato também.
Sim. As especulações sobre o nome de Gustavo Gayer existem, não fechamos os olhos para isso. Ele é um deputado federal muito perseguido. Ele está sendo multado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que desarquivou os processos que haviam sido arquivados da campanha de 2022 e agora aplica uma multa atrás da outra. Gayer infelizmente corre o risco de ser preso pelos posicionamentos que defende — a imunidade parlamentar hoje no Brasil é relativa. Tudo isso fomenta as especulações de desistência, portanto, geram a disputa pela chapa até o final.
Se aproveitando disso, algumas pessoas tentaram colocar outros nomes na chapa. Quando o delegado Eduardo Prado declarou sua pré-candidatura na tribuna da Assembleia, fez isso antes da confirmação da chapa de Gustavo Gayer como titular e eu como vice. Depois dessa confirmação, já sentamos para conversar e nos entendemos. Ele também seria um bom nome para a candidata titular, mas sabe que Gayer tem o nome mais forte para a chapa. Não há nenhum dissabor entre nós.
Ton Paulo — Dizem que, quando Gustavo Gayer colocou seu nome na disputa municipal, teria havido uma resistência de Jair Bolsonaro. O ex-presidente teria declarado que precisava de Gayer na Câmara, em Brasília. Isso realmente aconteceu?
Esse talvez tenha sido o ponto mais debatido entre nós. Obviamente, Gustavo Gayer é um excelente deputado, representa o eleitorado dele. Se você for olhar pelos padrões de atuação, sem olhar o mérito dos pontos defendidos, também é um excelente deputado, porque é muito atuante. Então, sem dúvida, é uma perda gigantesca para a Câmara dos Deputados.
Bolsonaro nunca me falou pessoalmente que preferia Gustavo Gayer no Congresso. O que Bolsonaro e Valdemar Costa Neto (presidente nacional do PL) sempre falaram foi que a decisão da formação da Chapa em Goiânia passa por duas pessoas: o próprio Gustavo Gayer e Wilder Morais (presidente estadual do PL). Temos um diretório estadual independente.
Wilder Morais, que também é um senador da República muito experiente, tomou essa decisão. Ele sabe que estamos vivendo um momento crucial no Brasil, onde certas coisas precisam ser ditas, o Congresso precisa ser forte. É a primeira vez que a direita encontra uma representatividade de deputados federais atuantes. Antigamente eram poucos, a gente tinha o Bolsonaro. Hoje nós temos diversos, de 50 a 60 deputados são atuantes com sua voz, com seus posicionamentos, com suas posições.
Então, a perda de Gayer no Congresso nos deixa preocupados, mas entendemos que o PL precisa fazer bases nas capitais. O próprio Bolsonaro afirma isso. Acredito que uma das causas do problema da governabilidade do governo Bolsonaro foi que nós o elegemos como se fosse a cereja do bolo, mas existe todo o bolo abaixo, contaminado, sem uma base, sem uma estrutura, sem uma articulação política. Simplesmente eleger um político de direita na presidência da República, sem estruturas municipais, estaduais e no Congresso, isso não resolve.
O que estamos construindo em 2024 visa, inclusive, um fortalecimento da direita nacional em 2026. Na minha opinião, a menos que aconteça algo muito excêntrico, estamos fortalecendo o cenário da direita.
Ton Paulo — Muitos leitores nos perguntam se Fred Rodrigues não está inelegível por conta do processo de cassação que levou à perda de seu mandato. Pode explicar a situação?
Vou começar do começo. Entendo que a forma como boa parte da imprensa se posicionou sobre esse processo foi uma injustiça. Retratam a situação como se eu tivesse sido cassado por não prestar contas, e obviamente isso interessa os nossos adversários, porque fica parecendo que o vice de Gustavo Gayer não prestou contas, que é algo básico, todo político deve fazer. Mas, se esse fosse o caso, a punição seria sumulada, automática, não caberia nem ao ministro do Supremo Tribunal Federal decidir.
Se fosse o caso, eu ficaria inelegível por prazo igual ao mandato a qual concorri. Como, teoricamente, eu não teria prestado contas para a campanha de vereador, eu não poderia concorrer a nenhuma eleição até 31 de dezembro deste ano. Eu perderia as eleições de outubro. No entanto, eu fui cassado e estou elegível. Por que isso aconteceu? Porque nós fomos cassados, basicamente, através de uma manobra jurídica.
[Adversário políticos] se aproveitaram do nosso processo de prestação de contas, no qual provei que fui prejudicado pela Justiça Eleitoral, que não me notificou para que eu prestasse as contas no prazo adequado. Por um erro ocorrido neste processo — um erro que foi reconhecido inclusive pela desembargadora do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) — recorremos e ganhamos a ação.
