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No ano de 1975, 50 produtores rurais se juntaram e fundaram a Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano, a Comigo. A intenção, na época, era “mudar o perfil da agropecuária regional, instituindo novos conceitos de produção e de comercialização”. Em 2025, 50 anos após sua fundação, a Comigo figura no ranking das maiores cooperativas do país, com cerca de 12 mil associados e impacto direto e indireto em quase todo o estado. Para se ter uma ideia, o faturamento em 2022 chegou a R$ 15,6 bilhões.

Presidente da cooperativa e um de seus fundadores, o produtor rural Antônio Chavaglia atribui o sucesso à “boa prestação de serviço e à relação de confiança” com os associados. Para ele, a atuação da Comigo trouxe equilíbrio ao mercado agropecuário em Goiás e gerou economia e desenvolvimento nos municípios onde está instalada. Nesta entrevista ao Jornal Opção, Chavaglia também critica a falta de subsídios aos produtores rurais e a ineficiência de programas federais, como o Plano Safra, cujos recursos, de acordo com ele, ficam travados em burocracia a ponto de não chegarem à ponta.

O produtor afirma ainda que, hoje, o agro goiano, apesar de contar com abundância de recursos tecnológicos, enfrenta escassez de mão de obra qualificada, alterações climáticas, que impactam as plantações, e preços altos de ferramentas e maquinário, fatores que culminam em lucros baixos e levam muitos a desistirem de seus negócios.

Italo Wolff – Então, presidente, eu acho que a gente podia começar falando sobre isso, né? Como que o senhor vê o panorama, o cenário, com esse recorde de exportações de soja?

É, nós estamos em um ano em que a produção foi muito boa em todo o Brasil. As exportações também avançaram, com números maiores do que no ano passado. No ano anterior, as exportações estavam em torno de 90 mil toneladas.

Neste ano, chegamos a 96 milhões de toneladas, mas a produção foi bem maior, o percentual de exportação em relação à safra ainda é menor do que o registrado no ano passado. Ou seja, exportamos uma parcela menor do volume total produzido neste ciclo.

Por isso, será necessário intensificar as exportações até o final deste ano e início do próximo, para alcançar os mesmos percentuais registrados anteriormente. A produção de milho também foi muito boa. As exportações estão crescendo, mas ainda de forma lenta. Há muito milho disponível no Brasil, especialmente na região Centro-Oeste. Os preços, contudo, tendem a permanecer estáveis, reflexo da situação da produção mundial.

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Antônio Chavaglia, fundador e presidente da Comigo | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Como a oferta global está elevada, o cenário é favorável ao consumidor e ao importador, que podem escolher onde comprar, seja no Brasil, na Argentina ou nos Estados Unidos. Há soja em abundância, o que permite que os compradores adquiram apenas conforme a necessidade, sem precisar estocar ou comprar com antecedência. Isso contribui para a estabilidade dos preços.

Mesmo assim, os valores atuais ainda não são remuneradores para o produtor brasileiro, nem para o americano. Se não fosse o subsídio oferecido pelo governo dos Estados Unidos, os produtores de lá também enfrentariam dificuldades.

O Rio Grande do Sul, em especial, enfrenta uma situação bastante delicada. No Centro-Oeste, há um número expressivo de produtores recorrendo à recuperação judicial, resultado do aumento dos custos com máquinas e investimentos

Aqui no Brasil, infelizmente, não há nenhum tipo de subsídio. Nem mesmo o seguro agrícola está amplamente disponível. O produtor tem enfrentado sérias dificuldades para se manter, já que muitos não têm mais garantias, pois seus bens estão penhorados junto aos bancos, e não há alternativas viáveis.

O Rio Grande do Sul, em especial, enfrenta uma situação bastante delicada. No Centro-Oeste, há um número expressivo de produtores recorrendo à recuperação judicial, resultado do aumento dos custos com máquinas e investimentos, aliado a anos anteriores de baixa rentabilidade.