Ganhamos todas com deliberações presenciais no TRE. Quando o processo chegou ao TSE, eles basicamente não analisaram o caso. Pegaram o processo, com seis decisões do TRE a nosso favor, com 42.784 votos nas eleições, e colocaram a análise no plenário virtual. Nenhum outro deputado na história, pelo que eu saiba, foi cassado em plenário virtual.
“Não se pode anular a vontade de 42.784 pessoas. Em uma democracia de representatividade popular, o voto está acima de tecnicidades”
Fred Rodrigues
O plenário virtual serve para casos simples, nos quais se pretende confirmar o que o TRE já decidiu. Ninguém coloca a revisão a decisão do TRE no plenário virtual. Isso é um desrespeito não só comigo enquanto deputado eleito, mas é um desrespeito com a democracia. Esse pessoal que adora falar de democracia, mas não tiveram problema nenhum em anular a vontade de 42.784 pessoas.
Os juízes do TRE podem se reunir, passar horas deliberando sobre o nosso caso, confirmar vez após vez que eu não devo nada, que eu não tenho problema algum, mas, de repente, por uma tecnicidade, o TSE nem se dá ao trabalho de analisar o caso e nos julga em plenário virtual. O julgamento vai para o computador do juiz por uma semana junto com outros 70 casos, sem garantia de que assistiram a sustentação do meu advogado.
Na semana de meu julgamento, havia 70 outros casos. É humanamente impossível que um juiz do TRE assista todas as sustentações orais e julgue 70 casos em uma semana. É um desrespeito. Foi um problema tão banal, movido por uma manobra tão pífia, que nem inelegibilidade gerou.
Sou um deputado cassado elegível porque, obviamente, não se trata de crime, não se trata de corrupção, não se trata de desobediência à justiça — se trata de uma questão técnica levantada para que eu pudesse ser cassado. Perdi o mandato por motivação que nem era o argumento inicial do Ministério Público Eleitoral (MPE). Quando o MPE viu que perderam todas as causas, eles mudaram o argumento e recorreram ao TSE com uma nova tese, que a Corte acatou.
Se essa injustiça foi derivada de perseguição ou de um erro, é impossível dizer, porque a gente não tem acesso ao juiz que está analisando o meu caso no computador. O meu advogado não pode sustentar uma defesa. Eu acho que todo mundo que fala de democracia hoje em dia deveria se indignar. Eu acho que a imprensa goiana deveria se indignar.
Não se pode anular a vontade de 42.784 pessoas. Nós estamos numa democracia de representatividade popular, ou seja, o voto popular está acima de questões técnicas — principalmente quando essa questão técnica foi originada de um erro cometido pelo próprio TRE. Tenho uma sentença transitada em julgado sem que eu tivesse prazo para recorrer. A juíza que proferiu essa sentença reconheceu o erro.
Nielton Soares — Caso parecido ocorreu com o ex-deputado estadual Vinicius Cirqueira, presidente do PSB em Goiânia. Ele foi recentemente inocentado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiás. Você acredita que pode ser inocentado também?
Agora não tenho mais essa preocupação. Recorri STF, mas é uma situação muito difícil, porque são as mesmas pessoas. Três juízes do TSE vêm do STF; eles já me julgaram antes. Para recorrer ao STF, você precisa ter um argumento constitucional em seu recurso. Fiz um recurso com um argumento constitucional e estou esperando ser julgado novamente, mas isso é muito moroso. Eu não posso me preocupar mais com isso, tenho outros projetos pela frente.
Vejo matérias na imprensa falando sobre a nova formação do TSE ser desfavorável à direita e acho isso muito errado. O TSE não tem de estar favorável ou desfavorável ao Bolsonaro; a formação deve estar favorável à lei eleitoral. Cometeu crime ou não cometeu? A partir do momento que o julgamento político entra na Corte, não há democracia. Falei isso no dia de minha cassação e repito novamente. Uma democracia pressupõe que autoridades estão preparadas para te julgar de forma imparcial, mesmo que você faça críticas a essas autoridades.
Ton Paulo — Em caso de segundo turno, qual projeção de apoio que vocês devem receber? Em um possível cenário de Gustavo Gayer versus Adriana Accorsi (PT), vocês esperam receber apoio de Vanderlan Cardoso (PSD)?
Gustavo Gayer ficou muito, muito chateado com Vanderlan Cardoso, que chegou a pedir a prisão dele no STF, especificamente junto ao ministro Alexandre de Moraes. Acho que Vanderlan exagerou; era uma situação que poderia ter sido resolvida com uma conversa. A razão do desentendimento foi que Gustavo Gayer mostrou que Vanderlan estava inclinado a votar em Rodrigo Pacheco (PSD) para a reeleição da presidência do Senado.