Mesmo com uma boa safra neste ano, as contas ainda não fecham. A realidade dos produtores, principalmente dos arrendatários, é muito difícil. Quem trabalha apenas como arrendatário enfrenta uma condição financeira e econômica bastante penosa. Se os preços não melhorarem, essa situação pode trazer sérias consequências no futuro, afetando produtores de todo o Brasil, não apenas do Centro-Oeste.

Italo Wolff – O Plano Safra, como prometido, não ajudaria a suprir essa demanda?

Esse dinheiro não apareceu. Na prática, ele não existe. E, para consegui-lo, é preciso oferecer garantia real fiduciária, ou seja, se o produtor não paga, a propriedade passa a ser do banco. Por isso, poucas pessoas estão conseguindo acesso a esse crédito. Além disso, nem mesmo as taxas de juros foram definidas com clareza. A situação é bastante delicada.

Ainda assim, muitos produtores continuam fazendo alguns investimentos, especialmente na recuperação e melhoria de pastagens, o que é caro. Por isso, há grande incerteza sobre como serão as próximas safras.

Neste ano, por exemplo, enfrentamos um atraso nas chuvas de quase 20 dias. Alguns produtores que se anteciparam e plantaram já correm o risco de perder as lavouras, principalmente no Mato Grosso. Tradicionalmente, o plantio por lá começa após o dia 15 de setembro, mas o cronograma está muito atrasado, e quem plantou antes já teve perdas.

Esses custos anuais acabam se acumulando e têm um peso muito grande no resultado final. Se a chuva atrasar ainda mais, tanto no Mato Grosso quanto em Goiás, a safrinha também será prejudicada. O setor agrícola, de modo geral, vem enfrentando dificuldades em todo o Brasil. No Sul, especialmente no Rio Grande do Sul, a situação é ainda mais grave. O Paraná, por outro lado, já plantou cerca de 50% da área, com boas condições de chuva até o momento. Mesmo assim, eles têm custos menores do que os produtores do Centro-Oeste, principalmente devido ao frete.

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Antonio Chavaglia, presidente da Comigo, em entrevista aos jornalistas Italo Wolff e Ton Paulo, do Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Enquanto os produtores do Sul conseguem pagar menos pelos insumos e vender com melhores margens por causa da proximidade dos portos e mercados, aqui no Centro-Oeste o frete reduz significativamente a rentabilidade.

De forma geral, o governo tem se afastado das demandas do setor agrícola, deixando que cada produtor se vire como pode. Além disso, as empresas fornecedoras de insumos reduziram a oferta de crédito. Há produtores que, até hoje, ainda não conseguiram financiamento para comprar os insumos necessários. Não se sabe ao certo quantos estão nessa situação, nem o percentual exato dos que ficaram sem acesso ao crédito.

Italo Wolff – Por que Goiás está mais, digamos, ‘protegido’ do que o Rio Grande do Sul, mesmo o Rio Grande do Sul tenha essa facilidade geográfica?

Por causa dos problemas climáticos enfrentados pelo Rio Grande do Sul, com períodos de chuva excessiva e, em outros momentos, de seca severa, o estado vem acumulando quatro anos consecutivos de grandes perdas nas lavouras. Os créditos prometidos para os produtores não foram liberados, e as prorrogações de dívidas anunciadas também não se concretizaram. A situação por lá é bastante delicada.

Já no Centro-Oeste como um todo, incluindo Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, e também Tocantins e Bahia, tanto no ano passado quanto neste ano, houve um número expressivo de pedidos de recuperação judicial. Não há dados precisos sobre o percentual desses casos, mas os números indicam que há muitas empresas e produtores nessa condição. Isso é prejudicial para o setor, pois desgasta a imagem do agronegócio.

Mesmo que os casos representem apenas uma pequena fração do total, 1%, 2% ou um pouco mais, o impacto na percepção pública é grande. Toda vez que ocorrem dificuldades econômicas na agricultura, a credibilidade do setor demora a ser restabelecida.

Essas crises também afetam o manejo e o nível de investimento nas lavouras. A adubação, por exemplo, é essencial, especialmente em solos de cerrado, mas muitos produtores acabam reduzindo a quantidade de fertilizantes para economizar. O problema é que, mesmo diminuindo o uso de adubo, há outros custos que permanecem, tornando difícil cortar despesas sem comprometer a produtividade.

A menor adubação, em solos que exigem correção constante, acaba impactando diretamente a produção, gerando resultados negativos e custos ainda mais altos no longo prazo. Além disso, alguns produtores acabaram se endividando ao se basearem em preços altos da soja no passado. Quando o valor chegou a R$180,00, muitos acreditaram que esse patamar se manteria e fizeram investimentos projetando pagamentos com base nesse preço. No entanto, com a queda para R$120,00, o equilíbrio financeiro se perdeu.

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Para Chavaglia, produtor sofre com falta de subsídios | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Isso gerou grande desconforto econômico para muitos produtores, que agora enfrentam dificuldades para fechar as contas. Há diversos casos de arresto de máquinas pelos bancos e pedidos de antecipação de financiamentos, especialmente em situações envolvendo problemas ambientais.

Em alguns contratos de financiamento de longo prazo, por exemplo, de cinco anos, se surgir qualquer problema ambiental na propriedade, o produtor é obrigado a quitar imediatamente toda a dívida, sob pena de ser inscrito na dívida ativa. Essas exigências e imprevistos acabam fugindo da realidade e da capacidade de gestão de muitos produtores.

Italo Wolff – E essa condição econômica mais difícil foi puxada pela alta da Taxa Selic?

A taxa de juros é um absurdo hoje no Brasil. A Selic está em 15%, mas nenhum banco vai te emprestar a 15%; eles cobram 20 e tantos por cento. Além disso, tem o seguro agrícola, que o governo não está bancando. Se o produtor quiser fazer, precisa pagar do próprio bolso, e é caro, certo? Então, se você soma seguro agrícola, projeto e tudo mais, chega a 25%, certo? Isso inviabiliza a atividade.

Ton Paulo – Então os recursos do Plano Safra não estão chegando na ponta?

Não estão chegando. E, quando chegam, há dificuldade dos bancos para aplicar, por causa das exigências de garantias.

Ton Paulo – A Comigo chegou a tentar algum meio de campo com o governo em relação a essa questão?

Não. O produtor não procura a Comigo para buscar dinheiro no banco; ele vai direto às instituições financeiras. São diversas agências, diversos bancos, e cada produtor é cliente de um, dois ou até três bancos. Então, ele vai lá e procura o crédito. O que a Comigo faz é atender os produtores que não usam banco, nesses casos, nós vendemos a prazo e recebemos a produção na safra.

Italo Wolff – No cenário internacional, o que podemos avaliar? A taxação dos Estados Unidos atrapalhou a produção e exportação? Houve um aumento da busca dos chineses pela soja brasileira?

Não, não houve aumento significativo, não. Pouca coisa, nem 10%. Eu até vi uma notícia dizendo que eles iriam parar de comprar soja dos Estados Unidos, mas, na prática, o mercado não sentiu nada. O mercado funciona assim: se eles vêm buscar soja, ou se já estão com os pátios cheios, só eles sabem, a China não divulga esses números de estocagem.

Então, até o final do ano, vamos ver o que a China vai comprar do Brasil, dos Estados Unidos e da Argentina.

A Argentina tinha uma retenção sobre a soja, o governo está liberando grandes volumes, porque antes havia incentivo para industrializar internamente: se exportasse o grão, pagava imposto. Agora, o novo governo está começando a diminuir essa disparidade para a exportação de grãos. O produtor argentino pode exportar mais, o que aumenta a oferta no mercado.

A taxa de juros é um absurdo hoje no Brasil. A Selic está em 15%, mas nenhum banco vai te emprestar a 15%; eles cobram 20 e tantos por cento

Além disso, os Estados Unidos têm muito produto para vender, estão com cerca de 30% do volume já comprometido, e a safra deve ser cheia. Então, vai ter soja à vontade para comprar. Ninguém precisa se preocupar com estoque. Esse é o olhar atual do comprador mundial de commodities: há estoque de soja, de milho, e em abundância, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos e na própria Argentina.

Italo Wolff – A produção de milho e algodão também foi alta. É possível que, com o suprimento de demanda, haja queda nos preços?