No final das contas, a política é muito dinâmica. Nós temos rejeição às pautas de extrema-esquerda. Eu não veria um problema político em ser apoiado por Vanderlan Cardoso, mas acredito que ele vai até o fim em sua campanha. Creio que o senador vai tentar mostrar seu projeto, pelo menos agora, no primeiro turno. Em um segundo turno, não vejo impossibilidade, não temos uma discordância insuperável.
O próprio Gustavo Gayer não carrega mágoa eterna. Ele sabe colocar de lado os sentimentos dele, mesmo que negativos, em prol do bem maior. O bem maior, no caso da cidade de Goiânia, é evitar que se repita a destruição cultural, social e econômica que ocorre no Brasil em nível municipal. Essa é a nossa prioridade.

Ton Paulo — Vitor Hugo (PL) afirma acreditar na possibilidade de reversão da inelegibilidade de Bolsonaro. Você também acredita? E se isso não ocorrer, qual será o melhor nome para ele apoiar em 2026?
Acredito. Infelizmente, boa parte das pessoas veem de forma natural o TSE ser suscetível a pressões políticas. A imprensa falou abertamente que Alexandre de Moraes fez campanha para que dois ministros fossem colocados no TSE por indicação dele. Mas, desde então, Morais deixou o TSE e outros ministros vão entrando. Entendo que essa renovação pode trazer outra visão sobre a cassação de Bolsonaro, que na minha opinião foi extremamente errada.
A inelegibilidade de Bolsonaro foi estapafúrdia; houve influência política no tribunal. A reversão dessa pena não parece impossível. Essa reversão precisaria ocorrer no STF. Temos hoje um presidente que já foi preso, condenado em três instâncias, mas foi retirado da cadeia por um recurso chamado embargo de declaração, que nem serve para alterar o mérito, mas foi colocado para concorrer e ganhou as eleições. Então, a situação de Bolsonaro é mais simples.
Ton Paulo — Se a reversão da inelegibilidade de Bolsonaro não ocorrer, o governador de Goiás seria um bom nome para 2026?
Sim. Ronaldo Caiado (UB) tem procurado a associação com o eleitorado de Bolsonaro. Fez um governo no Estado, principalmente na questão de segurança pública, muito parecido com a doutrina que Bolsonaro defende, de valorização do policial, de tolerância zero com a bandidagem e invasões de terra. De certa forma, Ronaldo Caiado emulou boa parte do governo Bolsonaro aqui.
Os dois têm uma boa relação, mas a escolha de Bolsonaro passa pela questão política, não só pela questão pessoal. Ele tem seu partido, tem que ponderar o crescimento de outras lideranças, como Tarcísio Freitas (Republicanos), Michelle Bolsonaro (PL) e outros. Acredito que, antes de pensarmos em 2026, o momento é de fazer a construção das candidaturas municipais e dar essa base de apoio para o futuro.
Ton Paulo — Em sua opinião, qual a solução para os problemas de Goiânia? Quais projetos para resolver, por exemplo, a questão do lixo, ou das maternidades?
Eu e Gustavo Gayer estamos vindo de duas situações diferentes. Ele vem do Congresso Nacional e eu da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). Sendo muito sincero aqui com a população, o que temos feito neste momento de pré-campanha é adquirir informação sobre o que está acontecendo na cidade. Temos muitas pessoas, algumas inclusive vindo de dentro da Prefeitura, para nos ajudar. Estamos coletando informações para a gente entender os problemas e propor soluções.
Começamos a nos preparar no começo deste ano. Desde então, há três meses, começamos a formar o plano de trabalho, para podermos apontar soluções durante a campanha. Se eu responder agora o que é melhor fazer sobre o lixo ou maternidades, seria precipitado, porque estamos estudando. Estamos cientes da insatisfação da população, e que precisamos solucionar a ingerência política sobre assuntos técnicos.
Estamos num estágio embrionário da elaboração do plano de governo, mas fazemos reuniões diárias para debater setores específicos como o trânsito a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comirg), a saúde. Neste processo, entendemos que precisamos identificar o que pode ser enxugado e melhorado. Temos de fazer um choque de gestão na Comurg. Fazer auditoria nas contas públicas. Olhar as denúncias de falta de repasse aos convênios da saúde.
Os contratos vão ser revistos, vão ser reanalisados, e vamos trabalhar forte com a Câmara a respeito disso. Nossa prioridade é fazer Goiânia voltar a trabalhar pelo cidadão. Infelizmente, hoje a Prefeitura de Goiânia está trabalhando para resolver os problemas da Prefeitura.