Não, os preços estão estáveis. Desde a safra, não houve muita oscilação. Estão se mantendo, porque o Brasil hoje é um grande consumidor de milho e etanol, o que ajuda.

Em Goiás, há as usinas flex, aquelas de cana-de-açúcar que, no final do ano, quando param de moer cana, passam a moer milho, até março. Isso tem sustentado o mercado e ajudado a evitar quedas mais acentuadas nos preços durante o período de colheita.

Ton Paulo – Em 2023, tivemos o lançamento da conclusão das obras da Ferrovia Norte-Sul. O lançamento dessa obra surtiu algum impacto na questão logística dos grãos para os produtores?

O impacto que teve é que há menos caminhões nas estradas. Mas, economicamente, não houve nenhum efeito. Mesmo assim, o que você paga pelo transporte rodoviário, também acaba pagando pela ferrovia.

Em relação ao tempo, a ferrovia ajuda, porque você coloca ali 100, 120 vagões e transporta tudo com menos risco de roubo, falsificação e outros problemas. Ainda existe esse risco, especialmente no transporte de farelo. No Brasil, há casos, e não é de agora, de transportadores, até caminhoneiros, que retiram parte do farelo e colocam areia. Quando chega ao porto, às vezes descobrem, às vezes não. Mas, quando isso acontece, a imagem do Brasil lá fora fica manchada, o importador recebe farelo com areia.

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Antônio Chavaglia, presidente da Comigo | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

O que poderia melhorar na questão do transporte é a concorrência. Precisamos aumentar a concorrência. Hoje há apenas uma ferrovia, operada por uma única empresa. Isso não é concorrência. Facilita o escoamento, mas não reduz os custos. Em certas épocas, como na entressafra, o frete ferroviário chega a ser mais caro do que o do caminhão.

Ton Paulo – Nessa questão logística e de mobilidade, tem alguma rodovia, algum ponto do estado que merece uma atenção maior para revitalização?

Ali em Serranópolis, mais adiante, há rodovias que precisam de obras. Existem outras estradas na região que também necessitam de melhorias. Uma delas é a que liga Jataí a Montividiu, passando por dentro. É uma via muito movimentada, usada tanto por caminhões que transportam grãos e insumos quanto por veículos que levam cana. Então, é uma estrada que realmente precisa ser feita.

A região que mais arrecada é justamente essa região sudoeste. E, por enquanto, os investimentos aqui foram muito poucos, inclusive com recursos do Fundeinfra, por exemplo. Obras para realizar há muitas, e dinheiro para isso também existe. O que falta, na minha opinião, é desburocratizar e colocar essas obras em prática. Reivindicações por estradas todos os municípios têm: sempre há uma rodovia estadual que precisa ser feita, reformada ou que se torna intransitável no período das chuvas.

Italo Wolff – O senhor mencionou a cobrança de passivos ambientais. São muitos os produtores que têm esses passivos?

Esses passivos ambientais são dos bancos que financiaram alguma coisa para os produtores e, depois, apareceu o passivo ambiental. Eu não sei exatamente o que é, só sei que surgiu no banco para ser cobrado. Não conversei com nenhum produtor, mas sei que a norma do sistema financeiro é essa: por exemplo, se você financiou uma máquina ou qualquer outro bem há dois anos e agora aparece no seu cadastro um passivo ambiental, você tem que pagar.

Se não pagar, é executado. Então, são situações que estão acontecendo justamente neste ano, que já é um ano difícil, e o produtor ainda tem mais esse peso sobre ele. Às vezes, é algo fora do controle do produtor: um trovão, um raio, pega fogo no meio do canavial. E aí? É passivo? Não é? Tudo isso são questões que fogem completamente do alcance do produtor.

Italo Wolff – E já existe impacto na produção por conta de alterações no clima?

Não, ainda não. Porque pouca gente plantou. Não choveu 100 milímetros, só em um ponto ou outro. Enquanto não voltar a chover, acumulando mais 100, 70 ou 50 milímetros, não dá para plantar. Ainda não há previsão de chuvas constantes aqui no estado de Goiás.

Por exemplo, em Rio Verde, teve lugar onde choveu cerca de 40 milímetros, e em outro ponto não choveu nada. As previsões meteorológicas não são muito animadoras. É preciso aguardar para ver. Então, é isso: esperar pra ver.

Ton Paulo – Sobre a Comigo, que teve o senhor como um dos fundadores, é uma das maiores cooperativas do Brasil, com cerca de 12 mil associados hoje. Qual é o propósito, o objetivo da Comigo a partir de agora, que ela está consolidada como uma das maiores do país?

É uma prestação de serviço boa, desde o início. Confiança, preço justo na hora de comprar e na hora de vender. Isso dá um equilíbrio ao mercado. Quem quiser vender alguma coisa, mesmo que não seja associado, tem que vender pelo preço da cooperativa.

Então, isso gera economia para o município e um desenvolvimento muito grande. Preço justo na hora de comprar a soja, o milho, e na hora de vender os insumos, a mesma coisa. Criou-se e sustentou-se uma confiabilidade do produtor na Comigo. Tanto é que a gente está indo para outros municípios, porque as pessoas vêm, entram como associados e querem que a gente vá para lá também. E depois que a cooperativa fica instalada uns cinco anos no município, o panorama econômico daquele lugar começa a mudar. Através da tecnologia.

A Comigo não tem dificuldade. Nem para crédito, nem para fazer investimento. O associado é que tem problema. Enfrenta essas dificuldades, não está tendo renda

Hoje estamos em 20 municípios, mas atendemos outros também, aqueles da região em volta. O agrônomo e o veterinário são as primeiras pessoas que vão para o município quando se instala uma loja. Fazem uma grande diferença. Também damos orientação para melhorar a renda e oferecemos tecnologia. São coisas que acontecem automaticamente quando a cooperativa chega ao município. A gente vai com uma boa estrutura, boa estocagem e atende as demandas da região.

Se a gente fosse atender toda a demanda, estaríamos em 50 municípios. Mas não pode ser assim. Tem que ir com cautela e responsabilidade para atender a demanda adequada. Não adianta querer subir 5, 10 degraus de uma vez e depois cair 10. Então, a gente vai com segurança e responsabilidade para fazer o investimento no município.

Italo Wolff – Qual é a principal demanda dos associados? É a orientação técnica?

É a orientação técnica e os insumos de qualidade. Eu estava lendo uma matéria que dizia que 25% dos químicos no Brasil são falsificados. Isso ocorre mais na parte amazônica, da Bahia para cima, mas já foi descoberto um laboratório em Franca, em São Paulo. Ou seja, estão falsificando os químicos e tudo mais, e o produtor acaba comprando.

É a mesma coisa que acontece com a falsificação de bebidas: usam embalagem, rótulo, selo, tudo igual. Estão fazendo isso também com os produtos químicos no Brasil. E isso não é de agora. Tem aumentado, mas já foram apreendidos diversos produtos falsificados, tanto químicos quanto adubos. Até pedra brita pintada. Essas questões aumentam ainda mais a importância da orientação técnica que disponibilizamos.

De acordo com Chavaglia, agro produz mais, mas lucra menos | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Ton Paulo – E quais o senhor diria que são as maiores dificuldades da Comigo hoje?

A Comigo não tem dificuldade. Nem para crédito, nem para fazer investimento. O associado é que tem problema. Enfrenta essas dificuldades, não está tendo renda. A Comigo, como empresa, está com a responsabilidade estável. A Comigo não faz um investimento maior sem que seja com recurso próprio, pegando pouco dinheiro em banco. Eu sei que a maioria das empresas está nesse nível hoje: quer pegar tudo em financiamento e não dá conta, quebra.

Tem produtor também que pega todo o financiamento, e não sei até quando ele vai aguentar pagando esse juro louco. Então, você tem um desequilíbrio do produtor: mercado que não compensa os custos de produção, insumos caros.

Máquinas subiram demais de preço. Antigamente, você comprava um trator de 200 CV por 200 mil. Hoje, um trator de 200 CV custa um milhão e duzentos. Isso criou uma disparidade no custo. Caminhão não subiu tanto assim. Caminhonete também não. Mas, eu não sei se a margem deles está muito alta. Eles não querem derrubar essa margem e acabam repassando todo esse custo para o produtor. E o produtor é obrigado a recuar, porque o custo da máquina está caro, a margem dele está estreita e ele precisa se limitar, deixando de fazer investimentos.

Italo Wolff – Quais compromissos o produtor assume quando se associa à Comigo?

É base de troca. Eu forneço os insumos e ele paga com o produto. A porcentagem depende do tamanho da compra que ele faz. Mas, normalmente, o produtor que compra insumo da cooperativa, a maioria deles não tem armazém na fazenda, entrega toda a produção. Mas na hora de comercializar, não; isso vai de acordo com a necessidade dele.

Fachada da Comigo, em Rio Verde | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Ton Paulo – Temos hoje um cenário político que se desenha para 2026, quando teremos a disputa pelo governo de Goiás. Um dos pré-candidatos é o vice-governador Daniel Vilela, e alguns nomes ligados ao agro são cotados para ser seu vice na chapa, como José Mário Schreiner e Paulo do Vale. Como o senhor avalia esses nomes?

Enquanto cooperativa, não avalio. A Comigo não entra nessa parte da política. Não palpitamos nisso.

Ton Paulo – Mas para o senhor, seria interessante ter um nome do agro como vice na disputa ao governo do Estado?

Se for, é bom. Mas não sou capaz de avaliar.

Ton Paulo – Voltando à questão das dificuldades do agro, o senhor considera haver uma escassez de mão de obra?

Hoje você não arruma gente para trabalhar nem no campo, nem na cidade, porque tudo está no Bolsa Família. Quem é que está pagando a conta? Quem paga imposto. Ninguém quer ir trabalhar, não.

Lá no Paraná, tem um prefeito que vai dar serviço para quem recebe bolsa. Agora, quem não quiser trabalhar, vai ter a bolsa cortada. Mas, recentemente, eu vi o ministro da Fazenda falando que vai dar vale-transporte no Brasil inteiro para ônibus nas cidades. Custaria 90 bilhões, segundo o cálculo deles. Mas só a promessa já mexe com a cabeça do povo. O Brasil não tem condições de fazer isso, não.

Sobre a Comigo, ela trabalha com segurança e responsabilidade, seguindo um plano estratégico para não passar dificuldades e não precisar pegar muito dinheiro em banco, nem para investimento, nem para o dia a dia. Ela conquistou isso ao longo de cinco anos. Foi fácil? Não. Passamos por muitas crises, como qualquer outra empresa. E na agricultura, já tivemos várias crises nesses 50 anos.

Italo Wolff – Quando o senhor compara a época atual com a época em que a Comigo foi criada, considera que houve muita evolução?

Evoluiu muita coisa. Tem muita tecnologia. Na época, produzia-se 20 sacos de soja por hectare. Hoje, você produz até 100. Só que não está ganhando dinheiro. Com 20 sacos você ganhava. Então, você evoluiu na produção, mas sobra menos lucro.

Hoje você não arruma gente para trabalhar nem no campo, nem na cidade

A automação está completa. Nem se acha gente para trabalhar e mexer com aquele maquinário novo, de tanta automação que existe. Então, é preciso treinar e qualificar a mão de obra para todos os segmentos econômicos e industriais que estão se desenvolvendo no Estado, para garantir profissionais qualificados.

Ton Paulo – Há uma nova fábrica da Comigo em construção no município de Palmeiras de Goiás, correto?

Sim, estamos investindo lá em Palmeiras. Uma nova indústria de esmagamento de soja. Já estão fazendo as bases e construindo um armazém novo para soja e outro para farelo. A ferrovia terá um anel capaz de receber 83 vagões para carregar. É na beira da rodovia, por isso a escolha de Palmeiras.

A indústria terá capacidade para esmagar 6 mil toneladas de soja por dia. É um investimento grande, em torno de 1 bilhão e 300 milhões, mais ou menos. E não contamos com ajuda da prefeitura nem do estado, economicamente falando. A previsão é inaugurar no final do ano que vem.